terça-feira, 22 de agosto de 2023

Angola | Intelectuais da Manada Golpista – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

João Lourenço está contra o embargo dos EUA a Cuba. Como tem por trás um Povo Heroico e Generoso (mais força humana do que esta não existe) pode mostrar que a sua posição é mais do que conversa para pacaça dormir. Chama o embaixador Tulinabo Mushingi e passa-lhe guia de marcha para casa com este recado: Só volta quando o seu governo levantar o embargo a Cuba. No Níger, Mali, Burkina Faso, Guiné Conacri e República Centro Africana a quizomba já começou.

O Presidente Miguel Diáz-Canel ao discursar no Palácio da Cidade Alta recordou o seu compatriota, general Arguelles, que morreu na defesa da Pátria Angolana no Cuanza Sul. Foi um dos Heróis do Ebo, a primeira Grande Batalha pela Soberania Nacional e Integridade Territorial após o dia 11 de Novembro de 1975. 

Recebi um som com declarações do meu amigo e camarada Lopo do Nascimento sobre o 27 de Maio de 1977. Na época cobri esse acontecimento até aos mais ínfimos pormenores. As minhas notícias e reportagens estão publicadas nos jornais Página Um, Diário de Lisboa e Diário Popular. Desde então assumi como missão de vida combater todas as mentiras e falsificações. Não dou tréguas aos familiares e amigos dos golpistas que hoje vendem aldrabices à linha e ao segundo com som e imagem. Não querem que as feridas se fechem. Não me afectam. Porque ao perder os meus melhores amigos e camaradas, jamais as feridas que me causaram serão fechadas. 

Lopo do Nascimento diz, insinuando assim-assim, que o 27 de Maio foi um golpe da DISA (segurança do Estado) que visou eliminar os intelectuais do MPLA do interior. O embate foi entre os guerrilheiros e os activistas na clandestinidade, mais os sobreviventes das grandes operações militares das tropas portugueses no território da I Região Politica e Militar do MPLA (Dembos).

 O declarante comete dois erros, provavelmente por falha da memória. Diz que o ministro das Finanças, Saidy Mingas, foi assassinado no Eixo Viário. Está enganado. Foi lá emboscado, preso e levado para o quintal do Kiferro no Zangado/Sambizanga. Baleado nas pernas e torturado até à morte pelos intelectuais golpistas.

Outro erro. Lopo disse que foi atraído para uma emboscada no Eixo Viário tal como Saidy Mingas. Ligaram-lhe para casa: - Há maka no porto de Luanda. Vai lá resolver. Mas segue pelo Eixo Viário! 

O primeiro-ministro de Angola diz que recebeu ordens para ir resolver um problema no porto de Luanda. Nesta nem acredita os que acreditam no Pai Natal. Da casa do primeiro-ministro ao Porto de Luanda, o caminho directo era precisamente descer o Eixo Viário até ao Bungo e já está. Ir pela Estrada do Cacuaco, descer para a Boavista e daí ao porto, só num filme cómico do General Foge a Tempo. Se no porto existia um problema laboral, quem tinha de agir era o ministro Aires Machado (Minerva). Se era da ordem pública, quem tinha de intervir era o Comandante Petrof, que liderava a polícia.

Lopo do Nascimento era militante do “interior” mas integrou a primeira delegação do MPLA que desembarcou em Luanda vinda do exterior, corria o ano de 1974. A DISA queria eliminá-lo por ser um intelectual? Mentira. Ele não é um intelectual. 

Nito Alves era um intelectual? Professor de posto, nem sequer concluiu o ensino secundário. Papagueava umas larachas marxistas-leninistas um tanto aldrabadas. Se ele é um intelectual eu sou a Madonna com 20 anos que engatou meia Luanda e vai dormir com a outra metade.

Nito Alves era da DISA meu amigo Lopo? Tu sabes tão bem como eu que ele fez esta declaração pelo seu punho e assinou: “A decisão da eliminação física dos Responsáveis eliminados no dia 27/5/977 foi tomada conjuntamente por mim, Zé Van Dúnem e Sita Valles. Mas é de reter que tal decisão visava apenas os responsáveis de que tínhamos conhecimento concreto da sua prisão: o major Saidy Mingas e os comandantes Bula, Dangereux e N’zaji. Os outros detidos eram desconhecidos por nós.”

Rui Coelho, professor do ensino preparatório, foi preso em Luanda por envolvimento no golpe. Disse no seu depoimento: “Defendemos que o MPLA deve estar ligado ao Partido Comunista da União Soviética. Confesso que estou convencido da existência de anti-sovietismo a nível do aparelho de Estado e do MPLA. Colaborei na elaboração das teses que Nito Alves escreveu para apresentar em sua defesa ao comité central. Ele considera que o partido está dominado por forças direitistas, por social-democratas aliados aos maoistas”. O Rui era da DISA? Era intelectual? Não e não.

