sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Angola | Livro de Estilo e o Campeão da Paz -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A festa do Nico Fidenco (Casa de Irene) mal começou acabou imediatamente. A minha durou de ontem à noitinha até ao fim da tarde de hoje. Estou mais feliz do que um beduíno em cima do seu camelo. Mas quando cheguei ao cubico foi uma desilusão. Makas mundiais me esperavam de emboscada. Estou a cair da tripeça e não me dão descanso. Antes de ir ao coração dos quês e quês, deixo um agradecimento às amigas e amigos que me proporcionaram a farra de arromba. Que deus vos pague e fiquem com o troco.

O presidente da Federação Angolana de Futebol, Artur Almeida e Silva, vociferou e bem grosso. Sacanas! Deixaram-nos vir para o Campeonato Africano das Nações (CAN) sem orçamento. Isso faz-se? E o dirigente federativo desabafou: “Alguma coisa vai mal no nosso país. Nós estamos aqui em representação da Nação. Estamos em missão de Estado e somente ontem recebemos um terço do que devíamos receber.” 

A Dona Vera Daves cativou a massa da Selecção Nacional! As ordens vieram do chefe supremo sem barrete de onça. Porque a senhora só obedece a ordens. Nas horas vagas trança o cabeço, compra roupas de marca caríssimas e óculos a condizer. Mas também ordena, olhando para baixo. Mandou o seu valete na UNITEL oferecer telefones aos vitoriosos futebolistas que conquistaram um lugar nos quartos-de-final. No fim ele apresenta a conta à madama. E de que maneira!

Em rigor, o doutor, doutor, doutor, PCA, PCA, PCA só oferece os telefones. Porque as chamadas grátis, como são da rede UNITEL para a rede UNITEL não contam. Todos os subscritores têm essa “oferta”. Mas o Aguinaldo vai colar nas mãos muitos milhões à custa dos nossos Palancas Negras! Aguinaldo, eu cativei o orçamento da Selecção Nacional. Como os bichos ganharam tudo, estou em maus lençóis. Eu e o chefe. Liga para eles, diz-lhes que são os maiores e vão receber um telefone!

Madama, às ordens. E quer uma camisola do Gilberto? Eu peço com todo o gosto. Sou o doutor, o doutor, o doutor! A patroa hesitou mas depois deixou um pedido pesado: Pede-lhe as cuecas. Mas que estejam a cheirar a calor (os brancos falam katinga). O Aguinaldo não pediu. Vai ser despedido.

A Dona Vera cativa tudo quanto é orçamento, menos o dela e do chefe. Mais a criadagem da corte. E o Artur Silva desiludido: “Não é possível tratar o desporto desta forma e em particular o futebol. Assim não vamos a lugar nenhum! Não imaginam o sacrifício que temos de fazer para estar aqui esta representação. É a Nação em causa mas, infelizmente, as pessoas não têm noção. Não temos condições nenhumas por isso não podemos calar-nos. Temos de dizer a verdade”.

O Procurador-Geral Adjunto da República, Pedro Mendes de Carvalho, recebeu ordens (ganha dez por cento por cada ordem cumprida) para afirmar que a empresária Isabel dos Santos se recusou a apresentar a sua versão dos factos de que é acusada no Processo Sonangol. Os seus advogados desmentiram nestes termos: “Jamais recusou prestar declarações à Justiça Angolana. Não foi notificada pela Procuradoria-Geral da República. E já respondeu à acusação no Processo Sonangol”. Numa mensagem enviada à agência noticiosa Lusa, afirmam que “é falsa a afirmação de que a empresária Isabel dos Santos foi notificada para ser ouvida, mas que preferiu não responder às questões”.

Os advogados informam que Isabel dos Santos nunca foi constituída arguida pelas autoridades angolanas e que só lhe foi permitida a consulta do processo, com dez mil páginas, por três horas. No que diz respeito ao processo 48/19 (caso Sonangol), dizem que Isabel dos Santos justificou a ausência do país, por razões de saúde, devido à COVID-19, manifestando disponibilidade para colaborar: "No dia 6 de Março de 2020, foi feita a junção do justificativo médico e, daí para frente, a engenheira Isabel dos Santos não foi mais notificada de qualquer diligência a realizar ou realizada. Isto, leia-se, há quatro anos”.

Já está! O Soba Grande e o kapitupitu Miala condenaram-na a ficar sem nada. Nem empresas nem milhões. Quanto ao julgamento, está condenada de véspera. Mais dez por cento para os condenadores. É criminoso destruir desta maneira o sector da Justiça, que tanto esforço individual e colectivo exigiu dos seus agentes e do Povo Angolano.

Rosário Bento Pais é a embaixadora da União Europeia em Angola. O cartel financia a guerra na Ucrânia até ao último ucraniano. Está enterrado até ao pescoço na corrupção que alastra entre os nazis de Kiev. Hoje, no final de um encontro com a provedora de Justiça, Florbela Araújo, a embaixadora disse tem uma parceria com Angola   “para a protecção e promoção dos direitos humanos”. 

