A Rússia e os Estados Unidos abstiveram-se na votação da tarde de ontem (22)
Conselho de Segurança da ONU aprovou esta sexta-feira uma resolução que apela aos dois lados do conflito entre Israel e Hamas que facilitem a passagem de ajuda humanitária na região.
O texto não refere um cessar-fogo imediato, uma intenção que os Estados Unidos da América já chegaram a vetar noutra ocasião, mas aponta devem ser "criadas condições" para tal.
A resolução, apresentada pelos Emirados Árabes Unidos, refere também que devem ser usadas todas as formas de "permitir a entrada de ajuda humanitária" em Gaza e teve de ser reescrita várias vezes ao longo da semana devido a objeções dos Estados Unidos.
Washington absteve-se, tal como a Rússia, permitindo a passagem com 13 votos da resolução que não apela a um cessar-fogo imediato.
O texto pede ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que designe um coordenador especial para monitorizar e verificar o envio de ajuda humanitária ao enclave palestiniano, alvo de constantes bombardeamentos desde o início da guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, a 7 de outubro.
"Sabemos que este não é um texto perfeito, sabemos que apenas um cessar-fogo acabará com o sofrimento", comentou a embaixadora dos EAU junto da ONU, Lana Zaki Nusseibeh, citada pela AFP.
Mas "se não tomarmos medidas
drásticas, haverá uma fome em Gaza", e este texto "responde através
de ações à situação humanitária desesperada do povo palestiniano",
acrescentou a diplomata antes da votação na sede da ONU
A referência a uma "cessação urgente e duradoura das hostilidades", presente no primeiro texto, desapareceu, tal como o pedido menos direto, na versão seguinte, de uma "suspensão urgente das hostilidades".
"Trabalhámos árdua e diligentemente esta semana com os EAU, com outros, com o Egito, para chegar a uma resolução que possamos apoiar", disse a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, na quinta-feira à noite.
"O projeto de resolução não foi enfraquecido. O projeto de resolução é muito forte, totalmente apoiado pelo bloco árabe", afirmou, acrescentando que "a ajuda humanitária será entregue aos que dela necessitam".
O Conselho de Segurança tem sido muito criticado pela inação desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, enquanto a ONU alertou nos últimos dias para a insegurança alimentar "sem precedentes" dos habitantes de Gaza, agora ameaçados pela fome.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, o Conselho de Segurança só conseguiu quebrar o silêncio uma vez, com a resolução de 15 de novembro na qual pedia "pausas humanitárias". Em dois meses, rejeitou cinco outros textos, dois dos quais foram vetados pelos Estados Unidos, incluindo o último, a 8 de dezembro.
Nessa altura, apesar da pressão do secretário-geral da ONU, António Guterres, os Estados Unidos bloquearam o apelo para um "cessar-fogo humanitário", também considerado inaceitável por Israel.
Face ao bloqueio do Conselho, a Assembleia-Geral da ONU aprovou a 12 de dezembro uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza, mas que não tem caráter jurídico vinculativo.
Gonçalo Teles com Lusa | TSF | Imagem: © Michael M. Santiago/Getty Images via AFP (arquivo)
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