quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

MILEI ESTÁ A PÔR OS ARGENTINOS A PASSAR AINDA MAIS FOME E PENÚRIA*

Argentina desvaloriza peso em mais de 50%. Milei começa a cumprir promessa de "não há dinheiro"

Krystal Hur | CNN.pt 

Medida é o primeiro de vários passos para conter a hiperinflação, que levou o banco central argentino a aumentar a taxa de juro de referência para 133% em outubro

A Argentina vai desvalorizar o peso em mais de 50% como parte das medidas de emergência para ajudar a economia do país em dificuldades, anunciou o ministro da Economia, Luis Caputo, na terça-feira.

A medida altera a taxa de conversão do dólar de 365 pesos para 800 pesos por dólar e ocorre apenas alguns dias após o início do mandato do presidente Javier Milei.

Milei fez campanha com a promessa de se livrar dos pesos e substituí-los pelo dólar, de modo a colocar a economia no caminho certo. O peso tem sido artificialmente apoiado durante anos por controlos rigorosos de capitais e o seu valor caiu cerca de 52% este ano em relação ao dólar americano.

Nos últimos anos, o banco central da Argentina imprimiu mais pesos para ajudar o governo do país a evitar o incumprimento da dívida. O resultado foi a subida em flecha dos preços.

A medida é o primeiro de vários passos para conter a hiperinflação, que levou o banco central argentino a aumentar a taxa de juro de referência para 133% em outubro.

Na terça-feira, Caputo reiterou o tema da campanha de Milei de que "não há dinheiro", enquanto delineava outras medidas, incluindo um corte nos novos projetos de obras públicas, planos para não renovar os contratos de trabalho em vigor há mais de um ano e a redução dos subsídios à energia e aos transportes.

"Durante alguns meses vamos ficar pior, principalmente com a inflação", afirmou.

Em relação às obras públicas, Caputo disse que "não há dinheiro para pagar obras que muitas vezes acabam nos bolsos de políticos e empresários".

O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou na terça-feira, após as declarações de Caputo, que apoia as novas iniciativas.

"O pessoal do FMI congratula-se com as medidas anunciadas hoje pelo novo Ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo. Estas medidas iniciais ousadas visam melhorar significativamente as finanças públicas de uma forma que proteja os mais vulneráveis da sociedade e fortaleça o regime cambial", disse a directora de comunicação do FMI, Julie Kozack, num comunicado de imprensa.

Um plano de medidas económicas abrangentes

No seu discurso de vitória no domingo, Milei deu poucos pormenores sobre o seu plano económico. Mas o autodeclarado "anarco-capitalista" - que empunhou uma motosserra durante a campanha para simbolizar os seus planos de redução das despesas do Estado - prometeu reformas "drásticas".

"Quero que saibam que vamos começar a reconstrução da Argentina depois de mais de cem anos de declínio, redesenhando as ideias de liberdade, embora tenhamos de suportar um período de dureza, vamos avançar", afirmou Milei, economista, à multidão durante a tomada de posse.

Embora Caputo não tenha mencionado quaisquer planos na terça-feira para se livrar do peso, a dolarização da economia do país sul-americano exigiria que a Argentina trocasse todos os pesos em posse dos residentes e das empresas por dólares e atribuísse um valor em dólares a todos os bens e contratos.

Isto levaria, efetivamente, o Banco Central da Argentina a transferir o controlo da política monetária do país - o poder de controlar as taxas de juro e de imprimir dinheiro - para a Reserva Federal dos EUA.

Uma série de desafios paira sobre uma potencial tentativa de dolarizar a Argentina, entre os quais se destacam o facto de o país não ter dólares suficientes para abandonar o peso e de ser improvável que a transição salve sozinha a economia em crise do país.

Embora outros países tenham dado este passo - incluindo o Equador, El Salvador e Panamá - nenhum foi tão grande como a Argentina.

Milei já se reuniu com altos funcionários dos EUA desde que assumiu o cargo e a sua equipa económica tem trabalhado com o FMI na modificação da política externa do país e na revitalização da sua economia.

Hanna Ziady e Anna Cooban, da CNN, colaboraram nesta reportagem

* Título PG

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