terça-feira, 7 de novembro de 2023

Prioridades da Guerra Anunciada -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O movimento de libertação HAMAS ganhou as eleições parlamentares, em 25 de Janeiro de 2006, declaradas livres e justas pela comunidade internacional. Elegeu 74 deputados enquanto o FATAH (Organização de Libertação da Palestina) conquistou 45 lugares no Conselho Legislativo da Palestina (Parlamento) Ganhou quem não reconhece Israel nem aceita a solução “Dois Estados”. Imediatamente foi criado um “cordão sanitário” à volta da organização. De tal forma apertado que EUA e União Europeia puseram-lhe o rótulo de “terrorista”.  

O Quarteto para o Médio Oriente (EUA, Federação Russa, União Europeia e ONU) ameaçou cortar os fundos destinados à Autoridade Nacional da Palestina se o HAMAS fosse governo. Porque se pôs abertamente contra os Acordos de Oslo inviabilizando a solução “Dois Estados”. Do outro lado, os fanáticos religiosos e a extrema-direita partidária também recusam a solução. O problema é que ninguém reage. Yitzhak Rabin foi assassinado em 1995 por ter assinado a paz com Yasser Arafat. O assassino é apresentado como um “extremista”. A sua família religiosa e política está hoje no poder em Telavive!

Em 2005, o HAMAS já tinha ganho as eleições locais na Faixa de Gaza. Esta vitória eleitoral descambou em “guerra civil”. Militantes e dirigentes da OLP foram expulsos do território ou mesmo mortos. Israel acrescentou ao “cordão sanitário” político, uma “muralha intransponível” guarnecida com armas “inteligentes” que disparam automaticamente quando alguém invade a zona de segurança. Mas em 7 de Outubro fizeram-lhe um rombo e os militantes do braço armado do HAMAS estiveram horas em Israel, matando e destruindo. 

A segurança inteligente ficou burra no dia 7 de Outubro passado. Tudo como o previsto para fazer a guerra. A vigilância é feita com olhos electrónicos, dia e noite. Mas adormeceu naquele dia. Assim a maior prisão do mundo a céu aberto deixou passar os miúdos das motorizadas e carrinhas. No presídio imenso, eleições nunca mais. Se fossem hoje, o HAMAS ganhava com 99 por cento dos votos. 

O Likud, partido de Benjamim Netanyahu, formou governo coligando-se com vários partidos de extrema-direita e “ultra ortodoxos religiosos”. Exemplos. O ministro da Defesa (Yoav Gallant) é de extrema-direita. O ministro da Segurança Nacional (Itamar Bem Gvir) é fanático religioso. O ministro das Finanças (Bezalel Smotrich) é fanático religioso e nem sequer reconhece a existência de palestinos! O vice-ministro do Gabinete do Primeira Ministro, Avi Maoz, líder do partido NOAM, defende o extermínio dos homossexuais por estarem fora das regras do livro sagrado dos judeus (Torá). Estes senhores, para nazis só lhes faltam as penas. 

Benjamim Netanyahu anunciou um governo com os mais radicais partidos religiosos e de extrema-direita. Mas não houve qualquer “cordão sanitário”. O Quarteto para o Médio Oriente nem se pronunciou. EUA e União Europeia não declararam partidos de fanáticos e de extrema-direita como organizações terroristas. Nem condenaram o primeiro- ministro de Israel quando anunciou as três prioridades do seu governo: Impedir que o Irão tenha armas nucleares. Criar as forças armadas mais poderosas do Médio Oriente. Expandir os colonatos de judeus na “Samaria e Judeia” nomes bíblicos da Cisjordânia.

O governo de Israel pela voz do seu primeiro-ministro anunciou a guerra! Quer dizer, o 7 de Outubro mais dia, menos dia, mais ou menos inteligência burra e dorminhoca. Ninguém reagiu a não ser os miúdos do HAMAS nas suas carrinhas e motorizadas. Como estava previsto. O Irão ameaçou responder à altura. Impedir um estado soberano de exercer a sua soberania só é possível com guerra. Existe um acordo sobre energia nuclear assinado pelo Irão, pelos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha. A sua execução é conduzida pela ONU e a União Europeia. 

Ninguém reagiu à primeira prioridade anunciado pelos nazis de Telavive. Pelo contrário. No início do genocídio na Faixa de Gaza, Blinken, Biden, Austin, Úrsula von der Leyen, Macron e Scholtz foram a Israel apoiar o extermínio de palestinos. Todos sabem que a guerra vai atingir pelo menos o Irão. Os EUA estão aos comandos. Por isso, logo nom primeiro dia da “operação” mandaram uma frota naval para o Mediterrâneo Oriental. O sargento Israel cumpre ordens. E cumpre, mesmo sabendo que está a pôr em risco os israelitas. 

O genocídio de Gaza está a ser acompanhado com a expansão dos colonatos na Cisjordânia (Judeia e Samaria). O ministro da Segurança Nacional, reuniu com colonos e ante as câmaras de televisão anunciou que ia armá-los e ordenou que ocupassem as terras dos palestinos. Ninguém reagiu mas essas imagens correram mundo!

No momento em que Netanyahu anunciou o seu governo de extremíssima direita, defensor do apartheid, racista e xenófobo, os países democráticos só tinham que chamar os seus embaixadores até o  clima em Telavive ficar politicamente respirável. Impunha-se de imediato um cordão sanitário para isolar tal regime, igual ou pior do que o governo do III Reich. Glorificador das teses nazis. Nada aconteceu. Pelo contrário. Líderes do ocidente alargado repetem até à náusea que o governo de Israel é democrático!

Ao declarar guerra ao Irão, ignorando os países que negoceiam com Teerão, era suposto que a ONU e a União Europeia reagissem imediatamente porque estão ligados ao acordo assinado. Ninguém reagiu. Quem cala consente. Desde o dia 7 de Outubro que Israel faz tudo para os seus mentores (EUA) atacarem o Irão.

Um ministro do governo de extremíssima direita ameaçou atacar a Faixa de Gaza com bombas nucleares. Ninguém no mundo reagiu. O Conselho e Segurança da ONU ficou em silêncio quando tem responsabilidades na preservação da paz no mundo. A União Europeia nem uma palavra. Todos coniventes com a guerra. Gravíssimo. Israel nega ter armas nucleares para escapar ao controlo. Um ministro do governo israelita confirma que tem. E nada!

A Polónia enveredou pelo caminho da extrema-direita e a União Europeia aplicou-lhe sanções pesadas. A Hungria pisa terrenos da extrema-direita e os burocratas e Bruxelas criaram imediatamente um cordão sanitário ao regime de Budapeste. Os nazis de Kiev estão a ser desarmados pela Federação Russa, país que desenvolve uma operação militar para também desnazificar a Ucrânia.

Israel faz muito pior. Imediatamente o estado terrorista mais perigoso do mundo enviou para o local das operações de genocídio, uma impressionante armada com dois porta-aviões para ajudar ao extermínio e fazer a guerra ao Irão. Isto vai acabar mal para todos os lados. 

* Jornalista

* Cartoon em JN

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