quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Portugal | No Algarve, chegou a hora de ‘fechar a torneira’

Isabel Leiria, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia

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Quando os ministros do Ambiente e da Agricultura se reunirem em Faro nesta quarta-feira à tarde e olharem pela janela é provável que se deparem com um céu cinzento, muito vento e até chuva forte, algo raro neste ameno inverno algarvio. Mas as previsões do IPMA, que colocou todo o país em aviso amarelo por causa da “precipitação forte”, não atenuam o problema da seca que tem afetado a região nos últimos anos. E que levarão Duarte Cordeiro e Maria do Céu Antunes a anunciarem hoje as medidas e restrições que terão de ser tomadas para gerir de forma mais rigorosa os recursos hídricos em albufeiras e furos subterrâneos nesta região e até da água consumida em casa e em empreendimentos turísticos.

Entre as medidas que serão anunciadas após a reunião da Comissão Interministerial da Seca, marcada para as 14h30, estarão a proibição de novas áreas de cultura de regadio na região e o racionamento de água, em valores que podem ir até aos 70% na agricultura e 15% no consumo urbano. As percentagens ainda estarão a ser negociadas e poderão ser complementadas com o aumento de tarifários e multas para quem gastar demais. Para reduzir de imediato os consumos, deverá haver uma diminuição na pressão da água que sai das torneiras. Quanto ao projeto de construção de uma dessalinizadora, uma espécie de fábrica de água potável a partir do mar há muito aguardada na região, a sua aprovação deve ocorrer este mês ainda.

Os protestos já se fizeram ouvir, em particular por parte dos agricultores, que consideram “desequilibrados e injustos” para o sector os cortes falados de 70%. Uma redução dessa dimensão significaria a “morte das culturas e uma quebra de produção durante dois anos”, avisa o ex-autarca e atual presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve, Macário Correia. Do lado oposto da região chegam as mesmas queixas, com o presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão a dizer que neste momento a água existente já nem chega para salvar as laranjas. “Só queremos tentar salvar as árvores”, lamentou ao Expresso na semana passada.

Mas será preciso esperar pelo final da reunião de hoje para saber quão restritivo será o plano de contingência. Para já, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente apenas adiantou que serão tomadas “as medidas necessárias para garantir o abastecimento público até final de 2024”. Os números falam por si: a albufeira mais cheia é a de Odeleite e está a 32% da sua capacidade; a da Bravura, a mais vazia, está a 8%. E nos últimos 20 anos houve uma redução de 20% na precipitação na região Sul.

Por isso, se olhar pela janela e vir chuva não se iluda. A situação é grave e poderá ficar pior, como explica a Carla Tomás no podcast Expresso da Manhã.

Outras notícias

O passeio de Trump Sem surpresas, Donald Trump recebeu o maior número de votos dos republicanos no caucus do Iowa. O ex-presidente dos EUA, que com grande probabilidade irá defrontar novamente Joe Biden na corrida à Casa Branca, nas eleições de novembro, recebeu mais de 50% dos votos, esmagando a concorrência neste arranque das primárias e levando à desistência do candidato Vivek Ramaswamy, que já disse ir apoiar o magnata nova-iorquino. Na próxima terça-feira será a vez dos republicanos de New Hampshire escolherem os seus delegados à convenção nacional do partido, marcada para julho.

Escalada no Médio Oriente Ao fim de 100 dias de guerra na Faixa de Gaza, os estilhaços do conflito extravasam os territórios israelita e palestiniano e alastram-se a cada vez mais países da região. Ontem, houve mais um ataque por parte dos hutis do Iémen a um navio comercial que navegava no mar Vermelho .

Jornalista agredido Um jornalista do Expresso foi agredido ontem à tarde num evento com o líder do Chega, organizado por associações de estudantes da Universidade Católica Portuguesa (UCP), no âmbito de um ciclo de debates com líderes partidários. A UCP já repudiou “qualquer tentativa de limitação do direito à informação e intimidação de jornalistas e lamenta profundamente a situação” ocorrida no auditório da universidade.

As propostas de Montenegro Menos IRS, menos IRC, mais privados na saúde e educação. Ainda não é um programa económico, mas são algumas das propostas avançadas pelo líder do PSD e candidato a primeiro-ministro depois de um encontro que juntou terça-feira dirigentes sociais-democratas, elementos do CDS, economistas e especialistas em finanças públicas. Do PPM, terceiro elemento da renovada AD, ninguém apareceu.

