domingo, 25 de maio de 2025

Portugal | O QUE FAZ FALTA

Carvalho da Silva* , opinião | Jornal de Notícias

Faz falta um horizonte de esperança que tome aquilo que se pode construir para todos, o bem comum, como grande objetivo. A tarefa é possível. Em primeiro lugar, há que travar a tentativa, já desencadeada por forças políticas vencedoras nas eleições do passado domingo, que visa transformar uma vitória eleitoral conjuntural numa mudança estrutural de regime. Os ventos dominantes na Europa e no Ocidente, e alguns dos resultados da globalização, favorecem este desiderato.

Há poderes fátuos de enorme dimensão, que seduziram o poder político nas últimas décadas. Os governos aplaudiram o endeusamento do lucro, o individualismo contra valores gregários, o falso mérito, o deslaçamento da sociedade, a deslegitimação da ação coletiva, golpeando a democracia. Desconsideraram as mudanças demográficas e maltrataram os imigrantes e as migrações, aprofundando políticas de baixos salários e gerando novos bloqueios à Escola Pública, ao SNS, ao acesso à habitação.

O não controlo das redes sociais e da utilização de instrumentos vindos de novas tecnologias, praticado em nome de falsos determinismos, possibilitou que as primeiras sejam, em parte, um espaço promotor de negacionismo e do fascismo, e as segundas um instrumento de aumento da exploração de milhões e milhões de trabalhadores. A luta em torno de todos aqueles e estes temas não pode parar, um dia que seja.

As ditaduras entram de mansinho, também por via eleitoral, mas só se sai delas com muito sofrimento. O liberalismo económico e financeiro não tem qualquer rebuço em ajudar a gerar ditaduras, desde que sejam favoráveis aos seus negócios. Pelo menos até que o monstro os comece a engolir.

Taça de Portugal - Benfica-Sporting: 29 anos depois, há dérbi... e esperemos sem repetição

Encontro tem início agendado para as 17h15 deste domingo

Hoje é dia de festa no Estádio Nacional no Jamor. Benfica e Sporting encerram, na tarde deste domingo, a temporada desportiva em Portugal com um sempre escaldante dérbi da capital na final da edição 2024/25 da Taça de Portugal.

Frente a frente estão dois rivais com objetivos bem distintos. O Sporting procura conquistar a primeira dobradinha em mais de 20 anos, enquanto o Benfica joga o seu futuro próximo no Jamor.

Depois de conquistar há cerca de uma semana o seu primeiro bicampeonato em mais de 70 anos, o clube de Alvalade pode agora alcançar a dobradinha, algo que aconteceu pela última vez em 2001/02, e reforçar uma época que já é histórica.

Do outro lado está um Benfica que tem pela frente um jogo que vale muito mais do que um mero título. Ainda que esse possa ser um cenário pouco provável, a conquista ou não da Taça de Portugal poderá ditar o futuro de Bruno Lage, apesar de Rui Costa ter garantido que o técnico iria começar a nova época. De resto, o líder das águias poderá estar dependente deste troféu, desde logo porque se aproxima um ato eleitoral no clube, em outubro.

Espera-se, por isso, um jogo de alto risco no Jamor, que não acontece nestes palcos desde 1996. 29 anos depois, Benfica e Sporting voltam a encontrar-se no Estádio Nacional para encerrar a temporada desportiva e que se espera que não termine como o anterior.

Este vai ser o primeiro dérbi numa final da Taça entre os dois rivais - que disputaram até à última jornada da I Liga o título de campeão nacional - desde esse fatídico encontro de 1996. Na altura, o sportinguista Rui Mendes morreu na bancada norte do recinto, vítima de um disparo de um 'very light' do lado oposto, feito pelo adepto benfiquista Hugo Inácio.

29 anos passaram e os dois rivais reencontram-se no Jamor. O Benfica é recordista de títulos na Taça de Portugal, com 26, mas há quase uma década que não sai vencedor da ida até ao Estádio Nacional (a última vez foi em 2016/17, com Rui Vitória). Por seu turno, o Sporting tem 17 Taças no seu museu, a última alcançada em 2018/19, e vem de uma derrota na final da última edição da prova rainha contra o FC Porto.

A final da 85.ª edição da Taça de Portugal entre Benfica e Sporting tem início agendado para as 17h15 deste domingo e contará com arbitragem de Luís Godinho, da AF de Évora.

Treinadores em discurso direto

Bruno Lage

Benfica mais pressionado do que o Sporting? "Claro que sim. A nossa exigência é a todo o momento. De três em três dias temos de oferecer vitórias e conquistas". 

O que pode o Benfica pode fazer de diferente diante do Sporting? "A nota dominante nos últimos jogos tem sido o equilíbrio. Tivemos sempre bons momentos no jogo e várias oportunidades para marcar mais do que um golo. Olhar para o que fizemos e temos de continuar a fazer. Neste momento, não acredito que haja muitos segredos entre uma equipa e outra. O mais importante é sentirmos onde podemos fazer a diferença. Sinto que preparámos bem o jogo em todos os pormenores. Há um troféu pela frente para conquistar."

Taça da Liga e Taça de Portugal não evitam que época seja má? "Eu sei muito a exigência deste clube. Nos últimos 15 anos qual foi o treinador com mais sucesso em Portugal? Jorge Jesus. Seis anos de Benfica, três títulos. Se olharmos para os últimos seis anos, quem é que temos com grande sucesso? O Ruben e o Sérgio e isso vai ao encontro do tempo e estabilidade. Lanço o desafio à sala: acha que alguns deles sobreviveria ao seu pior registo no Benfica? A resposta está na história do nosso clube nos últimos 50 anos. Independentemente daquilo que possa achar, nós entendemos a importância do campeonato para o Benfica e a exigência do nosso clube. Amanhã temos um troféu muito importante que não vencemos há muito tempo e estamos determinados em oferecer essa conquista aos nossos adeptos."

Rui Borges

Jogo na Luz serve de exemplo? "São jogos diferentes... Amanhã, com toda a certeza, será um jogo diferente do Estádio da Luz. Queremos ter mais bola, mais posse... Queremos fazer um jogo diferente e vamos tentar ter mais bola. Na Luz, o ambiente em si e o que ditava o jogo, e trazer a decisão para nossa casa, é natural que os jogadores viessem mais para trás. Ajustámos algumas coisas ao intervalo, mas voltámos e o Di María saiu fora. Por isso é que é desafiante e a pensar coisas diferentes. O treinador por mais que tente ajudar, por vezes também faz asneiras. Uma coisa é certa. Os jogadores ouvem-nos muito e foi por isso que fomos campeões nacionais. No fim, queremos todos ganhar."

