segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Angola | As Sombras Literárias de um Terrorista – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A História de Angola é falsificada e adulterada por angolanos hoje no poder. Agentes estrangeiros acham que têm o mesmo direito. Um desses sabotadores é o português colonialista, fascista e terrorista Jaime Nogueira Pinto. Vai publicando livros onde massacra factos ocorridos durante as Grandes Batalhas pela Independência Nacional. Frequenta Angola como grande figura. Até lhe estendem a passadeira vermelha e conta as suas aldrabices a jovens estudantes!

Ao qualificar Jaime Nogueira Pinto como colonialista, fascista e terrorista, não estou a dar uma opinião. Ele é que se apresenta assim. Deu uma entrevista ao moribundo “Diário de Notícias” onde diz que era defensor do Ultramar e foi voluntário para a Guerra Colonial. Noutra entrevista ao mesmo periódico afirmou que no ano de 1975 “em Madrid estive muito ligado à chamada resistência do ELP - Exército de Libertação de Portugal”. Esta organização fazia terrorismo puro e duro em Portugal mas também em Angola. Na sua função de terrorista regressou ao Norte, depois de fugir para a África do Sul “onde fiquei um ano”. Integrou as forças invasoras sul-africanas e da CIA, que tentaram impedir o 11 de Novembro de 1975.

Agora é escritor mas continua a falsificar, manipular e distorcer os factos da História Contemporânea de Angola.  Este foi um dos que fez passar a falsidade de que em Angola houve uma guerra civil! Ele combateu contra Angola. Fez tudo para impedir a Independência Nacional nas fileiras do ELP e da CIA. Portanto, a guerra foi entre filhos do mesmo país!

O artista escreveu um prefácio onde endeusou Jonas Savimbi. Quando começou a comer no prato da Angola Independente mudou ligeiramente a posição. Mas na sua última entrevista ao “Diário de Notícias” o homem mostra ser um grande contorcionista. Disse sobre o criminoso de guerra da Jamba:

 “Ele tinha um chamado Dark Side. Hoje sabe-se mais sobre isso, sobre o famoso caso da queima das bruxas. E sobre a morte dos dissidentes, e das famílias, que foi, de facto, um golpe forte na imagem dele e do movimento rebelde. Foi um golpe na consciência até de muita gente que o apoiava. O balanço das coisas, no fundo, é um balanço entre razão de Estado e os princípios éticos. A Divisão África, que era quem tinha a operação da CIA em Angola, estava muito, muito apostada em apoiar Savimbi, porque aquilo, na altura, estava a correr bem. E pronto, não olhavam...”

E remata assim: “Jonas Savimbi era, de facto, uma pessoa com muita força, um homem muito lúcido”. É preciso ter cuidado porque os sicários da UNITA podem reclamar a devolução do dinheiro dos diamantes de sangue! A lucidez de Jonas Savimbi viu-se quando, após perder as eleições, retirou das bases secretas as suas forças armadas e enfraqueceu-as, espalhando homens e armas pelo imenso território nacional. Mais lucidez: Morreu como um cão tinhoso nas matas do Lucusse depois de meses e meses perseguido pelas forças militares e policiais que decidiram pôr fim à sua rebelião armada. Bastava dizer que se integrava no regime democrático para continuar vivo. Muito lúcido!

Jaime Nogueira Pinto continua a vender a aldrabice da guerra civil. Até tem uma teoria que aborda na sua entrevista. EUA e União Soviética acharam que nem o governo nem a UNITA iam ganhar. “E como havia ali um certo elemento tribal, uma competição entre as pessoas oriundas do Planalto Central, que apoiavam a UNITA, e as das cidades costeiras, que era onde o MPLA tinha a sua grande implantação, houve sempre a consciência de que, num dado momento, haveria que se trabalhar para um entendimento, para uma solução pacífica”. 

O sabotador da História Contemporânea de Angola nem uma só vez refere os Acordos de Nova Iorque. Não diz que à mesa das negociações apenas estavam Angola, Cuba e África do Sul. A UNITA nem ficou à porta! 

