sábado, 12 de agosto de 2023

África | Guerras do Ouro e da Energia – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) acalenta um sonho dourado movido a gás e petróleo: Dominar os países entre o Magrebe e o Cazaquistão (fronteira com a República Popular da China). O projecto tem décadas, com avanços e recuos. Mas sempre com grande proveito nem que para isso fosse necessário recorrer à guerra e a golpes de estado sangrentos. Ou a inofensiva “Nova Rota da Seda” proposta à Índia por Hillary Clinton, em 2011. O Afeganistão estava no dentro desta estratégia. 

Washington pretendia desenvolver a “cooperação” entre a Ásia Central e a Ásia Meridional nas áreas da “segurança e energia” criando um espaço de países vassalos. Em Setembro de 2021 a “nova rota da seda” foi cortada por uma ravina tremenda. EUA e OTAN (ou NAT O) saíram a correr do Afeganistão e ficou mais uma vez adiada a rota da energia entre o Magrebe e as montanhas do Cazaquistão, na fronteira com a República Popular da China.

Os franceses também criaram a sua Rota da Energia com partida no Magrebe e chegada ao litoral da África Ocidental. Os colonialistas, mais experientes nas políticas de esclavagismo e latrocínio, associaram o ouro à energia. Graças ao saque, o banco central francês tem 2.436 toneladas de reservas de ouro. Mas no seu território não existe uma única mina do metal precioso. Tudo roubado ao Burkina Faso, Mali, Níger, Benin e outras colónias na África Ocidental e Equatorial. Os romandos descobriram que Portugal tinha indícios de ouro. E exploraram as minas até ficarem exauridas. Mesmo assim o país tem 382,5 toneladas de reservas! Ouro roubado no Brasil e nas colónias africanas.

Tomem nota. O número um em reservas de ouro é o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Tudo roubado. Primeiro aos mexicanos e depois a quem assaltou com a sua política de canhoneira a partir dos anos 30. O segundo país do mundo com mais reservas de ouro é a Alemanha. Só produzem carros, salsichas e chucrute. O terceiro é a Itália! Zero de minas. O quarto é a França. Ouro roubado na África Ocidental e Equatorial. Suíça e Japão também estão entre os primeiros. Não têm minas. Da lista dos países com maiores reservas só a Federação Russa e a República Popular da China têm explorações mineiras. Estão entre os maiores produtores mundiais.

A Alemanha tem as minas de ouro de Rammelsberg, que foram exploradas durante mil anos! Em 1988 ficaram exauridas. Só têm pedras e areia.  Hoje existe lá um museu e a UNESCO declarou o couto mineiro Património da Humanidade. Mas isso não justifica tanta reserva. Os nazis roubaram milhares de toneladas durante a II Guerra Mundial. A Europa da ladroagem! Por isso ignora os seus artistas, os seus escritores, os seus poetas e os seus artistas. Ladrão não precisa de Cultura para nada. Mas precisa de muitas guerras e muitos golpes de estado.

A França tinha na sua Rota da Energia petróleo, urânio e muito ouro. A viragem do século mudou esse panorama. A última etapa foi o Níger onde em 26 de Julho um golpe de estado pôs fim ao latrocínio dos franceses. Mas as duas bases do estado terrorista mais perigoso do mundo continuam lá. Aguardemos pelos desenvolvimentos. Para já registamos uma mudança substancial. Nos primeiros dias após o golpe, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deu um prazo aos golpistas parra regressarem às casernas. A organização fantoche ao serviço da França perdeu o ímpeto e agora fala pela voz do governo da Nigéria. 

Bola Tinubu, que preside atualmente à Ocidental CEDEAO, lançou uma voz de barragem e declarou que “a diplomacia é a melhor via para resolver a crise do Níger”. Paris tremeu. Vai ficar sem grande parte do urânio que alimenta as suas centrais nucleares. Sem pagar. 

Macron pressionou a organização regional e o presidente nigeriano reforçou a sua posição. Hoje decorre uma cimeira regional cujo tema é a situação o Níger. À hora em que escrevo nada se sabe. Mas o ouro e urânio do Níger já não correm mais para Paris, à borla. Os franceses vão ter de vender as suas reservas para pagar aos fornecedores libertados. O Presidente Tibubu insiste na diplomacia e rejeita qualquer intervenção armada no Níger. Está resolvido. Falta resolver o problema das bases dos EUA no país. 

A França fez tudo para manter activa a sua Rota da Energia e do Ouro. Perdeu. Começou por perder terreno na Guiné Conacri. E nunca mais se refez. Mali e Burkina Faso deram gigantescos passos em frente. A República Centro Africana continua a ser uma pedra no sapato. Agora também incomoda Angola! Tem toneladas de diamantes e virou as costas a franceses e norte-americanos, ao contrário do nosso país que se tornou numa espécie de náufrago agarrado com unhas e dentes aos afogados: EUA e União Europeia.