Benfica arrisca-se a acabar a época só com Taça da Liga: "Não belisca em nada. Já ganharam a Taça da Liga, nós fomos campeões nacionais. Será um jogo entre as duas melhores equipas do campeonato. Acho que estarão motivados para conquistar um troféu, tal como nós, que não conseguimos uma dobradinha há mais de 20 anos. Voltar a escrever uma página bonita do Sporting, porque o grupo merece muito voltar a ser feliz e ganhar mais um troféu nesta época de superação. Será um grupo inesquecível e para tal merecem acrescentar essa dobradinha e essa Taça de Portugal."

Como está a lidar com tudo isto? "Acima de tudo, equilibrado como sempre sou. Claro que feliz por ganhar o maior troféu de Portugal. Estou muito feliz. Com o sentimento que o caminho deu certo. Mas o futebol é o momento e amanhã passa tudo muito rápido. Tento ser muito equilibrado. É motivo de felicidade e aproveitar, mas queremos continuar a ganhar e entrar na história do Sporting, acrescentando um troféu e uma dobradinha que já fogem há algum tempo."

Últimos resultados

Benfica: V-V-V-E-E

Sporting: V-V-V-E-V

Últimos onzes

Benfica: Anatoliy Trubin, Tomás Araújo, Nicolás Otamendi, António Silva, Álvaro Carreras, Orkun Kokçu, Florentino Luís, Kerem Akturkoglu, Leandro Barreiro, Andreas Schjelderup e Vangelis Pavlidis.

Sporting: Rui Silva, Eduardo Quaresma, Ousmane Diomande, Gonçalo Inácio, Geny Catamo, Hidemasa Morita, Zeno Debast, Maxi Araújo, Francisco Trincão, Viktor Gyokeres e Pedro Gonçalves.

Ausências

Benfica: Alexander Bah e Manu Silva (lesão); Di María, Aursnes e Amdouni (em dúvida).

Sporting: Nuno Santos, João Simões e Daniel Bragança (lesão); Diomande (em dúvida).

Leia Também: Lage lembra Amorim, Conceição e JJ e garante: "Taça não salva época"

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Notícias ao Minuto

Nota PG:

- Em Página Global voltaremos com o resultado final. Que a festa seja o exemplo de desportivismo e são convívio, são os nossos votos.

Refugiados do Sudão do Sul na Etiópia enfrentam 'catástrofe de saúde' - instituição caridade

Aljazeera | # Traduzido em português do Brasil

Milhares de refugiados sul-sudaneses enfrentam condições de saúde cada vez piores na Etiópia, à medida que a cólera se espalha e o conflito se intensifica.

Uma instituição de caridade médica internacional alertou sobre uma iminente "catástrofe de saúde" entre os refugiados sul-sudaneses na Etiópia, citando o aumento de casos de cólera e a desnutrição generalizada em campos superlotados perto da fronteira.

Em um comunicado divulgado na sexta-feira, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse que o sistema de saúde local está sobrecarregado e não consegue atender às necessidades de dezenas de milhares de recém-chegados.

“Com o aumento de doenças transmitidas pela água, como cólera e diarreia aquosa aguda, o risco de uma catástrofe de saúde pública é iminente”, disse MSF.

O afluxo ocorre após uma nova onda de violência no Sudão do Sul , onde um frágil acordo de partilha de poder fracassou.

Os confrontos entre forças leais ao presidente Salva Kiir e grupos rivais alinhados ao primeiro vice-presidente Riek Machar se intensificaram, forçando muitos a fugir. Machar foi colocado em prisão domiciliar em março, o que prejudicou ainda mais o processo de paz.

De acordo com a MSF, entre 35.000 e 85.000 refugiados fugiram para Mattar, uma cidade fronteiriça da Etiópia.

Ler/Ver em Aljazeera:

Líder do exército sudanês, al-Burhan, nomeia ex-funcionário da ONU como primeiro-ministro

Sudão do Sul em alerta enquanto a guerra no Sudão ameaça a indústria petrolífera vital

Juiz dos EUA considera que voo de deportação ligado ao Sudão do Sul violou ordem judicial

Angola | Dois Pesos à Medida -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Ontem às dez da manhã foi lançado no Museu de Arqueologia em Benguela o livro de Jaime Azulay “Benguela a Ferro e Fogo (Memórias das Guerras de 1992 e 1993)”. A apresentação esteve a cargo do jornalista Rui Vasco. O governador Manuel Nunes Júnior esteve lá. A banda musical do repórter, cronista e escritor animou os presentes.

Já vou na terceira leitura do livro. O autor usou o tempo do repórter e a estrutura da crónica, que é muito frágil mas belíssima. Qualquer palavra fora do sítio faz desmoronar tudo. Recorrer a esta técnica foi uma ousadia mas é nela que Jaime Azulay se ente melhor. Na minha colecção das “Cem Melhores Crónicas Angolanas” estão algumas “Morro do Sombreiro”, de sua autoria. Material de primeiríssima.

Na página 169 conta “O Assassinato do Jornalista Jorge Costa”. Leiam: “A separação e a desconfiança entre colegas jornalistas, começou a ser mais notória, após a instalação da delegação da UNITA, na cidade. Foi no rescaldo da descoberta e neutralização de um atentado com explosivos contra o edifício da Rádio Benguela. Graças a uma cidadã que vivia na vizinhança, as bombas foram detectadas e neutralizadas por especialistas da Polícia de Intervenção Rápida. Os peritos calcularam que a carga encontrada, tinha capacidade para destruir totalmente o edifício da rádio, matando toda a gente que estivesse lá dentro”. Na página 258 a viúva de Jorge Costa conta como o marido foi morto pelos sicários da UNITA.

Benguela é a minha cidade. Respirei os perfumes do amor no bairro Benfica. Frequentei a Lanterna do Kioxe. Farrei e bebi no Salão Voz de Cabo Verde. Procurei desesperadamente meus amores perdidos na Massangarala. Sofri com a secura do Cavaco. Comprei um relógio a prestações ao Diamantino. Entrevistei o Emílio Marta e o Óscar fotografou-nos junto do seu Ford GT40. Fui vizinho do Urbano Fresta. Era protegido de Don’Ana e o Zé Guimarães vendeu-me bebidas a crédito. Eu estou no lançamento do livro dedicado à Mamã Candinda.

ENTRETANTO NO SUDÃO…

Fahd Bahady, Síria | Cartoon Movement

Com todos os olhos voltados para Gaza, a violência e a crise humanitária no Sudão estão praticamente esquecidas.