O Betinho era um miúdo simpático. Nem sequer concluiu o ensino secundário. Era intelectual? Então eu sou o Zelensky. Contou por escrito tudo sobre a reunião do dia 21 de Maio de 1977, para estudar as respostas a dar, no caso de se consumar a expulsão de Nito Alves do Comité Central do MPLA, como aconteceu. Leiam: 

“Nesta reunião tentámos esboçar um plano para o caso de Nito Alves vir a ser expulso do Comité Central. Se viesse a dar-se esta eventualidade, prevíamos desencadear uma insurreição, que é o tal golpe de Estado, que deveria ter início em Malanje. Um levantamento de massas populares em Malanje e que ia culminar aqui em Luanda. Vários militares que nos apoiam, garantiram na reunião, que era possível desencadear o golpe de estado a partir dos seus quartéis”. A reunião foi na DISA? O Betinho era da DISA? Não e não.

A DISA (segurança do Estado) estava completamente infiltrada pelos golpistas. Uma boa parte do pessoal estava do lado do golpe. No dia 27 de Maio, foi necessária uma força especial para arrancar as instalações das mãos dos golpistas. À entrada do edifício, na rua, o comissário político Kambulukusse gritava de arma aperrada: – Cuidado! Esses gajos não são dos nossos! E apontava para homens armados, no átrio do edifício. Os amotinados ofereceram grande resistência. Toda a gente sabe disto e o primeiro-ministro de então, por maioria de razão.

O Presidente Neto disse aos microfones da Rádio Nacional no dia 27 de Maio de 1977, ainda existiam focos do golpe: “Os divisionistas que dirigiram o fraccionismo fugiram da capital. Mas nós vamos capturá-los. Haverá o veredicto do movimento. Haverá, portanto, Justiça. Neste momento em que estamos a combater contra forças que nos atacam do exterior, é muito estranho que os esquerdistas, os ultra-revolucionários, venham combater-nos a nós também. É muito estranho”.

No dia 28 de Maio voltou a falar para revelar nomes de dirigentes assassinados pelos golpistas: “Foram assassinados os camaradas Paulo Silva Mungungo “Dangereux”, membro do Comité Central do movimento, do Estado-Maior das FAPLA e do Conselho da Revolução. E o comandante “Nzaji” (Eugénio Veríssimo da Costa) membro do Comité Central, do Estado-Maior das FAPLA e do Conselho da Revolução. Saidy Vieira Dias Mingas, membro do Comité Central do MPLA, do Conselho da Revolução e Ministro das Finanças”. E garantiu: “não há perdão para os fraccionistas”

Do lado dos fraccionistas não existia um só intelectual. Bakalof, Sianouk e restante pessoal da I Região, nenhum era intelectual. Entre os antigos presos políticos mito menos. Zé Van-Dúnem Sita Vales, Luís dos Passos, Minerva, Fortunato, Juca Valentim e outros eram tão intelectuais como eu sou a Madre Teresa de Calcutá. Vou pedir a transferência para o Inferno  a fim de infernizar a vida aos sicários da UNITA!

O 27 de Maio foi visto por Mário Pinto de Andrade, um intelectual angolano e dos maiores do universo de Língua Portuguesa, no jornal “Diário de Lisboa”, edição de 30 de Junho de 1977, termos: 

“Considero-me sempre um militante do MPLA. Em primeiro lugar lamento profundamente a expressão criminosa e facínora que tomou a intentona de 27 de Maio, devido ao oportunismo e ambições políticas do grupo de Nito Alves e que levou à perda irreparável de comandantes e camaradas tão determinantes na luta de libertação nacional. Estou de acordo com as decisões tomadas pelo Bureau Político do MPLA e com as declarações do camarada presidente Agostinho Neto. Todos nós esperamos que o MPLA saia reforçado desta prova. Reconhecemos que o MPLA, temperado neste tipo de luta, vai com certeza triunfar mais uma vez sobre todas as formas de oportunismo político, mascaradas de verbalismo esquerdista”.

Caro Lopo, Mário Pinto de Andrade entrou no golpe da DISA? Peço encarecidamente que tenhas mais respeito por ti. Mereces. Quanto mais não seja porque foste dos primeiros militantes do MPLA presos pela PIDE no âmbito do processo do imortal Hermínio Escórcio, líder do MPLA do interior e que nem um segundo hesitou na defesa do movimento e da liderança de Agostinho Neto. Não assassinem a História Contemporânea de Angola. Chega de sangue e traição. 

*Jornalista

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