PORTUGAL - ELEIÇÕES
Pedro Cordeiro. editor da Secção internacional | Expresso (curto)
Bom dia e boa semana!
Arranca a última semana do apelo
ao voto para as legislativas de 10 de março, escreve o Expresso em manchete. Razão para as 17 candidaturas à Assembleia da
República se esforçarem, país fora, pela eleição de um deputado, a constituição
de um grupo parlamentar, um papel decisivo na formação do próximo Governo ou
mesmo a sua chefia. Questão de escala, e essa damo-la nós, o povo. Alguns já o
fizeram, pois ontem houve votação antecipada. Foi o caso do PR, lembra a Liliana Valente.
O fim de semana fez-se, pois, na estrada. O Diogo Cavaleiro seguiu Pedro Nuno Santos no Norte do país, onde ouviu
dizer que o secretário-geral socialista “é muito simpático e não tem cara de
mafioso”. À noite, em Braga, o comício do PS contou com um forte discurso de
Isabel Soares. Horas antes, em Guimarães, a comitiva fora verberada por um
casal cujo elemento masculino atirou vasos aos apoiantes de Pedro Nuno. Na
véspera, fora a vez de o ainda primeiro-ministro António Costa fazer a sua parte.
Já a AD acusou o governante demissionário de “descaramento”, conta o João Diogo Correia. Luís Montenegro visitou mais um
ex-líder do PSD, no caso Santana Lopes. Apoiado de fora pelo presidente da
Câmara do Porto, Rui Moreira, e o antigo dirigente do CDS Adolfo Mesquita Nunes
(que pelo meio ainda apoiou a Iniciativa Liberal), o chefe dos laranjas
encabeça a maioria das sondagens, mas dentro da margem de erro. Já o seu
partido foi recentemente visado por publicidade anónima nas redes sociais.
Mais à direita, lá para o extremo, o presidente do Chega ensaia uma teoria da
conspiração em versão ‘tuga’ de Trump ou Bolsonaro. André Ventura aproveitou a
piada parva e escusadíssima de um bloquista para dar gás a alegações já desmentidas pela Comissão
Nacional de Eleições, pondo em causa a seriedade das legislativas. Pasme-se,
chamou “incendiárias” a palavras do chefe de Estado sobre justiça e fez
propostas que peritos ouvidos pelo Vítor Matos para o Expresso consideram
inconstitucionais.
Também a Norte rumou a Iniciativa Liberal, que oscila entre a afirmação e a
aproximação à AD, explica a Liliana Coelho. O voto útil é inimigo do partido
de Rui Rocha, em maus lençóis num recente estudo de opinião. Animado talvez
pelos números dessa sondagem, o secretário-geral do PCP encontrou-se em Lisboa
com o antecessor Jerónimo de Sousa e lançou a pergunta aos que vaticinam a
extinção a prazo do seu vetusto partido: “Isto é coisa de quem está a morrer?”
A Margarida Coutinho esteve lá.
Igualmente em Lisboa, Mariana Mortágua alertou para ameaças, que vitimarão
sempre e antes de mais as mulheres, as minorias, os mais pobres, os mais
desprotegidos. A coordenadora do BE teve ao lado a anterior ocupante do cargo,
Catarina Martins, escreve a Cláudia Monarca Almeida. Já o PAN lembrou as
cheias de Algés e chamou a atenção para a falta de ordenamento do território,
ao passo que o Livre criticou quem tenta desacreditar a democracia.
Os nossos colunistas vão seguindo a campanha. Daniel Oliveira nota o fracasso da tentativa de recentramento da AD (nisso
tendo eco na concorrência, pelas plumas da Ana Sá Lopes ou da Maria Castello Branco) e critica a “fezada económica” da direita. Luísa Schmidt chama a atenção
para o as questões ambientais, enquanto Manuela Ferreira Leite
traça um retrato preocupante do país e confia na sabedoria do povo e Lourenço Pereira Coutinho analisa
a propensão para se votar com a algibeira.