VOX EUROPA - newsletter | A russofobia ignorando a Internacional Fascista do Ocidente*

Escritor russo Sergey Lebedev: Putin está fazendo com a Ucrânia o que a URSS fez na Europa Central

Vox Europa

Olá,

A narrativa do Kremlin sobre a invasão da Ucrânia é baseada num mito: assim como a União Soviética libertou a Europa Central e Oriental do nazismo, a Rússia deve libertar o seu vizinho dos “nazistas ucranianos”.

A URSS certamente contribuiu para a queda do regime de Hitler. Mas seu papel subsequente, do seu lado da Cortina de Ferro, foi o de potência ocupante. A memória dessa ocupação pesa muito nas relações entre a Rússia e seus antigos feudos. Além disso, Moscou agora aplica os mesmos padrões na Ucrânia. Este foi o tema do discurso de encerramento do escritor russo exilado Sergey Lebedev na conferência Debates sobre a Europa , realizada em Helsinque há apenas uma semana. A Voxeurop foi parceira do evento e eu tive a oportunidade de participar. Neste fim de semana, convidamos você a ler o texto completo de seu discurso, que publicamos em parceria com ninguém menos que o The Guardian .

As negociações sobre um cessar-fogo na Ucrânia não estão dando em nada, e uma verdadeira paz regional parece mais distante do que nunca. Diante da perspectiva de agressão russa, vários países da Europa Central e Oriental estão tentando se antecipar aos acontecimentos . O primeiro deles é a Lituânia. Como relata o jornalista austríaco Kim Son Hoang , Vilnius já implementou um plano completo de evacuação. Para fornecer uma visão geral da situação, selecionei também alguns artigos de nossos arquivos recentes. Todos eles dão voz a jornalistas e autores ucranianos e russos .

Uma das nossas principais preocupações na Voxeurop é dar voz àqueles diretamente afetados pelas questões que abordamos. Este objetivo tornou-se ainda mais vital no atual cenário midiático polarizado. Para alcançar esse objetivo, contamos com as nossas parcerias com organizações da sociedade civil europeias e com o nosso envolvimento em projetos transnacionais . Mas precisamos do seu apoio para continuar.

É por isso que ficaríamos muito gratos se você nos apoiasse com uma doação . Se puder, uma doação mensal regular de € 5, € 7 ou € 10 nos permitirá contar com seu apoio a longo prazo e manter nossa redação funcionando.

E a todos que já nos apoiam: muito obrigado . É a generosidade de vocês que permite que nossa cooperativa de imprensa perdure e prospere.

Gian Paolo Accardo.  -- Cofundador e editor-chefe

* Título PG

Interpretando sinais confusos de Tusk sobre o futuro da política polaca em relação à Ucrânia

Andrew Korybko * | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil >

É contraditório que seu governo convença a UE a impor novamente restrições às importações ucranianas e, ao mesmo tempo, assinar um acordo para ajudar a Ucrânia a ingressar na UE e, assim, suspender definitivamente essas restrições, se/quando isso acontecer.

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, anunciou que o regime de liberalização comercial da UE com a Ucrânia terminará em 5 de junho, graças aos esforços de seu governo, e confirmou que a Polônia não enviará tropas para a Ucrânia, apesar do que o Enviado Especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg, afirmou recentemente . Curiosamente, isso coincidiu com a assinatura de um acordo de cooperação em política regional entre Polônia e Ucrânia, no qual a Polônia apoiará a adesão da Ucrânia à UE em troca do apoio ucraniano ao papel das empresas polonesas em sua reconstrução.

Pouco antes desses acontecimentos, o candidato presidencial da coalizão liberal-globalista no poder venceu por uma pequena margem o primeiro turno, no qual os três candidatos de direita obtiveram, juntos, pouco mais da metade dos votos. Portanto, ele terá que conquistar alguns destes últimos se quiser vencer no segundo turno, em 1º de junho. Caso vença, Tusk poderá mudar de ideia e solicitar autorização ao presidente, de acordo com a lei polonesa, para enviar tropas à Ucrânia, o que seu aliado de coalizão presumivelmente aprovaria.

O SEGUNDO GENOCÍDIO DOS ROHINGYA – Ler em Timor Agora

Uma segunda onda de genocídio no estado de Rakhine, em Mianmar, mais uma vez colocou a população rohingya em grave risco.

Essas dinâmicas eleitorais e os potenciais desafios geopolíticos envolvidos contextualizam os sinais ambíguos de Tusk sobre o futuro da política polonesa em relação à Ucrânia. Afinal, é contraditório que seu governo convença a UE a reimpor restrições às importações ucranianas e, ao mesmo tempo, assine um acordo para ajudar a Ucrânia a ingressar na UE e, assim, suspender definitivamente essas restrições se/quando isso acontecer, sugerindo, portanto, que ele está influenciando alguém. Se é o eleitorado ou a Ucrânia é assunto para debate.

Por um lado, a postura mais dura de seu governo em relação à Ucrânia desde o verão passado pode ter sido uma estratégia eleitoral de longo prazo, especialmente depois que pesquisas mostraram que os poloneses estavam ficando fartos da Ucrânia, de modo que uma postura mais branda em relação a ela poderia ter condenado as perspectivas presidenciais da coalizão. Por outro lado, porém, a Polônia ainda não recebeu nada tangível da Ucrânia em troca de todo o seu apoio a partir de 2022, portanto, uma recalibração política é algo que já deveria ter sido feito há muito tempo.

sábado, 24 de maio de 2025

A Rússia inevitavelmente se reconciliará com a UE e a Ucrânia, como Putin prevê?

Andrew Korybko * | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil >

Ele é conhecido por ser realista, não um pensador otimista, e é por isso que sua previsão foi tão surpreendente para muitos observadores.

Putin previu há algumas semanas que a Rússia inevitavelmente se reconciliaria com a UE e a Ucrânia. Em relação à primeira, ele disse : "Não tenho a menor dúvida de que, no devido tempo, reconstruiremos nossas relações com a Europa. É apenas uma questão de paciência e esforço". Quanto à segunda, ele disse vários dias depois: "Parece-me que isso é inevitável, apesar da tragédia que estamos vivenciando atualmente". Ele é conhecido por ser um realista , não um pensador otimista , e é por isso que sua previsão foi tão surpreendente para muitos observadores.

Embora ele possa ter programado as declarações para convencer Trump de que não é o obstáculo à paz que Zelensky pode tê-lo induzido a acreditar, percepção essa responsável por complicar o processo de paz ultimamente, ele provavelmente acredita no que disse. Putin sempre considerou a Rússia um país europeu, embora com uma identidade civilizacional única, e explicou em sua obra-prima de junho de 2021 por que considera russos e ucranianos pessoas afins.

