quinta-feira, 11 de abril de 2024

A Transição para Ninguém -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ao fim de seis meses de genocídio na Palestina, o polícia mau (EUA) continua na primeira linha de apoio aos nazis de Telavive. O polícia bom (França) pede “sanções internacionais” contra Israel! Os EUA comandam, armam e municiam os executores da carnificina na Faixa de Gaza. São os matadores. Acreditam que levar a guerra a todo o mundo e exterminar seres humanos em massa é a melhor forma de manterem o império. Os franceses (no papel do bom “flic”) acreditam que Liberdade é só para eles, Igualdade exclui pretos e outros coloridos, Fraternidade é uma marca de mostarda. São os mentores das novas cruzadas. 

O estado terrorista mais perigoso do mundo, ao ver que existia um a maioria gigantesca na ONU para admitir a Palestina como Estado de pleno direito na instituição, imediatamente ameaçou com o veto no Conselho de Segurança, se o processo avançasse agora. O gato já não se esconde, apenas deixa escondido o rabo. O chefão John Kirby, um dos mentores do genocídio na Palestina, quando foi confrontado com a saída de tropas israelitas da Faixa de Gaza disse muito despachado: “Não é uma retirada. As tropas apenas vão descansar”. Matar 41.000 civis indefesos (estou a incluir os desaparecidos) é muito cansativo.

O mesmo chefão Kirby rejeitou a existência de um genocídio da Faixa de Gaza nestes termos: “Israel não está a varrer o povo palestino do mapa. Israel não está a varrer Gaza do mapa. Israel está a defender-se contra uma ameaça terrorista genocida”. Em Janeiro passado, rejeitou frontalmente os apelos ao cessar-fogo em Gaza. E citou o assassino máximo: “O presidente Biden apoia a capacidade de Israel para se defender”. Os palestinos “são uma ameaça terrorista genocida”. Bombardear hospitais, escolas, universidades, locais de culto, prédios de habitação e campos de refugiados, matar à fome e à sede milhões de seres humanos, significa para Joe Biden “ajudar Israel a defender-se”.

Os dirigentes do estado terrorista mais perigoso do mundo querem que o império dure tanto como durou o Império Bizantino, 11 séculos. Ou, no mínimo, tenha a duração do Império Romano, cinco séculos. Não pode. Desses impérios nasceram civilizações. Resultaram coisas muito boas para a Humanidade. O império ianque, nos seus dois séculos e meio, apenas espalhou pelo mundo mortes e destruições.

Angola teve a sua dose. Washington apoiou a Guerra Colonial. Os presidentes Nixon, Mobutu e Spínola decidiram afastar o MPLA do processo de descolonização. O Povo Angolano teve de fazer a II Guerra de Libertação Nacional ou Guerra da Transição para conquistar a Independência Nacional. Derrotados em toda a linha, os senhores de Washington apostaram as fichas todas no regime racista de Pretória e a sua criadagem da UNITA. Os angolanos triunfaram na Guerra pela Soberania e Integridade Territorial. Agora voltaram com pele de cordeiro no Corredor do Lobito. São onças tanto ou mais traiçoeiras do que os sicários do Galo Negro. Avisei.

Marcolino Moco critica o seu “mais novo” Ju Martins por ter afirmado que “o poder não se negocia, conquista-se”. Para o meu amigo Moco, Adalberto da Costa Júnior, o bobo da corte dos sicários da UNITA, é que está certo quando propõe “discutir a transição”. Porque, para além dessa discussão ser muito útil para Angola, “é muito benéfica para o futuro dos próprios membros do MPLA, dentro ou fora do poder”. Isto cheira a ameaça. Se não negociam a transição com os sicários do Galo Negro vão parar à fogueira, mesmo os militantes do MPLA que nunca estiveram no poder. 

A democracia representativa tem os seus encantos. E em Angola é mesmo muito encantadora. Um dirigente do MPLA, Ju Martins, afirmou: “O poder não se negocia, conquista-se”. Um antigo dirigente do mesmo partido, Marcolino Moco, acha que isso não é assim e o poder, sim, deve ser negociado. Mas mais do que isso, quem está no poder, com legitimidade democrática, com o apoio da maioria qualificada ou absoluta do voto popular, enquanto cumpre o mandato, deve “discutir a transição”. Mas qual transição? Encantador! 

O MPLA ganhou com maioria absoluta as eleições de 1992. Apesar dessa vitória retumbante, negociou com todos os partidos que elegeram deputados e partilhou com eles o governo liderado por Marcolino Moco. Os sicários da UNITA recusaram. E levaram a rebelião armada a todo o país. Nadas de negociar. Nada de discutir a transição. O pode está na mira das armas e no sopro dos explosivos. A UNITA quer todo o poder. E quando Savimbi conquistar o poder, “parte o focinho” aos do MPLA. Falharam. 

O MPLA conquistou o poder de armas na mão, em nome do Povo Angolano. Não negociou, conquistou a Independência Nacional em 11 de Novembro de q1975. E quando aceitou negociar em Alvor, Nakuru, Gbadolite, Bicesse ou Lusaka do outro lado estava um criminoso de guerra impiedoso que ambicionava todo o poder. O que na realidade queria, era discutir a transição. Se a discussão desse para o torto, como deu, avançavam com a rebelião armada como avançaram. Infelizmente os especialistas angolanos ainda não estudaram o período entre as eleições de 1992 e 22 de Fevereiro de 2002. Dia do Renascimento da Liberdade.

Discutir a transição o que é em democracia? Marcolino Moco sugere no seu texto que o MPLA ganha eleições fora das urnas de voto. Em nome da honestidade intelectual, tem o dever de informar quais foram os truques ou as jogadas subterrâneas que o MPLA fez fora das assembleias de voto, nas eleições de 1992 que venceu com maioria absoluta. Fala agora ou então cala-te para sempre!

Em democracia, a transição é discutida quando o partido que ganhou as eleições vai substituir o partido que as perdeu. Por favor meu caro Moco, diz agora qual foi o partido que ganhou as sucessivas eleições entre 1992 e 2022. Sim, o MPLA tem conquistado o poder nas urnas. E sabes que mais? Mesmo assim negocia com os perdedores, ainda que não mereçam. Porque não sabem negociar. Porque não são políticos. Porque nem sequer são democratas. O MPLA pôs o poder em disputa, sem medo, em 1992. Triunfou. O Povo Angolano falou bem alto quem queria. E assim continua a falar. A UNITA pegou em armas para conseguir a tiro o que perdeu nas urnas de voto. Até 2002 de armas na mão. Agora recorrendo a sabotagens e banditismo.

Nunca mais vão ter a oportunidade de negociar ou discutir seja o que for. Aquele truque baixo da Frente Patriótica Unida foi a última punhalada cravada no coração da Democracia. Coitados dos oportunistas do Bloco Democrático. Em 2027 são extintos porque nem meio por cento dos votos vão conseguir. E a UNITA esvazia o balão. Isto se o MPLA quer mesmo ganhar as eleições. 

* Jornalista

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