quarta-feira, 6 de novembro de 2024

EUA: O DERRUBE


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Como a mídia britânica está se voltando contra Zelensky. E por quê

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

É um fato pouco conhecido que os dois gigantes da mídia britânica, The Economist e The Financial Times , desfrutam de um relacionamento muito íntimo com a Comissão Europeia, tanto que quase poderíamos imaginá-los todos como uma família. Cada um faz sua própria oferta um pelo outro e cada um auxilia o outro com suas aspirações, seu ponto de vista. E são notícias falsas.

E assim, quando você lê no The Economist que a guerra não está indo nada bem para a Ucrânia e seu infeliz presidente, você pode mais ou menos supor que essa é a interpretação também dos mais altos escalões da UE.

Desde que a guerra começou, o presidente da Ucrânia tem o apoio total da mídia ocidental, que concordou em ir junto com a rede de notícias falsas que seu povo organiza; restringindo a liberdade dos jornalistas ocidentais, impedindo-os de obter notícias difíceis, dados, estatísticas, mas acima de tudo, pegando-os pela mão e levando-os às histórias que eles querem que sejam relatadas. Este jogo atingiu proporções épicas nos últimos meses, quando uma paródia do jornalismo atingiu seu ápice quando a guerra se voltou contra Zelensky no verão deste ano. Os jornalistas não relataram isso dessa forma. Muitos ficaram em Kiev e outras grandes cidades e estavam tão desesperados por uma história que não perturbasse seus anfitriões que eles venderam a mesma história repetidamente sobre os recrutas sendo colocados na parte de trás das vans. Era literalmente tudo o que eles podiam fazer para se manterem ativos.

Mas esse modelo de negócios ultimamente parece ter encalhado. Tanto o Economist quanto a BBC relataram sobre as linhas de frente e realmente disseram como elas são: sombrias. Ninguém mais pode fechar os olhos para o avanço das forças russas. A captura de Selydove pode ser minimizada pela máquina de mídia Kiez, cuja lista de notícias falsas hilárias é longa demais para ser publicada; mas Pokrovsk, que é o próximo alvo das forças russas, será uma vitória considerável que pode derrubar toda a confiança de Zelensky e sua cabala de conselheiros e bajuladores. Pokrovsk é uma cidade que é um centro de transporte, que abastece milhares de tropas ucranianas. Se for tomada, isso significaria efetivamente a rendição em massa da maioria delas, ou sua retirada apressada, pois não conseguirão comer ou repor seus estoques de munição. Isso por si só terá um golpe devastador no moral das tropas ucranianas e podemos muito bem ver um efeito dominó que acelera o avanço da Rússia de um ou dois quilômetros em um dia para dezenas.

Como a mídia ocidental noticiará a queda desta cidade? Se as reportagens do The Economist e da BBC servirem de referência, com algum zelo, alguém poderia imaginar. É como se a grande mídia, em particular a britânica, estivesse ansiosa para permanecer do lado certo da história quando as coisas começam a cair e emergir da poeira como velhos sábios com aquele brilho de "eu avisei" nos olhos. Também se trata de culpa coletiva. A mídia ocidental tem sangue nas mãos, já que as centenas de milhares de soldados ucranianos enviados para o "moedor de carne" são parcialmente atribuídas ao apoio que a mídia dos EUA e do Reino Unido deu a Zelensky.

O que estamos testemunhando agora de Zelensky é um modo de pânico que está acelerando no mesmo ritmo. Seu chamado "plano de vitória" não foi levado a sério por nenhum líder ocidental e ele parece estúpido agora, alienado. Sua recente explosão sobre Biden vazando para a imprensa sobre a ideia ridícula de usar mísseis Tomahawk feitos nos EUA pode ter sido um momento decisivo pelo qual os escritores de história ficam obcecados antes de escrever seu elogio.

Por enquanto, o pânico não é realmente sobre o campo de batalha, embora deva ser difícil para Zelensky ler os despachos de cada dia sobre as perdas em Kursk, que poderia ser considerada a Batalha das Ardenas da Ucrânia, onde as tropas alemãs lutaram arduamente no final da Segunda Guerra Mundial contra um número cada vez maior de soldados aliados nas Ardenas e acabaram perdendo. De muitas maneiras, Kursk foi uma armadilha que Zelensky armou para si mesmo, já que o fracasso em capturar a usina nuclear empalidece em insignificância comparado às perdas de homens. Kursk é o moedor de carne definitivo para os soldados ucranianos. Ninguém volta vivo.

O verdadeiro pânico para Zelensky agora é sobre sua própria credibilidade política. Ele só está pensando agora em como sobreviver à perda inevitável para a Rússia e permanecer como presidente. Ele sabe muito bem que se um cessar-fogo rápido acontecer sob a liderança de Trump, o status de Lei Marcial do país será cancelado e as eleições presidenciais serão obrigatórias. Sob Harris, a dor só será prolongada por mais tempo, mas com ainda mais terreno perdido, perda de alavancagem de barganha, pois ela forçará Putin a mudar de marcha com seu avanço e seguir para Kiev. A ironia do artigo do The Economist e seu momento é que ele prepara o terreno para um enorme jogo de culpa que começa com aqueles que têm feito isso como profissionais por décadas - a Comissão Europeia - e amadores que acabaram de começar a aprender como funciona, como Zelensky. O The Economist está apenas se aquecendo.

* Martin Jay é um premiado jornalista britânico baseado no Marrocos, onde é correspondente do The Daily Mail (Reino Unido), que anteriormente relatou sobre a Primavera Árabe para a CNN, bem como para a Euronews. De 2012 a 2019, ele estava baseado em Beirute, onde trabalhou para vários títulos de mídia internacionais, incluindo BBC, Al Jazeera, RT, DW, bem como reportando como freelancer para o Daily Mail do Reino Unido, The Sunday Times e TRT World. Sua carreira o levou a trabalhar em quase 50 países na África, Oriente Médio e Europa para uma série de grandes títulos de mídia. Ele viveu e trabalhou no Marrocos, Bélgica, Quênia e Líbano.

EUA | OH DEUS, NÃO!

Emanuele Del Rosso, Itália | Cartoon Movement

Mais quatro anos...

Trump 2.0 - aperte o cinto, cerre os dentes e prepare-se para quatro anos nunca vistos

Martim Silva, diretor-adjunto | Expresso (curto)

Bom dia

Seja muito bem-vindo ao Expresso Curto, a sua newsletter matinal desta quarta-feira, 6 de novembro. Hoje falamos e muito das eleições nos EUA e do quase quase certo regresso de Donald Trump à Casa Branca quatro anos depois de ter sido dela afastado.

Venha daí comigo,

Antes de mais um convite: hoje, às 14h00, "Junte-se à Conversa" com David Dinis e Pedro Cordeiro, para falar sobre as "Eleições nos EUA: o dia seguinte ". Inscreva-se aqui.

Durante anos, uma candidatura presidencial de Donald Trump, o magnata da construção civil e dono de casinos e clubes de golf, parecia do reino do anedótico. Depois, a possibilidade de ganhar umas eleições parecia impossível. Depois, ainda, o seu regresso à Casa Branca também parecia menos provável do que ser condenado judicialmente num de vários casos em que foi investigado e indiciado.

Mas a tudo isto Trump sobreviveu, conseguindo sempre manter-se à tona e sair por cima (um pouco à semelhança do que foi fazendo durante décadas nos seus negócios, sobrevivendo a sucessivas falências e investigações).