Essas visões explicam por que ele permaneceu comprometido com os Acordos de Minsk, apesar de nem a França, a Alemanha nem a Ucrânia os terem cumprido. Putin, inconscientemente, projetou neles sua visão de mundo (realista/racional) orientada por interesses, presumindo que compartilhavam sua visão de transformar a Ucrânia em uma ponte econômica (imperfeita) para facilitar o comércio terrestre da UE com a Rússia e a China após a implementação dos Acordos de Minsk por Kiev. Portanto, ele teve dificuldade em compreender a falta de cumprimento dos Acordos.

Ele não conseguia aceitar que o estivessem enganando esse tempo todo até que fosse tarde demais e ele sentiu que não tinha escolha a não ser começar o especial operação para defender os interesses de segurança nacional da Rússia. Longe de terem uma visão de mundo orientada por interesses (realista/racional), todos eles têm uma visão de mundo orientada por ideologia (utópica/irracional) que prioriza a contenção da Rússia em detrimento de seus próprios interesses materiais. A UE é liberal-globalista, enquanto a Ucrânia é ultranacionalista, portanto, existem algumas diferenças, mas ambos compartilham esse objetivo.

Para que se reconciliem de forma significativa com a Rússia, seus formuladores de políticas precisam primeiro substituir sua visão de mundo ideológica por uma visão de mundo baseada em interesses, o que ainda não aconteceu. Embora haja sinais de dissidência em suas sociedades, que se manifestam no crescente sentimento populista-nacionalista na UE e na crescente oposição ao governo de Zelensky na Ucrânia, a fraude eleitoral e a polícia secreta se combinam para impedir que reformistas cheguem ao poder em ambos os países. Este é o estado de coisas objetivamente existente hoje.

Embora os críticos da UE e da Ucrânia queiram acreditar que uma mudança positiva é "inevitável", isso não pode ser considerado garantido, e seria irresponsável da parte da Rússia formular políticas prematuramente com essa expectativa em mente, enquanto ainda se encontram em um estado híbrido e de guerra acirrada com ela, respectivamente. Para ser claro, Putin não sinalizou que a Rússia deveria suavizar sua política em relação a nenhum dos dois, já que ele próprio provavelmente sabe que sua previsão pode não se concretizar durante sua vida, mas ainda espera que um dia isso aconteça.

Considerando tudo isso, a previsão de Putin foi provavelmente apenas uma tentativa de influenciar Trump a não abandonar o processo de paz, em vez de insinuar mudanças políticas iminentes em relação à UE e à Ucrânia. Mesmo no melhor cenário, em que a Rússia alcance a maioria de seus objetivos na operação especial, seja por meios diplomáticos ou militares, muita coisa já aconteceu para que uma reconciliação ocorra em breve. Provavelmente levará uma geração ou mais, se é que isso vai acontecer, mas ninguém deve ter muitas esperanças.

* © 2025 Andrew Korybko
548 Market Street PMB 72296, San Francisco, CA 94104

* Analista político americano especializado na transição sistémica global para a multipolaridade

Andrew Korybko é regular colaborador em Página Global há alguns anos e também regular interveniente em outras e diversas publicações. Encontram-no também nas redes sociais. É ainda autor profícuo de vários livros

MASSACRE EM GAZA

Luc Vernimmen, Bélgica | Cartoon Movement

Netanyahu quer alcançar a "vitória total" em Gaza. Qualquer crítica a Israel é antissemitismo.

O Hitler de hoje diz que "Palestina Livre" é o "Heil Hitler" de hoje

Caitlin Johnstone* | Caitlin Johnstone.com.au |  # Traduzido em português do Brasil | Com áudio por Tim Foley, em inglês

Benjamin Netanyahu não perdeu tempo em proclamar que "Palestina Livre é apenas a versão atual de Heil Hitler" após o tiroteio de dois funcionários da embaixada israelense em Washington DC na quinta-feira, aproveitando esta nova oportunidade para enquadrar os críticos de Israel como perigosos odiadores de judeus que devem ser reprimidos por todos os meios necessários.

Sim, claro, Bibi. Certo. Opondo-se ao Hitler de hoje está a versão atual do Heil Hitler.

Houve uma pressão frenética da multidão pró-Israel para usar os funcionários assassinados da embaixada para argumentar que os manifestantes pró-Palestina precisam ser reprimidos, e isso é simplesmente ridículo. Ninguém deveria dar a isso um segundo sequer de consideração séria.

Não há nada que possa acontecer que me convença de que é errado se opor a um genocídio ativo.

Nenhum número de assassinatos com motivação política me fará acreditar que se opor ao Holocausto de Gaza é a coisa errada a fazer.

Não há quantidade de gritos sobre "antissemitismo" que me leve a considerar a possibilidade de que talvez matar civis de fome intencionalmente seja aceitável, afinal.

Não há quantidade de apologistas de Israel que possam aparecer na minha seção de comentários me chamando de nazista que me faria acreditar que é aceitável lançar explosivos militares em um campo de concentração gigante cheio de crianças.

O sangue de Gaza não sairá das mãos de Keir Starmer - Reino Unido

A suspensão das negociações de livre comércio com Israel pelo governo trabalhista é pouco e tarde demais, escreve John McEvoy. O primeiro-ministro britânico e o ministro das Relações Exteriores, Lammy, deveriam estar em Haia.

John McEvoy* | DeclassifiedUK | em Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

O governo do Reino Unido anunciou esta semana que suspenderia as negociações de livre comércio com Israel, enquanto o Ministro das Relações Exteriores, David Lammy, condenava no Parlamento a situação “monstruosa” em Gaza.

Três colonos ilegais na Cisjordânia também foram sancionados pelo Ministério das Relações Exteriores. Entre eles, Daniella Weiss, a líder dos colonos que apareceu no recente documentário de Louis Theroux na BBC, " The Settlers" .

“Acho isso profundamente doloroso como amigo de longa data de Israel e um crente nos valores expressos em sua declaração de independência”, declarou Lammy na Câmara dos Comuns.

Os primeiros sinais de uma mudança no tom do governo do Reino Unido surgiram na noite de segunda-feira, quando o primeiro-ministro Keir Starmer, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro canadense Mark Carney emitiram uma declaração conjunta sobre o Oriente Médio. 

“Nos opomos veementemente à expansão das operações militares de Israel em Gaza. O nível de sofrimento humano em Gaza é intolerável. O anúncio de ontem de que Israel permitirá a entrada de uma quantidade básica de alimentos em Gaza é totalmente inadequado”, declararam.

O pano de fundo imediato para esses acontecimentos foi a escalada do bombardeio, cerco e fome de Israel em Gaza, com as Nações Unidas alertando na terça-feira que 14.000 bebês poderiam morrer em 48 horas se a ajuda não chegasse a tempo.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu tentou evitar a condenação internacional sobre a catástrofe humanitária em Gaza ao permitir que uma quantidade minúscula de ajuda entrasse na faixa.

