Martim Silva, diretor-adjunto | Expresso (curto)
Bom dia,
seja bem-vindo ao seu Expresso Curto, a sua newsletter matinal, desta
quarta-feira, dia 6 de setembro de 2023. Hoje, o prato forte do menu é um olhar
mais atento para a reunião do Conselho de Estado, que se realizou durante a
tarde desta terça-feira. Uma reunião que marcou mais um passo no
distanciamento entre Marcelo e Costa, um dos factos políticos mais relevantes
deste ano.
Venha daí comigo,
CONSELHO DE ESTADO
Depois de meses tormentosos de casos e casinhos e crises e mais crises para o
lado do Governo, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu marcar um Conselho
de Estado, órgão consultivo do Presidente da República, para cima do debate do
Estado da Nação, no Parlamento. A história desse encontro é por demais
conhecida, quando António Costa teve que sair mais cedo, para apanhar
um avião que o levaria a Timor (onde esteve em visita) e à Nova Zelândia (onde
se estreava a seleção feminina que pela primeira vez ia disputar a fase final
de um mundial de futebol).
A ideia que ficou foi a de uma
resposta política de Costa: se Marcelo marca um Conselho de Estado para malhar
no Governo, este encontra uma forma de ‘marcar’ o encontro, nem que seja pela
sua saída antecipada.
Marcelo deu por terminada a reunião e marcou nova sessão (continuação) do
Conselho de Estado para ontem, em que finalmente falariam o Presidente e o
primeiro-ministro (não o fizeram em julho).
Agora, uma vez mais, Costa deu a sua resposta. Terça-feira, acabado de
regressar de férias e instado a comentar o recente veto do Presidente ao pacote
da Habitação do Governo, o chefe do Governo, que visitava uma creche no
Montijo, disse que não era comentador e que a sua função era fazer e não falar. “Para que o Estado funcione bem, cada um deve estar no seu
próprio galho e fazer aquilo que lhe compete”. Bem dito, bem feito, umas
horas depois, não é que António Costa entrou mudo e saiu calado da
reunião do Conselho de Estado?
(aqui pode ler o texto que as nossas especialistas da área,
Ângela Silva e Eunice Lourenço, fizeram sobre o tema)
O órgão Conselho de Estado é para aconselhar o Presidente. E pelos vistos Costa
acha que o silêncio é o melhor conselho a dar.
O encontro era para os presentes analisarem a situação política. Mas neste
caso, o silêncio de Costa é o que melhor permite aferir a situação política.
Ou, pelo menos, o estado da relação entre as duas figuras principais da nossa
política e da hierarquia do Estado, o Presidente da República e o
primeiro-ministro. E parece evidente, aqui chegados, concluir que essa
relação já viu mesmo melhores dias.
O líder do PSD, Luís Montenegro, que também aproveita tudo para croquetes,
já veio criticar o “amuo” de Costa.
Na opinião, pode ler o texto de Daniel Oliveira, precisamente sobre o Conselho de Estado. O
nosso colunista fala em “desprestígio das instituições”
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assistencial na urgência obstétrica e ginecológica conjunta no Hospital de São
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Manuel Pizarro. No dia em que se viu confrontado por um protesto (ver foto
acima), o ministro anunciou que a OMS vai ter um escritório em Portugal
no próximo ano
O ministro da Saúde, o diretor-executivo do SNS e o diretor regional da OMS
para a Europa estiveram esta manhã reunidos no Porto a lançar o primeiro
escritório da Organização Mundial da Saúde em Portugal, dedicado à
digitalização
Também na Justiça as coisas estão difíceis. Citius voltou mas está “muito lento” e a culpa é de
umas obras em Évora
E o que dizer da Educação?
