quinta-feira, 23 de novembro de 2023

As Lágrimas do Falcão Belicista – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Guerra na Ucrânia. Os Media ocidentais mostram mortos que se mexem e fumam. Mostram cadáveres em Bucha, que ainda têm as braçadeiras para mostrarem que nada tinham a ver com os nazis Bandera, Sector Direita ou Batalhão Azov. Nem todos os ucranianos votaram em Zelensky. Nem todos adoram a OTAN (ou NATO). Nem todos querem ser carne para canhão. Uma montagem infame dos serviços secretos britânicos deu pano para mangas em todo o ocidente alargado. 

No púlpito do Pentágono, ante os jornalistas, o falcão belicista John Kirby fez esta declaração emocionada:

“É difícil olhar para o que Putin está a fazer na Ucrânia e pensar que qualquer indivíduo ético e moral possa justificar isso.

É difícil olhar para … (John Kirby chora e pede desculpa por não conter as lágrimas) algumas imagens e imaginar que um líder pensante possa fazer isto.

Não posso falar como psicólogo mas todos podemos falar da depravação de Putin”.

O mesmo John Kirby, no mesmo local, com os mesmos jornalistas à sua frente, estilo de pirata com perna de pau, olho de vidro e cara de mau, disse isto sobre o início dos bombardeamentos à cidade de Gaza e campos de refugiados na Palestina:

“O que se passa na Faixa de Gaza é uma guerra. É um combate. É sangrento. É feio. E isso vai ser confuso. 

Na Faixa de Gaza civis inocentes vão ser feridos. Gostaria de poder dizer algo diferente. Gostaria que isso não acontecesse. Mas é isso que vai acontecer”. 

O falcão belicista disse isto em tom ameaçador. Não chorou. Não falou então nem fala hoje das imagens de prédios esventrados. Das 5.000 crianças assassinadas pelos nazis de Telavive. Dos 15.000 civis mortos. Dos 30.000 feridos. Dos 68 jornalistas assassinados, uma Redacção inteira. Podia ser eu. Podiam ser vocês, minhas e meus camaradas de profissão. 

Kirby não fala dos 148 trabalhadores humanitários da ONU assassinados à bomba. Não fala das dezenas de médicos e outros técnicos de saúde mortos para não salvarem mais palestinos porque o objectivo dos nazis de Telavive é o genocídio. O falcão belicista não diz que em apenas um mês e meio de massacres na Palestina já morreram mais jornalistas do que em todas as guerras no Século XXI. Em apenas um mês e meio de genocídio na Palestina já morreram mais civis (15.000) do que em quase dois anos de guerra na Ucrânia. A ONU revelou que há quase 10.000 civis ucrianianos mortos.

Johnm Kirby não chora pela Palestina. Mesmo sabendo que os nazis de Telavive já forçaram 1,7 milhões de palestinos a fugirem das suas casas. Sabem o que isso significa? Vamos a exemplos concretos.

Tracem uma linha entre o Largo da Maianga e a Avenida 4 de Fevereiro (Marginal) junto ao Banco Nacional de Angola. Outra linha entre o Largo da Maianga e o cemitério de Sant’Ana (Avenida Deolinda Rodrigues). Outra linha deste local até ao Sambizanga passando pela Estrada da Brigada. Finalmente uma linha entre o Sambizanga e a sede do Banco Nacional de Angola. Os nazis da UNITA bombardeiam esse “quadrado” e quem lá vive tem de abandonar as suas casas para não morrer. Sim, são quase dois milhões de Luandenses deslocados.

Em Portugal é mais fácil de perceber. Imaginem toda a população da Área Metropolitana do Porto obrigada a fugir para Vila da Feira e “viver” nos pinhais, sem água, sem luz, sem saneamento, comendo as rações da caridade e bebendo água choca. Uma catástrofe humanitária. É isso que aconteceu na Faixa de Gaza.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra roturas no sistema de abastecimento de água no Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto. Água jorrando. Uma inundação no terminal de carga. Sabem o que é? Sabotagem pura e dura. Para fazer o “filme”. Porque é facílimo fechar a torneira do sistema e não há inundação. Cuidado! As sabotagens tanto podem funcionar provocando inundações como causando cortes. 

Um sabotador fechou a torneira da água que alimenta a máquina rotativa da Empresa Edições Novembro no centro de produção da Cuca. Um operário diligente detectou a sabotagem e o equipamento não rebentou. Outro artista deixou desapertada uma chapa e quando a máquina aumentou a velocidade de impressão, ela soltou-se e rebentou com o centro de comando. Uma lâmina voadora de grandes dimensões! Podia ter morrido gente. Outro sabotador pegou fogo à central de informática na Redacção do Jornal de Angola. Só não ardeu o quarteirão inteiro porque um guarda diligente detectou o fumo (de madrugada!) e chamou os bombeiros. A turma dos sabotadores hoje está instalada no poder. 

O deputado das UNITA Nuno Álvaro Dala, sócio do condecorado Rafael Marques, acaba de perder a imunidade para responder em Tribunal pelos crimes de injúria, calúnia e difamação. O arguido disse que “é uma situação triste que tem como objectivo bloquear personalidades ligadas à oposição”. A seguir vem o presidente do Sindicato dos Jornalistas e diz que está em perigo a liberdade de expressão. Nunca mais se convencem de que o abuso de liberdade de imprensa é um crime grave contra o Jornalismo e os Jornalistas.

O deputado da UNITA Lourenço Lumingo chamou ladrões aos deputados do MPLA e aos membros do Executivo, em plena Assembleia Nacional. Alguém me explique por que razão o Ministério Público ainda não agiu pedindo a suspensão do mandato do Lumingo para responder ante a Justiça. Se agiu, tinha o dever de informar a opinião pública. Nunca um energúmeno do Galo Negro foi tão longe nos insultos a titulares de órgãos de soberania. A repressão destas práticas antidemocráticas tem de ser publicitada até por uma questão educativa. Nada se sabe. O silêncio protege quem cometeu os crimes. O que é grave.

Pompeia teve o seu último dia. A impunidade nos Media angolanos também terá. Pelos vistos começou com Nuno Álvaro Dala. Não se esqueçam de chamar gtambém à responsabilidade quem deliberadamente falsifica a História Contemporânea de Angola. Hoje mando o vídeo das declarações de John Kirby. Para se perceber até que ponto chega o banditismo político no estado terrorista mais perigoso do mundo.

* Jornalista

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