quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Global Média: "intromissão clara" da administração do GMG na linha editorial TSF

Portugal

Ex-diretor da TSF pede intervenção de "entidades competentes" perante "intromissão clara" da administração do GMG na linha editorial

Num discurso emotivo, Domingos de Andrade mostrou-se incomodado com uma situação que considera ser de extrema gravidade.

O ex-diretor da TSF Domingos de Andrade defende que as entidades competentes devem agir perante uma "intromissão clara" da administração do Global Media Group na linha editorial da rádio. Ouvido na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na Assembleia da República, Domingos de Andrade acusou a administração liderada por José Paulo Fafe de estar a destruir a reputação de marcas como a TSF, o Jornal de Notícias, Diário de Notícias e O Jogo.

Num discurso emotivo, o antigo diretor da rádio mostrou-se incomodado com uma situação que considera ser de extrema gravidade.

"O que está a acontecer com aquelas redações é de uma gravidade que eu nunca julguei possível assistir em democracia. Nós não estamos apenas a assistir ao fim de marcas, nós estamos a assistir à destruição reputacional de marcas e de redações e estamos a assistir partindo a espinha dessas redações. E partir a espinha dessas redações pela fome. Não posso deixar de ficar incomodado com o que se está a passar, como não posso deixar de ficar incomodado com a extinção pura e simples, com a intromissão pura e simples de uma administração no espaço de opinião e de programação de uma rádio como é a TSF", alertou Domingos de Andrade.

O antigo diretor da TSF revelou que a maioria dos espaços de opinião não era remunerada e, perante o fim desses espaços, Domingos de Andrade pede uma resposta rápida por parte das autoridades.

"A maior parte da opinião na TSF não era remunerada, nem os programas, salvo raríssimas exceções. Se há aqui uma intervenção clara por parte de uma administração numa linha editorial de um órgão de comunicação social é preciso que as entidades competentes atuem a esse nível e é preciso que atuem com maior celeridade do que aquela que têm demonstrado nos últimos meses", afirmou o ex-diretor da TSF.

Ainda na sua intervenção, Domingos Andrade disse não se poder "despir de emotividade" perante a atual situação dos trabalhadores do grupo, que enfrenta um processo de despedimento até 200 pessoas.

Perante os deputados da Comissão de Cultura, Domingos de Andrade afirmou que foi informado por Marco Galinha, em meados de maio, da entrada de um fundo representado por um novo administrador, Paulo Lima de Carvalho.

"Percebi que ele trabalhou em várias áreas, nomeadamente na Casa da Música, no Porto, e também que tinha ligações a uma empresa que se chama Sentinel Criterium. Depois foi só googlar essa empresa para ver que essa é uma empresa de assessoria para a comunicação e que tinha ligações a um familiar de Luís Bernardo, de uma outra empresa que se chama WLPartners. Li na Sábado, num trabalho de investigação, que havia aqui um cruzamento de interesses entre esta Sentinel Criterium e a WLPartners, do Luís Bernardo. Aliás, nos concursos para as câmaras municipais, de assessoria, costumavam concorrer ambas e ora ganha uma ora ganhava outra", explicou.

Sobre o motivo do seu afastamento, o antigo diretor da TSF afirmou que nunca foi possível perceber, mas revelou pressões por parte da nova administração.

"Na nova gestão, ainda mal tinha acabado de chegar, e o senhor Paulo Lima de Carvalho, depois de ter tentado pressionar o diretor adjunto da TSF, Ricardo Alexandre, para que ele me denunciasse, dissesse quem foi que aprovou uma determinada notícia que tinha ido para a antena e que tinha ido para o site, depois disso e como viu gorados os seus objetivos tentou fazer o mesmo comigo, por escrito. Isto é apenas um episódio", contou Domingos de Andrade.

Questionado sobre uma eventual estratégia de desvalorização da empresa, Domingos de Andrade foi claro.

"Eu não consigo conceber que alguém que está num conselho de administração, numa comissão executiva, desvalorize permanentemente as suas marcas e, neste caso, desvalorize permanentemente duas marcas e, por arrasto, uma terceira. Porque se desvaloriza a TSF e o Jornal de Notícias, como têm vindo a ser desvalorizados ao longo destes meses, obviamente que o Diário de Notícias não fica em melhores razões, muito pelo contrário. A menos que haja aqui uma tentativa de divisão das redações, o que me parece absolutamente impossível, porque engana-se algumas pessoas durante algum tempo, não se enganam as pessoas todas durante todo o tempo. A menos que haja isso, parece-me que do ponto de vista público dizer que o Jornal de Notícias vende menos no país todo do que o Correio da Manhã no Porto é uma desvalorização clara de uma marca", acrescentou o ex-diretor da TSF.

TSF

Imagem: O ex-diretor da TSF Domingos de Andrade © Rita Chantre / Global Imagens

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