“Vamos assumir o controle de toda a Faixa de Gaza”, anunciou ele na segunda-feira. “Nossos melhores amigos no mundo — senadores [americanos] que conheço como fortes apoiadores de Israel — alertaram que não poderão nos apoiar se imagens de fome em massa surgirem.”

O Ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, foi ainda mais longe, declarando no mesmo dia que a ajuda humanitária só seria permitida em Gaza "para que o mundo não nos impeça e nos acuse de crimes de guerra". O objetivo, acrescentou, era "conquistar, limpar e permanecer" em Gaza.

Portugal | À MÃO


Henrique Monteiro | HenriCartoon

O GRANDE FANTASMA DO GÉNERO

As direitas parecem viver no sonho de querer acabar com o presente para regressar a um passado idealizado de homogeneidade, coerência e harmonia. Um passado que nunca foi assim, pois desde sempre essa uniformidade imaginária se baseava quer na violência física, brutal, de erradicação da diferença.

João Teixeira Lopes* | Esquerda.net, opinião

Um pouco por todo o mundo, a direita outrora dita “tradicional”, cavalga o furor das políticas transfóbicas da administração Trump. Várias agências federais foram notificadas que deveriam apenas reconhecer nomes e pronomes que encaixassem no binarismo masculino/feminino, colocando um fim brusco e sonante aos programas de reconhecimento e promoção da diversidade, equidade e inclusão. Uns dias antes, em Portugal, o Parlamento aprovou, com os votos do Chega, PSD, CDS e IL, a retirada das orientações plasmadas num documento de 2023 da Direção-Geral da Educação sob o título “O Direito a SER nas Escolas: Orientações para a prevenção e combate à discriminação e violência em razão da orientação sexual, identidade de género, expressão de género e características sexuais, em contexto escolar”. O perigoso documento que instituiria a “ideologia de género” nos estabelecimentos de ensino, “violando a Constituição”, consiste, afinal, numa série de recomendações razoáveis e fundamentadas para a prevenção da violência baseada na orientação sexual, na identidade e na expressão de género e nas caraterísticas sexuais. Ao folheá-lo, registo informação clara, coerente e em linha com diretrizes emanadas do Conselho da Europa, da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, da OCDE, do Parlamento Europeu ou da ONU. Nada de radical, presumo, na identificação de boas práticas que combatam o bullying, a violência, nas suas diversas matizes, ou as microagressões do quotidiano escolar. Intervenção “positiva”, discussão aberta, minimização de fatores de risco, esclarecimento, promoção de espaços seguros para pessoas potencialmente vulneráveis – tudo isso, que cabe numa versão atualizada da matriz Iluminista, parece assustar o jacobinismo de sinal invertido.

Ganha sentido, então, a pergunta do recente livro de Judith Butler: “Quem tem medo do Género”? Ou, para ir ao ponto, quem tem medo da pluralidade e do não binário? É que as direitas parecem viver no sonho de querer acabar com o presente para regressar a um passado idealizado de homogeneidade, coerência e harmonia. Um passado que nunca foi assim, pois desde sempre essa uniformidade imaginária se baseava quer na violência física, brutal, de erradicação da diferença, quer na violência simbólica, colonizando as mentes e o senso comum.

Regressar a um passado que nunca existiu não pode ser a opção. Cada vez mais me convenço de que a desumanização em curso só terá fim quando formos capazes de socializar o sofrimento. Quando uns perceberem que as suas misérias não se superam com a humilhação dos outros. Quando os nexos de interligação das experiências forem reconstruídos e não se eclipsarem sob a fantasmagoria do medo. Quando percebermos, como diz Butler, que “a atenção redobrada que a direita dá ao ‘género’ desvia as atenções das forças sociais e políticas que andam realmente a arrasar o mundo como o conhecemos: a destruição climática, a guerra, a exploração capitalista e a desigualdade social e económica…”. A imutabilidade do género e sua pureza seriam, então, a fé dos que não sabem compreender o que lhes está a acontecer. É preciso revelá-lo.

Para ler mais: Judith Butler (2024), Quem Tem Medo do Género? Lisboa: Orfeu Negro

Artigo publicado em Gerador a 14 de maio de 2025

* Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.

Portugal | FOI NA LOJA DO MESTRE ANDRÉ

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias, opinião

Como na celebrizada novela gótica, também André Ventura vive a fase “Dr. Jekill and Mr. Hyde”, condição da personalidade que coloca em confronto o político ressentido com pensamentos obscuros e o clarividente e ponderado estadista que enverga a fatiota de líder da Oposição. Afinal, o que vai fazer o presidente do Chega com tanto poder nas mãos? Ninguém sabe, porque as dores de crescimento do partido colocam Ventura nesse limbo estratégico. Deve renegar o passado, debilitando a confiança do exército de descontentes na base do seu eleitorado, ou evoluir para uma dimensão mais institucional, abocanhando ao centro-direita o que ainda não conseguiu? O Chega já não é um partido antissistema. Está nele metido até ao pescoço, ainda que a sua notória falta de quadros seja o maior óbice a um salto seguro para a piscina dos grandes. De resto, não foi por acaso que Ventura falou em resgatar independentes para um Governo-sombra. Entre os seus pares, as opções são assustadoramente fracas. Não faltarão, porém, desavindos esfomeados.A fraqueza estrutural do partido de Ventura não impedirá, todavia, que, já nas autárquicas, consiga conquistar câmaras e lugares de vereação. De novo, o nível de exigência não é elevado, mas isso é o que menos importa. Qualquer um pode candidatar-se a um lugar no site criado para o efeito. Na loja do mestre André, a lógica de poder é não haver lógica alguma. O que torna ainda mais inquietante lidar com este “Dr. Jekill e Mr. Hyde”. Talvez a única forma de o vencer seja mesmo encarando-o, obrigando-o a ser consequente em cargos de responsabilidade política. Provando, dessa forma, que tem tantos (ou mais) vícios e falhas como os demais.    

*Diretor adjunto

"Ocupação deve dar lugar a Estado da Palestina soberano", diz Portugal


Portugal defendeu na sexta-feira a necessidade de se manter viva a solução de dois Estados - israelita e palestiniano -, frisando na ONU que a "ocupação deve dar lugar a um Estado da Palestina viável, independente e soberano".

O representante permanente de Portugal na ONU, Rui Vinhas, interveio na sexta-feira numa reunião preparatória da Conferência Internacional para a Solução de Dois Estados no Médio Oriente, a decorrer em junho na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, na qual indicou que Portugal participará ativamente "com contribuições e compromissos concretos". 

