quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Juro, há óvnis e um navio italiano

Ricardo Marques, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

Hoje é um daqueles dias em que convém estar preparado para olhar para cima. Não é chuva, nem qualquer sinal de que o céu de prepara para cair nas humanas cabeças.

O caso é diferente, a trama bem mais complexa. Atente que vai de Frankfurt ao México, com paragem em Washington. E Portugal, claro.

Sempre lá em cima, onde as nuvens começam e o sossego desassossega. Quando esta quinta-feira acabar, pode dar-se o caso de tudo estar na mesma. Apenas lá em cima, mas não mais acima. E isso não será mau de todo.

Juro que estou mesmo a chegar ao destino. Juro que nada sei, e ontem, perguntando a quem sabe, percebi que também nada sabem. Ou pouco arriscam. Sabemos apenas que o juro é o destino. E esse destino, quem tem empréstimos no banco sabe-o bem, anda muito lá por cima.

Mas o que irá o Banco Central Europeu fazer à taxa de juro de referência? Quem são as pessoas com direito a voto nesta decisão?

As dúvidas são muitas mais do que as certezas, numa Europa com economias a diferentes velocidades. O BCE “…tem em cima da mesa, pela primeira vez, duas opções: subir pela décima vez os juros ou fazer uma pausa, pela primeira vez desde que iniciou o ciclo de aperto monetário em julho do ano passado”, escreve-se neste artigo do Expresso, que é talvez o melhor guião para compreender o que se irá passar perto das duas da tarde e o que irá dizer, em Frankfurt, Christine (Madeleine Odette) Lagarde. É uma guerra entre pombas e falcões. Mais uma vez, tudo acontece lá no alto.

Cá em baixo, as decisões do BCE têm sempre um peso considerável na carteira dos cidadãos. E uma subida na taxa de juro significará, mais cedo ou mais tarde, uma subida no valor a pagar ao banco mensalmente por quem tem crédito à habitação. Quando o silêncio voltar à sala, será hora de fazer contas: pagar o mesmo ou pagar mais.

Saiba, desde já, que não estará sozinho à espera do ‘lagardiano’ anúncio. António Costa promete escutar com toda a atenção para, daqui a uns dias, no Conselho de Ministros da próxima semana (não o de hoje, a esse já lá vamos ), aprovar medidas de apoio às famílias com créditos à habitação.

E o México, pergunta o leitor mais atento? É já a seguir. O navio também.

OUTRAS NOTÍCIAS

Há umas décadas, quem defendesse publicamente a existência de discos voadores e extraterrestres era considerado, no mínimo, excêntrico. Lembro-me de ler, e inclusive escrever, alguns artigos sobre essas estranhas pessoas que acreditavam em seres de outros mundos e nas suas avançadas naves. Era daqueles temas que os editores adoravam nos dias sem muitas noticias em pleno agosto.

Nos dias de hoje, em que tropeçamos a todo o momento em toda a espécie de teorias da conspiração, falar e discutir publicamente de óvnis e extraterrestres tornou-se absolutamente normal.

Tão normal que, ontem, no México, foram exibidos publicamente os restos mortais de supostos seres “não humanos”.

Isto durante a primeira audiência pública do Congresso do México sobre Fenómenos Anómalos Não Identificados (UAPs), também conhecidos como OVNIs. Os dois corpos empalhados, recuperados em 2017 no Peru, tinham 700 e 1800 anos, com apenas três dedos em cada mão e cabeças alongadas.

É certo – e vários órgãos de comunicação social lembraram isso mesmo – que o responsável pela exibição dos estranhos corpos já antes apresentou outras provas que, mais tarde, provaram não ser muito credíveis. Excentricidades, no mínimo.

Concordo, mas dá-se o caso de hoje, quando forem três da tarde em Lisboa, estar marcada uma conferência de imprensa da NASA para apresentar o relatório sobre "Fenómenos Anómalos Não Indentificados" (UFO/UAPs) – é possível acompanhar em direto aqui.

À hora dos Fenómenos Anómalos serão dez da manhã em Montreal, no Canadá, onde se encontra a mais alta figura da nação portuguesa. Marcelo Rebelo de Sousa tem na agenda um passeio pelo Par du Portugal, o bairro português da cidade.

Os primeiros emigrantes oficiais portugueses chegaram ao Canadá a 13 de maio de 1953, a bordo de um navio italiano chamado Saturnia – construído em Trieste e que no pós Segunda Guerra transportou milhares de europeus através do Atlântico rumo à América do Norte. Uma viagem recordada até hoje entre a comunidade portuguesa.

À beira Tejo, ali na zona de Algés, começa daqui a pouco o Conselho de Ministros. A reunião vai decorrer nas instalações do antigo Ministério do Mar, na Avenida Doutor Alfredo Magalhães. Ou, como diria Isaltino Morais, ali naquela coisa que fica entre o La Siesta e o Relento.

