quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Olhar o Mundo Pelo Retrovisor – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A História é feita pela Humanidade e cada povo constrói a sua. Mas ficam registadas nas suas páginas as grandes e as baixezas, as vitórias e as derrotas, os mártires, os heróis, os grandes líderes, mas também os ditadores, os caudilhos cruéis, as fidelidades ou as grandes traições. Olhemos para Angola. Os que desejavam saquear as riquezas do país e submeter o Povo Angolano investiram milhares de milhões na traição da UNITA, na aliança da FNLA com Mobutu, nas “revoltas” e no golpe militar do 27 de Maio de 1977. Agora investem em fotos e vídeos na Casa Branca.

Ninguém pode alterar o passado e muito menos falsificar os factos na sua crueza implacável. O MPLA foi a única organização política que lutou pela Independência Nacional até ao dia 11 de Novembro de 1975. Foi sob a Bandeira do MPLA que o Povo Angolano fez a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade territorial. Em 2017 tudo mudou. Ainda ninguém sabe a dimensão da traição. Mas está claro que o dinheiro pago aos traidores dos nossos generais de todas as guerras, desde 4 de Fevereiro de 1961, vai agora ser devolvido e com juros muito altos. Ficou tudo decidido quando Joe Biden se deixou filmar e fotografar ao lado de João Lourenço na Casa Branca. Fácil mais facílimo não há.

Todos os povos têm passado e memória. Todos têm de viver com a sua História, ainda que alguns quadros históricos sejam vergonhosos ou constituam crimes contra a Humanidade. Em Angola aconteceu. A UNITA combateu contra os guerrilheiros do MPLA, na Frente Leste, integrando os Flechas da PIDE ou reforçando as forças armadas de ocupação. Os sicários da UNITA queimaram vivas, nas fogueiras da Jamba, as elites femininas do movimento, um odioso crime contra a Humanidade. Perdoar e abraçar, sim, mas só quando os criminosos assumirem os seus crimes e pedirem perdão ao Povo Angolano.

A solução não é esquecer ou perdoar por perdoar. Todos somos chamados a tirar as devidas lições dos tempos idos, para que não sejam cometidos os mesmos erros ou crimes. Por isso é tão importante conhecer os percursos percorridos e saber quem somos e donde viemos. A História sem falsificações.

Só o conhecimento, a investigação e a cultura permitem obter um retrato dos caminhos percorridos por um povo. E só o passado nos dá a base de sustentação para caminharmos seguros em direcção ao futuro. A democracia não apaga os factos ignominiosos. Pelo contrário. Sem memória e sem participação popular morre de morte macaca.

Não é porque nos boletins de voto consta o símbolo da UNITA que Savimbi deixou de alugar as armas do Galo Negro às tropas de ocupação e à PIDE, nos anos 60 e 70. Integrou as forças invasoras do regime racista de Pretória. Tomem nota. As FAPLA derrotaram na Batalha do Cuito Cuanavale o regime de apartheid da África do Sul e os sicários da UNITA! As FAA derrotaram a rebelião armada de Savimbi em 2002.

Não é porque a UNITA elege deputados, que são apagados os tenebrosos crimes da Jamba aquele supermercado de drogas, diamantes roubados ao Povo Angolano e marfim resultante do extermínio de milhares de elefantes. Para abraçar e perdoar é preciso respeitar a História Contemporânea de Angola. 

A direcção do Galo Negro não respeita a História de Angola assim como não respeita os órgãos soberania da República. Nem a Assembleia Nacional que lhes dá de comer e as mordomias.

Os grandes políticos conhecem a História, compreendem-na e são capazes de encontrar no presente as melhores soluções para que os seus povos não tenham de suportar as tragédias do passado. E há grandes políticos em todos os países e em todas as latitudes. Os seus feitos estão aí, à vista. E são demonstrativos da dimensão política de quem os protagonizou. A História regista os dramas humanos e os crimes sem nome de políticos que escravizaram os Povos de África, América e Ásia, no passado distante. Destruíram Alemanha e a Europa, entre 1937 e 1945, ainda não passaram 80 anos. 

As páginas da História Universal registam a infâmia do apartheid nos EUA, mas também Martin Luther King ou Ângela Davis, Heróis da Humanidade, que foram capazes de lutar sem desfalecimentos pelos direitos cívicos. Pelo fim da segregação racial. Pelo fim do racismo como política de Estado. Mas o sistema assimila tudo. 

Em Fevereiro de 2011, a Administração Obama vetou uma Resolução das Nações Unidas que declarava ilegal a ocupação de Israel na Faixa de Gaza. Em Setembro, o Presidente Obama deu ordens para que os EUA vetassem a candidatura da Palestina a Estado-membro da ONU.  

 Durante décadas o povo da África do Sul teve de suportar a crueldade do racismo como política de Estado. Mas a mesma África do Sul deu à humanidade figuras como Oliver Tambo, Walter  Sisulu, Jo Slovo, Winnie e Nelson Mandela, Jacob Zuma ou Cyril Ramaphosa. Quando a História regista tais exemplos de amor à liberdade, faz esquecer as gerações dos “Botha” ou dos “Terreblanche” que feriram de morte e de pena todos os sul-africanos. 

Hoje a África do Sul está na vanguarda da condenação do regime de apartheid que vigora em Israel. E na denúncia do genocídio dos nazis de Telavive na Faixa de Gaza. O Presidente João Lourenço desejou muita paz aos genocidas! Ainda não percebeu que o sistema vai ruir de podre. Está escrito nas pedras da Babilónia.

Quem nos governa gastou milhões para a CNN noticiar que Angola está entre os principais destinos turísticos durante este ano de 2024.A O chamariz é uma foto do Cristo Rei, no Lubango. O texto de propaganda é este: “Esta nação da África Austral esforçar-se arduamente para se destacar no cenário turístico, tendo recentemente introduzido um visto electrónico de turismo de aprovação rápida”.

Estamos ricos! Primeiro vieram os milhões das exportações de parakuka para os EUA. Agora magotes de turistas vão desembarcar em Angola onde não há saneamento básico, água e luz são problema, limpeza urbana nem se fala e a indústria hoteleira é deficitária. Porque destruíram duas redes de hotéis em todo o país. Boa sorte! O ponto de partida para a explosão do Turismo em Angola é publicidade paga na CNN. O de chegada são contas bancárias recheadas de dólares que em breve valem menos do que o franco do Burundi. Corram, corram a trocar dólares, sem valor ouro nem petróleo, por Kwanzas! Amanhã pode ser tarde. E este ano temos cá o Presidente das Seychelles passando férias com o seu séquito!

* Jornalista

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