sábado, 16 de dezembro de 2023

Angola | Executivo de Paus Mandados e Fusíveis – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A primeira instituição angolana que deve exigir prestação de contas ao Presidente da República é o MPLA. Porque os eleitores angolanos lhe deram uma maioria absoluta. E porque o seu cabeça de lista é igualmente líder do partido. João Lourenço tem o reprovável hábito de demitir ministros e secretários de Estado sem dar satisfações a quem o colocou no poder com os seus votos. Acontece sempre assim e aconteceu agora com a demissão de Caetano João. 

O vazio de informação é depois preenchido pelos pasquins ao serviço do chefe Miala e sabe-se lá de aquém mais. Sabemos sim, há dinheiro há pasquim às ordens. João Lourenço não se dignou dar satisfações pela demissão do seu ministro fusível. Mas o Club K hoje publica uma lista de maldades supostamente cometidas pelo demitido. O “24 horas” até descobriu que “Caetano João gastava milhões aos fins-de-semana com os amigos no Mussulo e remetia para o ministério todas as despesas de consumo feitas em grupo”. 

Esta é a face mais horrenda da política, Destruir a hora e dignidade das pessoas, sejam ou não titulares dos órgãos de soberania. João Lourenço é o responsável por esta deriva digna de ditadores. Um dia ficámos a saber que Manuel Nunes Júnior não servia para ministro era mais um fusível para queimar. Ninguém deu uma explicação aos eleitores. Mas as intrigas e as especulações começaram logo a circular nas redes sociais e nos “portais”. 

Manuel Nunes Júnior é membro do Bureau Político do MPLA. Ninguém tem coragem de dizer ao líder do partido que não pode ter este comportamento? Ninguém é capaz de lhe dizer que Angola não é a sua fazenda? Que os membros do Executivo não são suas criadas e criados nem fusíveis? Que é o líder do MPLA e não é o seu dono? 

O MPLA prometeu ao eleitorado que entre 2022 e 2027 ia consolidar a paz e a democracia. Promover o desenvolvimento harmonioso do território. Promover o capital humano, com realce para a educação, saúde, emprego, cultura e desporto. Reduzir as desigualdades sociais. Combater a fome e a pobreza. Promover a igualdade do género. Intensificar a diversificação económica. Assegurar a defesa da soberania, da integridade do território e da segurança nacional. Daqui a uns meses estamos a meio do mandato e pouco se vê.

 

Mas vimos todos aquela coisa deprimente da sala oval com o patrão a dizer que "Em África, para os EUA, não há país mais importante que Angola". E os comentadores avençados a considerarem esta declaração importantíssima. Não é. Os EUA estão a ser pontapeados e escorraçados de todos os países africanos. Perderam crédito e influência. Hoje o único país africano a sul do Sahara que se submete aos ditames de Washington é Angola. Péssimo sinal! Terrível prova de fraqueza lá para os lados do Palácio da Cidade Alta.

Joe Biden agradeceu a João Lourenço pelo seu "trabalho pela paz no leste da República Democrática do Congo”. Uma caricatura grotesca. Quase um insulto. João Lourenço não fez nada pela paz na região e a rebelião armada do M23(Movimento 23 de Março) continua cada vez mais forte. Perdeu-se o sentido da decência. 

A troco de umas imagens na sala oval da Casa Branca o Presidente da República fez figura de Zelensky mas batendo a bola mais baixinho. Ninguém sabe verdadeiramente quais foram os compromissos assumidos por João Lourenço com Joe Biden. É tudo assim. Os ministros são demitidos sem satisfações. Muda-se radicalmente a política externa sem explicações. A Embaixada dos EUA em Luanda governa Angola. Nem Mobutu consentiu tais abusos.

O Orçamento de Estado foi aprovado. Como sempre, a UNITA ficou de fora. Ouvi uma senhora deputada da maioria dizer que está muito preocupada com a dívida porque já chega a 50 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). A ONU e os países da Troika (Portugal, Rússia e EUA) comprometeram-se a promover uma conferência de doadores para recolha de fundos destinados à reconstrução nacional. Marcolino Moco, primeiro-ministro, foi a Bruxelas e saiu de lá com as mãos a abanar porque a UNITA perdeu as eleições! Só havia dinheiro se ganhasse.

A reconstrução foi feita à custa dos angolanos. Para isso o Governo teve de endividar-se junto da República Popular da China porque mais nenhum país se chegou à frente. Foram construídas ou reconstruídas estradas, pontes, caminhos de ferro,  aeroportos, portos, sistremas de captação, tratamento e distribuição de água, barragens, redes de  distribuição de energia eléctrica. Foi reconstruído tudo menos a cabeça dos sicários da UNITA. Acham mesmo que 50 por cento de dívida é muito? Vão oferecer o petróleo e os diamantes aos gringos?

A Alemanha é o motor da União Europeia. Está gripado e já não tem concerto. Em 2022, o saldo negativo foi de 106,70 mil milhões de euros. Cada alemão deve 1.269 euros. A dívida da Alemanha é de 64.6 por cento em 2023. Para o ano vai ser pior.

Portugal é uma realidade que conhecemos bem. No final do primeiro trimestre deste ano a dívida estava em 113,8 por cento do PIB. O Banco de Portugal prevê que em 2024 desça para 98,9 por cento. Já estão todos a festejar a descida porque vão quebrar a barreira dos 100 por cento.  

EUA, o país que vai salvar Angola. A dívida este ano é de 123 por cento. Senhoras e senhores deputados por favor tomem nota: A dívida pública dos Estados Unidos ultrapassou os 30 triliões de dólares. Pagam um trilião de dólares em juros por ano.  

Já agora o Reino Unido. A dívida é de 290 por cento do PIB. Estes não têm petróleo, não têm diamantes, não têm matérias-primas estratégicas como Angola tem. Só têm ladrões estrategicamente colocados nas suas antigas colónias que roubam à toamente! Mas a mama está a acabar. Temos de render homenagem ao Mali, ao Níger, à Guiné Conacri, à República Centro Africana e ao Burkina Faso. 

Os amigos do Presidente João Lourenço continuam a matar e prender crianças na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Continuam a massacrar civis. Continuam o genocídio. Biden finge que está zangado com o seu sipaio Netanyahu. Mentira. O nazi de Telavive apenas cumpre ordens. O trio assassino de Washington continua a mandar para Israel as bombas que destroem a Palestina, que trucidam os palestinos. Continua a financiar o genocídio. O Presidente da República de Angola, Chefe de Estado, titular do Poder Executivo, chefe supremo das Forças Armadas escolheu construir o futuro com genocidas e assassinos. Os que até 2002 destruíram Angola e mataram angolanos.

* Jornalista

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