sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Angola | O Invencível Exército de André – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

André Santana Pitra (Petrof) foi Comandante de Coluna na Frente Leste. É signatário da Proclamação das FAPLA. Até ao repouso do guerreiro comandou o Corpo de Polícia Popular de Angola (Polícia Nacional) e foi ministro. Em 1992, poucos dias antes de Savimbi lançar o golpe para tomar o poder pela força, perguntei-lhe se tinha garantias da ala civil da UNITA que não haveria o regresso à guerra. Olhou para mim e respondeu secamente: “Ninguém sabe quem naquele partido é político ou militar. Se receberem ordens pegam todos nas armas”.

Nessa época desafiei-o a contar-me as suas memórias na guerrilha. De uma forma amigável e educada respondeu: “Não tenho tempo para conversar nem com a minha família!” O meu convite não era para “vender” a sua imagem. Mas porque pela boca dos Comandantes Orlog e Dak Doy ouvi relatos empolgantes sobre o seu papel de “sabotador” na Frente Leste. 

Entre o Luvuei e a fronteira do Mussuma ou até ao Ninda, um imenso território, os generais portugueses tiveram de mobilizar vários batalhões porque a guerrilha do MPLA estava muito activa. Em breve essas tropas ficaram “prisioneiras” nos seus quartéis. E quando eram abastecidas, as viaturas accionavam minas convencionais ou criadas pelos sabotadores. Os camiões de carga, e as viaturas militares iam pelos ares. Muitas baixas e sobretudo muitos mutilados. 

Essas operações de sabotagem tinham a assinatura do Comandante Petrof. Ele deslocava-se de um extremo ao outro da vasta região e ia colocando os engenhos explosivos nas picadas e nos trilhos das matas. Como o solo ali é areal, a tarefa ficava mais fácil. No auge da guerra de guerrilha na região existam mais de 1500 militares portugueses. Os quartéis eram prisões como a Faixa de Gaza. As picadas estacam cheias de minas e armadilhas explosivas. No Muíé, o comando português colocou um pelotão. Os combatentes do MPLA, para desmoralizarem o inimigo, atacaram atirando laranjas (nessa zona há grandes laranjais…) para o quartel. O oficial que comandava o pelotão enlouqueceu e a posição foi abandonada.  

Pesadas baixas (mortos e feridos) e material destruído foi obra do Comandante Petrof. Perguntei-lhe quantos homens tinha a sua unidade. Ele disse que não era unidade nenhuma e combatia com cinco camaradas no máximo! Eis o grande exército de André Santana Pitra (Petrof). O Comandante Iko Carreira revelou-me que o MPLA tinha no máximo 800 guerrilheiros. Portugal mobilizou milhares de soldados para enfrentá-los. Revelo estes factos porque Israel concentrou na fronteira da Faixa de Gaza centenas de tanques, canhões e milhares de soldados. Para quê?

Se entrarem no território cheio de entulho, enormes blocos de cimento, prédios esventrados, grandes crateras nas vias provocadas pelas bombas, vão apanhar pela frente um qualquer André e seus cinco camaradas. Ou menos. Resultado: Independência Nacional num 11 de Novembro na Palestina. Os apelos lancinantes dos líderes do ocidente alargado são truques baixos. Insultos à nossa inteligência. Porque ao mesmo tempo dizem aos sionistas que matem palestinos até onde for preciso, com bombardeamentos aéreos. Estádio supremo da hipocrisia. Maldade incomensurável!

António Guterres, disse hoje no Conselho de Segurança da ONU que o ataque dos combatentes do HAMAS a Israel no dia 7 de Outubro não aconteceu do nada: “Resultou de uma sufocante ocupação nos últimos 56 anos!” E sobre os bombardeamentos aéreos (muita arrogância grande cobardia…) Guterres disse que “são uma punição colectiva à população palestina”. O ministro dos negócios estrangeiros do governo de Telavive, Avigdor Liberman (extrema-direita), exigiu a imediata demissão do secretário-geral. 

Hoje aconteceu um episódio, encomendado pelo estado terrorista mais perigoso do mundo. O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, subiu ao púlpito, disse umas palavras raivosas e depois rasgou o relatório da instituição onde estão descritos os crimes de guerra cometidos por Israel na Faixa de Gaza. O Governo de Telavive é liderado pelo partido Likud, de Netanyahu, em coligação com três partidos da extrema-direita laica e dois partidos ultraortodoxos (extrema-direita religiosa). Grandes democratas! Isto é o nazismo radical para deixar mal Hitler.

Hoje abriu em Luanda a 147ª Assembleia-Geral da União Interparlamentar. O Presidente João Lourenço falou sobre a guerra no Médio Oriente reclamando o imediato cessar-fogo. Mas acrescentou: “Mesmo que este objetivo imediato seja alcançado para minimizar a dor e o sofrimento dos povos israelita e palestino, há necessidade de se rebuscarem as causas profundas do conflito, que dura há mais de 75 anos e deixou milhões de palestinos sem terra, sem pátria e sem a possibilidade de regresso à terra que sempre lhes pertenceu”. 

O Presidente João Lourenço também fez referência às resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que reconhecem "o direito inalienável do povo palestino a viver no Estado da Palestina, lado a lado com o Estado de Israel”. Porque "só a criação efetiva do Estado da Palestina põe fim definitivo a este ciclo de ódio e violência a que o mundo assiste impotente ao longo de décadas e que já fez verter muito sangue de cidadãos palestinos e israelitas”. Rematou assim: “Não são os canhões que trazem a paz definitiva ao Médio Oriente, será a diplomacia".

A Presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, pôs um ponto final na conversa quando disse: “A Justiça é o único caminho para a paz.” A maka é essa. Ódio chama ódio, vingança chama vingança, ocupação pela força das armas exige luta armada. A Organização de Libertação da Palestina (OLP) nunca aceitou fundamentalismo, não se deixou enredar num conflito religioso e lutou abnegadamente pela paz. Assinou com Yitzhak Rabin os Acordos de Oslo.

 Arafat de presente recebeu dos sonistas o HAMAS. Mas o seu parceiro teve pior sorte, foi assassinado por um terrorista israelita. Os Media do ocidente alargado chamam-lhe um “extremista religioso”. O genocídio da Faixa de Gaza é apresentado como a “Guerra Israel-HAMAS”. 

Hoje Macron, o boneco articulado de Paris, propôs ao mundo que se una para destruir os radicais do HAMAS como foi feito com o Estado Islâmico (ISIS). O sujeito devia estar com um carregamento de cocaína dos antigos. Esse grupo extremista, criado pela CIA, actua em grande na Líbia, Iraque e na Síria. Às ordens do estado terrorista mais perigoso do mundo e guardião do nazismo radical. 

*Jornalista

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