Só uma megera desavergonhada pode falar de direitos humanos quando a União Europeia acaba de anunciar que alinha no genocídio da Faixa de Gaza, cortando a ajuda humanitária aos milhões de refugiados, porque os nazis de Telavive “descobriram” 12 palestinos alegadamente implicados nas operações do HAMAS, em 7 de Outubro. Na Angola de Agostinho Neto, do seu ministro das Relações Exteriores José Eduardo dos Santos, do ministro da Defesa iko Carreira, do Chefe do Estado-Maior Geral das FAPLA  Xiyetu, essa flausina ia directamente para o aeroporto, cangada. E saía no primeiro avião.

A edição deste ano do Índice de Percepção da Corrupção, da organização não-governamental Transparência Internacional, mostra que Angola melhorou 14 pontos e está no 121º lugar entre 180 países. Na África Subsaariana, ocupa o 21º lugar entre os 49 Estados. A ONG elabora as suas listas mediante o que recebe. Um carregamento de petróleo faz subir. Uma recusa em pagar faz descer. Só um país de matumbos dá valor a essas listas.

A confusão é o forte do Soba Grande e do kapitupitu Miala. Porque “percepção de corrupção” é muito diferente de corrupção. Se os Media públicos bombardeiam os angolanos com o sucesso do combate à corrupção, dirigido pessoalmente por João Lourenço, é evidente que a “percepção” só pode ser positiva. Aprendam: Conversa não enche barriga, saco vazio não fica em pé e pau podre não mata cobra.

Hoje é o Dia da Paz e Reconciliação em África. O Presidente João Lourenço discursou. Fez a defesa de uma cultura de paz e diplomacia preventiva em África. Apoiado! A data marca o momento em que o Presidente da República foi designado como campeão para a paz e reconciliação em África. E falou nessa condição. Não sei quantos barris de petróleo custou o rótulo que colaram ao nosso Soba Grande. Mas sei que insistir nesse equívoco é ridículo. 

O campeão da paz em África piorou a situação no Leste da República Democrática do Congo. Tem o Gabão contra Angola após a mudança de poder no país. Burkina Faso, Níger e Mali abandoaram a organização regional. A guerra no Sudão já fez oito milhões de deslocados! Mais os milhares de mortos. Na Etiópia a instabilidade causada pela ausência de paz faz centenas de mortos por dia, com fome! 

Os rebeldes do Boko Haram  mataram mais de 35 mil civis inocentes e causaram quase três milhões de deslocados na Nigéria, nos Camarões e no Chade. A República Centro Africana goza as delícias da paz dos cemitérios. Por muito que Luanda tenha pago pelo rótulo de “campeão da paz em África”, por favor, esqueçam. Em política, o ridículo mata!

O feitio religioso e submisso, o princípio dá-me uma chapada e toma lá a outra face para dares mais, levou-me a trabalhar em dezenas de Jornais, revistas, estações de rádio e agências noticiosas. O velho Bobela Mota era um furioso do Livro de Estilo. Dizia ele que sem essa ferramenta uma Redacção é dominada pela anarquia. Como o compreendo!

Desde os primeiros passos na profissão que pergunto pelo Livro de Estilo quando chego a uma Redacção. E se não há, proponho logo criarmos essa ferramenta preciosa. Foi isso que aconteceu quando entrei a segunda vez no Jornal de Angola. Não havia nada, nem umas folhas avulsas com normas que permitissem normalizar técnicas e textos. Na primeira vez existia. O guardião da ferramenta era o velho Antero Gonçalves. Quem tinha dúvidas pedia-lhe o livro e ele deixava consultar mas sempre à vista, não fosse aquela preciosidade desaparecer.

O director do Jornal de Angola, José Ribeiro, aceitou a proposta de fazermos um Livro de Estilo. E como criámos o Gabinete de Formação Permanente, decidimos que ia incluir também um Manual de Técnicas Jornalísticas e uma lista de palavras difíceis. Três em um. Depois de quase um ano a recolher contributos, o material foi impresso. Tirámos 2.000 exemplares para oferecer alguns, a estudantes da Comunicação Social. Dois anos depois fizemos uma actualizaçãoi e tirámos mais 2.000 exemplares. A primeira edição esgotou.

O editor de “Opinião” do Jornal de Angola publica hoje um texto muito interessante sobre a irrelevância da “frente patriótica unida” e partidos que a constituem. Também critica a subserviência dos seus dirigentes ao ministro de um governo estrangeiro. 

O texto está cheio de gorduras. Algumas não deixam ler claramente a mensagem. Começa assim:  “Diz-se que, em política, convém que…” Se o autor consultar o Livro de Estilo vai aprender que a linguagem jornalística é directa, substantiva e afirmativa. Sujeito, predicado, complementos. A voz passiva e a conjugação reflexa são proibidas. O autor começa o texto com o predicado e na conjugação reflexa! Culpa dele? Não. Os jornalistas do “Copydesk” têm de normalizar os textos. Ao permitirem esta “entrada” assinaram a nota de despedimento com justa causa. Gravíssima negligência! E prejudicaram o autor do texto. Isto não se faz a um camarada de profissão, mesmo que seja empregado da embaixada dos EUA.

* Jornalista

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