Pedro Cordeiro, editor da secção internacional | Expresso (curto)
Nota prévia: Marcelo Rebelo de
Sousa chegou hoje a Kiev, estava este Expresso Curto a ser escrito. Leia em
primeira mão o relato dos jornalistas Ana França e Rui Duarte Silva,
enviados do Expresso, que contam que o Presidente da República considera que “Tudo
o que é fundamental na vida da Ucrânia, neste momento, é fundamental na vida de
Portugal”. Trar-lhe-emos toda a atualidade desta importante visita ao longo do dia.
Olhando agora para o país vizinho, o rei de Espanha propôs ontem Alberto Núñez
Feijóo para candidato a primeiro-ministro. Filipe VI anunciou indigitação do
chefe do Partido Popular (PP, centro-direita) à presidente do Congresso dos
Deputados, Francina Armengol, depois de ter recebido sete dos onze partidos
políticos representados na câmara baixa das Cortes Gerais. Quatro deles apoiam
Feijóo — além do seu, o Vox (extrema-direita) e os regionais Coligação Canária
e União do Povo Navarro. Totalizam 172 deputados num total de 350, o que não
será suficiente para Feijóo governar. É que para ser empossado precisa de 176
votos numa primeira ronda (maioria absoluta) ou, numa segunda ronda, mais votos
a favor do que contra. Ora, os 178 deputados que faltam estão todos contra um
Executivo presidido pelo líder popular.
A eleição da socialista Armengol para presidir ao Congresso contou com esses
178 votos, que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez quer mobilizar para ser
reconduzido. O chefe do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE,
centro-esquerda) disse ao monarca que está em condições de tentar a
investidura. Já lhe declararam apoio a frente de esquerda radical Somar, de
Yolanda Díaz (parte da coligação de Governo cessante); o Bloco Nacionalista
Galego; e o Unir o País Basco (Euskal Herria Bildu, sucessor do braço político
dos terroristas da ETA). Dispostos a dialogar, mas não de forma incondicional,
estão o Partido Nacionalista Basco (PNV, moderado) e os independentistas
Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e Juntos pela Catalunha (JxC). Este é
chefiado a partir de Waterloo, Bélgica, pelo ex-presidente regional Carles
Puigdemont.
Este foragido, que é eurodeputado e que seria preso se entrasse em Espanha,
está acusado de delitos de rebelião, desvio de fundos públicos e desobediência,
no quadro do processo pela intentona separatista de 2017, quando estava no
poder. Amnistia para os envolvidos é uma das exigências do JxC e da ERC, depois
de nove políticos catalães terem sido condenados e cumprido parte das suas
penas de prisão (até serem indultados pelo Governo de Sánchez) e havendo
centenas que ainda se habilitam à cadeia. É quase assente que a haver novo
Executivo socialista, alguma forma jurídica surgirá para pôr fim às agruras
judiciais dos de Puigdemont. Mais bicudo, porque a Constituição espanhola não o
permite, é o pedido de um referendo de autodeterminação autorizado por Madrid
(ao contrário do que houve em 2017).
Filipe VI terá querido manter a tradição de dar hipótese, primeiro, ao partido
mais votado nas legislativas, no caso, as de 23 de julho. “No procedimento de
consultas levado a cabo por Sua Majestade, o Rei, não se constatou, por agora,
a existência de uma maioria suficiente para a investidura que, a dar-se o caso,
fizesse decair este costume”, reza o comunicado da Casa Real. Cabe a Armengol
marcar a sessão de investidura, que de momento parece fadada ao insucesso. Não
há um prazo para esse debate e votação, que a presidente do Congresso fez saber
que agendará após falar com Feijóo. Se os números falharem a este último, o
processo de indigitação pode repetir-se. Importante ressalvar que a partir da
primeira tentativa começa a contar o prazo de dois meses para formar Governo,
findo o qual se marcam novas eleições.
Para evitar hipotéticas eleições no Natal ou no Ano Novo, Armengol terá de
marcar a sessão de investidura até 31 de agosto ou a partir de 20 de setembro.
Todas as forças políticas têm expressado a vontade de evitar voltar a convocar
os espanhóis às urnas, um embaraço por que o país passou das últimas duas vezes
que celebrou legislativas, em 2015 e 2019, e que seria mais inconveniente com
Espanha a deter a presidência rotativa da União Europeia. Os próximos dias
serão de frenesi de negociações
Fecho esta parte da newsletter sugerindo a leitura da prosa do nosso correspondente em Madrid, Ángel Luis de
Outras notícias
OITO MENOS UM Decorre na
próxima madrugada o primeiro debate das eleições primárias do Partido
Republicano para escolher o seu candidato a Presidente dos Estados Unidos da
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Carla Tomás explica tudo sobre o aumento das temperaturas, eventuais recordes
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CINQUENTA MENOS TANTAS O regresso dos talibãs ao poder encurralou as
afegãs em casa, em particular as estudantes universitárias. Meia centena delas
reavivará o sonho em Portugal, onde têm garantidas bolsas de estudo para
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raparigas, como explica a Margarida Mota, que falou com Ana Santos Pinto,
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projeto.
