sábado, 7 de outubro de 2023

Angola | Vidas que Deram Vida à Rádio -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Emissora Oficial de Angola (hoje RNA) começou como uma secção dos CTT e funcionava num barracão de zinco no Bairro da Cuca. Ao lado da estação dos Correios. No ano de 1964, alguns jovens com o ensino secundário foram admitidos como assistentes literários. Redigíamos as notícias e as “cabeças” das reportagens. 

A palavra “jornalista” não existia naquela Redacção ainda que a Linguagem Jornalística tenha nascido da gramática radiofónica. Antes era “emprestada” pela Literatura, desde a existência dos primeiros jornais impressos. À medida que a Rádio se desenvolveu, também a Linguagem Jornalística se autonomizou da Linguagem Literária e foi nascendo uma gramática própria dos Media.  

Na Emissora Oficial de Angola existiam locutores, realizadores, produtores e operadores de som (sonorização e montagem). Os mais engenhosos tinham o estatuto de sonoplastas. Construíam fabulosos edifícios sonoros. Os técnicos vinham quase todos da Escola Industrial de Luanda e mais tarde até do Instituto Industrial.

O arquitecto angolano Fernão Simões de Carvalho (Carvalhinho) criou o fabuloso edifício onde hoje reside a Rádio Nacional de Angola. Logo após a inauguração, também nasceu uma Redacção com “noticiaristas”. Este avanço histórico deve-se ao jornalista Cruz Gomes que antes foi director do Jornal do Congo (Uíge). Em Junho de 1974 fui substituí-lo e os profissionais adquiriram, finalmente, o estatuto de jornalistas.

À sombra da Emissora Oficial de Angola (hoje RNA) nasceu a Voz de Angola, canal de propaganda do regime colonialistas. Tão eficaz que em poucos meses era líder de audiências. Tinha uma grelha própria, com programas em Línguas Nacionais. Entrava em cadeia com a rádio pública nos jornais das 13 e 20 horas. Após o 25 de Abril de 1974, activistas do MPLA exigiram o seu encerramento imediato. Fechar a rádio mais ouvida em Angola era um erro. 

O produtor independente (Programas Equipa, na antena da Rádio Eclésia) Brandão Lucas e eu fomos propor ao secretário da Comunicação Social da Junta Governativa o lançamento de dois programas na Voz de Angola, A Voz Livre do Povo, das 19 às 20 horas e Contacto Popular das 21 às 24 horas. E essa simples mudança alterava o rumo da emissora. O resto dicava igual, inclusive a “Agenda” que era o espaço radiofónico mais ouvido em Angola.  O comandante Correia Jesuíno aceitou a  nossa proposta.

Manuel Berenguel ficou com a apresentação e realização do programa A Voz Livre do Povo. Na técnica estava o Artur Arriscado que era dos quadros da Voz de Angola, O Contacto popular ficou com a apresentação e produção de José ZAN Andrade, eu na realização e Fernando Neves nos botões. Hermínio Escórcio e Manuel Pedro Pacavira apoiaram o projecto, ante um coro de protestos dos activistas do MPLA. Queriam mesmo calar a emissora mais ouvida de Angola. Por fim cederam. Como dizia Agostinho Neto, às vezes triunfa a inteligência.

Com a Voz de Angola ao serviço das forças progressistas partimos para as mudanças necessárias na Emissora Oficial (hoje RNA). Rui de Carvalho lançou o programa âncora Primeira Mão com o subtítulo Até os Deuses Gostam do Desporto. Arrebatou audiências. A Direcção de Informação ficou sob a responsabilidade de Artur Queiroz (Jornal das 13 horas), Manuel Rodrigues Vaz (Jornal das 20 horas) e António Cardoso (Intercalares da noite). Na área da programação grandes radialistas: Concha de Mascarenhas, Horácio da Fonseca, Francisco Simons ou Luísa Fançony. Na direcção das duas rádios estavam militares do MFA: Comandante Garrido Borges e capitão Alcântara de Melo.

E foi assim que a rádio púbica angolana se associou ao movimento revolucionário pela Independência Nacional. Nunca esqueçam essas e esses profissionais de excepção. Eu jamais esquecerei. Aturaram-me. Ensinaram-me. E deram-me a honra de trabalhar com elas e eles. Hoje, Dia da Rádio Nacional de Angola, recordo alguns dos seus construtores.

A corrupção no futebol nacional foi resolvida à moda da casa. É o prato forte do cardápio. O Kabuscorp do Palanca, clube que tem o MPLA no coração, foi despromovido e Bento Kangamba suspenso por quatro anos. O revisor Rui Ramos quer saber quais são as empresas do presidente da direcção do cube despromovido. 

Primeiro o Rui Ramos tem de mostrar a carteira profissional de jornalista emitida pela entidade competente em Portugal, onde trabalhou como revisor quando terminou em Luanda a sua aventura na Organização Comunista de Angola (OCA), que causou tantos danos ao Povo Angolano. Falsos profetas existem por todo o lado. Mas Bento Kamgamba é mesmo empresário e nunca traiu o MPLA. Por isso foi castigado. O clube da Sonangol é intocável. 

Hoje uma senhora da embaixada dos EUA em Luanda, num português macarrónico, apareceu no noticiário das 13 horas da TPA lembrando que o estado terrorista mais perigoso do nundo deu umas esmolas aos angolanos durante a epidemia da COVID19. Até esmolou protecções aos profissionais de saúde! O que seria dos angolanos sem as esmolas de Washington? Como foi possível vivermos tantos anos sem os nossos donos de estimação, que anda por cima nos maltratavam e matavam?

O Presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouët-Boigny, em 1974 desembarcou em Paris chorando como uma criança. Ia ao funeral do Presidente Pompidou. Chorando ante as câmaras ele dizia compungido: Morreu o meu pai, morreu o meu papá Pompidou. Espero que o Biden viva pelo menos até 2027. Não gostava nada de ver dirigentes angolanos chorando convulsivamente pela morte do papá  à sua chegada ao aeroporto internacional de Washington. Não é por nada, mas fico com um sentimento oposto quando morre algum bandido internacional. Já estão a perceber por que razão nunca foi aceite na cristandade.

* Jornalista

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