Artur Queiroz*, Luanda
Ninguém me contou, eu li e vi. O guia do militante da UNITA manda tornar a vida impossível às populações nas aldeias até todos fugirem para as vilas. Os bons militantes da UNITA tornam a vida impossível às populações nas vilas até todos fugirem para as cidades. Os militantes da UNITA certificados actuam em bandos imparáveis e tornam a vida impossível aos citadinos até todos fugirem para Luanda. E quando a capital ficar com 11 milhões de habitantes a vida é impossível porque a cidade só tem estruturas para meio milhão. Aí os bons militantes da UNITA nobilizam os gangues de marginais para partirem tudo, destruírem tudo, assaltarem, espancarem e matarem. Esta é a política autárquica do Galo Negro.
Os sicários da UNITA não querem ser Galo Negro. Porque a expressão tem laivos racistas. Mas a rádio da Jamba chamava-se VORGAN (Voz Revolucionária do Galo Negro). Naquele tempo exibiam os brancos Fátima Roque, Fontoura, Vítor Ramalho (sempre a farejar dinheiro fácil…), Morgado ou o António Manuel Urbano, ”brigadeiro” Chassanha. Esta constelação de entulho era encimada por Mário Soares e seu filhote João, que continua agarrado ao osso, mesmo quando os diamantes de sangue estão difíceis. Para os amigos há sempre um cacusso com feijão e molho menha ndungo.
A política eleitoral dos sicários da UNITA, em 1992, bolada por Sean Cleary (o racista de Pretória conselheiro de Jonas Savimbi para os assuntos estratégicos) e pela CIA, resume-se assim: “Se ganharmos as eleições vamos para o poder. Se perdermos, dizemos que houve fraude e tomamos o poder pela força”. Eu vi e li.
O golpe militar deu para o torto
e Jeremias Chitunda, quando fugiu da sede do Galo Negro
Pergunta incómoda: Por que razão os documentos apreendidos nas sedes da UNITA em Luanda, nesse ano de 1992, não são publicados, para os angolanos saberem o que realmente aconteceu? É que os sicários da UNITA passam a ideia de que foram vítimas de um massacre, quando eles é que massacraram. Eles é que puseram tropas na rua. Eles é que assaltaram o aeroporto 4 de Fevereiro. Eles é que atacaram a sede central do MPLA. Eles é que tentaram tomar de assalto a Rádio Nacional. Eles é que invadiram o bairro de Alvalade para matarem dirigentes do MPLA e membros do Governo. Eles é que mataram centenas de civis inocentes nas ruas de Luanda.
Pergunta indiscreta: Por que razão os ficheiros do computador de Jonas Savimbi, apreendido no Andulo (ele abandonou-o ligado e tudo!) não são publicados para todos conhecermos as cumplicidades internas e internacionais na rebelião armada depois das eleições de 1992? Entre o material abandonado está uma extensa lista dos pagamentos da UNITA, a figuras da política e a jornalistas, altos defensores da Liberdade de Imprensa e da democracia. Repórter com sorte, cheguei ao Andulo, ainda esses documentos estavam no “bunker” do criminoso de guerra. Li e vi tudo. Mas tive de assumir o compromisso de que não usava essas fontes. Cumpri.
O cabeça de lista do MPLA nas eleições de 1992 era Marcolino Moco, secretário-geral do MPLA. Na qualidade de “número um” do partido que ganhou as eleições com maioria absoluta, foi indigitado pelo Presidente da República para primeiro-ministro. E ele convidou para o seu gabinete ministerial, todos os partidos com representação na Assembleia Nacional. Só a UNITA recusou porque o seu projecto era tomar o poder pela força.
O Governo estava desarmado. As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) tinham sido extintas, A única arma que tinha era o Acordo de Bicesse. Savimbi, apenas quatro dias depois de assinar o acordo, escondeu 20.000 homens e as suas melhores armas em bases secretas do Cuando Cubango. Muitos desses militares foram espalhados pelo país durante a campanha eleitoral. Tinham armas de todos os calibres, até mísseis! A rebelião armada durou dez anos. Durante essa década de banditismo, destruíram os municípios. Arrasaram o Poder Tradicional. Eliminaram a Autoridade do Estado. O meu amigo Marcolino Moco diz que agora a UNITA é diferente.
Pois é. Já não tem armas ligeiras, pesadas e mísseis, pelo menos que se saiba. Falta-nos Miguel Nzau Puna e Tony da Cista Fernandes para denunciarem essa parte. Mas o guia do militante da UNITA continua a ser o mesmo. A política de invocar a fraude eleitoral continua a mesma. As tropas escondidas nas bases secretas do passado hoje são os gangues das grandes cidades, pagos à peça para destruírem, assaltarem e matarem.
A UNITA hoje é mil vezes mais perigosa do que foi entre 1992 e 2002. Continua a ter os mesmos criminosos de guerra dessa época: Numa, Uambu, Lukamba Gato e tantos outros. Perderam Begin, Ben Ben, Salupeto, Chilingutila, mas têm os seus seguidores. Os seus mísseis Stinger hoje são as bombas atómicas humanas que empurraram para as grandes cidades. Marcolino Moco não sabe porque era muito jovem e vivia no Huambo, mas em Luanda, na hora do aperto, recorremos à ajuda dos gangues para enfrentar os esquadrões da morte dos independentistas brancos: Sabata, Sandokan e outros. Em Malanje tivemos o apoio do Fubu.
O Pacote da Legislação Autárquica está completo. As últimas peças foram aprovadas pelos deputados, na generalidade. As propostas da UNITA e do Titular do Poder Executivo foram aprovadas por unanimidade. Baixam às comissões onde têm aprovação garantida. Espero que as eleições para o Poder Local sejam marcadas para a mesma data das eleições gerais. Organizar actos eleitorais custa muito dinheiro. Há que poupar. E sobretudo evitar curar a pobreza com cirurgia robótica. Quando os resultados eleitorais forem publicados, vamos ter a UNITA berrando que houve fraude.
Durante a discussão dos diplomas aprovados, a TPA mostrou-nos Justino Pinto de Andrade ao lado de Adalberto da Costa Júnior. Um verdadeiro braço direito! Agora percebi. O Justino foi preso pela PIDE por ser camanguista como confessou recentemente. Já lhe cheirava a diamantes de sangue. Não foi preso por ser militante do MPLA. Quem alguma vez foi do “EME” pode ser tudo até corno, magnata, académico ou ladrão, mas da UNITA, não, nunca, jamais! Porque era uma secção armada da PIDE. Porque foi tropa de choque dos racistas de Pretória.
* Jornalista
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