ADEBAYO VUNGE - NOVO JORNAL – CLUB K
Luanda - O advento das novas tecnologias de informação e sua utilização como ferramenta de política levanta hoje, strictu sensu, uma acentuada preocupação teórica para vários pensadores modernos ligados principalmente às ciências sociais (com destaque para a sociologia, história, ciência política e ciências da comunicação).
Para além de outras reflexões de Chomsky, dignas de realce porque tocantes aos new media de uma maneira geral, é sobretudo interessante observarmos o pensamento de Pippa Norris, uma investigadora da Universidade de Harvard sobre as relações entre a Internet e a política. Ao contrário do que sucedia até a segunda metade do século XX, altura em que a política era feita em arenas, como a Polis e Ágora dos Gregos e nos comícios massivamente populares em locais públicos, o aparecimento da televisão, na óptica de Jurgen Habbermas transferiu o espaço público, em grande medida, para o campo dos audiovisuais sendo a actividade política feita consoante os ditâmes mediáticos.
Sem estar já subjugada, vemos hoje, na senda de Pippa Norris que a televisão está a perder esta sua relevância em detrimento da Internet, que vem dar lugar a um “novo espaço público” nos últimos anos, e em especial, por causa da criação de Mark Zukerberg sendo que o facebook se tornou o epicentro das controversas redes sociais. Ora, parece que a política hoje reconhece a importância de inclusão no espaço público que a Internet proporciona. Alguns renomados políticos contemporâneos têm sabido tirar dela o melhor proveito. O actual Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aquando da sua campanha na corrida às eleições presidenciais foi um claro exemplo de como os new media desempenham um papel fundamental na actividade política dos nossos tempos, seja para efeitos de mobilização seja de consciencialização de determinadas causas.
Ao olharmos para a nossa realidade, verificamos que há uma dimensão sócio-política e demográfica que não podemos omitir. E isso é mais interessante se levarmos em conta o target dos principais eleitores e dos potenciais novos eleitores comparando-os entre os períodos eleitorais de1992 e 2008 e entre 2008 e 2012. Estamos obviamente a falar de uma geração de jovens, no geral urbanos ou semi-urbanos, com escolaridade básica, propensos a um discurso alicerçado no suporte Internet porque nascidos e crescidos com telemóveis, televisão e outros artefactos da modernidade, mesmo que algumas vezes não os possuindo directamente.
Uma análise à pirâmide da população e ao público Angolanos bem como à adesão e recurso aos cybercafés nos permite facilmente concordar com esta conclusão. Os mais cépticos consideram-nos mesmo reféns da tecnologia e os mais moderados acreditam na existência de minorias activas dada a sua capacidade de influenciar os outros jovens.
Embora os números apontem para uma baixa expressão da Internet em Angola, olhando para a baixa percentagem da populcação que a ela tem acesso, não devemos ignorar o volume de usuários actuais e o potencial de crescimento destes sobretudo nos principais centros urbanos.
Ora, toda essa reflexão vem a propósito da intervenção do Presidente da República José Eduardo dos Santos, mas na veste de Presidente do MPLA, aquando da abertura do IV Congresso extraordinário daquele Partido. Citando Eduardo dos Santos a “Internet, as chamadas redes sociais e os SMS devem constituir veículos de mobilização, contacto permanente e de esclarecimento e debate de ideias”.
Isto é, a nosso entender, não só inequívoco como sinal para os novos paradigmas do moço como, também por cá, passamos a compreender e a fazer a política nos tempos que correm. Um partido político, com a dimensão e poder do MPLA, não pode ignorar os benefícios desta ferramenta.
Olhando para figuras ligadas ao partido MPLA, duas chamam-nos logo a atenção pelo exemplo: o deputado e comunicólogo João Melo e o Constitucionalista e Ministro da Administração do Território Bornito de Sousa que têm espaços muito dinâmicos no Facebook, com muitos amigos na rede. Parece claro quais as potencialidades do uso das redes sociais nas próximas campanhas eleitorais em Angola, principalmente nas Autárquicas. O sentido de uso e proveito das redes sociais não se esgota na simples presença nas redes sociais, mas traduz bem a necessidade de diálogo com a sociedade, com os militantes e potenciais militantes, e com o eleitorado em geral.
O foco hoje, entendemos, não deverá centrar-se na produção de pacotes legislativos que pretendam reduzir espaços que potencialmente concretizam ideais de democracia e progresso social. Haverá, possivelmente uma necessidade de regular ou conferir alguma disciplina àqueles que utilizam a Internet para salvaguardar a lesão de interesses legítimos e direitos de terceiros bem como a protecção de bens colectivos inquestionáveis. Outros. Parece ser de acreditar, por conseguinte, que nos próximos tempos, as campanhas eleitorais em Angola serão inovadoras quanto aos espaços de discussão da política e estratégias para convencer o eleitorado.
Olhando para a questão no fundo apenas numa perspectiva o campo aqui é sobremaneira enorme na medida em que esta ferramenta de comunicação e informação moderna tem enormes valências para a democracia, para a administração do Estado para a promoção de um sistema de Governação inclusiva e até no fortalecimento de uma sociedade civil sã e participativa.
ADEBAYO VUNGE
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