Na última noite, a candidatura de Trump mostrou-se bastante mais resistente no eleitorado norte-americano do que se esperava e, uma a uma, as esperanças de uma vitória de Kamala Harris, foram-se esfumando. Primeiro, na Carolina do Norte, depois na Geórgia, depois no Arizona, finalmente com a dificuldade em segurar os estados da cintura industrial no nordeste dos EUA.

Seguir a noite eleitoral das presidenciais norte-americanas em direto é um exercício fascinante, que me habituei a fazer ao longo do último quarto de século. Desta vez, a emissão da SIC Notícias e da CNN Internacional estiveram sempre ligadas (televisão e Ipad), com as notícias de última hora a serem lidas no site do Expresso e do The New York Times.

Como sempre, a noite começou forte em tons vermelhos (cor dos Republicanos), com a contagem inicial dos votos mais rurais, e aos poucos foi ganhando algumas tonalidades azuis (cor dos Democratas), embora muito esbatidos.

Sete Estados pareciam desta vez decisivos: Michigan, Wisconsin, Pensilvânia (nordeste), Geórgia, Carolina do Norte (sudeste), Nevada e Arizona (zona ocidental dos EUA). Quanto ao comportamento eleitoral, esperava-se que o voto feminino, tal como o latino, pudesse ser decisivo quanto ao nome do vencedor.

Pelas 3 da manhã, hora de Lisboa, a tendência começou a definir-se. E era de uma maior resistência eleitoral de Trump. O caminho para Kamala parecia mais estreito, e resumia-se a conseguir manter os três estados industriais do nordeste como forma de conseguir chegar à Casa Branca. Ou seja, Trump estava agora melhor e a resistir mais do que na eleição contra Biden, em 2020. E Kamala parecia estar a ter, um pouco em todo o lado, resultados ligeiramente abaixo dos de há quatro anos do ainda Presidente dos EUA - Kamala, uma política liberal (no jargão americano quer dizer de esquerda) da Califórnia, não terá sido tão eficaz como Biden junto de largas faixas do eleitorado, nomeadamente em estados industriais.

A junção destes dois factores pode ajudar a explicar o que sucedeu. Tal como ajuda a explicar o que sucedeu a maior resistência de Trump, face ao esperado, no eleitorado branco, urbano e com mais qualificações (o que aliado à sua forte implantação na América rural ajuda a explicar o sucedido).

Eram quase seis da manhã de Lisboa quando, no quartel-general da candidata Democrata, sem qualquer ambiente festivo, ficou a saber-se que Kamala Harris não vai falar nas próximas horas, aguardando as contagens finais dos estados ainda por apurar para se dirigir aos norte-americanos.

Quando já passava das seis da manhã, hora de Lisboa, Trump seguia na frente nos quatro swing states que faltam apurar: Pensilvânia, Michigan, Winsconsin e Arizona, nos três primeiros com vantagem de mais de 200 mil votos.

Pouco depois, a Fox News, canal de TV por cabo claramente pró-Trump, dizia que o Republicano tinha ganho na Pensilvânia. O caminho estreito de Kamala tornava-se inexistente. E Trump preparava-se para a declaração de vitória, a partir da Flórida.

Sobre a campanha de Trump, Ricardo Lourenço, o nosso correspondente nos EUA, já escreveu: Escaramuças internas na campanha de Trump, apesar do “cheiro” a “vitória histórica”

Paralelamente, na útima noite, decorreram várias eleições para o Congresso e Senado norte-americanos, essenciais para se perceber o equilíbrio de poder político nos EUA nos próximos anos. Aqui, os Republicanos ganharam o controlo da câmara alta, o Senado. A câmara baixa, o Congresso, ainda estava por determinar. Se os Republicanos ficarem com o controlo total do Congresso, a Administração Trump terá carta branca total doravante.

Ao longo da última noite, uma completa equipa da redação do Expresso esteve a acompanhar momento a momento, tudo o que ia acontecendo numa eleição presidencial de um país com mais de 300 milhões de pessoas. AQUI pode ver o nosso ‘Direto’, que continua naturalmente ativo hoje à medida que se contam mais votos e se sabem mais detalhes dos resultados.

Durante a manhã desta quarta-feira, vai poder ler as reportagens, análises e opinião que vamos publicar. Temos, entre outros, o olhar do editor do Internacional, Pedro Cordeiro, e dos nossos jornalistas nos EUA, Ricardo Lourenço, Hélder Gomes e Paula Alves Silva.

Aqui pode ouvir já o podcast Expresso da Manhã: Trump perto de ganhar, Kamala ficou à espera de um milagre na “parede azul” que não chegou

A confirmar-se que vamos mesmo assistir nos próximos quatro anos à sequela do filme Trump na Casa Branca, torna-se essencial perceber o que será a versão 2.0 de Trump a liderar a maior democracia e a maior economia do planeta.

Este texto da nossa jornalista Salomé Fernandes traz algumas luzes quanto ao que esperar: Se Trump vencer… promete cortar impostos, deportar imigrantes ilegais, aumentar tarifas para bens importados e resolver a guerra na Ucrânia

OUTRAS NOTÍCIAS

CÁ DENTRO

O Governo leva pouco tempo de vida e, grosso modo, não se pode dizer que as coisas lhe têm corrido mal. Talvez a ministra Margarida Blasco seja uma (pouco) honrosa excepção, com sucessivas intervenções em que se atirou para fora de pé. Neste artigo, “Montenegro segura a ministra da Administração Interna”, a jornalista Paula Caeiro Varela conta-lhe o que se passa no Executivo depois da ministra ter admitido negociar o direito à greve nas polícias, para logo a seguir recuar.

As polémicas relacionadas com a segurança na Área Metropolitana de Lisboa continuam. Marcelo quer Governo nos bairros mas só com “alguma ideia para dizer” e nega ter combinado com Montenegro

Já houve alguns referendos locais pelo país, ao longo dos últimos anos, mas nunca aconteceu os municípes do maior concelho terem sido chamados a pronunciar-se. Será que é desta? Leia aqui o que está a acontecer, e que tem que ver com Alojamento Local: Mais de 11 mil pessoas pedem um referendo pelo fim do Alojamento Local em Lisboa

Maternidade do Santa Maria reforçada até ao final do ano com mais sete obstetras

O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, esteve no Parlamento onde os governantes estão a ser ouvidos a propósito do Orçamento do Estado para 2025. “Governo reforça direções regionais de agricultura, alerta para a urgência do armazenamento de água e critica as “entidades que complicam””

Economia terá de crescer ao ritmo mais rápido em quase dois anos para atingir a meta do Governo para 2024
Crescimento abaixo do esperado no verão obriga a forte impulso da economia no quarto trimestre deste ano para atingir a meta anual do Governo de 1,8%

Mais um ministro que esteve esta terça-feira no Parlamento foi o da Educação. “12 mil crianças estão à espera de um lugar no ensino pré-escolar” é o título do artigo da jornalista Isabel Leiria, depois de ter ouvido Fernando Alexandre.

