sábado, 13 de abril de 2024

Angola | Acontecimentos a Caminho da Floresta – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No Liceu Salvador Correia existia uma floresta virada para a Maianga e outra para o lado do Rádio Clube de Angola. Aí fazíamos um jogo de rudezas e brutalidades que se chamava “tudo o que aconteceu a caminho da floresta”. Quem amouxava era a vítima. Mas o jogo era muito democrático porque os brutais também faziam de vítimas. Hoje vou contar tudo o que aconteceu a caminho da floresta. Amouxo mas espero que não seja para sempre. Estou cansado de pagar contas e comprar medicamentos. Não contem comigo para a imortalidade.

A Doutora Teresa Matoso Manguangua Victor recebeu o Prémio Especial Sirius, uma espécie de missanga criada pela Deloitte, lídima representante em Angola das mafias financeiras internacionais. A laureada recebeu em Novembro de 2022 o prémio “Internacional Best Researcher Awards” pelo seu trabalho na área da investigação científica. É Doutora em Engenharia Química pela Universidade de Newcastle, Reino Unido, e Professora no Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências em Luanda. No momento de receber o Sírius disse que no nosso país não há “uma cultura de investigação científica”.

Pois não excelência! E num país onde não há investigação também não existe desenvolvimento. Onde não há investigação e desenvolvimento não há democracia e o caminho está escancarado a um qualquer ditador ressabiado, vingativo e complexado. É no pântano da ignorância que prosperam figuras como Miala, uma espécie de “presidente sombra”, que manda nos Media públicos e privados, nas empresas privadas e do sector empresarial do Estado, dita sentenças nos Tribunais, fez amouxar o Poder Judicial. Tudo isto acontece a caminho da floresta.

A “Deloitte” oferece as missangas e os espelhos em forma de Prémios Sírius. Em Angola e no mundo presta serviços de “auditoria, consultoria fiscal, financial advisory, risk advisory, consultoria fiscal”.  A empresa aparece nos “Luanda Leaks” por alegadamente ter beneficiado de contratos milionários em parceria com a empresária Isabel dos Santos. A representante das mafias financeiras internacionais em Angola não foi beliscada. Pelo contrário. Tem o apoio do casal presidencial. João Lourenço assistiu ao décimo espectáculo da distribuição de missangas. Ana Dias Lourenço selecionou os beneficiários. Grupo Carrinho em primeiro lugar, Pai Querido da Sonangol, em último. Tem de colaborar mais no esbulho.    

Os da “Deloitte” continuam sob o barulho das luzes e os holofotes da ostentação, ao lado de uma clique que abocanha tudo o que encontra a caminho da floresta. Se os “consultores” estão nas boas graças do Presidente da República gostava que alguém me explicasse, por que razão a empresária Isabel dos Santos continua a amouxar, sujeita a todas as rudezas e brutalidades da sociedade Miala & Pita Grós, mais aquela senhora da “recuperação de activos”. Este jogo de sacar tudo, derrubar tudo, roubar tudo, confiscar tudo a caminho das florestas, vai acabar mal. Muito mal. Avisei.

A minha mensagem de ontem suscitou um festival de insultos e ameaças. Enlouqueceram mesmo. Eu nada tenho a perder e estou ansioso que chegue o dia em que deixo de pagar contas e comprar medicamentos que me custam os olhos da cara. Eles têm tudo a perder. Basta-me despachar um para ter uma grande vitória. Quase ao nível da conquista da Independência Nacional. São mesmo matumbos e não conseguem perceber que a caminho da floresta também acontecem coisas péssimas. O melhor é mudarem para o jogo da bilha. Mas evitem cair na kipia e não deixem abafar os berlindes. Nos tempos que correm, roubar, esbulhar e confiscar são virtudes que merecem as missangas Sírius.

Hoje o Presidente da República inaugurou em Viana o Hospital D. Emílio de Carvalho. Eu não disse? A caminho da floresta também acontecem coisas boas. O bispo da Igreja Metodista é uma figura nacional que merece o respeito e consideração de todas e todos os angolanos. Quanto aos Hospitais Gerais inaugurados em catadupa por João Lourenço já merecem uma reflexão. O sistema precisa, em primeiro lugar, de cuidados primários de saúde. 

Os cuidados diferenciados são importantes mas se existir uma boa rede primária, poucos utentes chegam lá, porque temos pessoas saudáveis. Com os milhões gastos num “hospital geral” é possível criar uma rede com milhares de centros e postos de saúde. Centenas de pequenos hospitais nos municípios. Espero que a inversão das prioridades no investimento não se deva ao volume das comissões. 

A caminho da floresta o chefe Miala pôs um bêbado da valeta, seu antigo sócio, a especular sobre a vida interna do MPLA. Ficámos a saber quem João Lourenço quer pôr fora do Bureau Político. Os mestiços sofrem uma razia assustadora. 

O problema é que nem o Miala nem o líder do partido têm voto único nesta matéria. Por eles, iam todos. Mas quem decide essas coisas são os militantes eleitos pelas bases para delegados ao congresso. Volto a repetir. A caminho da floresta o MPLA está a correr perigos existenciais. E não vejo reacções a esse crime sem nome, que vai colocar o Povo Angolano pelo menos mais 500 anos sob a pata do colonialismo. Começa pelo Corredor do Lobito e acaba no Palácio da Cidade Alta.

O meu amigo Manolo Simeão era um entusiasta do “sonho americano”. Fundou o Partido Liberal Democrático (PLD) com a esposa, Anália Vitória Pereira. Apresentou-se às eleições de 1992 prometendo aos angolanos uma vida igual à dos gringos. Mais tarde fomos os dois a Berlim, com o médico e dirigente do MPLA, Carlos Mac-Mahon, participar numa conferência sobre Angola. Aquilo era uma coisa para promover a UNITA. 

No final das nossas intervenções ficou tudo esclarecido. E os presentes perceberam que apoiavam bandidos armados aos tiros contra a jovem democracia angolana. Enquanto Manolo tomava um chocolate quente e eu uma aguardente quentíssima contou que Washington tinha como objectivo pada Angola, destruir os movimentos de libertação, MPLA e FNLA. Isso afastou-o do “sonho americano”. 

Hoje a filha do Manolo, uma tal Alexandra, escreve no Novo Jornal: “É cada vez mais consensual que os movimentos de libertação africanos estão esgotados em todos os sentidos. Como partidos políticos desde as independências das suas mãos não nascerá futuro”. A mocinha mamou em grande no Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). João Lourenço está de acordo com ela. Recebem ordens do mesmo amo. Mas ela, coitada, só recebe uns trocos pela traição. Nem todos encontram milhões, a caminho da floresta.

* Jornalista

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