"A conferência é um vislumbre de esperança e uma oportunidade para criar um impulso político para concretizar a solução de dois Estados", afirmou o embaixador, reforçando que a gravidade da situação em Gaza é imensa e que um cessar-fogo imediato e permanente é o único caminho para reverter esse cenário. 

"A guerra em Gaza é um divisor de águas na história da região e devemos conduzir as nossas políticas e ações tendo em mente as lições aprendidas com esta guerra, incluindo as suas causas estruturais", acrescentou o diplomata. 

Nesse sentido, Rui Vinhas defendeu a adoção de medidas concretas para evitar que outra guerra se repita, reforçando que a "ocupação deve dar lugar a um Estado da Palestina viável, independente e soberano, em conformidade com as resoluções relevantes da ONU". 

O futuro do movimento extremista Hamas em Gaza e o reconhecimento do Estado palestiniano serão os principais eixos da Conferência Internacional para a Solução de Dois Estados no Médio Oriente, a decorrer entre 17 e 20 de junho, na ONU, em Nova Iorque.  

A conferência, copresidida pela França e pela Arábia Saudita, terá dois dias introdutórios, seguidos pelo "segmento de alto nível" no dia 19, onde os chefes de Estado dos dois países devem comparecer. 

Não está descartado que outros líderes, especialmente árabes, também participem, embora o nível das delegações dependa do progresso alcançado até lá. 

Os organizadores realizaram na sexta-feira uma reunião preparatória na sede da ONU, onde foram ouvidos apelos para um maior envolvimento da comunidade internacional para garantir o sucesso da conferência, num momento em que a crise humanitária na Faixa de Gaza está a atingir níveis nunca testemunhados e em que se verifica uma grave deterioração também na Cisjordânia. 

De acordo com Rui Vinhas, Portugal dará especial atenção às mesas redondas que visam preservar e implementar a solução de dois Estados e acompanhará com particular interesse o grupo de trabalho que visa promover o respeito pelo direito internacional - "um tema ao qual Portugal é tradicionalmente muito apegado". 

Já França deu a entender nas últimas semanas que considera tomar a iniciativa de reconhecer o Estado palestiniano --- atualmente reconhecido por 140 dos 193 países do mundo com assento na ONU --- e acredita-se que a conferência possa ser o lugar onde esse passo será formalizado. 

Se confirmado, teria grande valor simbólico, já que a França, assim como as demais potências do G7 - grupo dos sete países mais industrializados do mundo -, ainda resiste a reconhecer o Estado palestiniano e não seguiu o caminho trilhado por Espanha, Irlanda ou Noruega entre os europeus. 

Sobre o papel do Hamas, a representante de França, a conselheira para o Médio Oriente Anne-Claire Legendre, foi categórica: "Devemos trabalhar para desarmar e eliminar o Hamas, para que ele nunca mais represente uma ameaça a Israel, bem como promover uma governança confiável e reformar a Autoridade Palestiniana, e a ONU deve desempenhar um papel nesse processo." 

Remover o Hamas da Faixa de Gaza parece um objetivo amplamente partilhado pelos atores internacionais, mas o problema atual é que todas as estruturas institucionais do enclave estão nas mãos do grupo islamita palestiniano, e a Autoridade Palestiniana só tem jurisdição na Cisjordânia. 

Notícias ao Minuto | Lusa

Leia em NM: 

Seis seguranças de ajuda humanitária morrem em ataque israelita

sexta-feira, 23 de maio de 2025

RUSSOS E AFRICÂNDERES SÃO POVOS PARENTES

Isso foi destacado como nunca antes após a dissolução da URSS.

Andrew Korybko * | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil >

A minoria africâner da África do Sul, e especialmente os agricultores entre eles (os bôeres), estão de volta às notícias após o encontro acalorado de Trump com o presidente Cyril Ramaphosa na Casa Branca na quarta-feira, onde discutiram se esse grupo estaria sendo perseguido por membros da maioria negra. Trump mostrou a Ramaphosa imagens de Julius Malema, presidente dos Combatentes pela Liberdade Econômica e membro da Assembleia Nacional, gritando "matem os bôeres" e compartilhou notícias sobre eles sendo mortos.

Isso gerou um debate global sobre se o cântico de Malema incita à violência ou se é apenas um slogan metafórico da era do Apartheid para desmantelar esse sistema e seus supostos remanescentes. Membros do segmento "Não Russo Pró-Rússia" (NRPR) da Comunidade de Mídia Alternativa (AMC) estão divididos, mas aqueles que defendem Malema devem saber que russos e africâneres são povos afins com experiências históricas semelhantes, o que foi destacado como nunca antes após a dissolução da URSS.

Assim como os africâneres se estabeleceram fora da terra ancestral dos holandeses na Europa Ocidental, onde hoje é a África do Sul, os russos também se estabeleceram fora de sua terra ancestral na Europa Oriental, que hoje compreende a vasta maioria da atual Federação Russa. E assim como alguns dos moradores locais não africâneres expressaram feroz ressentimento contra eles após o Apartheid, alguns moradores locais não russos fizeram o mesmo após a dissolução da URSS, especialmente nos países Bálticos, na Ásia Central e no Cáucaso do Norte.

Russos étnicos ainda são discriminados ("legalmente") no primeiro caso até hoje, às vezes são constrangidos no segundo e foram assassinados no terceiro, sendo a Chechênia o epicentro desses crimes décadas atrás. Eles também começaram a sofrer tudo isso na Ucrânia pós-Maidan, embora o território daquele país moderno seja considerado pelos russos um dos berços de sua civilização, portanto, não é comparável aos laços dos africâneres de origem holandesa com a África do Sul, como os de outros lugares.

O que é comparável é que alguns desses moradores locais percebem os russos como tendo sido favorecidos pelos governos imperial e soviético, assim como o do Apartheid favoreceu os africâneres, e acreditam que esse legado levou a assimetrias econômicas e políticas entre suas comunidades. Além disso, a retórica lançada contra os russos por alguns desses mesmos moradores locais nem sempre é tão explícita quanto o cântico de Malema "matem os bôeres", mas ainda compartilha a retórica da "descolonização", que é instrumentalizada pelo Ocidente, como explicado aqui e comprovado aqui .

Muitos dos NRPRs do AMC que apoiam Malema apoiam a legislação de "justiça social" contra os africâneres, sob a justificativa de "descolonização", para lidar com as assimetrias mencionadas, atribuídas à sua colonização do que hoje é a África do Sul. É um direito deles, mas muitos deles não apoiam a mesma coisa – muito menos os equivalentes antirrussos do cântico de Malema "matem os bôeres" – contra os russos, embora a colonização de algumas terras, inclusive dentro da atual Federação Russa, tenha ocorrido muito depois da dos africâneres.