“Não consegui conter-me”: ex-KPMG acusou contabilista do Grupo Espírito Santo de “fraude” e diz ter sido “ameaçado”
Sikander Sattar, que presidiu à KPMG Portugal durante 15 anos, foi a tribunal contar que acusou Machado da Cruz de “fraude” em 2014, ainda que admita que este não o fez por iniciativa própria

Ainda sobre o julgamento em tribunal do caso BES, o nosso jornalista Diogo Cavaleiro escreveu igualmente outro artigo interessante: Defesa de Ricardo Salgado mantém porta aberta a processar Portugal: Estado será "humilhantemente condenado"

Peugeot liderou vendas de carros elétricos em outubro, seguida pela BMW e pela Tesla

Uma multinacional pode cortar empregos na Europa e engordar em Portugal? As Caldas da Rainha acreditam que sim

LÁ FORA

Em Israel, Netanyahu demite ministro da Defesa

“As catástrofes e as emergências suscitam atos de heroísmo e também erros”: a luta dos valencianos para renascer do lodo
O jornalista Gorka Castillo está na região de Valência a acompanhar o rescaldo da terrível tragédia da última semana. Nesta reportagem, feita esta terça-feira, conta como “o presidente da região valenciana, o conservador Carlos Mazón, começa a sentir a solidão de um derrotado mesmo dentro do seu próprio Partido Popular.”

Crise climática acelera eventos extremos como o de Valência: em 20 anos estes fenómenos já mataram 576 mil pessoas
As chuvas e inundações que devastaram a região espanhola de Valência são mais um exemplo de como as alterações climáticas “estão a tornar a nossa vida mais perigosa”, segundo um cientista da World Weather Attribution

Rússia subiu juros para máximo históricoem outubro e protagonizou a única subida no meio de uma vaga mundial de cortes das taxas

Vimos os ‘novos’ Linkin Park ao vivo em Paris: 40 mil pessoas não podem estar erradas

Quincy Jones (1933-2024): o homem que veio do jazz para inventar uma nova pop
Tocou com Billie Holiday, orquestrou Frank Sinatra, produziu o inatacável “Thriller”, obra-prima de Michael Jackson: Quincy Jones foi uma das mais influentes figuras do universo da música, um criador incansável que marcou diferentes culturas, do jazz ao hip hop, e que se deu com presidentes e com a elite artística da América e do mundo. Morreu esta semana aos 91 anos

TRIBUNA

Se alguém antecipasse o guião da noite de terça feira no Estádio de Alvalade, dificilmente escreveria o que se passou com maior exatidão: o Sporting goleou o super-poderoso Manchester City de Guardiola por 4 a 1, e está agora no segundo lugar da fase da Liga dos Campeões, com 10 pontos. Viktor Gyokeres fez um hat-trick e o avançado nórdico do City Haaland ficou em branco. E, sobretudo, Rúben Amorim, o treinador que se despede depois de quase cinco anos, foi ovacionado (e atirado ao ar pelos jogadores) no seu adeus a Alvalade.

Se era a última noite de Rúben Amorim, então o Sporting deu-lhe a melhor noite do melhor período da sua vida - eis a crónica do jogo, escrita pelo nosso editor da Tribuna, Diogo Pombo.

Como viu Rúben Amorim a sua despedida de sonho? “Estava escrito. Há dias em que as coisas têm de acontecer de uma certa maneira”

PODCASTS

O que se passa com a industria automóvel europeia?

Sobre o povo escolhido: Ricardo Araújo Pereira e Daniel Blaufuks trocam piadas e ideias a propósito do humor judaico

Sabe qual a percentagem que deve poupar para a entrada da casa, para o filho e para a reforma? Pedro Andersson ajuda

Juan Domingo Péron, o presidente mais controverso da Argentina

O QUE ANDO A LER

Nas últimas semanas andrei a ler vários livros relacionados com a política norte-americana
‘War’, de Bob Woodward, o mais aclamado jornalista internacional, que há décadas acompanha e detalha as várias presidências norte-americanas. O seu ‘War’ é dedicado ao mandato de Joe Biden na Casa Branca, muito marcado pela resposta à agressão russa na Ucrânia (e sempre com Donald Trump, o seu antecessor, como pano de fundo).

Confidence Man: The Making of Donald Trump and the Breaking of America, de Maggie Haberman, é um relato da vida de Trump e do seu período na Casa Branca, feito pela jornalista do The New York Times que provavelmente melhor o conhece e há mais tempo o acompanha (primeiro em Nova Iorque, depois como Presidente)

E ainda

The Divider: Trump in the White House, 2017-2021, de Peter Baker e Susan Glasser, provavelmente o mais detalhado e precioso relato dos quatro anos de Trump como presidente dos EUA.

Mas, se há mais vida para além do défice, também há mais vida para além da política americana e nos últimos dias tem sido com um enorme sorriso no rosto que ando a devorar “A Década Prodigiosa, crescer em Portugal nos anos 80”, do meu colega aqui na Impresa Pedro Boucherie Mendes. Tollan, Herman, Júlio Isidro, o Spectrum… Cavaco, Soares, Eanes, a TV a cores, as FP 25, as Amoreiras… Um magnífico relato da primeira década integralmente em democracia em Portugal, a última fora da Europa e a primeira já dentro da CEE. Um tempo único e um livro imperdível, sobretudo para quem viveu e cresceu nessa década.

Por hoje é tudo. Tenha um excelente dia e um fantástico resto de semana

Ler o Expresso

EUA – Eleições | TRUMP VENCE, HARRIS PERDEU O PIU!

Resultado das eleições nos EUA: Trump lidera na maior parte dos estados

Ex-presidente disputa a Presidência com Kamala Harris nas eleições desta terça-feira, 5

César H. S. Rezende e Rafael Balago | Exame | # Publicado em português do Brasil

As primeiras horas da apuração da eleição nos Estados Unidos mostram Donald Trump à frente na maior parte dos estados e com vantagem. Às 4h10 na hora de Brasília, o republicano somava 267 delegados, e a democrata Kamala Harris 224.

Trump venceu em estados de peso, como Texas, Flórida, Iowa e vários estados do meio-oeste, como Ohio, Kentucky e Arkansas. Entre os estados decisivos, Trump levou a Carolina do Norte, Geórgia e a Pensilvânia.

O republicano abriu ligeiras vantagens em dois decisivos do chamado blue wall. Ele liderava em Wisconsin e Michigan. Os primeiros resultados começaram a ser divulgados por volta das 20h (hora de Brasília).

Já Kamala conquistou estados como Nova York, Califórnia, Illinois (onde fica Chicago) e pequenos estados do nordeste do país, como Massachussets, Nova Jersey e Maryland. A democrata também venceu na Virgínia.

No modelo americano, a eleição é indireta. O voto popular define quem serão e como votarão os delegados dos estados. Quem vencer em um estado conquista todos os delegados daquele estado, em 48 dos 50 estados. Assim, a corrida eleitoral avança conforme os estados, e os delegados, vão sendo conquistados pelos candidatos.

Até a manhã de terça, 5, mais de 79 milhões de pessoas já haviam votado de forma antecipada, ao depositar as cédulas antes da data da eleição, algo permitido em vários estados, ou ao enviar o voto pelo correio. Delas, 41% se registraram como democratas e 39% como republicanos. Outros 20% não se declararam apoiadores de um partido ou não havia dados disponíveis, de acordo com levantamento da NBC News.

Que horas sairá o resultado nos EUA?

A expectativa é que o resultado final demore a sair e seja revelado só na quarta-feira ou depois. Como há voto pelo correio, há estados, como Nevada, que consideram as cédulas que chegarem nos dias seguintes à votação. Filas nos locais de votação também podem atrasar o fechamento das urnas e, consequentemente, da apuração.

Como a votação é indireta, mais importante do que observar o total de votos é ver quantos delegados cada candidato consegue no Colégio Eleitoral e qual deles conquista mais estados-chave. Neste ano, há sete estados decisivos. Veja quando deve sair o resultado em cada um deles:

Noite de terça/madrugada de quarta: Carolina do Norte e Wisconsin.

