segunda-feira, 1 de abril de 2024

Um Terrorista na Casa de Abril -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Portugal tem, desde hoje, um terrorista de extrema-direita como vice-presidente da Assembleia da República. Alguém que fez terrorismo contra o 25 de Abril e as independências das colónias portuguesas. Contra Angola. Seu nome: Diogo Pacheco de Amorim, eleito deputado nas listas do partido racista e xenófobo Chega. Ele foi um dos fundadores do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), organização terrorista que fez mais de 600 atentados bombistas no chamado Verão Quente de 1975, contra o 25 de Abril e o processo de descolonização.

Antes da Revolução dos Cravos, ainda estudante na Universidade de Coimbra, Participou nos movimentos “integralistas” que defendiam o colonialismo, o “Portugal uno e indivisível com as suas províncias ultramarinas”. Antes de fundar o MDLP fez parte do Movimento para a Independência e Reconstrução Nacional (MIRN) liderado pelo general nazi Kaúlza de Arriaga sob cujo comando as tropas portuguesas fizeram terríveis massacres em Moçambique.  

Diogo Pacheco de Amorim, o advogado e comentador da SIC José Miguel Júdice juntaram-se ao general António de Spínola e ao comandante Alpoim Calvão fundando a organização terrorista MDLP. O Gabinete Político era dirigido por Fernando Pacheco de Amorim, António Marques Bessa, Diogo Pacheco de Amorim, José Miguel Júdice e Luís Sá Cunha.

Esta organização tinha o apoio da Igreja Católica, sobretudo na arquidiocese de Braga onde o Cónego Melo benzia os bombistas que fizeram mais de 600 atentados, alguns com vítimas mortais, entre as quais o padre Maximino (Max), por ser de esquerda!

Mário Soares foi outro apoiante (e beneficiário) do MDLP e do ELP, que também actuaram em Angola contra a Independência Nacional, sobretudo no Norte com os militares da unidade comandada pelo coronel “Comando” Santos e Castro. Contra o 25 de Abril e contra Angola.

Um dos operacionais da rede bombista do MDLP, Ramiro Moreira, foi julgado e condenado a 20 anos de prisão. Mas nem ouviu a sentença porque antes fugiu para Madrid onde o primeiro-ministro Mário Soares, pai da democracia à portuguesa, lhe arranjou emprego na Petrogal, antecessora da GALP. O julgamento dos terroristas decorreu até 1982 mas os mandantes, dirigentes e financiadores do terrorismo nem sequer foram julgados. Ou foram absolvidos. Ou fugiram antes do julgamento. No final todos os terroristas foram amnistiados.

Diogo Pacheco de Amorim, um dos chefes dos terroristas, é agora vice-presidente da Assembleia da República. Na Casa da Democracia está sentado um nazi e bombista. Um colonialista. Alguém que lutou com todas as armas e explosivos contra o 25 de Abril e a Independência das colónias. Em Angola mataram e destruíram. 

Com a rede bombista do MDLP colaboraram o comandante da Região Norte, Brigadeiro Pires Veloso, um comandante da PSP, major Mota Freitas, figuras da Igreja, sobretudo do arcebispado de Braga, com destaque para o Cónego Melo, distinguido pelo pai da democracia à portuguesa, Mário Soares. Também colaboraram activamente militares como o major Sanches Osório, general Galvão de Melo e o chefe máximo dos terroristas general Spínola. Mário Soares fez dele marechal!

O embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, chefão da CIA, esteve aos comandos da rede bombista. Mas outros estrangeiros também colaboraram: Guérin-Sérac, membro da organização terrorista francesa OAS, Jay Salby, agente da CIA, Otto Skorzeny, antigo oficial nazi e traficante de armas. Foi ele que armou o ELP e o MDLP.  

Diogo Pacheco de Amorim, enquanto dirigente do MDLP, carrega às costas dezenas de atentados bombistas contra sedes de partidos de esquerda em Portugal. Atentados contra democratas cujos carros ou as suas casas foram pelos ares. Bombas na Embaixada de Cuba em Lisboa. Apoio directo às forças que em Angola lutaram contra a Independência Nacional.   

Óscar Cardoso, inspector da PIDE, fundador dos FLECHAS e oficial de ligação entre o governo racista de Pretória e a UNITA, declarou em entrevista que me concedeu algures em Portugal: “Participei em algumas operações do Exército de Libertação de Portugal (ELP) e do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP). Fui denunciado e os revolucionários queriam prender-me. Contactei os meus amigos da Rodésia e fui para lá. Saí de Portugal clandestinamente e em Madrid os meus amigos do MDLP arranjaram-me um passaporte. Eles tinham muitos passaportes, em branco. Tive que arranjar um nome falso”. Diogo Pacheco de Amorim estava lá.

O seu novo nome foi Rogério Ramon Pinto de Castro: “Cada nome destes correspondia ao meu pseudónimo nas organizações a que pertencia, Exército de Libertação de Portugal (ELP), Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), Frente de Libertação dos Açores (FLA) e Frente de Libertação da Madeira (FLAMA). Embarquei para Salisbúria (actual Harare, capital do Zimbabwe). Ajudei a fazer atentados. Ainda tentámos salvar Portugal, mas quando precisámos de um presidente, o general Spínola fugiu para o Brasil. Percebi logo que aquilo não ia dar nada”.

Óscar Cardoso diz mais: “Trabalhei para a CIA depois do 25 de Abril. Fui aos Açores ver se havia possibilidade de declarar a independência do arquipélago. Os meus contactos foram muito importantes, mais tarde. O meu amigo Daniel Chipenda foi abandonado pelos norte-americanos depois da independência de Angola e eu meti-o na CIA”. 

Uma pergunta necessária. Qual foi o papel de Mário Soares no Verão Quente? Óscar Cardoso respondeu: “Serviu-se de nós. Ele queria poder a todo o custo. Apoiou os operacionais do ELP e do MDLP, trabalhou com a CIA, fez tudo o que Carlucci lhe mandou fazer. Quando conseguiu o que queria, abandonou os amigos. É muito parecido com o Savimbi. Por isso, sou capaz de me sentar à mesa com todos, menos com os socialistas”.

Mário Soares é o pai da democracia à portuguesa. Um dos seus discípulos, Diogo Pacheco de Amorim, terrorista, é o vice-presidente da Assembleia da República. A Casa da Democracia. Foi eleito com os votos da Aliança Democrática e do Partido Chega. Nazis engravatados juntamente com os feios porcos e maus comemoraram os 50 anos do 25 de Abril com a eleição de um terrorista para um órgão de soberania.

* Jornalista

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