CINCO MENOS UM O Presidente chinês fez disparar rumores ao não discursar na cimeira dos
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), que se realiza
QUATRO MAIS MUITO Começa hoje o festival de Vilar de Mouros, que, conta a Blitz, é o decano dos festivais de música em
Portugal e este ano conta com concertos de Limp Bizkit, The Prodigy ou James,
Xutos & Pontapés, Within Temptation, Ornatos Violeta e Guano Apes,
terminando na madrugada do próximo domingo. Pode encontrar neste artigo toda a
informação útil, dos horários dos espetáculos aos transportes.
VINTE E TRÊS MAIS CEM A Tribuna conta a história de Sha’Carri Richardson, que era
uma das favoritas a figura nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Uma polémica
suspensão por consumo de canábis, contestada por outros atletas e até
políticos, deixou-a de fora dos
Frases
“Matei-os de propósito porque não
sou suficientemente boa.”
Lucy Letby, enfermeira britânica condenada a prisão perpétua por ter assassinado sete bebés e tentado matar outros seis
“Isto vem diretamente de mim. Melhorará grandemente a estética”
Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), ao anunciar que esta deixará de mostrar os títulos dos artigos partilhados
Podcasts a não perder
Alterações
Climáticas? Vamos todos morrer! Digam:
“Todos, todos, todos…”. Devido aos gastos excessivos com a Jornada Mundial da
Juventude, só vai haver dinheiro para salvar umas 3 pessoas. Uma tragédia! O
painel da Má Língua debate soluções para este grave flagelo.
“Como
é possível a gestante ficar com a criança e os pais biológicos não?”, alerta a
presidente do Conselho de Ética para as Ciências da Vida. A Lei da Morte
Medicamente Assistida já foi promulgada, mas não escapa à análise crítica de
Maria do Céu Patrão Neves que considera que o texto final é uma manta de
retalhos. Ouça o novo episódio do podcast Futuro do Futuro .
O
novo episódio de O CEO é o Limite é sobre o caminho para a empatia e
para o foco nas relações humanas. Daniela Simões, CEO da startup de mobilidade
Miio, é a convidada de Cátia Mateus para mais uma conversa sobre liderança e
carreiras.
O que ando a ler e ouvir
Fechemos este café solo com sugestões espanholas, como o seu início. Acresce que ambas me parecem pertinentes hoje, Dia Internacional de Recordação do Tráfico de Escravos e da sua Abolição e Dia Europeu da Memória das Vítimas de todos os Regimes Totalitários.
Los surcos del azar (editora Astiberri), que na versão
portuguesa em dois tomos (Levoir) se chama Os trilhos do acaso, é (mais) uma brilhante novela gráfica
de Paco Roca, de quem já tenho falado em newsletters anteriores.
Exímio a explorar os caminhos minados da memória, desta vez atira-se à história
dos combatentes republicanos que, após derrota na guerra civil espanhola, foram
lutar ao lado dos aliados na II Guerra Mundial. Alicerçada nas recordações de
Miguel Ruiz, republicano exilado em França, Roca recupera o percurso da
companhia
Passando à música, e enquanto vou desfolhando os Proms da BBC e aguardando pelos Blur no Kalorama, abro
um intervalo para o mais novo lançamento do mestre Jordi Savall. Oriente Lux foi gravado ao vivo e, com o subtítulo
“Diálogo das Almas”, traz música tradicional curda, sefardita, bengali, síria,
árabe, libanesa, magrebina e mediterrânica, num disco duplo gravado ao vivo em
2019 na Filarmonia de Paris. Insere-se num projeto em que o músico catalão
junta esforços com os colegas sírios Waed Bouhassoun e Moslem Rahal para apoiar
músicos refugiados e migrantes na Europa, dando voz a uma diversidade que
corria o risco de se perder à mercê de guerras e colonialismo, já que muita da
memória que carregam não se encontra escrita. Savall dedica o álbum às vítimas
da esquecidíssima guerra da Síria, que está prestes a fazer doze anos e meio.
Em dezembro poderemos ouvi-lo na Fundação Gulbenkian com empreitada de
geografias não muito distantes: Istambul 1700.
Continue a seguir toda a atualidade com o Expresso. Contamos-lhe no site tudo o que se passa no país
e no mundo, enquanto preparamos a próxima edição semanal, que sai na
sexta-feira. Até lá, até breve e até sempre!
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