Quarta ou quinta-feira: Geórgia e Michigan

Quinta-feira ou depois: Arizona, Nevada e Pensilvânia

Em 2020, na última eleição, o resultado demorou quatro dias e só saiu no sábado, no começo da tarde.

Trajetórias de Kamala e Trump

Kamala, 60 anos, busca ser a primeira mulher a presidir o país na história. Atual vice-presidente, ela entrou mais tarde na disputa, em julho deste ano, após o presidente Joe Biden desistir da corrida. A democrata teve desempenho melhor nas pesquisas do que Biden, mas não conseguiu abrir vantagem sobre Trump, mesmo tendo arrecadado mais de US$ 1 bilhão em doações, valor bem superior ao rival.

Filha de imigrantes vindos da Índia e da Jamaica, Kamala fez carreira como promotora. Ela foi procuradora-geral da Califórnia a partir de 2010 (o cargo é disputado em eleições abertas no país) e, em 2018, se tornou senadora pelo estado. A democrata disputou as primárias presidenciais em 2020 e, após perder, foi escolhida como companheira de chapa por Biden. Naquele ano, os dois derrotaram Trump, que buscava a reeleição.

Do outro lado, Donald Trump disputa sua terceira eleição presidencial seguida. Ele ficou bilionário após assumir os negócios da família e criar projetos de peso no setor imobiliário de Nova York nos anos 1980. Trump usou a fama como empresário para batizar prédios com seu sobrenome e ficou ainda mais conhecido após ser jurado de um programa de TV,  chamado "O Aprendiz", nos anos 2000.

Trump entrou na política após fazer críticas ao então presidente Barack Obama. Ele disputou sua primeira eleição em 2016 e conquistou a Presidência. Sua gestão foi marcada por medidas contra a imigração irregular, desregulamentação da economia e cortes de impostos a empresas. O republicano comandou o país em meio à pandemia de Covid, em 2020. Trump foi contra medidas de isolamento social e liberou bilhões de dólares em auxílios para os americanos. Em novembro daquele ano, ele perdeu a reeleição para Joe Biden. Trump não reconheceu a derrota e tentou reverter o resultado à força, sem sucesso.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

EUA: O que não tem conserto, nem nunca terá

À véspera das urnas, EUA parecem mais divididos do que nunca. Mas por trás da polarização, há identidade. Nem Kamala, nem Trump querem enfrentar desigualdade, rentismo ou guerra – três marcas cruciais de um império decadente

Maurizio Lazzarato* | em Outras Palavras | Tradução Antonio Martins | Imagem: Nicole Eisenman, O Triunfo da pobreza (2009) | # Traduzido em português do Brasil

Um duplo processo político e econômico, contraditório e complementar, está em andamento: o Estado e a política (norte-americana) afirmam energicamente sua soberania por meio da guerra (inclusive guerra civil) e do genocídio. Enquanto isso, ao mesmo tempo, mostram sua total subordinação ao novo rosto que o poder econômico adquiriu após a dramática crise financeira de 2008, promovendo uma financeirização sem precedentes, tão ilusória e perigosa quanto a que produziu a crise das hipotecas subprime. A causa do desastre que nos levou à guerra tornou-se um novo remédio para sair da crise: uma situação que só pode ser um presságio de outras catástrofes e guerras. A análise do que ocorre nos Estados Unidos, o coração do poder capitalista, é crucial, pois é precisamente de seu seio, de sua economia e de sua estratégia de poder, que partiram todas as crises e todas as guerras que assolaram e assolam o mundo neste século.

O núcleo do problema reside no fracasso do modelo econômico e político dos Estados Unidos, que o conduz necessariamente à guerra, ao genocídio e à guerra civil interna – por ora apenas latente, mas que já se materializou uma primeira vez no Capitólio, ao final da presidência de Donald Trump. A economia norte-americana já deveria ter sido declarada em falência há tempos, se fossem aplicadas as regras impostas a outros países. No final de abril de 2024, a dívida pública total, denominada Total Treasury Security Outstanding, ou seja, a soma dos diversos títulos e obrigações de dívida pública, ascendia a 34,617 trilhões de dólares. Doze meses antes, essa soma era de 31,458 trilhões. Em um ano, a dívida pública aumentou em 3,160 trilhões de dólares, quase equivalente ao nível da dívida pública da Alemanha, a quarta maior economia mundial [e cerca de três vezes maior que a brasileira]. Mas é sua progressão exponencial que agora está completamente descontrolada: um aumento de 1 trilhão a cada cem dias. Hoje, já estamos em 1 trilhão a cada 60 dias.

Se há uma nação que vive às custas do mundo inteiro, são os Estados Unidos. O resto do mundo paga as dívidas que eles geram (com os gastos desmesurados do “american way of life” — do qual, evidentemente, apenas uma parte dos norte-americanos se beneficia — e seu enorme aparato militar) de duas formas principais. Através do dólar, a mercadoria mais negociada do mundo, os Estados Unidos exercem uma senhoriagem sobre todo o planeta, pois sua moeda nacional funciona como moeda do comércio internacional, o que lhes permite endividar-se como nenhum outro país. Após a crise de 2008, os EUA encontraram outra forma de transferir os custos de sua dívida para outros, por meio de uma reorganização das finanças.

Capitais (principalmente de aliados e, entre eles, especialmente da Europa) são transferidos para os Estados Unidos para pagar as crescentes taxas de juros da dívida norte-americana, graças aos fundos de investimento. Após a crise financeira, estabeleceu-se uma concentração de capital, graças a quinze anos de quantitative easing (emissão de dinheiro a custo zero) operado pelos bancos centrais. Surgiu um oligopólio em escala que o capitalismo nunca havia conhecido. Com a ajuda política dos governos de Obama e Biden, um grupo muito reduzido de fundos de investimento norte-americanos possui ativos (ou seja, captação e gestão de poupança) entre 44 e 46 trilhões de dólares. Para ter uma ideia do que significa essa centralização monopolística, pode-se comparar com o PIB do Brasil – 2,3 trilhões de dólares – ou de toda a União Europeia – 18 trilhões de dólares. Os “Big Three”, como são conhecidos os três maiores fundos de investimento (Vanguard, Black Rock e State Street), constituem, de fato, uma única entidade, pois a propriedade dos fundos é cruzada e difícil de atribuir.

As fortunas desse “hipermonopólio” foram construídas sobre a destruição do Estado Social. Para as aposentadorias, a saúde, a educação ou qualquer outro serviço social, os norte-americanos são obrigados a contratar seguros de todo tipo. Agora, cabe aos europeus e ao resto do mundo ocidental (mas também à América Latina) colocarem-se nas mãos dos fundos de investimento, ao ritmo ditado pelo desmantelamento dos serviços sociais (o salário indireto garantido pelo Estado de Bem-estar social transforma-se em uma carga, um custo e uma despesa com que cada um deve arcar, para garantir sua própria reprodução). Os Estados Unidos têm um duplo interesse em continuar e intensificar o desmantelamento do welfare state em todo o mundo: econômico, porque induz a investir nos títulos dos fundos de investimento (que, por sua vez, servem para comprar títulos do Tesouro, obrigações e ações de empresas americanas) e político, porque a privatização dos serviços significa individualismo e financeirização do indivíduo, que se transforma de trabalhador ou cidadão em pequeno operador financeiro (e não “empreendedor de si mesmo”, como prega a ideologia dominante). As políticas fiscais também convergem para o projeto de anular o Estado Social. Nem os ricos nem as empresas pagam impostos, e a progressividade dos mesmos é reduzida a zero; portanto. Não há mais recursos para os gastos sociais e, em consequência, incentiva-se a compra de serviços privados que acabam nos fundos de investimento. O projeto de destruir tudo o que foi conquistado graças a duzentos anos de lutas está, finalmente, se concretizando.