Ou eles desconhecem que russos e africâneres são povos afins com experiências históricas semelhantes, especialmente após a dissolução da URSS, ou ignoram isso por razões de "conveniência política". No entanto, deveriam saber que gritar "matem os bôeres" na Rússia provavelmente violaria o Artigo 282 do Código Penal Russo, que proíbe a " Incitação ao Ódio ou à Inimizade, bem como a Rebaixamento da Dignidade Humana ", portanto, o Kremlin claramente tem uma opinião diferente sobre tal retórica.

* © 2025 Andrew Korybko
548 Market Street PMB 72296, San Francisco, CA 94104

* Analista político americano especializado na transição sistémica global para a multipolaridade

Andrew Korybko é regular colaborador em Página Global há alguns anos e também regular interveniente em outras e diversas publicações. Encontram-no também nas redes sociais. É ainda autor profícuo de vários livros

Guiné-Bissau | Sissoco acusado de caçar voto com recurso aos bens do Estado

Sissoco, o ex-presidente


A "Presidência Aberta" de Sissoco está a ser criticada. Analistas veem nas suas ações um teste ao terreno eleitoral. Escolas fechadas, ministros ausentes e aparato militar reforçam críticas ao uso dos meios do Estado.

Umaro Sissoco Embaló, a liderar a Guiné-Bissau com um mandato expirado, segundo a Constituição, passou quase uma semana em digressão pelo interior do país a levar promessas de melhorarias da vida das populações. Aproveitou ainda a ocasião para reafirmar a sua autoridade, numa altura em que muitos o consideram "ex-Presidente", por ter terminado o mandato constitucional em fevereiro passado.

Multidões ouviram as promessas de Sissoco, que não poupou críticas aos adversários, tendo inclusive lançado várias ameaças a quem tentar subverter a ordem constitucional na Guiné-Bissau.

Na cidade de Catió, no sul do país apelou ao fim do tribalismo na política guineense: "Não quero ser Presidente da República dos fulas, dos mandingas, dos balantas ou dos papéis. Sou o Presidente da República da Guiné-Bissau.”

Esta "Presidência Aberta”, a apenas seis meses das eleições legislativas e presidenciais, levanta dúvidas. O jurista e analista político Augusto Nansambé considera que a iniciativa não faz sentido e aponta para outro objetivo por trás das deslocações de Sissoco Embaló às regiões.

"Umaro Sissoco Embaló está reticente quanto à sua popularidade e, consequentemente, quanto à sua recandidatura. Não se pode falar de Presidência Aberta de um Presidente cujo mandato caducou", constata.

E o analista denuncia: "Estamos perante uma pré-campanha eleitoral para testar a sua força política, com vista a decidir se avança ou não com uma recandidatura.”

Angola | Medalhas de Bom Comportamento – Artur Queiroz

David Bernardino
Artur Queiroz*, Luanda >

Manuel Rui contou no Jornal de Angola como um dia relembrou “poetas como Alexandre Dáskalos e o hospital singular de Bernardino (assassinado numa fase de quase extermínio étnico)”.  O citado “hospital singular” foi criado e mantido à sua custa, pelo médico David Bernardino, que cuidou dos meus filhos do Huambo, porque eu não tinha dinheiro para pagar as consultas com o Dr. Fialho. 

David Bernardino foi assassinado à porta do centro de saúde da Bomba, no Huambo, quando tinha acabado de prestar cuidados de saúde às Mamãs e seus bebés. E sim, o hediondo crime aconteceu “numa fase de extermínio étnico”. Manuel Rui não escreveu quem eram os tribalistas exterminadores e quem foram os assassinos de um angolano excepcional. O seu texto, publicado no Jornal de Angola, trata da censura. Alguém censurou a parte em que o escritor revela quem assassinou o médico David Bernardino e exterminava tudo o que não fosse da tribo do criminoso de guerra Jonas Savimbi.  

Os pistoleiros assassinos eram da UNITA e o extermínio no Huambo estava a cargo do criminoso de guerra Jonas Savimbi. A minha sorte é que não tenho donos e posso escrever sem medo. Da Cidade Alta veio a ordem superior: Não se pode falar dos crimes da UNITA porque isso é contra a unidade e reconciliação nacional. Obrigado Avô Domingos, obrigado Papá Luís, obrigado Mano Amado por terem feito de mim um desordeiro.

A crónica é um género jornalístico e literário que em Angola atingiu estádios superlativos, desde a explosão da Imprensa Livre no último quartel do Século XIX. Foi então que nasceu, pujante, a Moderna Literatura Angolana. A luta pela liberdade é sempre um grito pela modernidade.

Ernesto Lara Filho, repórter e poeta, benguelense, está entre os melhores cronistas de Língua Portuguesa. Ombro a ombro (ou por cima…) do brasileiro Rubem Braga e do português Baptista-Bastos. Fui companheiro nas Redacções de Ernesto Lara Filho e Baptista Bastos. Mas também de outos dois, ao nível do trio maravilha: Eduardo Guerra Carneiro e Manuel António Pina. Se me bate a saudade vou ler os textos desses cronistas. Quando termino as leituras, Juro que nunca mais escrevo uma linha. Mas o vício tem mais força do que a incompetência e continuo a escrever.

Na Casa Branca, Trump volta a acusar a África do Sul de “genocídio”


Braima Darame, jornalista da DW África

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, protagonizou uma tensa reunião com o Presidente da África do Sul esta quarta-feira na Casa Branca. Trump exibiu um vídeo para denunciar um "genocídio" contra a minoria branca africanista, acusação que Cyril Ramaphosa voltou a rechaçar. A reunião no Salão Oval foi uma tentativa do sul-africano de salvar a relação do seu país com os Estados Unidos.

Trump ameaça UE com tarifas de 50% a partir de junho

O presidente norte-americano considerou que as negociações comerciais "não estão a chegar a lado nenhum" e recomendou a imposição de uma tarifa de 50% sobre os seus produtos a partir de 1 de junho.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendou a aplicação de tarifas de 50% sob os produtos oriundos da União Europeia (UE), porque, segundo o próprio, as negociações não estão a dar frutos.

Os novos direitos de importação terão início a 1 de junho, escreveu Trump na sua rede social, a 'Truth Social'. 

Nessa mesma publicação, o norte-americano explica esta decisão, queixando-se da demora nas negociações com a UE.

"A União Europeia, que foi criada com o propósito de se aproveitar dos Estados Unidos na esfera comercial, tem sido muito difícil de lidar. (...) As nossas negociações com eles não estão a chegar a lado nenhum", escreveu, segundo reporta a NBC.

O republicano acusou a UE de que as suas barreiras comerciais, o IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), as sanções "ridículas" às empresas, as barreiras comerciais não monetárias, as manipulações cambiais, as ações judiciais "injustificadas" contra empresas norte-americanas, entre outras, geraram um défice comercial com os Estados Unidos que atinge "um valor totalmente inaceitável".

