domingo, 22 de outubro de 2023

O Último Adeus a Onambwe – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O  Harakat Al-Muqawama al-Islamia (HAMAS), que significa Movimento de Resistência Islâmica, é um partido palestino, confessional, que nasceu em oposição à Organização de Libertação da Palestina (OLP) laica e de esquerda. A Al Fatah era o seu braço armado, hoje é um partido político. O HAMAS tem um braço armado activo, as Brigadas de Al-Qassem. Na Palestina também existem outros movimentos com braços armados como a Jihad Islâmica (confessional), a Frente Popular de Libertação da Palestina, uma cisão da OLP, marxista-leninista. O seu fundador foi George Habash, que entrevistei em 1974.  Deste partido há uma cisão, o Comando Geral.

As tropas de Israel retiraram da Faixa de Gaza em 2005 e os colonatos foram desmantelados. Logo a seguir, os vários partidos palestinos participaram em eleições, declaradas pelos observadores internacionais como livres e justas. O HAMAS ganhou e formou governo. Desde então Israel bloqueou o território de tal forma que a economia colapsou. A população passou a viver da “ajuda humanitária”. As autoridades de Telavive construíram um muro de betão “intransponível” ao longo de toda a fronteira. Criou uma imensa prisão a céu aberto. 

É falso dizer que “o Hamas controla a Faixa de Gaza”. Porque governa. Existe um governo local, eleito. Em nada diferente do governo de Telavive. Por muito que isso custe aos sionistas, também o HAMAS não está de acordo com a solução “Dois Estados”. São extremistas do mesmo saco. Quando o Governo de Israel diz que vai destruir as estruturas do HAMAS, em rigor está a dizer que destrói escolas, hospitais, universidades, lugares de culto, prédios de habitação e tudo quanto é equipamento social. Está a cumprir com grande eficácia. 

O primeiro-ministro Benjamim Natanyahu diz que vai destruir o HAMAS. Quer apenas dizer que está a fazer um genocídio. Nesse crime contra a Humanidade é apoiado pelos EUA, pela União Europeia e o Reino Unido. Um dia todos vão prestar contas. Espero que não paguem com sangue, como estão a cobrar a milhões de palestinos. Só pela cabeça de um nazi passa a ideia de que é possível destruir um partido político. 

Os colonialistas portugueses fizeram tudo para destruir o MPLA, desde Dezembro de 1956. Quanto mais prisões, torturas e mortes, mais o movimento se fortalecia e mobilizava mais gente. O Partido Comunista Português foi ilegalizado. Os seus militantes e dirigentes perseguidos até à morte. Continua vivo. As bombas, as prisões, as torturas, as humilhações não matam a luta pela liberdade. Impossível.  

Eu vos saúdo efusivamente, Natália e Judite! Que felicidade quando vos vi em liberdade. O HAMAS teria o meu apoio firme eternamente se libertasse agora mesmo todos os reféns, sejam civis ou militares. Combatentes pela liberdade, armados, lutam contra inimigos da liberdade, armados. Não molestam civis. Aos mais distraídos, que só agora perceberam que há uma guerra em Israel há mais de 75 anos, recordo as palavras do secretário-geral da ONU hoje no Cairo: “A Palestina está ocupada há 56 anos”. Na Faixa de Gaza a ocupação resvalou para limpeza étnica. Na Cisjordânia, ocupada com tropas israelitas, há sinais de que vai ser aplicado o mesmo remédio.

Israel tem o direito de se defender. Israel tem o direito de existir. Israel tem direito à paz. O problema é que Israel reclama também o direito a fazer da Faixa de Gaza uma imensa prisão a céu aberto. O direito a ocupar militarmente a Cisjordânia e criar mais e mais colonatos. O direito a prender milhares de palestinos sem culpa formada, sem julgamento. Entre esses prisioneiros há centenas de mulheres e crianças. Israel reclama o direito a ocupar a Palestina e se os palestinos se opuserem, são mortos ou presos. 

Israel reclama o direito de ignorar todas as Resoluções da ONU. Atribui-se o direito de escorraçar os palestinos para os países vizinhos. E quem não fugir é morto. Direito ao genocídio! Esta parte tem uma vertente pornográfica. Benjamim Natanyahu invoca o Holocausto para avançar com o genocídio na Faixa de Gaza. Acontece que o Holocausto não é exclusivo de judeus. É de todas as vítimas do nazismo. E a comunidade internacional tem o dever sagrado de impedir que o Holocausto se repita seja onde for.

Para o caso de já ninguém se lembrar, informo que as hordas nazis mataram 26 milhões de civis e militares soviéticos (Federação Russa). Holocausto! Na Polónia os nazis mataram quase 30 por cento da população, mais de seis milhões de seres humanos. Holocausto! Os outros países agredidos pelos nazis perderam quase 40 milhões de pessoas entre civis e militares. Holocausto! Os nazis do Japão mataram 14 milhões de chineses. Holocausto! Nos campos de concentração dos nazis morreram seis milhões de seres humanos, judeus na maioria. Holocausto! O governo de Israel não tem o direito de conspurcar esses mortos.

O Governo de Israel ameaçou a BBC de expulsão se nos seus noticiários não tratasse o HAMAS por grupo terrorista. Os combatentes das Brigadas de Al-Qassem por terroristas. Mas chamou “jornalistas” de vários Media internacionais, sobretudo a CNN Portugal, para fazerem terrorismo mediático. Este canal deve receber à palavra. Por cada vez que os empregados do barqueiro do Douro e os “comentadores” disserem “terroristas” ganham um euro. Já ganharam uma fortuna. Repetem de manhã à noite terroristas, terroristas, terroristas. Pensam que assim a opinião pública desculpa o genocídio que Israel leva a cabo em Gaza.

Em Angola é uma festa. Andam a torrar dinheiro com as empresas de comunicação e imagem. A Dona Vera Daves deixou o seu papel de manequim dos penteados trançados e agora é só gestos teatrais. Faz o papel de sábia. Também comprou um prémio. As empresas públicas compram prémios. O Presidente da República compra prémios a granel. Não vou dar uma de populista e dizer que esse dinheiro matava a fome a muitos milhões de famintos. Mas digo que comprar prémios é ridículo e dá um sinal de grande debilidade.

O Comandante Onambwe, Herói Nacional, foi ontem a sepultar. A TPA olhou para o lado. Mas o Jornal de Angola publicou uma notícia. Não estiveram presentes o Presidente e a Vice-Presidente da República. Não estiveram presentes o General Furtado e os outros ministros de Estado. As ministras também não. Fiquei aliviado. Além da família marcaram presença as amigas e os amigos. As camaradas e os camaradas. O General António dos Santos França (Ndalu) discursou, seguramente em nome dos seus camaradas da Luta Amada de Libertação Nacional. O discurso oficial foi do ministro Laborinho. A presença dos golpistas do 27 de Maio hoje no poder era insultuosa.

* Jornalistas

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