A poupança norte-americana já não é suficiente para alimentar o circuito de renda, de modo que os fundos de investimento estão à espreita da poupança europeia. Por exemplo, os 35 trilhões de dólares que o ex-primeiro ministro italiano Enrico Letta gostaria de destinar a um grande fundo de investimento europeu funcionariam segundo os mesmos princípios: produzir e distribuir renta, gerando as mesmas enormes diferenças de classe encontradas nos Estados Unidos. A razão para o rápido e incrível empobrecimento da Europa pode ser rastreada na estratégia econômica conduzida pelo aliado norte-americano. O diferencial negativo em relação aos Estados Unidos passou de 15% em 2002 para os atuais 30%. Quanto mais a Europa se deixa roubar, mais suas classes políticas e midiáticas se tornam atlantistas, belicistas, submissas àqueles que as estão marginalizando de forma dramática, empurrando-as para a guerra contra a Rússia (guerra que, aliás, nem sequer são capazes de sustentar). Os Estados europeus substituíram a China e o Leste Asiático na compra de títulos do Tesouro norte-americano e, ao manterem a demolição do Estado Social, obrigam a população a contratar apólices de seguro que acabam nas contas dos fundos de investimento. Dessa forma, o euro se converte em dólar, salvando assim a dolarização da ameaça representada pela recusa do Sul em submeter-se ao domínio da moeda americana.

Essa transferência de riqueza também afeta a América Latina, onde Milei é a vanguarda da nova financeirização que visa privatizar tudo. O neofascismo de Milei é um laboratório para adaptar as técnicas de saque americanas adotadas pela Europa, Japão e Austrália às economias mais fracas. Milei não encarna o fascismo clássico; ele representa o novo fascismo “libertário” da renda e dos fundos de investimento, uma cópia ideológica desajeitada do fascismo do Vale do Silício, nascido de suas empresas “inovadoras”.

A política econômica de Biden, de repatriação de indústrias que haviam sido deslocalizadas, empobrece ainda mais o restante do mundo e, sobretudo, a Europa, que vê empresas estabelecidas em seu território tentarem cruzar o Atlântico. As grandes facilidades fiscais necessárias são financiadas com dívida, assim como com dívida são financiadas as bombas (de bilhões de dólares) que os Estados Unidos continuam a enviar para a Ucrânia e Israel. Portanto, ironicamente, a Europa paga por uma política projetada para reduzir ainda mais sua capacidade produtiva, assim como paga duas vezes pela guerra e pelo genocídio: uma vez com a compra de títulos do tesouro norte-americanos e com as apólices de seguro que permitem aos Estados Unidos se endividarem; e outra vez com a imposição de construir uma economia de guerra (aceita e acelerada por classes políticas inclinadas ao suicídio).

Como dizia Kissinger: “Ser inimigo dos Estados Unidos pode ser perigoso, mas ser amigo é fatal”. Essa enorme liquidez permitiu que os fundos comprassem, em média, 22% de todo o índice Standard & Poor’s, que contém as 500 principais empresas listadas na bolsa de Nova York. Os fundos de investimento já estão presentes nas empresas e bancos mais importantes da Europa (principalmente na Itália, onde estão sendo vendidos em ritmo acelerado), e suas especulações praticamente decidem o destino da economia, determinando as decisões dos “empreendedores”.

Alguém delirava sobre a autonomia do proletariado cognitivo, sobre a independência da nova composição de classe. Nada mais distante da realidade. Quem decide onde, quando, como e com qual força de trabalho produzir (assalariada, precária, servil, escravizada, feminina, etc.) é, mais uma vez, quem possui os capitais necessários, quem tem a liquidez e o poder para isso (hoje em dia, sem dúvida, os “Big Three”). Com certeza, não é o proletariado mais fraco dos últimos dois séculos. Esqueçam autonomia e independência; a realidade de classe é a subordinação, a submissão e a sujeição, como nunca antes na história do capitalismo. Ser “trabalho vivo” é uma desgraça, pois é sempre um trabalho comandado, como o do meu pai e do meu avô. O trabalho não produz “o” mundo, mas o “mundo do capital”, que, até prova em contrário, é algo muito diferente, pois é um mundo de merda. O trabalho vivo só pode conquistar autonomia e independência na recusa, na ruptura, na revolta e na revolução. Sem isso, trata-se de uma impotência assegurada!

DIA D

Gatis Sluka, Letónia | Cartoon Movement

O mundo prende a respiração enquanto o povo dos EUA escolhe seu próximo presidente. Confira nossa coleção para mais charges sobre a eleição dos EUA .

EUA - Eleições | PARA O ABISMO -- The New York Times

Jess Bidgood | The New York Times | # Traduzido em português do Brasil

O mais recente, faltando 1 (!) dia

A vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump estão fazendo seus apelos finais na importantíssima Pensilvânia, enquanto suas campanhas correm para conquistar o maior número possível de eleitores.

Há uma prévia violenta do que pode acontecer após a eleição no aplicativo Telegram .

O público de Trump está diminuindo à medida que sua campanha chega ao fim.

O público de Trump está diminuindo à medida que sua campanha chega ao fim.

*********

Passei meu fim de semana dirigindo pelo sudeste da Pensilvânia em uma minivan alugada. E se as entrevistas que fiz lá são alguma indicação, há uma coisa em que todos nesta nação dividida podem concordar: a incerteza está nos afetando.

No Condado de Lancaster, Persida Himmele, uma professora universitária de 58 anos, me disse algo que pode ressoar com muitos de vocês. Parece, ela disse, como se a vida estivesse em espera durante a eleição.

Ela não corrigiu os trabalhos. Ela planeja dar aulas on-line em vez de pessoalmente esta semana. Ela está pedindo a todos que conhece — especialmente amigos e familiares que são porto-riquenhos, como ela — que não votem no ex-presidente Donald Trump, e ela tem batido de porta em porta em bairros latinos, esperando ter essas conversas com estranhos também.

Ela mal consegue imaginar como o país estará depois de amanhã, independentemente de sua candidata preferida, a vice-presidente Kamala Harris, vencer.

“Acho que mesmo que ela vença, veremos violência”, Himmele me disse no sábado em um lançamento de campanha no centro de Lancaster. Ela se preocupa que uma vitória de Trump possa aumentar o racismo e ameaçar o futuro da democracia.

Na manhã seguinte, fui ao comício de Trump em Lititz, Pensilvânia, onde Melissa Thomas, uma republicana de 49 anos, fez uma previsão ainda mais ameaçadora. Ela me disse que achava que Harris não poderia vencer sem fraude eleitoral — e que isso poderia ser um precursor de uma guerra civil.

“Não vou aceitar isso com elegância e nem ficarei deitado”, disse Thomas, morador de Lemoyne, Pensilvânia.

“Posso ver a capital da Pensilvânia e Harrisburg da minha varanda”, disse Thomas, “e estarei lá, e deixarei meu povo saber, meus representantes, meus congressistas, saberem que isso não vai dar certo”.

Faltando um dia para a eleição, as pesquisas estão praticamente empatadas. Os eleitores de ambos os lados do corredor sentem um profundo pressentimento, como minhas colegas Lisa Lerer e Katie Glueck escreveram hoje. E todos parecem sentir como se estivessem olhando para um abismo.