A abertura das creches está a revelar-se um problema este ano. Por um
lado, o Governo já disse que criou nove mil vagas em dois meses. Por outro, já há pais em desespero com a situação e a admitirem até
deixar os trabalhos
Ajuda criada pelo Governo no crédito à habitação não
chegava em junho a metade das famílias em sobrecarga financeira
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Vacinação contra covid-19 e gripe começa a 29 de setembro já com vacinas
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MEO Sudoeste e Vodafone Paredes de Coura em rota descendente
Boa Cama, Boa Mesa - 20 restaurantes que não passam de moda
Guardiões da cozinha clássica e tradicional, mestres na arte de bem receber e
servir, há “20 restaurantes que não passam de moda” para descobrir esta
sexta-feira, 8 de setembro, grátis com o jornal Expresso
Lá fora,
Linhas vermelhas de Carles Puigdemont para viabilizar
o Governo de Sánchez não são barreiras intransponíveis
Antigo presidente catalão exige, como se previa, uma lei de amnistia como ponto
prévio para iniciar conversações com o primeiro-ministro socialista, mas deixa
de fora um referendo de autodeterminação, que a Constituição espanhola não
permite.
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reduzem a alimentos
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TRIBUNA
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RUGBY. Ia jogar (e ganhar) o Mundial com a África do Sul, mas reformou-se devido a concussões: queria “ser capaz de se
lembrar do próprio nome”
FRASES
“A função de um primeiro-ministro não é ser comentador, é ser fazedor, é
executar”, António Costa, instado pelos jornalistas a comentar o
recente veto de Marcelo ao pacote da Habitação
“Eu não sei se o primeiro-ministro tenciona andar a vitimizar-se à conta desse
conflito que está a criar com o senhor Presidente da República para ver se tem
algum ganho político”, Luis Montenegro
[Marques Mendes] “Usa o espaço para se afirmar como porta-voz de recados
de poderosos”, Henrique Raposo
PODCASTS
Geração 70. Pedrito de Portugal: “O touro não sofre. Eu já tive 6
cornadas, as pernas todas abertas, e não morri de dor. Naquele momento nem se
sente”
Expresso da Manhã. PSOE e uma Constituição “chiclete” para negociar com
separatistas: Espanha vai ter governo ou novas eleições?
Money Money Money. O azeite pode tornar-se um produto de luxo?
A História Repete-se. Catalunha: há razões históricas para o independentismo?
O QUE ANDO A LER
Aproveitando a minha ausência recentes destas newsletters, trago aqui algumas
sugestões de leitura altamente recomendáveis, e que me ocuparam as últimas
semanas:
TUDO É RIO, de Carla Madeira (Particular editora). A escritora brasileira fez
furor do lado de lá do Atlântico com esta história quente, envolvente, sensual.
Eu não a conhecia mas depois de ler o enredo que envolve Lucy, Dalva e Venâncio
quero muito ler mais dela.
SOU UM CRIME, de Trevor Noah (Tinta da China). O humorista que se tornou
sucessor de John Stewart no Daily News da CNN relata aqui, nesta sua biografia,
o percurso desde o Soweto nos tempos do Apartheid, na África do Sul. Duro mas
sempre com humor.
XEQUE-MATE EM BERLIM, de Giles Milton (Vogais, chancela da Penguin). O relato
detalhado da queda de Berlim, na II Guerra Mundial, e dos anos que se seguiram
- em que a União Soviética passou de aliada a inimiga do Ocidente - e levaram à
separação de Berlim e da Alemanha
AS PRIMAS, de Aurora Venturini (Alfaguara). Livro perturbador e magistralmente
escrito pelo punho de uma escritora que se tornou revelação já no final da sua
vida. Lê-se As Primas e sentimo-nos num daqueles filmes italianos realistas dos
anos 70.
CANÇÕES PARA O INCÊNDIO, de Juan
Gabriel Vásquez (Alfaguara). Confesso a heresia: não sou o maior fá de contos.
Prefiro, largamente, romances. Mas Vásquez é tão bom, tão bom, que até em
livros de banda desenhada deve ser recomendável.
Fico por aqui. Continuação de boa semana
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