terça-feira, 8 de agosto de 2023

Angola | As Bombas da Memória e o Boi Integral – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Na escola primária do Negage aprendi o hino nacional português, onde corria o rio Minho e seus afluentes, as linhas do caminho-de-ferro em Portugal e o milagre das rosas. Aos sábados, meio-dia em ponto, a senhora professora dizia todos de pé! E cantávamos heróis do mar, nobre povo e nação valente. Como o texto é um tanto belicista, grita às armas, às armas e manda marchar contra os canhões, eu por indução cantava as bombas da memória até porque não conhecia a palavra brumas. Só mais tarde vivi em Camelot e rivalizei com o rei Artur. Namorava as cortesãs, resguardado pelas brumas de Avalon.

A confusão entre brumas e bombas ganhou razão de ser quando descobri que o estado terrorista mais perigoso do mundo quis ir muito além de Hitler, largando duas bombas atómicas nas cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki. Por causa do Holocausto, os chefes nazis foram julgados e sentenciados no Tribunal de Nuremberga. O Holocausto no Japão deu aos criminosos de guerra o direito a dominarem o mundo, criar a OTAN (ou NATO), matar a torto e a direito, impor as suas regras a tudo e todos, esmagar povos inteiros  com sanções e bloqueios. 

A actual liderança angolana tem memória curta e já esqueceu que Angola, nos primeiros anos da Independência Nacional, sofreu duramente essa guerra não declarada. Sobrevivemos graças aos amigos que hoje excrementamos, traímos e abandalhamos. Trocam tudo pelo fim das ideologias e o boi integral. Devagar se vai à Jamba.

Fernando Garcia Miala desembarcou na Jamba fardado à Zelensky, muito despachado, com uma máquina de detectar ossadas. O homem abocanha tudo. Petróleo, diamantes, Grupo Carrinho, milhões do Lussaty, biliões da recuperação de activos e qualquer dia toma o lugar ao Presidente João Lourenço que depois se chama João Manuel Gonçalves Garcia Miala Lourenço. Mais tarde só fica Miala. Já faltou mais. 

Ontem percebi por que razão o Francisco Queiroz não foi procurar ossadas na Jamba com o chefe Miala. Ficou de castigo no lançamento de um livro de entrevistas. E tinha ar de mártir da gramática. Este também já está com o semieixo partido. Tal como o Filomeno Vieira Lopes. O antigo maoista às ordens da UNITA implora ao Adalberto que legalize a Frente Patriótica Unida. Porque se tal não acontecer o Bloco Democrático é obrigado a concorrer às eleições de 2027 para ser extinto por faltas de votos. É melhor do que a extinção por falta de comparência ao acto eleitoral. Enfim, ainda há uns restos de diamantes de sangue para o bloquista!

Doutor Tuti Fruti quem o viu e quem o vê. Apareceu com um fato caríssimo num encontro do jornal Expansão para desconstruir. A gravata e o lenço que usava no bolso do casaco custaram mais dinheiro do que ele ganhava num ano, quando não tinha pinças de caranguejo nem asas de marimbondo. Para impressionar o chefe que lhe deu emprego e fortuna, pediu um kikutu emprestado. Agora veste fato que custa mais do que os meus rendimentos de um ano. Na conversa da “desconstrução” Tuti Fruti defendeu que só nos restam dois caminhos: O suicídio colectivo ou a sobrevivência!

O mal destes aprendizes de feiticeiro é pensarem que sabem tudo. Carlos Feijó subiu rápido e tão alto na vida que não teve tempo de conhecer a via dos resistentes. Sobreviventes são os que perdem os tachos e o estatuto de acomodados. Mas há os que resistem, Tuti Fruti! Nem todos são ladrões de fato e gravata. Nem todos se rendem. Nem todos prescindem da coluna vertebral. Coitados dos doutores da kamanga. Nem sabem ser ricos.

Enquanto uma chusma de parasitas assaltava o poder e os cofres do Estado, milhares de angolanas e angolanos construíam Angola do nada. O Tuti Fruti na sua desconstrução citou o Aguinaldo Jaime mais um que subiu na vida à custa da irracionalidade colectiva que se apoderou dos angolanos. Foi aí que cheguei à génese. Anos e anos pensando, pensando, estudando e afinal a solução é tão simples. Somos todos filhos da irracionalidade e ansiamos regressar ao ventre materno. Pelo caminho atiramos a primeira pedra, fizemos o primeiro punhal, fabricamos a primeira bala, a primeira granada, a primeira bomba e lá vamos todos para o ventre materno. Nada mais absurdo do que o regresso à génese.

No caminho da descoberta da génese encontrei o boi integral, graças a uma reportagem da TPA assinada pelo Ernesto Bartolomeu quando Miala o escalou para acompanhar o Presidente João Lourenço ao Botsuana. Fabuloso. O antigo servente de Valentim Amões, rei da kamanga, garantiu que o país progrediu “quando acabou a ideologia”. Depois chamou a De Beers para os diamantes e engordou os bois. Caramba!

Quando era miúdo fiz uma redacção sobre o boi. Ele é muito útil porque puxa a charrua e o arado. O “ualauka” e a “uabiza” puxam o carro do Tata Tuma. Eu gosto muito do boi porque dá a pele para fazer casacos e sapatos. Os cornos são bons para fazer botões e pentes. A língua é boa para estufar. O boi é muito bom porque nos dá carne, rabo e mocotó. Quando o boi é vaca, dá leitinho. Ernesto Bartolomeu mostrou-me o boi integral. Além de todas as outras dádivas também deu um país de sucesso na África Austral, que desistiu da ideologia e rende vassalagem à De Beers como fez, impante e orgulhoso do dever cumprido, o Presidente João Manuel Gonçalves Garcia Miala Lourenço.

A saga da Humanidade no regresso apressado ao ventre materno, a irracionalidade, enfrenta obstáculos de peso. África, que sempre viveu de joelhos ante os colonialistas e esclavagistas, começa a pensar e quem pensa resiste. Angola estava fora desse pântano de indignidade desde que o MPLA nasceu, cresceu e lutou. Mas João Lourenço encarregou-se de transformar a Pátria Livre o Povo Heroico das Grandes Batalhas da Independência, num tapete do estado terrorista mais perigoso do nundo.

A partir da Guiné Conacri, Burkina Faso, Níger e Mali já não há lugar para traições nem abstenções. Quem é pela liberdade e a dignidade recusa a irracionalidade, a servidão e avança de peito aberto ao vento, seja para onde for. O mundo unipolar dirigido pelos autores do Holocausto de 6 e 9 de Agosto de 1945 no Japão está no fim. Africom e France Afrique já eram.

Francisco assim falou em Lisboa: “Digo mal de qualquer império. Sou uma pedra no sapato deles”. Uns mafiosos do Vaticano, depois de uma orgia com meninos de coro e cocaína marada chamaram um argentino para Papa. Pensavam que saía o Urbano II das Cruzadas e saiu-lhes na rifa um Che Guevara da paz e solidariedade. Esqueçam a irracionalidade. A vida é uma maravilha. Mas que não falte amizade e vinho tinto! Bebamos à saúde do Papa Francisco.

*Jornalista

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