quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Angola | Mandatos e Golpadas Palacianas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Quem pedincha muito, muito incomoda. Na língua Kimbundu isto é dito de uma forma pitoresca e um tanto ordinária: “Monandenge ubinga kiavulu, a-um-bana dibinga”. À criança que pede muito, damos-lhe um cagalhão. Em época carnavalesca a turma do chefe Miala volta a pedinchar um terceiro mandato para o Presidente João Lourenço. Porque Rui Falcão disse na LAC (programa Café da Manhã de José Rodrigues) que isso nunca foi discutido na direcção do MPLA e a Constituiçã0o da República só permite dois mandatos seguidos na Presidência da República.

Aproveitando a folia carnavalesca, um militante do MPLA da Lunda Norte foi ao Club K pedinchar “um terceiro mandado de João Lourenço”. O folião chama-se António Mussumari que, embora tenha idade para ter juízo, se comporta como uma criança. O chefe Miala estraga tudo em que toca. E sacrifica bons rapazes nestas aventuras, que só podem dar ridículo e má fama ao partido que ganhou as últimas eleições com maioria absoluta.

O chefe Miala e os ajudantes de João Lourenço na Cidade Alta mandaram dizer, pela boca de Mussumari, esta monstruosidade:  “Defendo desde algum tempo a esta parte (Abril 2020) a necessidade imperiosa de que o País precisa de um terceiro mandato do Presidente João Lourenço, para a construção dos alicerces que visam a conclusão das reformas que começamos a fazer desde 2017 em todos os domínios”. Isto porque, dizem os inteligentes, não se fazem reformas em dez anos.

Agora é claro. Existe dentro do MPLA uma “quinta coluna” que tem como missão destruir o MPLA. Nada de novo. Bill Clinton pediu ao Presidente José Eduardo que o ajudasse a afastar para sempre do poder “todos os partidos que conduziram os países africanos à independência”. 

O “democrata” que abusava sexualmente de estagiárias queria perpetuar a exploração e a rapina em África. O MPLA devia ser o primeiro a desaparecer porque até derrotou os EUA e os racistas de Pretória durante a Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial. Claro que o pedido foi rejeitado com este argumento: Se desparecerem os partidos nacionalistas e independentistas, África fica mais 500 anos na escravatura!

A turma do chefe Miala reclama “um terceiro mandato de João Lourenço”. Esta é uma forma eficaz de destruir o partido que ganhou as eleições com maioria absoluta. Em rigor, querem que as eleições em 2027 sejam adiadas cinco anos! Porque se formos a votos, não é certo que o candidato seja eleito. Quem decide isso são os eleitores e não o chefe Miala.

João Lourenço, em nome das “reformas”, em vez de fazer um mandato de cinco anos, fica dez. Mas se entretanto um ajudante do chefe Miala decidir que há “reformas” a fazer durante 30 anos, o presidente continua e as eleições continuam suspensas!

Dou de barato que a turma do chefe Miala quer um terceiro mandato legitimado pelo voto popular. Como sabem que o MPLA vai ganhar as eleições de 2027? Esta parte é ainda mais grave. Porque estão a dizer que o MPLA ganha as eleições de forma fraudulenta. Em 2024 os ajudantes bajuladores de João Lourenço já sabem que ele vai ser eleito para o terceiro mandato. Intolerável!

Por fim temos o argumento imbatível. A Constituição (CRA) só admite dois mandatos seguidos ao Presidente da República. Para João Lourenço se candidatar a um terceiro mandato, que permita concluir as “reformas” iniciadas em 2017, é preciso alterar esta parte da Lei Fundamental. Com que roupa? Quem vai votar essa alteração? 

Mesmo que a direcção da UNITA queira cometer suicídio e desaparecer nas eleições de 2027 porque o partido não consegue meio por cento, isso é impossível. A bancada do MPLA não vai enveredar pela destruição do partido como desejam os gringos. Os deputados do MPLA nunca aceitarão essa revisão constitucional. Nem a presidência da Assembleia Nacional alinha nessa golpada idiota e mobutista.

Mesmo que em 2027 João Lourenço se candidatasse, era preciso que o MPLA ganhasse as eleições com maioria absoluta, para ser investido no cargo. Se as golpadas e manigâncias permitirem que João Lourenço seja o cabeça de lista do partido, o resultado eleitoral vai ser desastroso. Dificilmente consegue votos de deputados que o confirmem como Chefe de Estado e Titular do Poder Executivo. Para não dizer impossível.

Nunca se esqueçam que sem maioria absoluta no Parlamento, é necessário negociar permanentemente. Ninguém acredita que a UNITA vote ao lado do MPLA para consumar a golpada. Sabiam que o Galo Negro abriu um processo de destituição de João Lourenço a meio deste mandato? Não percam a memória porque isso quer dizer que perderam a cabeça e sem cabeça nem conseguem um lugarzinho de sobetas na buala.

João Lourenço em 2027 vai para casa. E ainda bem. Os seus amigos e camaradas não querem vê-lo na Cidade Alta a falar como o Joe Biden e sem memória. Inimputável. Os seus vastos teres e haveres estão à espera. Que vá gozá-los em paz e sossego. 

Para perceber que o seu tempo de antena chegou ao fim, deixo-lhe um conselho de camarada: Vá consultar o site oficial das Nações Unidas e leia o que está escrito sobre o processo do empresário Angolano Carlos São Vicente. Gravíssimas violações dos Direitos Humanos! Os que me insultam, os que me ameaçam, os que querem cortar-me as mãos agora pensem. Ponderem. O Poder Judicial foi reduzido a cinzas. A luta contra a corrupção é um embuste.

E olhem para Kinshasa. A República do Zaire de Mobutu já foi o quintalão dos EUA. A base donde partiram as tropas que invadiram Angola e dizimaram milhares de angolanos indefesos. Ninho de mercenários, agentes da CIA e racistas sul-africanos. Hoje a embaixada norte-americana na capital da República Democrática do Congo é alvo da fúria popular. A embaixada do Reino Unido igualmente. Sopram ventos de liberdade em África e na Região Austral.

Sabem porquê? O nosso campeão da paz, João Lourenço, só faz piorar a guerra no Leste. O Ruanda continua a facilitar o saque das riquezas naturais da República Democrática do Congo. O povo zangou-se mesmo! Desgraçadamente Angola está hoje a fazer o mesmo papel do Zaire de Mobutu. Que tristeza! Se é para isto que João Lourenço quer um terceiro mandato, valia mais que não tivesse nenhum! Tremendo engano de alma. 

* Jornalista

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