Governo perdeu
interesse pela sociedade civil - Afirma João Pereira, director-geral do MASC,
explicitando que há marginalização das contribuições da sociedade civil pelo
Governo
Maputo (Canalmoz) –
A recorrente marginalização, por parte do Governo, das contribuições da
sociedade civil em questões estratégicas para o desenvolvimento do País, como é
o caso da exploração dos recursos minerais, está a preocupar a sociedade civil.
Aliás, mais do que
deixar de ouvir a sociedade civil o Governo tende a conotá-la como
“desestabilizadores e inimigos do desenvolvimento”. João Pereira,
director-geral do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC), diz que é
preciso que o Governo esteja atento aos novos fenómenos e aos cidadãos que não
se reconhecem no Estado, nos partidos políticos. “A manifestação de Cateme em
Tete é disso exemplo”, disse.
Pereira falava na
manhã desta segunda-feira em Maputo durante a abertura da conferência (termina
na quarta-feira) internacional da Troca de Experiência sobre a Monitoria e
Advocacia da Boa Governação que se subordina ao tema: “a gestão dos recursos
naturais e sua contribuição para o desenvolvimento do País”. A conferência é
organizada em parceria com a IBIS.
A propósito da
marginalização da sociedade civil, João Pereira afirmou que a intelectualidade
da sociedade civil “nunca deixou de pensar, o Governo é que perdeu o interesse
de atrai-la para um trabalho em parceria”.
Sociedade civil
deve questionar e defender o Estado social
O director do MASC
disse que no contexto em que se alastra na sociedade um profundo sentimento de
orfandade e de crescente desconfiança das pessoas em relação ao Estado, às
instituições que supostamente as deveriam defender, que as organizações da
sociedade civil devem estar mais próximas e activas na defesa dos princípios de
boa governação no sector da indústria extractiva. Não há lugar para
indiferença, é preciso que a sociedade civil não fique calada, deve continuar a
questionar e a defender o Estado social.
Durante o seu
discurso, o director do MASC disse não haver consenso nacional sobre como se
deve fazer a gestão e exploração mineira e o que fazer com as receitas que
advêm desta exploração. Isso porque, segundo explicou, ainda não existe uma lei
que dê ao cidadão o acesso aos contratos e seus benefícios fiscais.
Entender como um
porto do Estado ficou nas mãos de uma empresa privada
“A sociedade
precisa entender como é que infra-estruturas estratégicas do Estado, como é o
caso do Porto de Nacala, ficam nas mãos de uma empresa privada em detrimento do
Estado”, disse para depois acrescentar que as organizações da sociedade civil
devem romper e propor políticas alternativas na gestão da indústria extractiva.
“Não devem ser
neutros na defesa do Estado social, dos valores e princípios da boa governação
na luta pela transparência da vida pública e na defesa dos grupos
marginalizados. Não devem ser neutros em questionar onde vão ser investidas as
receitas da exploração mineira. Será nas chamadas infra-estruturas públicas
classificadas de “elefantes brancos”, no serviço da defesa e segurança”,
finalizou Pereira.
Moçambique tem
oportunidade para não errar
Apesar de já ter
iniciado com erros graves nas suas abordagens quer em termos de políticas e
legislação na exploração mineira, há quem acredite que Moçambique pode ser um
caso de sucesso. É o caso da directora da IBIS Moçambique, Anne Hoff, que disse
que Moçambique tem tudo para dar certo na exploração mineira, pois tem a
experiência de países africanos produtores de minerais, e tem à sua disposição
vários países para ajudar o País na exploração. Anne Hoff destacou também a
necessidade de as organizações de monitoria e advocacia da boa governação
capacitarem-se institucionalmente para levarem a cabo um trabalho credível.
(Matias Guente)
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