Paris percebeu que a sua Rota da Energia e do Ouro estava em risco quando o Benin se libertou dos colonialistas franceses. Em 1972, militares tomaram o poder e instauraram um regime marxista-leninista com o Presidente Mathieu Kerékou ao comando. Imediatamente foram criadas bolsas de instabilidade no Burkina Faso, Níger e Mali. O regime manteve-se firme até 1982, abraçando o socialismo. Em 1990, a França conseguiu derrubar as forças progressistas e fechou as portas para o mar (Golfo do Benin) aos países que mais contribuíam para a Rota da Energia e do Ouro: Burkina Faso, Níger e Mali.

Uma realidade trágica, Os países da África Ocidental que mais contribuem para a rota francesa da energia e do ouro são dos mais pobres do mundo. O Gana (Costa do Ouro) engordou Londres durante décadas. A região do mundo com mais filões do metal precioso está quase exaurida. Os colonialistas britânicos roubaram o mais que podiam. E puderam muito! Continua o latrocínio.

A Nigéria ainda não decidiu para que lado vai cair. Mas as grandes reservas de petróleo no Delta do Níger aconselham a que se junte ao Níger, Mali e Burkina Faso, antes que vá ao fundo com o ocidente alargado e comece a fazer “cativações” como faz Angola, onde comanda o campeão africano para a paz.

Os EUA criaram a sua Rota da Energia (sem ouro) a ferro e fogo. Em África já domina, os seguintes países produtores: Nigéria, Líbia, Gabão, Gana, Chade, Sudão (grande instabilidade…), Camarões, Tunísia, Costa do Marfim e Angola caiu agora a seus pés. O estado terrorista mais perigoso do mundo apenas não rouba a Guiné Equatorial, República do Congo e Argélia. 

Na Ásia os EUA usufruem da energia da Arábia Saudita (em troca de segurança), Iraque (ocupação militar) Emirados Árabes Unidos, Kuweit, Catar, Barein, Tailândia e Iémen. As imensas de reservas de petróleo do Magrebe por enquanto não estão a ser exploradas. Um dia destes promovem guerras e golpes militares na região. Cai tudo aos pés do estado terrorista mais perigoso do mundo, se entretanto o mundo unipolar não for desmantelado e o dólar ficar a valer menos do que a moeda do Burundi.

Um exemplo gritante. O Chade é o sétimo país mais pobre do mundo! A Exxon Mobil está a explorar petróleo no sul do país. As reservas são gigantescas. Muitos milhões de barris. A produção em grande começou no ano de 2003. A pobreza aumentou ainda mais. O governo construiu um oleoduto financiado pelo Banco Mundial (ratoeira ao serviço dos EUA) e ainda se endividou mais!   Outro exemplo chocante. O Gana (Costa do Ouro) produziu no ano passado 90 toneladas do metal precioso. Mas isso apenas significa cinco por cento do PIB. O resto vai para o bolso dos ladrões estrangeiros e seus ajudantes internos.  

Na Ásia a Rota da Energia e do Ouro está a correr mal para o estado terrorista mais perigoso do mundo. O Uzbequistão produziu no ano passado 102 toneladas de ouro e muitas mais de urânio. Em 2005, as tropas norte-americanas foram corridas! Tinham instalado uma base militar quando se desmoronou a União Soviética.

 Também perderam o ouro da África do Sul (graças à vitória militar de Angola na Batalha do Cuito Cuanavale, Triângulo do Tumpo. (149 toneladas ano). O Peru está em perda (150 toneladas anuais). Os primeiros produtores mundiais de ouro são a China, Austrália e Federação Russa. A guerra na Ucrânia não rebentou por acaso!

Os EUA queriam colocar no Cazaquistão a meta da Rota da Energia. Desconseguiram. O país pagou a dívida ao FMI muito antes do prazo, para se libertar do estado terrorista mais perigoso do mundo.

A União Europeia anunciou que já não necessita da energia russa. É verdade. Mas não informam quanto pagaram pela libertação. Hoje pagam o gás e o petróleo a preços exorbitantes. E por isso a economia da Alemanha está moribunda. Como aquele país é o motor do cartel de Bruxelas está visto quanto custou sabotar os oleodutos e gasodutos que ligavam a Federação Russa â União Europeia. E a guerra ainda é uma criança. Sem petróleo e gás baratos dos russos, sem o urânio do Níger, Burkina Faso e Mali, este Inverno o governo de Paris vai imitar a Dona Vera Daves e cativar a energia eléctrica que ilumina a Torre Eiffel. 

A hora é de África. Estamos às portas do reencontro das Humanidade com o berço e em liberdade. Apesar dos equívocos de hoje, o Povo Angolano contribui decisivamente para o feliz desfecho que se aproxima. Com ou sem campeões da paz.

*Jornalista

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