Foi mais ou menos assim, entre uma sesta e uma reação ao ralenti , que a presidente da Comissão Europeia, no discurso sobre o Estado da União, reagiu às preocupações e propostas do Governo português. Escreve o Expresso: “Sobre a ‘iniciativa europeia de habitação acessível”, nem uma palavra. Mas houve muitas outras propostas que Von der Leyen simplesmente ignorou e outras ainda em que as suas referências foram muito marginais”.

Parece de propósito, mas juro – de jurar, não de pagar – que não é. Ainda assim, saltamos da palavra marginais para uma breve sequência de três notícias que metem tribunais.

- Conhecida a sentença, chega a hora de começarmos a conhecer as reações de condenados e lesados no processo de Rui Pinto;

- A perícia neurológica a Ricardo Salgado já teve seis datas marcadas. O antigo banqueiro não compareceu a nenhuma;

- O ministro das Finanças diz que a antiga CEO da TAP não terá direito à indemnização de 5,9 milhões de euros que pede num processo cível contra a companhia;

Voamos até à Madeira, à boleia do Expresso, para medir a temperatura à campanha eleitoral para o Parlamento Regional. Comícios à chuva, comícios ao sol e frases que vale a pena ler. As eleições são a 24 deste mês.

O Ministério Público instaurou um inquérito ao caso da bebé de um ano que, na terça-feira, morreu dentro de um automóvel estacionado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, no Monte da Caparica.

Woody Allen toca esta noite no Campo Pequeno, em Lisboa, com a New Orleans Jazz Band. E tem uma agenda preenchida para os próximos dias.

Uma nota final para um espetáculo que já foi. Que grande jogo de futebol ontem entre Sporting e Benfica na final da Supertaça feminina.

A propósito, o tema da violência e discriminação no mundo do desporto depois do Campeonato do Mundo de Futebol feminino da FIFA vai ser discutido hoje no Parlamento Europeu.

FRASES

“A Terra está agora bem fora do espaço operacional seguro para a humanidade”, lê-se num estudo realizado por cientistas da Universidade de Estocolmo;

“Uma catástrofe que excede as capacidades da Líbia”, Mohamed al Manfi, chefe do Conselho Presidencial, após as cheias devastadoras que, só na cidade de Derna, terãpo provocado a morte de mais de 20 mil pessoas;

PODCASTS

“É muito duro olhar nos olhos de alguém e dizer que não temos capacidade para pagar ordenados”. Nunca tinha pensado criar um negócio próprio até a empresa onde trabalhava ter sido declarada insolvente. Coube-lhe liderar o processo de revitalização. Pelo caminho teve de fazer o mais difícil, despedir. Margarida Almeida, CEO da Amazing Evolution, é a convidada de O CEO é o limite

Os jovens de Costa e o bebé no colo de Marcelo. As novas medidas para a geração mais jovem chegam para os agarrar? E valem mais ou menos (politicamente) do que a redução de IRS para o PSD? E a guerra fria entre Marcelo e Costa, já é comparável à de Soares e Cavaco? Temas da Comissão Política, com moderação de David Dinis, e comentários de Eunice Lourenço, Rita Dinis e Margarida Coutinho.

“Há o perigo de deixarmos de ter antibióticos que funcionem”. No Futuro do Futuro, a microbiologista Ana Margarida Almeida sublinha que os antibióticos podem ter um papel nefasto para a saúde quando tomados sem critério, mas também ajudam a criar bactérias resistentes na pecuária. Em contrapartida, já começam a ser estudados os primeiros medicamentos que recorrem a bactérias para alterar o comportamento

O QUE ANDO A LER

Um clássico, como é hábito dizer-se. Foi publicado há quase 30 anos, mas o que é isso na história do Universo? Menos, muito menos, do que um piscar de olhos, como diria Carl Sagan, o autor de “Um Ponto Azul Claro” (Crítica), agora reeditado em Portugal.

Mesmo a tempo, diria eu, olhando uns parágrafos para cima até encontrar a história dos mexicanos.

Regresso à Terra, o tal ponto azul-claro, e teletransporto-me para a página 73, apenas para tropeçar num oportuno título que vai assim: “Existirá vida inteligente na Terra?”. O caminho a seguir não é de Voltaire – autor que Sagan cita logo a abrir numa triste conclusão “….não conseguiram encontrar a mais pequena razão para suspeitarem que nós e os nossos colegas cidadãos deste globo tivéssemos a honra de existir.”. Mantenhamos pois a rota no próprio Sagan, que nos desafia, sim, a entrar na cabeça de um extraterrestre que, sentado na sua nave espacial, acabou de descobrir a existência do planeta Terra.

Aproxima-se cada vez mais do planeta – evitando, arrisco, as taxas de juro que, já vimos, andam bem lá por cima. À medida que o faz, “a sua primeira impressão da Terra inteira são nuvens brancas, calotas polares brancas, continentes castanhos, e uma substância azulada que cobre dois terços da superfície”.

Isto é só o começo do extraordinário capítulo sobre a vida que há em nós e à nossa volta. E a complexidade da mesma.

Desejo-lhe uma quinta-feira simples e tranquila.

Amanhã há Expresso na banca. Até lá, como sempre, estamos sempre consigo na página do Expresso.

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