Os eleitores queimados por anos de erros de votação não sabem o que fazer com pesquisas estreitamente divididas, ou se devem confiar nelas. Mas falei com apoiadores de Harris que acreditam profundamente que ela vencerá, e apoiadores de Trump que estão igualmente certos sobre a vitória de sua candidata — especialmente porque Trump os preparou para acreditar que a única maneira de Harris vencer é se ela trapacear, mesmo que isso não seja verdade.

A verdadeira incerteza que ouvi dos eleitores era menos sobre o resultado e mais sobre o que viria a seguir.

“Vamos vencer, mas estou preocupada com o que vai acontecer depois, porque há muito ódio por Trump”, disse-me Shirley Rust, uma corretora imobiliária do Condado de Lancaster, antes do comício de Trump em Lititz.

"Eu me preocupo com o que acontece quando ainda estamos contando os votos e o outro lado não gosta do que está vendo", disse-me Leann Hart, 39, analista de dados e vice-presidente da Organização Democrata de Bensalem, em Norristown, Pensilvânia, enquanto esperava a ex-primeira-dama Michelle Obama subir ao palco em um comício para a Sra. Harris.

Nenhum de nós sabe quem vencerá a eleição. E não sabemos se eventos preocupantes dos últimos dias, como ataques incendiários a urnas, são aberrações ou uma indicação de mais instabilidade por vir.

Mas o que sabemos é isto: as pessoas estão votando, e o sistema até agora tem funcionado em grande parte como deveria.

Amanhã à noite, as urnas serão fechadas. Os trabalhadores eleitorais do país farão seu trabalho. Os resultados serão divulgados. Pode haver uma enxurrada de processos, e pode levar um tempo até que tenhamos alguma clareza, especialmente se for apertado.

Nos últimos seis meses, tentei usar este boletim informativo para ajudar você a entender uma eleição que se tornou uma montanha-russa ainda maior do que qualquer um de nós esperava, para levá-lo aos estados e aos eleitores que moldarão seu resultado final e para ajudar a entender os momentos em que tudo mudou.

Agora, os eleitores estão prestes a mudar o país novamente, seja elegendo a primeira mulher presidente do país ou retornando à Casa Branca um ex-presidente que os eleitores rejeitaram após um mandato.

Estarei de volta em suas caixas de entrada amanhã cedo, com uma cartilha sobre como dar sentido ao dia. E nos próximos dias, estarei guiando vocês pelos resultados e o que tudo isso significa para o país.

Obrigado pela leitura — e até amanhã.

Ler/Ver em New York Times

- A morte do filho deles foi devastadora. Então a política piorou tudo.

Depois que Aiden Clark morreu em um acidente de ônibus escolar em Springfield, Ohio, sua morte inspirou teorias da conspiração, mentiras de campanha e ódio anti-imigrante. Agora, sua família é o alvo mais recente.

Por Eli Saslow e Erin Schaff

Os candidatos que querem eleições apertadas

Pesquisas apertadas deixam candidatos e eleitores de ambos os lados do corredor profundamente ansiosos. Mas, durante todo o ano, alguns candidatos ao Senado em disputas importantes têm tentado fazer as pesquisas parecerem mais apertadas do que realmente são. Meu colega Ian Prasad Philbrick explica.

Aconteceu no Arizona, onde o deputado Ruben Gallego, um democrata, enfrenta Kari Lake, uma republicana. As contas de mídia social de Gallego regularmente divulgam pesquisas — aparentemente conduzidas por empresas favoráveis ​​aos republicanos ou em nome de grupos alinhados aos republicanos — que o mostram empatado ou atrás de Lake, mesmo que as médias de pesquisas independentes mostrem na liderança.

Também aconteceu em Nevada. Em março, a conta X do senador Jacky Rosen promoveu uma pesquisa que a mostrou dois pontos atrás de um hipotético oponente republicano, embora pesquisas não partidárias a mostrassem na frente. A pesquisa que Rosen tuitou não incluiu nenhuma informação sobre quem a conduziu, o tamanho da amostra ou a margem de erro, e não parece existir em nenhum outro lugar online. Especialistas disseram que pode ser uma pesquisa interna que a campanha ou um grupo aliado conduziu, mas nunca divulgou.

As campanhas frequentemente promovem dados seletivamente para impulsionar narrativas preferidas. Mas por que escolher pesquisas que parecem mostrar más notícias para seu candidato?

Especialistas disseram que as postagens, que as campanhas enviam com apelos por doações, são uma estratégia para aumentar a arrecadação de fundos, atiçando o medo dos apoiadores de que o outro lado vença. “Um e-mail de arrecadação de fundos tem a intenção de assustar e motivar você”, disse Alyssa Cass, sócia da Slingshot Strategies, uma empresa de consultoria política. “Quando a casa está pegando fogo, os democratas doam.”

Alguns republicanos têm objetivos de imagem espelhada. As contas de mídia social de Lake, por exemplo, promoveram resultados de pesquisas atípicos neste verão que a mostraram empatada com Gallego.

“A internet, a ascensão do doador de pequeno valor, a crescente competitividade das eleições — tudo isso impulsiona as campanhas de uma forma muito previsível para esse tipo de tática”, disse David Byler, da Noble Predictive Insights, uma empresa de pesquisas apartidária.

As campanhas de Lake, Gallego e Rosen não responderam aos pedidos de comentários.

— Ian Prasad Philbrick

MAIS NOTÍCIAS E ANÁLISES DE POLÍTICA

- Trump promete "consertar", esteja ele quebrado ou não

- O que essa surpreendente pesquisa de Iowa pode estar nos dizendo

- Adversários estrangeiros podem tentar minar as eleições dos EUA após a votação

- 'A Good Closer': Como a primeira corrida de Harris moldou sua candidatura para 2024

- Como os americanos se sentem sobre a eleição: ansiosos e assustados

- Fotografando todos os presidentes desde Reagan

Experimente quatro semanas de acesso gratuito ao The Tilt

Nate Cohn, analista político chefe do The Times, analisa os dados políticos mais recentes.

Receba na sua caixa de entrada

O PESADELO AMERICANO

Isabel Leiria, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

É assim há 179 anos. De cada vez que há eleições federais é a uma terça-feira de novembro que os norte-americanos se deslocam às urnas para votar. No caso da eleição do Presidente, o partido mais votado em cada Estado fica com a totalidade dos delegados que o representam no colégio eleitoral, que irá depois escolher o 47º presidente dos EUA. Se será reeleito Donald Trump ou se vencerá Kamala Harris – a acontecer, seria a primeira mulher a consegui-lo – ninguém consegue antecipar. As eleições norte-americanas costumam ser quase sempre renhidas e estas, não só não fogem à regra, como a margem que separa os candidatos republicano e democrata continua a ser mínima, de acordo com as mais recentes sondagens.

Se na maioria dos Estados pode ser dada como certa a vitória de um ou outro candidato, o facto é que nem Harris nem Trump têm garantidos os 270 delegados que asseguram a sua eleição. Em sete Estados, representados por perto de uma centena de delegados, ninguém sabe para que lado vai cair a votação. Entre os chamados “swing states” estão o Arizona (11 delegados), Carolina do Norte (16), Geórgia (16), Nevada (6), Michigan (15), Wisconsin (10) e Pensilvânia, que com os seus 19 delegados é apontado como um dos cruciais para se ganhar uma vantagem decisiva na sucessão do atual Presidente e ex-candidato Joe Biden.