"Assim sendo, vou recomendar uma tarifa direta de 50% à União Europeia, a começar no dia 1 de junho. Só não há taxa se o produto for construído ou fabricado nos Estados Unidos", acrescentou.

Este anúncio surge cerca de meia hora depois de o presidente dos EUA ter ameaçado, também, aplicar tarifas de 25% à Apple caso a  empresa não comece a produzir iPhones nos EUA. 

Notícias ao Minuto

Trumpismo vs. Declínio: A Luta pela Alma da América

Chegará o momento de escolher: ou prosperidade, segurança, grandeza, liberdade dos EUA ou democracia liberal, globalismo, Estado Profundo... 

Alexandre Dugin | Substack | # Traduzido em português do Brasil

Lyndon La Rouche, que conheci em Moscou no início dos anos 2000, era muito pertinente em muitos tópicos. Um pensador subestimado. Seu apelo a List (nacionalismo econômico, autocracia de grandes espaços) na economia e sua rejeição à influência britânica (globalismo puro) na política e cultura dos EUA são válidos.

Os EUA têm três principais problemas estruturais: desigualdade social, degradação da educação e saúde. Os democratas estão na origem de tudo isso. Eles tentaram combater o fogo com gasolina. A imigração em massa e o apoio ao monopólio da Big Pharma só pioraram a situação.

Os trumpistas precisam lidar com três problemas: injustiça, degeneração cultural e um sistema de saúde catastrófico. À sua maneira. Acho que existem outras soluções que não sejam esquerdistas e a fé capitalista ingênua no livre mercado que "cura" tudo. Patriotismo, identidade e solidariedade.

Chegará o momento de escolher: prosperidade, segurança, grandeza e liberdade dos EUA, ou democracia liberal, globalismo e Estado Profundo? Os democratas estão condenados. Eles precisam de um novo partido. O atual não serve para nada. Só inércia, decadência, corrupção e fardo.

A estratégia globalista de realocação da infraestrutura de produção para o Oriente foi uma armadilha. Agora, os EUA dependem totalmente do fornecimento externo. A maioria absoluta dos cidadãos americanos está empregada no setor de serviços. Nenhum trabalho produtivo. Nenhum trabalhador de verdade. Degeneração total. Sociedade parasitária.

A luta de Bannon pelo Trabalhador Americano é nobre e bela. O novo capitalismo é repugnante e pervertido.

A “Iniciativa dos Três Mares” Desempenhará um Papel de Destaque na Europa Pós-Conflito

Andrew Korybko * | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil >

A Rússia considera que se trata de uma série de projetos de logística militar vendidos ao público como se fossem econômicos.

A 10ª Cúpula da " Iniciativa dos Três Mares " (3SI), que se refere à plataforma conjuntamente fundada pela Polônia e pela Croácia para promover a integração da Europa Central, foi concluída em Varsóvia no final de abril. A declaração conjunta , da qual a Hungria se desvinculou dos parágrafos relevantes para a Ucrânia , declarou que a Espanha e a Turquia se juntarão à Comissão Europeia, Alemanha, Japão e EUA como parceiros estratégicos, enquanto a Albânia e Montenegro se juntarão à Moldávia e à Ucrânia como Estados participantes associados.

O parágrafo 13 reafirmou o compromisso dos Estados-membros com a implementação de seis Projetos Prioritários dos Três Mares: BRUA (gasoduto Bulgária-Romênia-Hungria-Áustria), expansão da capacidade do terminal de GNL da Croácia na ilha de Krk , Rail Baltica , Rail2Sea , Via Baltica e Via Carpatia. Este link , do site oficial da 3SI, lista todos os seus outros projetos e também os exibe em um mapa. Após a conclusão, esses projetos fortalecerão a integração econômica e militar, que moldará a Europa pós-conflito.

França, Alemanha e Polônia competem pela liderança nesta era emergente, cuja dinâmica foi analisada aqui , com a Polônia pronta para alavancar seu papel de liderança na 3SI para obter vantagem e também promover sua visão de se tornar o principal parceiro dos EUA na Europa . Da perspectiva estratégica dos EUA, a 3SI pode se tornar o meio pelo qual a Polônia pode restaurar parte de seu status de potência regional perdido em condições modernas, o que poderia criar uma barreira entre a Europa Ocidental e a Rússia.

Ao mesmo tempo, alguns na Alemanha consideram a 3SI um meio de expandir ainda mais seu comércio com os países anteriormente comunistas da UE, enquanto a França pode concebê-la como um meio de expandir sua influência romena na região para o restante da Europa Central. Essa convergência de interesses por meio da 3SI, apesar da competição entre França, Alemanha e Polônia pela liderança da Europa pós-conflito, aumenta as chances de implementação dos projetos mencionados anteriormente.

Todos eles também atendem a propósitos militares duplos, em relação ao que hoje é conhecido como " Schengen militar ", que visa facilitar a livre circulação de tropas e equipamentos em todo o bloco, obviamente na direção leste, como parte de seu planejamento de contingência em relação à Rússia. Os projetos BRUA e Krk também têm valor militar, pois diversificam as rotas de importação de energia da UE. A 3SI é, portanto, vista pela Rússia como uma série de projetos logísticos militares vendidos ao público como se fossem econômicos.

Ainda mais preocupante, da perspectiva do Kremlin, é que a 3SI reúne os países politicamente mais russófobos da Europa, garantindo assim que essa plataforma priorize seu propósito militar não declarado em detrimento do econômico. Isso aumenta a probabilidade de os EUA explorarem a 3SI como uma forma de impedir qualquer potencial reaproximação entre a Europa Ocidental e a Rússia, embora os EUA também possam exercer influência positiva sobre esses mesmos países para dissuadi-los de provocar um conflito com a Rússia.

Seja qual for o resultado, seria um erro ignorar ou negar o papel proeminente que a 3SI desempenhará na Europa pós-conflito, embora seja prematuro prever como ela influenciará a dinâmica entre França, Alemanha e Polônia (tanto entre si quanto como um todo), os EUA e a Rússia. Os observadores devem, portanto, monitorar a implementação dos projetos prioritários mencionados anteriormente, o envolvimento dos diversos parceiros estratégicos da 3SI em cada um deles e a forma como são militarizados.

* © 2025 Andrew Korybko
548 Market Street PMB 72296, San Francisco, CA 94104

* Analista político americano especializado na transição sistémica global para a multipolaridade

Andrew Korybko é regular colaborador em Página Global há alguns anos e também regular interveniente em outras e diversas publicações. Encontram-no também nas redes sociais. É ainda autor profícuo de vários livros

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