terça-feira, 25 de julho de 2023

Portugal | Um país envelhecido que não é para velhos

Segundo os Censos 2021, do Instituto Nacional de Estatística (INE), em Portugal, quase um quarto da população (23,4%) tem 65 anos ou mais, um número que aumentou mais de 20% nos últimos 10 anos.

Rita Rodrigues* | Diário de Notícias | opinião

Assim, chegamos à pergunta-paradoxo: Portugal é hoje um país envelhecido, mas será o país certo para envelhecer?

O envelhecimento populacional é um problema transversal dos países ocidentais, e ao olharmos para a sua evolução, facilmente percebemos que estamos perante uma das transformações sociais mais importantes do século XXI, com impacto em todos os sectores da sociedade.

E muito se debate o envelhecimento populacional, evidenciando as mudanças que esta nova realidade demográfica implica, particularmente para os mercados de trabalho e financeiro, com a emergente silver economy a amplificar oportunidades; na alteração da tipologia da procura de bens e serviços, incluindo a habitação; nos transportes e na proteção social, incluindo a sempiterna discussão em torno da sustentabilidade dos sistemas de Segurança Social e das pensões de reforma; e, também, nas estruturas familiares e nas relações intergeracionais.

Podemos ainda referir que, além de sermos o país com a população mas velha do bloco comunitário - apenas superado pela Itália -, ainda é visível que somos pouco efetivos nos apoios e no combate ao isolamento.

A visão que temos dos nossos idosos é redutora e desajustada. Para não dizer que é altamente injusta. Como sociedade que se reclama inclusiva, continuamos a excluir, a segregar, a condenar a um envelhecimento desapoiado e, até, pouco dignificante as gerações que nos criaram. E aqui se reflete uma realidade assustadora, e, porventura, projetamos o nosso futuro. Sim porque também estamos a envelhecer.

Perpetuamos, ainda, o desaproveitamento de pessoas com base na idade, desperdiçando talento, décadas de aprendizagem, capacidade de ensinar, numa espiral que se reflete numa perda irreparável para a sociedade. Cometemos o luxo de desperdiçar conhecimento.

Outro fator que nos condena são os baixos salários praticados no nosso país, antecâmara das baixas reformas que iremos receber, e que provocam uma perda acentuada de qualidade de vida, agravada pelo estado da Economia e pela subida generalizada do custo de produtos e serviços.

Temos, ainda, de investir na interação entre gerações. Os jovens de hoje são os velhos de amanhã. É preciso tornar o envelhecimento um processo natural, partilhado entre gerações, garantindo uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Infelizmente, estamos a falhar. A falhar aos nossos idosos, a falhar na nossa visão de futuro. A falhar na nossa visão de país. Portugal não pode continuar de costas voltadas para os seus mais velhos.

*Diretora de comunicação e relações institucionais da DECO PROTESTE

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