domingo, 21 de janeiro de 2024

Portugal | Para preservar a democracia é preciso "regar os cravos"

Os 50 anos do 25 de Abril estão a ser assinalados desde 2022, ano em que Portugal passou a viver mais tempo em democracia do que em ditadura. Comemorações prolongam-se até 2026.

A comissária das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril considerou este domingo que para preservar a democracia, uma das principais conquistas da revolução, é necessário "regar os cravos", para melhorar a qualidade do regime democrático.

"Todos temos de trabalhar para construir a democracia e para melhorar a sua qualidade e esse é o repto que nós temos que entregar no âmbito destas celebrações", afirmou Maria Inácia Rezola em entrevista à Lusa, a três meses de se assinalar o meio século do golpe militar que pôs fim 48 anos de ditadura.

Questionada se o aumento do extremismo na Europa, incluindo em Portugal, põe em causa a democracia, respondeu que esta é "uma das grandes conquistas de Abril, mas a democracia nunca pode ser -- e isto é uma frase feita, mas é verdade - uma realidade adquirida".

Para a professora e historiadora, a democracia é o "envolvimento na causa pública, no meio público e, portanto, a diferentes níveis com diferentes papéis".

"A democracia conquistou-se, [mas] é preciso preservá-la. É a célebre imagem do 'é preciso regar os cravos' ", defendeu.

A revolução portuguesa ficou conhecida como Revolução dos Cravos uma vez que a população lisboeta aderiu de forma entusiástica à revolta militar no dia 25 de Abril de 1974 e ofereceu comida, bebidas e cravos vermelhos aos soldados, que decidiram enfiá-los nos canos das espingardas.

A historiadora lembrou ainda que a instituição da democracia estava consignada desde o início no programa político do Movimento das Forças Armadas (MFA) na sigla dos três D: democratizar, descolonizar e desenvolver.

"Um dos pontos fortes do programa do MFA era garantir a realização no prazo máximo de um ano de eleições livres e universais, por sufrágio direto aos portugueses. O sucesso das eleições deixou patente a importância dessa conquista" ao terem votado mais de 90% dos portugueses, recordou.

Relativamente à atualidade e à crise política que levou à convocação de eleições antecipadas para o próximo mês de março, Rezola disse que apesar de a estabilidade política ser desejável, esse facto não faz esmorecer as comemorações.

"É muito interessante ver a mobilização de todas as pessoas, todas as entidades, todos os setores da sociedade portuguesa e todas as gerações envolvidas nessa celebração de 50 anos de democracia, nós trabalhamos quotidianamente para que o 25 de Abril seja dignificado", afirmou.

A comissária entende ainda que estas celebrações dos 50 anos são particularmente importantes.

"Nós não nos podemos esquecer que esta será provavelmente a última data redonda em que podemos, felizmente, contar com muitos, não todos, mas com muitos dos protagonistas. E, portanto, esta passagem de testemunho será feita independentemente da situação política geral. É essa que deve ser a nossa missão e deve ser no nosso empenhamento", justificou.

Sondagem

Os 50 anos do 25 de Abril estão a ser assinalados desde 2022, ano em que Portugal passou a viver mais tempo em democracia do que em ditadura.

As comemorações vão prolongar-se até 2026, para que se assinalem também os 50 anos da aprovação da Constituição, da formação do I Governo Constitucional, a eleição do Presidente da República, a realização de eleições regionais nos Açores e na Madeira e das autárquicas.

A forma como os portugueses "olham" a história e a democracia vai ser aferida através de "uma mega sondagem" promovida pela comissão, cujos resultados serão divulgados a 25 de Abril.

Maria Inácia Rezola lembrou que este tipo de sondagem já foi realizada nos 30 e 40 anos da revolução portuguesa de 1974 e que agora nos 50 anos terá atualizações, "no que diz respeito à perceção do processo de descolonização, um dos temas que só agora começa a ser debatido".

Este estudo de opinião "vai permitir perceber se essa imagem que nós temos que os portugueses estão reconciliados com o seu passado histórico corresponde com a realidade", adiantou Rezola.

Vai permitir também perceber como é que os portugueses nascidos depois do 25 de Abril "percecionam o que é o 25 de Abril e o que representou para a sua história, para as suas vidas concretas", disse.

Diário de Notícias | Lusa

Sem comentários:

Mais lidas da semana