Mas na verdade, tudo pode acontecer, desde uma vitória relativamente folgada de um dos candidatos até a um empate. Problema: quanto mais renhida for a votação, maior a probabilidade de se agravarem as divisões numa América profundamente polarizada e que assistiu a uma campanha que ficou marcada pelos insultos entre candidatos – “burra” e “estúpida” foram apenas dois dos nomes que Trump usou em relação a Harris.

Se o desfecho for uma vitória da candidata democrata, que promete governar para a classe média, investir no combate às alterações climáticas e apoiar a Ucrânia pelo tempo que for preciso, então é quase certo que Donald Trump irá contestar a votação e dizer que foi vítima de fraude eleitoral. Tal como o fez há quatro anos, precipitando o ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021. Se o recandidato republicano voltar à Casa Branca, são esperadas decisões controversas, sobretudo na área da imigração, dos direitos das mulheres ou na política externa.

Na melhor das hipóteses, os resultados serão conhecidos a meio da madrugada de quarta-feira (em Portugal), mas é possível que a expectativa se prolongue por mais tempo se a disputa estiver muito renhida nos Estados decisivos e houver até necessidade de recontagens de votos. Há quatro anos, foi só no sábado seguinte que Joe Biden foi declarado vencedor. Depois se verá se o país do sonho americano não voltará a viver um pesadelo. O Expresso acompanhará em permanência o dia e a longa noite eleitoral.

Amanhã, o “Junte-se à Conversa” será dedicado ao dia seguinte às eleições e contará com a participação do diretor-adjunto do Expresso David Dinis e do editor de Internacional, Pedro Cordeiro. Inscreva-se aqui

CHARADA ELEITORAL NOS EUA - A DEMOCRACIA ADORMECIDA*


Numa das eleições mais importantes das últimas décadas, milhões de eleitores norte-americanos escolhem esta terça-feira o novo presidente.

Com o país dividido, os EUA vão escolher entre o republicano Donald Trump, que quer regressar à Casa Branca, e a democrata Kamala Harris, que pretende suceder a Joe Biden.

- Jornal New York Times mostra-se frontalmente contra Donald Trump

- Norte-americanos têm muito mais para decidir do que a presidência

Diário de Notícias | César Avó – para ler completo no original DN

Imagem: Brendan Smialowski and ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP - Título PG

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Como os americanos se sentem sobre a eleição: ansiosos e assustados

A vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald J. Trump enquadraram a corrida presidencial como uma batalha existencial. Os eleitores estão atendendo aos seus avisos.

Lisa Lerer e Katie Colack* | The New York Times | # Traduzido em português do Brasil

Lisa Lerer relatou de Norristown e Lansdale, Pensilvânia. Katie Glueck relatou de Grand Rapids e East Lansing, Michigan.

- 4 de novembro de 2024 - Atualizado às 15h41 horário do leste dos EUA -- Ler em espanhol -

No ideal americano, as eleições são momentos de patriotismo, um momento para os cidadãos resolverem suas diferenças nas urnas, não importa quão acirradas sejam as divergências.

Na realidade de 2024, as urnas estão, em alguns lugares, literalmente queimando.

Então, acontece em uma eleição que tem sido mais sombria do que qualquer outra na memória recente. A nação entra neste Dia da Eleição no limite sobre possibilidades que antes pareciam inimagináveis ​​na América do século XXI: violência política, tentativas de assassinato e votos de retaliação contra oponentes.

Para muitos eleitores, a ansiedade que tomou conta da última eleição , uma disputa socialmente distanciada que aconteceu em meio ao surto de coronavírus, se transformou em um sentimento muito mais sombrio de mau agouro .

Em dezenas de entrevistas no último fim de semana da campanha, americanos de todo o espectro político relataram que foram às urnas em estados-campo de batalha com a sensação de que sua nação estava se desfazendo. Enquanto alguns expressaram alívio pelo longo período eleitoral estar finalmente chegando ao fim, era difícil escapar da corrente oculta de inquietação sobre o Dia da Eleição e o que poderia acontecer depois.

Essas preocupações refletem os medos de um país que passou por quatro anos tumultuados, transformado por uma pandemia devastadora que matou mais de um milhão de americanos , um cerco chocante ao Capitólio da nação que derrubou a tradição fundamental da nação de uma transição pacífica de poder, a queda de um direito federal ao aborto de quase meio século e um aumento nos preços não visto há décadas. Em todo o país, as cidades sentiram a pressão da crise migratória na fronteira sul.

Os próprios candidatos presidenciais enquadraram a eleição como uma batalha existencial pelo caráter da nação, sua democracia e a segurança de seus moradores. Em seus anúncios e eventos, os democratas recontam as histórias gráficas de mulheres que quase morreram como resultado de proibições restritivas ao aborto. Enquanto fazem campanha, os republicanos descrevem crimes brutais cometidos por membros de gangues estrangeiras no país ilegalmente, dizendo aos americanos que eles podem ser as próximas vítimas.

Muitos eleitores expressaram preocupações sobre a violência pós-eleitoral.

“Eu me preocupo com a violência”, disse Bill Knapp, 70, um aposentado de Grand Rapids, Michigan, culpando o Sr. Trump por essa possibilidade enquanto ele se misturava com outros apoiadores da vice-presidente Kamala Harris em um escritório de campanha democrata local no sábado. “Estou me preparando para isso, não importa qual seja o resultado.”

Em um local de votação antecipada em Madison, Wisconsin, Chris Glad, 62, estava sofrendo de fadiga eleitoral. “Ficarei tão feliz quando acabar — eu acho”, ela disse enquanto ajudava a mãe a entrar no carro.

E enquanto Cathy Hearn, uma operária de fábrica de Landsdale, Pensilvânia, esperava o início de um evento de campanha do ex-presidente Donald J. Trump em um estacionamento suburbano da Filadélfia, ela fez uma oração de quatro palavras: "Deus está no controle".

As últimas semanas da corrida foram intercaladas com notas de violência genuína.

O FBI está investigando ataques incendiários na semana passada em duas urnas, onde dispositivos incendiários marcados com a mensagem “Free Gaza” foram encontrados. Escolas em Allentown, Pensilvânia, fecharam “por excesso de cautela” quando o Sr. Trump realizou um comício lá. Em San Marcos, Texas, a polícia investigou relatos de panfletos ameaçadores presos a cartazes da campanha de Harris , assinados “Trump Klan”. E na Flórida, do lado de fora de um local de votação antecipada, um homem de 18 anos apoiando o Sr. Trump brandiu um facão contra duas mulheres mais velhas apoiando a Sra. Harris.

No domingo, parecia que a nação inteira estava se preparando para o impacto. Do que, exatamente, ninguém parecia muito certo.

Em Omaha , durante um culto na igreja do Senhor dos Exércitos, Hank Kunneman, um pastor que tem sido um defensor declarado do Sr. Trump, previu “hora da vingança” para “um partido mentiroso” de democratas.

Em Washington, vários restaurantes perto da Casa Branca cobriram suas janelas da frente com compensado grosso.

E em Rocky Mount, Carolina do Norte, Vernon Battle, 67, votou na Sra. Harris e disse que alguém sugeriu recentemente que ele comprasse uma arma para se preparar para o que poderia acontecer.

O motim no Capitólio, disse o funcionário do posto de gasolina, “realmente mudou as coisas”. Sua esposa, Carolyn, acrescentou: “As pessoas não são mais o que costumavam ser”.