No seu livro (não vou revelar o título para não fazer propaganda de lixo) ele criou uma personagem, ficcionada, “um dissidente da UNITA que quer fazer atentados bombistas. E um dos atentados que quer fazer é exatamente contra a indústria petrolífera. Mas claro que isto é um romance que foi escrito nos últimos cinco anos, em duas fases, e eu escrevo já com conhecimento do que se passou, coisa que as personagens não podem ter”.

Os ataques bombistas da UNITA, às ordens do regime racista da África do Sul, não foram ficção. Jonas Savimbi, podre de bêbado, no seu primeiro comício em Luanda depois da assinatura do Acordo de Bicesse, revelou que a bomba na sala de embarque do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro “fomos nós que a pusemos”.

E os atentados às instalações petrolíferas em Angola aconteceram mesmo. Claro que não foi a UNITA mas sim a África do Sul. Porque Angola estava em guerra contra os racistas de Pretória e não apenas contra a unidade especial de Pretória, capitaneada pelo criminoso de guerra Jonas Savimbi.

O sul-africano Peter Stiff, no seu livro “The Silent War” conta todos os pormenores da sabotagem dos racistas de Pretória contra a refinaria de Luanda, na estrada do Cacuaco. A comunicação social internacional atribuiu a “Operação Kerslig” a Jonas Savimbi e seus homens, treinados e municiados por oficiais sul-africanos. Peter Stiff explica cruamente qual o papel que estava atribuído ao caudilho: “a Operação Kerslig e todas as outras realizadas pela África do Sul em Angola eram atribuídas à UNITA”.

Logo no dia seguinte ao acto de sabotagem, Jonas Savimbi apareceu nos jornais de Nova Iorque a dizer que foram as FALA que puseram a refinaria de Luanda em fogo. O chefe da UNITA chegou mesmo a especificar que o ataque foi realizado por três homens do Galo Negro com a utilização de uma bazuca.

O regime de apartheid estava sujeito a sanções e aqueles que o apoiavam por baixo da mesa, ficavam numa situação delicada se ficasse comprovado que Pretória continuava a ter tropas em Angola e desenrolava operações militares de grande envergadura, num Estado soberano membro da ONU e da OUA, hoje União Africana.

O alto comando das forças de defesa e segurança da África do Sul decidiu mobilizar o navio de guerra “Tafelberg” para transportar os sabotadores e o material explosivo. O “Protea” seguiu para a operação como navio-mãe, onde estava o comando. Os sabotadores ancoraram a mais de 50 quilómetros da costa angolana, em frente a Luanda. Ao fim da tarde do dia 26 de Novembro 1981 uma embarcação rápida de casco rígido navegou na direcção da capital.
Às primeiras horas da madrugada os sabotadores foram desembarcados nos terrenos contíguos aos depósitos de combustíveis. Eram eles o sargento Jack Greef e o cabo Sam Fourie, ambos das tropas especiais de Pretória. 

No livro “The Silent War” Peter Steef revela o objectivo: “Eles foram fazer o levantamento operativo do alvo e recolher dados para orientar posteriormente as equipas de assalto”. Como a “Operação Kerslig” era “oficialmente” uma acção de Savimbi, os militares sul-africanos que participaram, ficaram por conta própria. Se algo corresse mal eles apenas podiam dizer que estavam às ordens do chefe da UNITA que decidiu trair os seus irmãos africanos. Até hoje os familiares dos militares sul-africanos que morreram na sabotagem reclamam os corpos. O sargento Greef e o cabo Fourie estiveram na área dos depósitos de combustíveis três noites. 

Durante a noite recolhiam elementos e de dia escondiam-se. Os sabotadores conseguiram definir com precisão os pontos de ataque e deram-lhes nomes de código: “Alpha” e “Bravo”.  Quando recolheram os elementos necessários enviaram um sinal via rádio para o navio-mãe “Protea” e nessa noite foram recolhidos com os “ski boats”. Na noite de 30 de Novembro, o sargento Greef e o cabo Fourie regressam ao Porto de Luanda, mas desta vez para orientarem três grupos de assalto constituídos por tropas especiais da África do Sul. Em terra tomaram as posições e o capitão De Kock, o cabo Kloppers Kloppies e mais um soldado anónimo chegaram aos depósitos de combustíveis da refinaria de Luanda, Petrangol. 

