segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Portugal | MIGUEL 'MADEIRA' ALBUQUERQUE, dono do feudo e das mentiras à vista

Mais olhos que barriga

Margarida Cardoso, jornalista | Expresso (curto)

Bom Dia!

Bem-vindo a mais um Expresso Curto 59 anos depois do início da guerra da independência de Moçambique

Não é tema do dia como as eleições na Madeira, ganhas pelo PSD e por Miguel Albuquerque, em coligação com o CDS, sem maioria absoluta, com a garantia de Luís Montenegro de que para o seu partido não haverá soluções de governação com o Chega, mas acontece todos os dias à escala global. Neste mundo com mais olhos que barriga, ⅓ dos alimentos são desperdiçados. São 60 milhões de toneladas por ano na União Europeia, o que dá uma média de 127 kg por pessoa. Traduzido em euros, estamos a falar de qualquer coisa como 140 mil milhões.

No primeiro Dia Nacional da Sustentabilidade, vale a pena recordar que a quota dos alimentos desperdiçados corresponde a 8% do total das emissões de gases de estufa. Vinte e cinco por cento da água doce do mundo é usada para produzir alimentos que ninguém vai consumir. Trinta e oito por cento do consumo de energia no sistema alimentar também.

Os estudos são muitos. Os indicadores do desperdício são reveladores. Basta pensar que “25% dos alimentos desperdiçados seriam suficientes para alimentar 870 milhões de pessoas em situação de fome crónica no mundo”, sublinha Francisco Mello e Castro, do Movimento Unidos Contra o Desperdício, criado com a missão de incentivar o aproveitamento de excedentes, alertar para as perdas, promover a doação das sobras e o consumo responsável.

“Ao contrário das emissões de CO2 dos automóveis que ninguém resolve sozinho numa cidade sem uma boa rede de transportes, este é um problema que todos podemos ajudar a minimizar com o nosso comportamento individual. A experiência mostra-nos que quando as pessoas são alertadas tendem a mudar comportamentos e os resíduos alimentares diminuem”, afirma.

“Com pequenos gestos, todos podemos fazer a diferença até porque mais de 50% do desperdício é feito nas nossas casas”, sustenta Mello e Castro, a dar a voz por um movimento que celebra o seu terceiro aniversário na próxima sexta-feira, Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, ou simplesmente “o dia contra o desperdício”, como prefere dizer.

“É muito fácil convencer as pessoas a aderir às boas práticas contra o desperdício. Basta uma chamada de atenção para acordarem para a realidade e mudarem comportamentos”, confirma André Vilar, antigo estudante de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e um dos fundadores, em 2013, do movimento Menos Olhos do que Barriga, responsável pela redução do desperdício nas duas cantinas daquela instituição, em Braga e Guimarães.

As cantinas geravam 4 toneladas de resíduos alimentares por mês e em dois anos conseguiram reduzir o desperdício para metade. E como conseguiram este resultado? “Foi fácil. Fazíamos patrulha sem aviso prévio nas cantinas e vistoria aos tabuleiros de quem estava a acabar a refeição. Partilhávamos alguns números chocantes do desperdício em Portugal e no mundo. Explicávamos que se cada um tirasse para o seu tabuleiro apenas o que ia comer, os alimentos que não eram servidos podiam ser encaminhados para cantinas sociais de IPSS's de Braga e Guimarães em vez de acabarem no lixo”, conta ao Expresso.

Se todos tivermos um pouco menos de olhos do que barriga, talvez nem seja demasiado difícil cumprir a meta das Nações Unidas de redução do desperdício alimentar em 50% até 2030. E se ainda precisa de um incentivo aceite este desafio: no momento em que for deitar uma maçã podre fora em sua casa, imagine esse gesto a ser repetido por todas as famílias portuguesas, multiplique e terá de imediato mais de quatro milhões de maçãs desperdiçadas.

Já agora, sabia que só três países da União Europeia desperdiçam mais comida per capita do que Portugal? Em média, cada português desperdiça 184 quilos de alimentos por ano, contra os 127 quilos da UE.

E as eleições na Madeira, pergunta o leitor atento à atualidade? Entram já a seguir, com outras notícias.

OUTRAS NOTÍCIAS

Madeira Para Luís Montenegro, líder do PSD, foi “uma vitória robusta”. Para Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira, foi “uma vitória expressiva” da Coligação Somos Madeira (PSD / CDS) nos 11 concelhos e em 52 das 54 freguesias da Região Autónoma da Madeira. Para quem analisa os resultados e os objetivos traçados durante a campanha eleitoral para a Assembleia Legislativa da Madeira, foi uma meia vitória do PSD, a um deputado de conseguir a maioria absoluta, mas a poder chegar lá se fizer um acordo com a Iniciativa Liberal ou o PAN.

Foi o suficiente para Miguel Albuquerque recuar sem danos e, em vez de se demitir por falhar a maioria absoluta, como tinha declarado, avançar para a promessa de “um governo de maioria estável”. Foi uma noite má para o PS, que perdeu 8 deputados, viu o seu grupo parlamentar ficar reduzido a 11, mas ainda assim ouviu o líder regional, Sérgio Gonçalves dizer que a maioria dos madeirenses continua a ver o PS como “a alternativa”.

Na noite da Madeira, celebrou o Chega, pela primeira vez no Parlamento regional, com 4 deputados, menos um do que o JPP - Juntos Pelo Povo. Celebra também o IL, que elegeu o seu primeiro deputado na Madeira e já abriu a porta a um entendimento com a coligação PSD/CDS. Celebram o BE, a regressar com um deputado, tal como o PAN, também disponível para negociar com a coligação vencedora, e o PCP, que conseguiu manter um deputado.