Buscando paralelos para esse momento na vida política americana, os historiadores remontam a alguns dos dias mais sombrios da nação, citando frequentemente a Guerra Civil e a revolta da década de 1960.

Mas mesmo esses momentos não compartilham a mistura de profunda desconfiança nas eleições, pensamento conspiratório e linguagem mordaz desta campanha, disse Douglas Brinkley, historiador presidencial da Universidade Rice.

“Estamos tendo que simplesmente confiar em nosso sistema legal e dizer no final do dia: Vai ficar tudo bem — não dê ouvidos a todo esse barulho, seu voto conta”, ele disse. “Todo mundo está enjoado, ansioso e com medo do que está acontecendo na noite da eleição. Isso não deveria ser o que nosso país oferece.”

Os republicanos dizem que estão preocupados com a instabilidade no exterior, imigração ilegal e segurança eleitoral. Muitos continuam a acreditar nas falsas alegações do Sr. Trump de que a eleição de 2020 foi roubada e esperam uma repetição. Nas últimas semanas, o ex-presidente vem preparando o terreno para alegar novamente que houve fraude eleitoral em larga escala se ele perder. Em Levittown, Pensilvânia, uma fila de dezenas de eleitores esperando para se registrar para as cédulas antecipadas se estendeu ao redor do prédio de serviços do governo na sexta-feira. Melody Rose, 56, parada perto da entrada, estava esperando há mais de sete horas para votar no Sr. Trump, assim como fez em 2020 e 2016.

Para ela, as apostas pareciam ser a própria fundação da nação. Se a Sra. Harris vencer, disse a Sra. Rose, ela se preocupa com tudo, desde conseguir um lugar para morar até a eclosão da Terceira Guerra Mundial — um conflito global que o Sr. Trump frequentemente alerta ser quase inevitável, a menos que ele retome a Casa Branca.

“Perderemos todas as nossas liberdades”, ela disse. “Acho que nunca mais haverá outra temporada eleitoral.”

E, em uma reversão da eleição de 2020, alguns republicanos agora se preocupam, sem fundamento, que os democratas não aceitarão uma vitória de Trump.

“Não sei como será” se ele vencer, disse Sue Wirchnianski, uma aposentada de Horsham, Pensilvânia, que chamou os democratas de “o partido da violência”.

Os democratas ecoam a Sra. Harris e alguns dos ex-assessores e críticos conservadores do Sr. Trump , dizendo que temem que o país se incline para um governo autoritário caso ele vença. Eles apontam para suas ameaças de processar e prender uma ampla gama de pessoas que ele percebe como trabalhando contra ele — incluindo seus oponentes políticos, a quem ele chama de "inimigo interno", e até mesmo trabalhadores eleitorais.

Bert VanHoek, 75, de Grand Rapids, Michigan, traçou paralelos entre a linguagem atual e aquela da Segunda Guerra Mundial.

“Ver qualquer coisa disso voltar é assustador — a linguagem fascista”, disse o Sr. VanHoek, um apoiador de Harris que disse que sua família passou por campos de concentração. Sobre o Sr. Trump, ele acrescentou: “Ele é um fascista”.

Até mesmo os democratas que ainda sentiam a alegria que caracterizou os primeiros dias da candidatura da Sra. Harris confessaram alguns sentimentos conflitantes sobre o dia da eleição.

“Eu me sinto eufórica”, disse Mary Wardell, 35, gerente de comunicações, antes de um comício de Harris em East Lansing no domingo. “Eu também me sinto enjoada.”

As intensas divisões da campanha se estenderam aos limites mais íntimos da vida americana, dividindo comunidades, famílias e até mesmo casamentos . Em anúncios e panfletos de campanha, os apoiadores de Harris buscaram lembrar às mulheres que seus votos são privados — até mesmo de seus maridos — uma ideia que indignou alguns dos apoiadores de direita do Sr. Trump.

Alguns agora têm tanto medo de entrar em conflito com os vizinhos que só falam sobre a eleição em sussurros.

Em um local de votação antecipada em Wyoming, Michigan, uma cidade nos arredores de Grand Rapids, um homem de 69 anos que se identificou publicamente apenas como Gary D. falou em tom baixo ao discutir sua escolha na eleição.

“Algumas perguntas não são seguras de responder”, ele disse, olhando ao redor antes de confirmar silenciosamente, em resposta à pergunta de um repórter, que ele era de fato um apoiador de Harris. “Dez anos atrás eu diria 'sim', sem problemas. Agora, as coisas são diferentes agora. Sinto que há mais intimidação do que costumava haver.”

Questionado sobre qual palavra usaria para descrever seus sentimentos sobre a eleição, ele respondeu: “medo”.

O único ponto de acordo bipartidário sobre a eleição pode ser o nível de estresse que ela parece estar causando.

Uma pesquisa anual conduzida pela American Psychological Association descobriu que o “futuro da nossa nação” foi o estressor mais comum para os americanos este ano. Mais de sete em cada 10 adultos temeram que os resultados das eleições pudessem levar à violência, e 56 por cento disseram acreditar que a eleição poderia ser o fim da democracia americana, de acordo com a pesquisa .

Os candidatos e suas campanhas pouco fizeram para conter o desconforto.

Em campanha para Trump no subúrbio da Filadélfia no sábado, Peter Navarro, ex-funcionário do governo Trump que foi preso por desafiar uma intimação do comitê da Câmara que investigou o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, fez uma previsão ameaçadora.

“Se eles podem vir atrás de mim, eles podem vir atrás de vocês”, ele disse aos apoiadores. “Quem está no caminho? Trump.”

Quatro horas depois e 16 quilômetros ao sul, Michelle Obama ofereceu a versão de seu partido de um aviso sombrio a uma multidão de democratas reunidos no ginásio de uma escola.

“A destruição é rápida e implacável, e ninguém sabe onde ela vai parar”, ela disse. “Um dia ela virá para pessoas que você nunca conheceu.”

“Então”, ela continuou, “ele vem para um vizinho, um amigo, um membro da família que é porto-riquenho, judeu ou palestino, mas então ele vem para você”.

No entanto, em meio à ansiedade, há aqueles que estão otimistas sobre a vida após o dia da eleição.

A representante Victoria Spartz, republicana de Indiana, disse em uma reunião no Arooga's Grille, perto de Hershey, Pensilvânia, no sábado que "o destino da República será decidido no grande estado da Pensilvânia". Natalie Nutt, 49, pareceu levar essa mensagem a sério.

“Estou muito nervosa”, disse a Sra. Nutt, que dirige uma organização educacional sem fins lucrativos.

Mas quando pressionada, ela refletiu sobre  o futuro da nação.

“Estes são os Estados Unidos da América; não há país melhor”, ela disse, com um sorriso aliviado cruzando seu rosto. “Não acho que seja o fim do mundo, não importa o que aconteça.”

A reportagem foi contribuída por Julie Bosman de Madison, Wisconsin, Emily Cochrane de Rocky Mount, Carolina do Norte, Sam Easter de East Lansing, Elizabeth Dias de Washington, Dionne Searcey de Omaha e Jonathan Weisman de Hershey, Pensilvânia.

Lisa Lerer é uma repórter política nacional do The Times, sediada em Nova York. Ela cobre política americana há quase duas décadas. Mais sobre Lisa Lerer

Katie Glueck cobre política americana com foco no Partido Democrata. Mais sobre Katie Glueck

Veja mais em: Eleições de 2024: Notícias, Pesquisas e Análises , Política dos EUA , Partido Democrata , Partido Republicano

Mais lidas da semana