Eric Maurice -
Presseurop, editorial
O contraste é
gritante. Enquanto a comunicação social europeia analisa ansiosamente a mínima
variação nas sondagens sobre a eleição presidencial norte-americana e seguiram
minuto a minuto a meteorologia em Nova Iorque , no último debate entre Barack Obama
e Mitt Romney a palavra Europa foi pronunciada uma única vez. Os observadores
europeus concluíram que a Europa já não tem peso no mundo. É também um sinal de
que os Estados Unidos abandonaram uma visão global para se concentrarem naquilo
que consideram ser os seus interesses: a economia e o emprego, as relações com
a China ou o seu sistema de proteção social.
É sabido que Barack
Obama simboliza uma viragem, a de uma América que já não sente afinidades
com o Velho Continente. Nascido no Havai, de pai africano, e tendo crescido
na Indonésia, Obama é Presidente de um país em que a parte da população de
origem hispânica, negra e asiática está constantemente a crescer. E mesmo o
candidato republicano, embora eleito na Nova Inglaterra, mas mórmon, tem pouco
a ver com essa elite WASP (branca, anglo-saxónica e protestante) que deu o tom
à política interna e externa durante várias décadas.
Durante este
(primeiro?) mandato de Barack Obama, a Europa teve de gerir duas heranças: a
das guerras no Iraque e no Afeganistão e a da crise dos subprimes, que rebentou
em 2007. À custa de alguns acesos debates internos (que fizeram cair um Governo
na Holanda) e de tensões no seio da NATO, a maior parte dos países europeus já
começou ou terminou a sua retirada do Afeganistão, sem que isso ponha em causa
a sua ligação à América ou a unidade da UE, como aconteceu em 2003 com a guerra
no Iraque.
Pelo contrário, a
crise dos subprimes, que se transformou em crise dos bancos, da dívida, das
economias e das sociedades, é uma herança muito mais pesada. Apesar das muitas
reuniões do G8 e do G20 e dos muitos telefonemas de Obama para os líderes
europeus, não parece ter sido possível encontrar uma solução comum eficaz. E,
apesar da influência recíproca da saúde do dólar e do euro, Washington e a zona
euro não se comprometeram numa política monetária concertada, sobretudo no que
diz respeito a enfrentar o yuan chinês.
Quanto ao resto,
Barack Obama, que
geriu as relações transatlânticas por videoconferência, soube estar ao lado
dos britânicos e dos franceses durante a intervenção na Líbia, fornecendo o
equipamento militar que lhes fazia falta e evitando-lhes, assim, um isolamento
humilhante. Mas deixou os europeus quase sozinhos nas negociações sobre as
alterações climáticas e contribuiu para fazer perder ao planeta alguns anos
preciosos.
Para a Europa, o
“Yes, we can” do candidato que, em 2008, juntou milhões de pessoas cheias de
esperança, em Berlim, traduziu-se num período de transição sem brilho. Mas os
europeus continuam a “votar” Obama. Para um continente pós-histórico, são
preferíveis as relações tranquilas do que a ruidosa desordem “bushiana” ou o conservadorismo
tão pouco compreensível de Mitt Romney.
*Eric Maurice é um
jornalista francês, nascido em 1972, chefe de redacção do presseurop.eu.
Após completar os cursos de História e de Jornalismo, entrou para o Courrier Internacional em 2000,
onde foi responsável das páginas sobre França, cobriu a actualidade
norte-americana e dirigiu a secção de Europa Ocidental.
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