Depois do primeiro teste eleitoral para várias lideranças partidárias, seguem-se as europeias em 2024.

Bacalhau Portugal pode duplicar a quota de pesca de bacalhau no Canadá.

Livro A apresentação do livro “No meu bairro”, de Lúcia Valente, foi interrompida por um grupo de pessoas que ameaçaram autores, editores, livreiros e público. O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, na sua conta da rede social X (ex-Twitter), reagiu: “Isto é absolutamente inaceitável”. Dirigido a crianças, o livro conta 12 histórias de ficção em rima sobre inclusão e diversidade, com uma “linguagem neutra”. Entre estas, consta a história de “Beatriz, a cigana feliz”, de “Magalhães, o menino que tinha duas mães” ou de Rodrigo, que “quer ir comprar um vestido”.

Ucrânia A perna de Maryna foi amputada depois de a menina de seis anos ter ficado ferida no bombardeamento que destruiu a casa da sua família em Kherson. Tornou-se a primeira criança a receber uma prótese pediátrica na Ucrânia e está a reaprender a andar de bicicleta. Numa guerra que pode continuar a acompanhar em direto no Expresso, a Polónia mantém o veto à entrada de cereais ucranianos. O avião do exército do Mali que se despenhou em Gai transportava soldados do grupo paramilitar russo Wagner. O primeiro-ministro arménio considerou “ineficazes” as actuais alianças do seu país.

Espanha Milhares de espanhóis manifestaram-se contra uma possível amnistia aos independentistas da Catalunha como moeda de troca para garantir apoios à recondução do socialista Pedro Sanchez.

NASA Após uma viagem espacial de sete anos, uma cápsula da NASA aterrou no deserto de Utah, nos EUA, com rochas e poeira do asteroide Bennu. Promete ajudar a conhecer “o início da história” do nosso sistema solar.

FRASES

Obtivemos 43,13% dos votos, bem acima dos 41,37% que deram ao Doutor António Costa maioria absoluta. (...) Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega
Luís Montenegro, presidente do PSD, sobre os resultados do seu partido nas eleições na Madeira

Emigrar deveria ser uma escolha livre e nunca a única possível
Papa Francisco pediu “o direito de não migrar” no Angelus dominical pelo Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados

PODCASTS A NÃO PERDER

No Expresso da Manhã, oiça a análise do Jornalista João Diogo Correia aos resultados das eleições na Madeira. A coligação liderada pelo PSD ganhou, mas falhou a maioria absoluta. Montenegro garantiu que o seu partido não governaria, nem na Madeira nem no país, com o Chega. Nunca tinha sido tão assertivo.

O grande derrotado das eleições da Madeira, para Luís Marques Mendes, foi o Partido Socialista, cujo líder regional, Sérgio Gonçalves, deveria demitir-se, diz. “Onde é que já se viu? Em quatro anos perder metade do eleitorado. É um autêntico tsunami”.

No Isto é Gozar com Quem Trabalha, Ricardo Araújo Pereira comenta a história “inspiradora” de um professor que foi colocado a 430km de casa e pernoita no carro, no estacionamento de supermercados. O Governo chama-lhe “colocação de professores”, mas ninguém é verdadeiramente colocado, diz o humorista. “Isto é arremesso de professores”.

O QUE ANDO A VER E A LER

A celebração dos 50 anos da fábrica da Leica em Portugal trouxe duas exposições que não quero perder com fotografias reveladoras da vida da empresa e dos seus trabalhadores, assim como do trabalho de alguns fotógrafos premiados: De Famalicão para o Mundo: 50 anos de Leica em Portugal, na Casa das Artes de Famalicão, e Alfredo Cunha, Portugal de 1973 a 2023, na Galeria da marca alemã, no Porto.

No que respeita a leituras, vou seguir a sugestão do Tiago Serra Cunha, meu colega na Delegação Norte do Expresso: “De Amanhã em Amanhã (Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow, no título original), de Gabrielle Zevin, acompanha dois amigos que criam videojogos durante 30 anos, desde crianças até serem adultos. Esta primeira descrição pode até parecer desinteressante ou enganadora, mas acredito que saber muito mais sobre a história vai estragar a experiência de a descobrir pela primeira vez.

O que é preciso saber: é uma história de amor, mas não primariamente romântico — também lá está, mas está igualmente o amor entre amigos, familiares, as proximidades, afastamentos, festejos e desavenças que experienciamos ao longo de uma vida; é um livro sobre seguir sonhos, planeá-los, concretizá-los e promovê-los, aqui na forma de videojogos; a escrita da autora é deliciosa e deixa o leitor colado a uma história intemporal, mesmo que se passe maioritariamente nos anos 90 e 2000, deixando-o com nostalgia por uma época que pode nem ter vivido na totalidade; uma cápsula da experiência humana, contada de forma subtil mas marcante, com todos os contornos da vida: as vitórias, as derrotas, as perdas e as conquistas.

O livro, que tem sido um fenómeno de vendas pelo mundo muito graças à popularidade (merecida) que ganhou nas redes sociais, será adaptado ao cinema, ainda sem data de estreia definida. Mas quer nas páginas, quer no ecrã, encontrará uma história inesquecível. Sabe aquela boa sensação de ler a última página de um bom livro e ficar a contemplar o que acabou de ler? É desses”.

Termino este curto com um convite para recordar o cantor norte-americano Andy Williams, que morreu há 11 anos (1927 - 2012). A solo, em Moon River, ou num dueto com António Carlos Jobim para uma versão especial de Garota de Ipanema - The Girl from Ipanema? A escolha é sua.

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Boas leituras

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