Angola | Acções Roubadas e Hotéis a Voar – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As cadelas apressadas têm os filhos cegos. Os cães que ladram à toa ficam frustrados porque a caravana passa, pode é demorar mais tempo. A pressa é inimiga do bom. Ladrões apressados são apanhados com as mãos na massa. Pode não ser à primeira, mas acabam sempre por prestar contas às vítimas por decisão ou não dos Tribunais. Cuidado com a justiça pelas próprias mãos! Daqui a uns anos temos de andar com uma lanterna à procura das ossadas.

Em Portugal aparecem notícias sobre “apetites “ de investidores pelos hotéis da AAA Activos LDA. cuja privatização foi anunciada pelo Executivo.. O anúncio antecedeu um “decreto presidencial” daqueles que Adão de Almeida vai defender cegamente e acaba no caixote do lixo. O decreto e o defensor. 

O órgão oficial, do chefe Miala (Televisão Pública de Angola) dedicou largos minutos à “privatização” de 39 hotéis da empresa AAA Activos LDA. ainda que apresentem esse património como sendo do empresário Carlos São Vicente. Há mesmo pressa em concluir a negociata que tem tanto de ilegal como de assalto à mão armada, sendo que a arma é um decreto presidencial o que torna ainda mais grave o esbulho!

O roubo à mão armada com um decreto presidencial também abrange as acções da AAA Activos LDA. no Standard Bank Angola igualmente “privatizadas” com a pressa que dá filhos completamente cegos, condição primordial para esses rebentos fazerem parte do Executivo liderado por João Lourenço. Tanta cegueira! Tanto ódio! Tanta ignorância. Tanto mobutismo.

Antes que Adão de Almeida ou qualquer outro jurista de aluguer se precipitem numa defesa sem sentido, lembro a todas e todos os implicados no crime, a todas e todos os interessados no “negócio” que os hotéis e as acções do banco têm dono legítimo e inquestionável ante a lei, mesmo no regime mobutista que estamos com ele. As acções do Standard Bank Angola e os hotéis pertencem à empresa AAA Seguros LDA. que não foi julgada, não foi condenada nem está presa ilegalmente na cadeia de Viana.

As cadelas apressadas e os cães que ladram à toa enquanto a caravana passa, precisam de saber que a empresa AAA Activos LDA. é parte terceira no Processo 827-21-B. Nunca foi constituída arguida nem contraditou. Nunca foi notificada de qualquer sentença. Logo, se existe mesmo alguma decisão de um Tribunal ela é ilegal e nula. Não tem qualquer eficácia. Perguntem a um jovem advogado estagiário e logo têm a confirmação. 

Por favor, não ponham Adão de Almeida a procurar argumentos que justifiquem o roubo das acções e dos hotéis da AAA Activos LDA. Porque a sua defesa vai ter o mesmo destino da sua argumentação no decreto que comprava as magistraturas a dez por cento das “recuperações de activos”. O Estado Angolano fica mal. Os titulares dos órgãos de soberania ficam mal. Até a decência que se exige a qualquer cidadão fica mal vista.

O Estado Angolano pode ter mobutistas no poder. Pode ter o chefe Miala a comandar os roubos e esbulhos. Mas não pode privatizar o que é dos outros por vingança, inveja ou ambição desmedida.

Neste processo já foram cometidos desmandos que nem o ditador Mobutu subscrevia. Dou um exemplo. Transformaram unidades hoteleiras em escritórios para alojar repartições púbicas. Um hotel em Angola dá muito dinheiro. Fazer dele uma repartição pública que podia ficar instalada numa loja normal é gravíssimo crime económico.

Porque destruíram postos de trabalhos. Destruíram riqueza. Milhões de Kwanzas deixaram de entrar nos cofres públicos. Cometeram estes crimes movidos pela inveja. Mas também levados pela suprema ignorância de quem pensa que um país é uma buala ou um sobado.

Mais grave ainda. A empresa AAA Activos LDA é proprietária de 84 hotéis. Destes, 35 foram escandalosamente roubados pelo Estado e serviram para instalar serviços da Procuradoria-Geral da República, Tribunais e até Ministérios!

Outra parte do lote, 39 unidades hoteleiras, vai ser “privatizada”. O negócio está a ser muito badalado em Portugal e em Angola perla criadagem do chefe Miala. Francamente. Isto parece aquele processo do ditador Mobutu contra Augustin Dokolo. Começaram por roubar-lhe imóveis, depois minas e por fim o Banco de Kinshasa! Ficou sem nada! O ditador caiu e o seu sucessor, Presidente Kabila, repôs a verdade e a justiça. É isso que vai acontecer com os hotéis da AAA Activos LDA. Mas ainda não sabemos qual o destino do nosso Mobutu e seus ajudantes.

O pessoal implicado no esbulho em princípio deve saber tabuada e contas de somar. Se 35 hotéis foram transformados em repartições públicas e agora vão “privatizar” mais 35, para 84 faltam dez unidades hoteleiras. 

Este número dez é mesmo maldito. Querem ver que os dez hotéis que não foram transformados em balcões de serviços públicos nem vão ser “privatizados” voaram? Ou são um presente dos ajudantes ao nosso Mobutu? Anda por aí pessoal político com imensa pressa de ficar trilionário! Cuidado! As cadelas apressadas têm os filhos ceguinhos e o dinheiro, os imóveis, as fazendas tão depressa entram nos bolsos como se esfumam!

Se em Angola há mesmo combate à corrupção, quem de direito que venha explicar o que é feito dos dez hotéis da AAA Activos LDA. que não vão ser entregues aos amigos  ou não serviram de repartições públicas. Não ao Terrorismo de Estado. Não aos Roubos de Estado. Não ao mobutismo que se instalou em Angola à força toda.

* Jornalista