Outros escribas têm abordado temas internacionais que parecem pouco interessar
aos candidatos. Teresa de Sousa dá razão a Emmanuel Macron quanto à Ucrânia, ao
contrário de José Pedro Teixeira Fernandes. O assunto causa insónias a Teresa Violante e leva Miguel Monjardino a lastimar um inverno estratégico
europeu ou Luís Marques a explorar as economias de guerra. Chamei
esta gritante lacuna para assunto do pocast O Mundo a Seus Pés, em que ouvi Diana Soller e Hélder Gomes.
Outras notícias
MÃO CHEIA Hoje é bom dia para ser, por exemplo, um aniversariante sportinguista. O Benfica deixou-se atropelar no Dragão, onde levou cinco golos sem resposta, como conta o Diogo Pombo. Fica comprometida a luta pelo título e aumenta a contestação ao treinador Roger Schmidt. Sorriem os leões, que venceram o Farense em Alvalade.
DÉCIMO PRIMEIRO Esta
segunda-feira é também mais um dia, o 11º seguido, de preços baixos no mercado
ibérico de eletricidade, abaixo dos 10€ por MWh, escreve o Miguel Prado. Resta saber se vai refletir-se nas
contas do fim do mês.
QUASE DUAS DEZENAS Marcelo Rebelo de Sousa falou de Justiça 19 dias antes do que prometera. Numa
mensagem o Presidente da República exige rapidez, prontidão e eficácia ao
Ministério Público e alerta para os perigos de judicialização da política e
politização da justiça, escreve o Vítor Matos.
DÚZIA Estão encontrados os
finalistas do Festival RTP da Canção, após uma segunda meia-final, sábado, onde
se cruzaram candidatos a ir à Suécia representar Portugal com veteranas glórias
(a minha parte preferida), num rol que incluiu Simone de Oliveira, Eládio Clímaco,
Adelaide Ferreira, Herman José, Helena Isabel, José Nuno Martins ou Isabel
Campelo. A festejar 60 anos, o concurso termina no próximo sábado, 9 de março,
com a escolha da voz que irá a Malmo
QUATRO São os arquipélagos que compõem a Macaronésia: os mui lusos Açores
e Madeira, a espanhola Canárias e Cabo Verde (o único que é um Estado
soberano), cujo primeiro-ministro esteve em Lisboa e deu uma entrevista à Manuela Goucha Soares. Ulisses Correia e Silva
abordou assuntos como digitalização aplicada ao desenvolvimento e o esforço por
reduzir a dependência alimentar, hídrica e energética do seu país, que garante
ser o mais livre de África.
VINTE E UM Max Verstappen,
que ganhou os últimos três campeonatos de Fórmula 1, chegou em primeiro lugar na prova inicial deste ano, no
Bahrein, com 21 segundos de avanço sobre o segundo, Sergio Pérez. O piloto da
Red Bull ganha asas, enquanto Lewis Hamilton, recém-contratado pela Ferrari,
desilude ao ficar
OITOCENTOS E SETENTA
Frases
“‘Fast Car’ conta a história de uma mulher negra que ainda se sentiu livre para ser o que queria ser, mas ficou presa a uma vida onde continua a ser caixa num supermercado para pagar as contas. Cantada por Tracy Chapman, que cresceu no meio dessas vidas, está carregada de género e de cor, de pobreza e de exclusão. Mas também trata de um tema universal. […] Pôr em causa que seja cantada por quem tem a pele mais branca é recusar esse espaço de encontro, precioso por mais pequeno que seja. É também dizer que a cor de uma pessoa a torna, necessariamente, uma espécie de estranha total para quem não tem a mesma cor, porque não podem partilhar as mesmas emoções.”
Eugénia Galvão Teles, num belíssimo artigo para o Expresso sobre os desmandos do
conceito de apropriação cultural, tomando como mote a grande canção de Tracy Chapman que regressou nos
prémios Grammy deste ano
“E há responsáveis por esta morte. Os primeiros são aqueles que não permitiram
a entrada do acompanhante, incumprindo a lei e atropelando a dignidade humana,
os segundos somos nós todos, a colectividade pacífica de revoltados tão bem
descrita por Miguel Torga, que permite que práticas erradas se generalizem
tanto que se tornam o normal.”