Tabaco aquecido com imagens choque e sem aromas As novas normas sobre o tabaco aquecido, que fica equiparado aos cigarros convencionais, entraram em vigor terça-feira. Mensagens chocantes nas embalagens e proibição de aromas são duas das alterações aprovadas. De fora da proibição ficaram a venda e consumo de tabaco próximo das escolas, bombas de gasolina ou em esplanadas com alguma cobertura.

Os Emmys e um EGOT para Elton John “Succession” (HBO), “Rixa” (Netflix) e “The Bear” (Disney ) foram as séries mais premiadas na 75ª edição da entrega dos Emmys, que decorreu na madrugada de terça-feira em Los Angeles. A distinção atribuída a Elton John pelo filme-concerto “Elton John Live: Farewell from Dodger Stadium” fez com que o cantor se tornasse o 19º artista a conseguir um EGOT, ou seja, a receber ao longo da sua carreira um Emmy, um Grammy, um Óscar e um Tony.

E os recordistas nos cinemas portugueses “Barbie”, “Oppenheimer” e “Velocidade Furiosa X” foram os filmes estrangeiros mais vistos em Portugal em 2023. Na produção nacional “Pôr do Sol: O mistério do colar de São Cajó” foi o líder de bilheteira, num ano em que os cinemas portugueses acolheram mais de 12 milhões de espectadores, um aumento de 28% face ao ano anterior.

José Mourinho outra vez no desemprego Pela quarta vez na carreira e de forma consecutiva, José Mourinho sai a meio da temporada de um clube. A nona derrota à frente do AS Roma nesta época levou ao despedimento do treinador. Já antes tinha sido afastado por Chelsea, Manchester United e Tottenham.

Frases

“Nunca pensei que testemunharíamos uma fome em massa nestas proporções no século XXI. No entanto, aqui está ela, em Gaza, depois de 100 dias de bombardeamento, com falta de comida, combustível e água. As crianças estão a morrer primeiro. Seguir-se-ão os adultos. Diante dos nossos olhos”, Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos nos territórios ocupados, esta terça-feira, na rede social X.

“Se estes cidadãos ainda se agarravam à esperança de conseguir iniciar o seu processo em Portugal em breve, cai por terra essa possibilidade a curto prazo”, Joana Freire, diretora executiva da Associação para o Planeamento da Família num comunicado a propósito do veto do Presidente da República sobre a regulamentação do diploma que tornaria possível a gestação de substituição em Portugal.

"Pelo menos desde 2011 que há despedimentos e salários em atraso na Impala. Sinto um amargo de boca enquanto cidadã”, Isabel Alves, advogada que defende alguns trabalhadores nos processos laborais contra o Grupo Impala

O que ando a ler

“Um cão no meio do caminho”, Isabela Figueiredo

José Viriato mora sozinho num rés-do-chão num apartamento na margem sul do Tejo com os seus dois cães. Beatriz, sua vizinha, vive também sem companhia, entre caixas e caixotes que permanecem por abrir depois da sua mudança. Ele passa as noites a recolher objetos que encontra nos contentores de lixo e pequenas incursões ao café Colina, ela tira fotografias durante o dia ao que vê de sua casa e nas ruas. Em comum, uma vida passada de desgostos e a solidão que não partilham com ninguém, até se conhecerem.

Considerado um dos melhores livros de 2022 pelos críticos do Expresso (a obra anterior, “A Gorda”, mereceu igualmente rasgados elogios), a história passa-se entre as memórias do agitado período da Revolução e o presente, entre Lisboa e os subúrbios, o Portugal dos retornados, da droga que explodiu na década do 80, das retrosarias, dos cafés e dos mexericos, das avós e das amizades da adolescência.

Na revista do Expresso, José Mário Silva escreveu sobre este “belíssimo romance sobre o mundo contemporâneo e as suas zonas de sombra (o desperdício da sociedade capitalista, a miséria humana, o renascimento dos fascismos, a ‘indústria da morte’ representada pela pecuária intensiva, com o seu ‘mar de sangue que ninguém vê’), sem nunca abdicar de um certo otimismo, porque é preciso ter esperança naquilo que nos ata uns aos outros ‘com grossas cordas velhas que resistem ao tempo e ao uso’.”

Em abril passado, a escritora foi a convidada do podcast a “Beleza das Pequenas Coisas”.

Boas leiturasboas escutas e um excelente resto de semana.

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