O capitão De Kock começou a colocar os explosivos nos depósitos enquanto os outros dois ficaram de vigia. O oficial das forças especiais deu sinal que a sabotagem estava no fim. Os outros dois começaram a preparar a retirada. Mas de repente ouviu-se uma explosão e os depósitos de combustível começaram a arder. As chamas transformaram a noite em dia. De Kock teve morte imediata. Os outros dois invasores ficaram gravemente feridos.

O cabo Kloppies ficou com queimaduras graves mas não perdeu os sentidos. Viu que o soldado estava gravemente ferido mas não conseguiu tirá-lo do local. Partiu em direcção ao “ponto de emergência”, a 600 metros dos depósitos, onde estavam todos os outros à espera dos sabotadores. Pediu ajuda para o soldado que ficou ferido no terreno e informou que o capitão De Kock tinha “explodido” com os depósitos. O tenente Franz Fourie e o cabo Sam Fourie partiram em direcção aos depósitos em chamas. Peter Steef conta no seu livro: 

“O soldado gravemente ferido recuperou os sentidos e arrastou-se em direcção a um ponto onde já estavam combatentes das FAPLA. O tenente conseguiu encontrá-lo antes de ser feito prisioneiro. Depois carregou com ele até ao ponto de emergência, local definido para o caso de algo correr mal”.

Com a sabotagem, os invasores conseguiram causar graves danos à economia angolana, debilitada pelo tremendo esforço de guerra. Mas a “Operação Kerslig” correu mal para Pretória, porque morreu o capitão De Kock e mais dois homens ficaram gravemente feridos. Os três grupos de assalto abandonaram a área dos depósitos em chamas e conseguiram chegar aos navios de guerra, a 50 quilómetros da costa.

O sul-africano Peter Stiff, no seu livro “The Silent War” explica a razão que levou o alto comando dos racistas de Pretória a deixar os navios de guerra a 50 quilómetros da costa: “Assim fugiam aos radares costeiros e as patrulhas da força aérea angolana não se afastavam tanto da costa”. A imprensa internacional deu grande destaque a esta “operação de Savimbi”, mas o livro “The Silent War” de Peter Stiff revela a verdade dos factos com tantos pormenores, que não oferecem qualquer dúvida. 

Peter Stiff foi aos arquivos do regime de apartheid e encontrou lá este pormenor: “O tenente Franz Fourie, o sargento Jack Greef e os cabos Sam Fourie e Kloppers Kloppies foram condecorados com a Honoris Crux”. É uma das mais altas condecorações militares da África do Sul. Jaime Nogueira Pinto, agente dos racistas da África do Sul, continua fiel aos donos. Também não sabe que depois desta operação de sabotagem, organizaram a “Operação Argon” contra as instalações petrolíferas na baía de Malongo, em Cabinda. O capitão Wynand du Toit, segundo comandante da acção militar secreta, foi feito prisioneiro pelas FAPLA.

No dia 21 de Maio de 1985, operacionais das Forças Especiais das SADF foram mortos e feridos nos combates de Cabinda. O capitão Wynand Du Toit foi capturado. Ele era o segundo comandante de uma operação secreta para destruir o complexo petrolífero de Malongo. 

Face ao desastre militar, Magnus Malan, ministro da Defesa, foi ao Parlamento e declarou que o seu governo não estava a desestabilizar Angola, mas em perseguição ao ANC e à SWAPO, que estavam a conspirar contra a África do Sul a partir das suas bases na profundidade do Norte de Angola. Mas Du Toit disse, dias depois, numa conferência de imprensa e Luanda disse: “Esta operação foi lançada com o objectivo de destruir os tanques de armazenamento de combustível da Cabinda Gulf. Nós não estávamos à procura do ANC ou da SWAPO, estávamos a atacar a Gulf Oil.” (Jacques Pauw in “IN THE HEART OF THE WHORE”, página 206).

Jaime Nogueira Pinto continua a fazer terrorismo contra Angola, com uma diferença em relação ao passado. Agora Luanda paga aos traidores dos seus generais. Paga aos falsificadores da História Contemporânea de A gola. Paga aos assassinos do Povo Angolano. 

* Jornalista

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