quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Estado Terrorista Ataca nos Cemitérios – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Povo Angolano lutou contra o regime colonialista e fascista. As novas gerações não sabem o que isso significa. Mas é bom que saibam porque vem aí muito pior. E o actor principal da tragédia é o mesmo: Estados Unidos da América (EUA). A aliança militar OTAN (ou NATO) nasceu para defender a democracia após a derrota do nazismo. Washington impôs a entrada das ditaduras ibéricas, Portugal e Espanha. A ditadura salazarista virou democracia! A Base das Lajes fazia falta aos norte-americanos, o regime colonialista, que matava adversários políticos no campo de concentração do Tarrafal, passou a democrático.

A União Soviética vetou a adesão de Portugal à ONU, por ser uma ditadura cruel e sangrenta, durante muitos anos. Finalmente o país foi admitido em 1955. A repressão sobre os democratas em Portugal estava no auge. Nas colónias as revoltas eram afogadas em sangue. Foi neste clima que nasceu o MPLA em Dezembro de 1956, apenas um ano após a adesão de Portugal às Nações Unidas. Mais uma força de pressão para Lisboa pôr fim ao colonialismo. Esta foi a decisiva. 

As revoltas em Angola sucederam-se desde o final da Guerra dos Dembos em 1919. No Norte há registo da Revolta do Bungo que começou na Damba e alastrou para sul. Foi afogada em sangue. Estávamos em meados dos anos 50. O regime colonialista e fascista, para sobreviver, entregou os recursos naturais de Angola às grandes potências. Assim nasceram a Diamang, Textang, Cotonang, Cabotang ou a Petrangol. A Krup, alemã, roubava ferro e ouro em Cassinga. O negócio foi depois trespassado aos japoneses. O couto mineiro tinha fortes indícios de ouro. Com o ferro, exportado pelo porto Saco do Giraul, ia muito ouro de borla!

A região de Catete, ao longo dos anos 50, foi palco de várias revoltas dos camponeses do algodão que trabalhavam em regime de escravatura. Lagos & Irmão era a empresa latifundiária que escravizava milhares de pessoas. A Cotonang entrou em acção e estendeu as plantações até à Baixa de Kassanje. A vida dos camponeses piorou muito. No dia 4 de Janeiro de 1971 surgiu a revolta. Uma greve de braços caídos e acções violentas contra os capatazes. A revolta foi afogada em sangue por tropas de infantaria que varreram tudo entre a Baixa de Kassanje e a Lunda. 

Os aviões PV2 descolaram da Base de Luanda e bombardearam os grevistas e a população. Mais de 15 aldeias foram arrasadas com bombas de napalm. Como acontece hoje na Faixa de Gaza. Na Baixa de Kassanje não existiam câmaras de televisão nem repórteres. Apenas os matadores. Os líderes da revolta, António Mariano, um misto de sindicalista e profeta, ou João César Correia,  da UPA mais tarde FNLA, foram presos, torturados e mortos.

Os massacres duraram até Março de 1961. O Cónego Manuel das Neves, na época, denunciou a morte de 1.000 grevistas e a prisão de outros tantos. Mais tarde foi corrigido para 7.000 civis mortos. Por isso, hoje celebramos o Dia dos Mártires da Repressão colonial. Belgas, britânicos e norte-americanos ajudaram os fascistas portugueses a massacrar.

O Povo Angolano também sofreu a violência assassina dos nazis de Pretória. EUA forneceram mísseis Stinger a Savimbi, para fingirem sanções ao regime de apartheid. A UNITA já tinha servido os torcionários e assassinos da PIDE. Pôs-se às ordens dos generais do fascismo Luz Cunha e Bettencourt Rodrigues. Depois de 1975 foi servir as fileiras dos nazis da África do Sul.

Durante os longos meses da Batalha do Cuito Cuanavale, os heroicos combatentes das FAPLA eram sepultados no pequeno cemitério da vila. Os nazis de Pretória, usando um GPS, determinaram as coordenadas do local. Sempre que havia um funeral, bombardeavam com os canhões de longo alcance. Cada funeral dava dezenas de mortos. Para acabar com os massacres, os nossos mortos eram enterrados na beira de estrada que liga a Menongue.

O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) entrou numa fase perigosa e que pode fazer alastrar a guerra ao mundo inteiro. Os seus serventes estão a aderir ao terrorismo de Estado. Espero que o Presidente João Lourenço não aceite seguir esse caminho, como Israel está a fazer. Ou a Ucrânia, Polónia, Roménia, Estónia, Letónia, Lituânia e outros países que estão sob o chapéu da OTAN (ou NATO).

Israel assassinou em Beirute um dirigente do HAMAS. Terrorismo. O Estado terrorista mais perigoso do mundo assassinou em 2020, no Iraque, o General iraniano Qassem Soleimani, com um drone. Ontem dezenas de pessoas foram ao cemitério prestar-lhe homenagem. Duas bombas explodiram e mataram 103 pessoas. Dezenas ficaram gravemente feridas. Amputadas! O assassino Joe Biden mandou logo dizer que “os EUA e Israel nada têm a ver com isto”. Mas têm. 

O ataque junto ao túmulo do General Qassem Soleimani, no sul do Irão, Kerman, é terrorismo. A União Europeia condenou o “acto de terror” e no comunicado refere que “os autores devem ser responsabilizados”. O Presidente da Turquia, Recep Erdogan, condenou duramente os terroristas. O Presidente Putin disse que "o homicídio de pessoas pacíficas que visitavam um cemitério é chocante pela sua crueldade e cinismo”. Os terroristas a soldo de Washington querem guerra para evitar que os EUA nunca mais recuperem da falência. 

Os nazis de Pretória matavam angolanos que iam despedir-se dos nossos militares e civis mortos no cemitério do Cuito Cuanavale. Os nazis de Washington e Telavive repetem a dose no Irão. Já estavam por trás dos nazis de Pretória.

A ministra Verta Daves está a especializar-se em dizer o óbvio ululante. Uma verdadeira Madame de La Palice. Agora veio dizer que as empresas que forneçam serviços ao Estado, no âmbito da contratação pública, e revelem incapacidade técnica para cumprir, vão deixar de fazer negócios com o Estado!

Vera Daves garantiu que esta medida é “imediata e visa responsabilizar civil e criminalmente os incumpridores, bem como limitar as empresas em causa a concorrer em novos concursos públicos”. Senhora ministra! Não nos diga que só agora vai fazer o que tem a obrigação de fazer desde que está no ministério. 

Quem recebe dinheiro do Estado e não cumpre tem que ser responsabilizado civil e criminalmente. Quem ganha um concurso público e depois não faz as obras, tem de ser banido de outros concursos. Se só agora vai cumprir o seu dever, o seu juramento, o Ministério Público tem de investigar os anos anteriores da sua governação. Estamos perante corrupção.

* Jornalista

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