Carmen Garcia, no “Público”, sobre o triste caso de Avelina, senhora demente que desapareceu da urgência de um grande hospital de Lisboa onde não deixaram que o marido a acompanhasse e cujo corpo foi encontrado, passados dois meses e meio, em avançado estado de decomposição
Podcasts a não perder
Liberdade
O diretor-adjunto David Dinis esteve no Expresso da Manhã a conversar com o Paulo Baldaia
sobre a reta final da campanha para as legislativas. Com o número de indecisos
a significar que a vitória tanto pode sorrir ao PS como à AD, muito dependerá
da eficácia do apelo ao voto útil.
O Bernardo Mendonça convidou Alexandra
Lucas Coelho, cujo conhecimento do conflito israelo-palestiniano dificilmente
tem par no jornalismo português, para o mais recente A Beleza das Pequenas Coisas. A propósito do relançamento
atualizado do seu livro “Oriente Próximo”, falam sobre uma guerra sem fim
à vista, cujo último surto aconteceu a 7 de outubro com o bárbaro ataque do
Hamas contra o Estado judeu.
O que ando a ver, ouvir e ler
O fim de semana foi intenso na
frente cultural. Começo por recomendar vivamente, sobretudo a quem tem filhos, “A madrugada que eu esperava”, musical que vai buscar para
título um verso batido de Sophia para celebrar os 50 anos do 25 de Abril. Ao
leme estão Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco, que alternam nos dois papéis
principais, lado a lado com Dinarte Branco ou Jorge Mourato, entre outros.
História bem construída, canções com qualidade e muito boa disposição a tratar
um assunto importante. Até final de abril no Teatro Maria Matos, em Lisboa e em
seguida no Porto, é louvável empreitada pela preservação da memória. Nos
palcos, a agenda próxima inclui “A paixão segundo o teatro” na Comuna, “Tempestade ainda” no Teatro Aberto e “A Senhora de Dubuque” no Trindade.
De memória fala também “Factum”, exposição de 170 fotografias de Eduardo Gageiro,
na Cordoaria Nacional. Anda por ali a Revolução dos Cravos, com o emblemático
retrato de Salgueiro Maia ou o regresso de Mário Soares do exílio, mas não só.
Alfama, monges cartuxos, minas alentejanas, políticos (Eanes a fazer windsurf!)
e artistas foram imortalizados pela câmara do quase nonagenário e muitíssimo
simpático Gageiro, que tive o prazer de encontrar em plena mostra e apresentar
à prole. Até 5 de maio.
Na música, anseio pelo regresso de Sérgio Godinho ao Coliseu dos Recreios, dias
20 e 21. O título deste Curto foi, de resto, fanado ao seu “Cuidado com as Imitações”, exortação muito pertinente em
tempos de decisão política. O novo espetáculo, esgotado nas duas datas,
chama-se “Liberdade
Antes disso, a Gulbenkian convoca para delícias como a voz da soprano Joyce DiDonato, o Requiem de Mozart ou a Paixão segundo São João de Bach. Ali ouvi, sábado, o
marroquino Driss el Maloumi com alaúde, voz e banda. Descoberta
que aconselho.
Acabo com os livros, para voltar ao tema com que comecei o Curto e fechar o
círculo. Ando a ler as “três cabeças” que a editora Zigurate lançou sobre os
líderes dos três maiores partidos: Pedro Nuno Santos por Ana Sá Lopes, Luís
Montenegro por Miguel Santos Carrapatoso, André Ventura por Vítor Matos. Já
tive qualquer destes camaradas por companheiros de redação, mas creiam que não
é a simpatia que me faz dizer que prestaram importante serviço público ao darem
a conhecer de forma política e pessoal quem nos quer governar. Quem nunca nos governou
mas faz cá falta é, entretanto, Francisco Lucas Pires, cuja biografia da
autoria de Nuno Gonçalo Poças já encomendei. Chama-se “O príncipe da democracia”, o que é de inteira justeza, e
recordou-me o excelente documentário que sobre o mesmo homem
brilhante realizou Margarida Mercês de Mello, em 2019.
E assim me despeço, que há todo um jornal para ir fazer e o leitor terá
trabalho ou lazer a que dedicar o seu tempo. Continue a acompanhar-nos por aqui. Até breve e até sempre!
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