Genocídio é abertamente declarado por jornalistas na grande mídia e constatado por diretor da ONU
João Filho - colunista do Intercept_Brasil | # Publicado em português do Brasil
Desde o dia 7 de outubro, mais de 8.500 já foram mortas em Gaza, sendo que quase metade são crianças. "Gaza se transformou em um cemitério para milhares de crianças. É um inferno na Terra", declarou James Elder, porta-voz da Unicef. Além das bombas, a falta de água, de comida e de energia impõem uma tortura psicológica nas crianças sobreviventes, que carregarão o trauma para as futuras gerações.
O ex-diretor do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, Craig Mokhiber, deixou um recado claro ao se aposentar do cargo: o que acontece em Gaza é um genocídio. A ONU fracassou e está submetida aos interesses dos EUA e ao lobby de Israel. "Mais uma vez, estamos vendo um genocídio se desenrolar diante de nossos olhos, e a organização a que servimos parece impotente para impedi-lo (...) Nas últimas décadas, partes importantes da ONU se renderam ao poder dos EUA e ao medo do lobby de Israel, abandonando princípios e se afastando do próprio direito internacional", afirmou.
Não há mais possível haver dúvidas de que o mundo está diante de um genocídio. O povo palestino está cercado e na mira de um plano de limpeza étnica comandado pelo governo de Israel, com o apoio da maior potência do mundo.
Mas há quem apoie abertamente o
extermínio do povo palestino. Nesta semana, veio à tona a demissão de Deborah
Srour, uma jornalista brasileira, judia, que reside
Comparar um povo com animais é desumaniza-lo e historicamente costuma servir de justificativa para exterminá-lo. Nazistas chamavam os judeus de "ratos" antes do Holocausto. Srour pregou abertamente o genocídio de um povo. Não abre exceção nem para as crianças. Trata-se literalmente de uma defesa aberta do extermínio étnico do povo palestino.
Essas não foram as primeiras barbaridades ditas no programa. Segundo relatos de ouvintes, os integrantes eram identificados com o bolsonarismo e os comentários racistas contra palestinos eram recorrentes, ainda que feitos de maneira menos explícita. Não é difícil imaginar o que Deborah Srour deve ter falado nos últimos 22 anos em que foi comentarista do programa. Nesse período, além do apartheid imposto pelo governo israelense, a população de Gaza sofreu uma série de massacres.
Durante todo esse tempo, a Rede Bandeirantes não viu problema em dar voz a quem prega o ódio. Após a pregação do extermínio dos palestinos, a emissora nada fez e só foi demiti-la 15 dias depois, após a repercussão da denúncia feita pela Matinal. Ou seja, as afirmações não chocaram nem a direção da rádio, nem a patrocinadora do programa — a Federação Israelita do Rio Grande do Sul.
Nesse meio tempo, Srour utilizou o espaço para reforçar a defesa da aniquilação dos palestinos: “Como qualquer pessoa normal, expressei minha opinião de que Israel deveria exterminá-los”. E repetiu para não deixar dúvidas: “Não há inocentes em Gaza”. Sobre as críticas às suas falas, Srour demonstrou não ter qualquer arrependimento e ainda desrespeitou a memória dos judeus exterminados pelos nazistas: “Sou mil porcento judia e sionista. Não sou uma judia daquelas que se dobra, que vai para o gueto calada ou como uma carneira para a câmara de gás”.
Após a demissão e a decisão de tirar o programa da grade, a emissora foi criticada pela Federação Israelista gaúcha . Em nota, a patrocinadora do programa se disse contra qualquer discurso de ódio, mas não critica diretamente Deborah Srour. O foco do texto é a crítica à "censura" da Band e a defesa daquela ladainha bolsonarista que confunde "liberdade de expressão" com liberdade para cometer crimes de ódio.
Aliás, para a surpresa de ninguém, Deborah Srour é uma bolsonarista de quatro costados. Em texto publicado em seu blog após a demissão, a jornalista afirmar que os diretores da emissora "foram atrás da propaganda esquerdopata, completamente falida moralmente, que escolheu apoiar a chacina cometida por um grupo terrorista do que expressar sua solidariedade com Israel." Em outro momento, Srour defende as teorias conspiratórias que fazem a cabeça dos bolsonaristas: "a democracia intoxicou a modernidade com liberdade — liberdade em relação à família, liberdade em relação ao gênero, liberdade em relação à valores e agora liberdade da moralidade. A democracia está aos poucos assassinando a claridade moral."
A jornalista usa o Twitter para defender a extrema direita do Brasil e do mundo. Segundo ela, "Donald Trump foi o melhor presidente que os EUA já tiveram". Durante as eleições de 2018, Srour ajudou a espalhar nas redes a mentira de que as urnas eletrônicas brasileiras "foram programadas na Venezuela". Ela também defendeu a publicação de uma fake news em favor de Bolsonaro um dia antes da eleição de 2022, porque, segundo ela, "faz bem para o fígado":
A cartela do bingo bolsonarista está completa.
Deborah Srour pode ser acusada de muitas coisas, menos de ser hipócrita. A jornalista fala exatamente o que pensa, diferente da maioria dos jornalistas que estão espalhados pela grande imprensa comercial defendendo igualmente, ainda que de maneira velada, o massacre perpetrado pelo governo de Israel.
Não pega bem defender diretamente o apartheid, a limpeza étnica e o assassinato de milhares de crianças. Mas é possível pregar tudo isso de maneira indireta, sem comprometer os empregos. Defender as ações terroristas de Benjamin Netanyahu em Gaza, mas ao mesmo lamentar as mortes de inocentes e tratá-las como mero efeito colateral, é hipócrita. Não faz sentido lógico defender de maneira absoluta as ações terroristas e depois lamentar suas consequências. A única diferença entre Deborah Sour e outros jornalistas é a hipocrisia. E é justamente a hipocrisia que garante o emprego.
The Intercept_Brasil
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