Deutsche Welle
O país da África
Austral é o segundo maior produtor de petróleo do continente e deverá começar a
exportar gás natural. São os recursos naturais que impulsionam a economia, mas
Angola ainda tem muitos contrastes.
Na cidade do Soyo,
no norte de Angola, na fronteira do país ocidental africano com a República
Democrática do Congo: de dois tubos horizontalmente colocados, sai uma labareda
de vários metros de altura. Como na beira desta estrada, existem vários pontos
no Soyo onde há queima de gás, um subproduto da exploração petrolífera na
região.
Queimar o gás
associado encontrado com o petróleo contribui para o efeito estufa, mas é uma
das maneiras mais baratas de eliminá-lo. Por isso, todas as noites, as chamas
iluminam o céu noturno do Soyo. "Aqui no Soyo, à noite, a cidade toda é
escura. Até a pessoa que está a atravessar a rua, não tens o direito de lhe ver
porque está escuro. Mas a cidade está cheia de petróleo. Em vez de levar a
riqueza, [o petróleo] traz a pobreza", avalia o taxista Luciano Nzombo
Madia, de 32 anos, enquanto manobra o pequeno carro ao longo de uma estrada
esburacada.
Porém, logo Angola
deverá deixar de queimar gás. É que o Soyo é a sede da primeira fábrica
angolana de LNG – sigla inglesa de Gás Natural Liquefeito. O complexo de tubos
e tanques de resfriamento começou a ser construído em 2008 e foi finalizado em
2012. A unidade tem o tamanho equivalente a cerca de 240 campos de futebol e
pode ser considerada um pilar do desenvolvimento de Angola, que em 2002
encerrava uma guerra civil de 27 anos.
A produção do
primeiro gás natural liquefeito estava planejada para o primeiro trimestre de
2012. Porém, segundo a DW África apurou no Soyo, a unidade ainda está em fase
de testes. Por isso, não pudemos visitar a fábrica, que terá uma capacidade
instalada para produzir 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano, de acordo com
o website da Angola LNG, a sociedade operacional.
Vice-campeão
africano na exportação de petróleo, potencial para gás
Segundo informações
da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), depois da Nigéria,
Angola é o segundo produtor de petróleo do continente africano, com uma
produção diária de 1,62 milhões de barris. Também segundo a OPEP, Angola
possuía 366 mil milhões de metros cúbicos em reservas de gás natural em 2011 –
quase 20% do volume conhecido em 2010. Apesar de ter bem menos que a Nigéria (5
biliões), Angola é o quinto colocado em reservas de gás natural no continente
africano entre os países listados pela OPEP em seu último relatório (com dados
de 2011).
Soyo ainda não
produz gás natural, mas já existem compradores interessados, como os Estados
Unidos, que querem importar o produto.
No projeto LNG, a
exploradora norte-americana Chevron participa com 36,4%, sendo o acionista
principal do projeto. A estatal angolana Sonagás é o segundo maior acionista
(22,8%), seguida da italiana ENI, da britânica BP e da francesa Total – cada
uma detém, respectivamente, 13,6% do projeto.
Os benefícios do
"boom" petrolífero...
O chamado
"boom" do petróleo mudou muito no Soyo, relata o taxista Luciano.
"Antes do início da guerra civil (1975), a estrada ali na frente já estava
ruim", diz, mostrando a rua dos bancos na cidade, com asfalto novo.
"Com o projeto Angola LNG, tudo foi renovado e muitas pessoas vieram para
cá", afirma Luciano, traduzindo em palavras a mudança trazida pelo dinheiro
do petróleo, já que logo após a guerra civil angolana era praticamente
impossível circular pelo país – hoje, as estradas são transitáveis.
"Antes, não havia muita gente no Soyo. Hoje, há pelo menos cinco bancos
diferentes", conta Luciano.
Entre 2010 e 2011,
Luciano, que é eletricista de formação, participou da instalação de parte dos
gasodutos, inclusive aqueles que vão para o fundo do mar. Segundo Luciano, o
gás natural será explorado de uma profundidade de até 1.700 metros. Mas, depois
que a instalação dos dutos terminou, Luciano perdeu o emprego. Hoje, dirige um
táxi que está pagando em prestações para um colega da Igreja Evangélica.
Segundo críticos do
governo angolano, o setor petrolífero – que representa 98% das exportações do
país – não emprega quase nenhuma população angolana. "Por exemplo, as
estatísticas apontam que o setor petrolífero em Angola só representa 0,5% da
força ativa de trabalho", diz Elias Isaac, diretor da organização de
defesa dos direitos humanos Open Society.
Isaac considera o
elogiado crescimento angolano um contrasenso. "Nós estamos a ter um
crescimento económico – é só acumulação de capital financeiro. Não é o
desenvolvimento e o melhoramento da vida das populações", opina, apesar de
considerar que Angola está conseguindo reabilitar as próprias estruturas num
curto espaço de tempo – dez anos – depois do fim da guerra civil, em 2002.
"O cessar da
guerra aconteceu num momento oportuno porque Angola teve oportunidade de
relançar várias estruturas, redimensionar os recursos que iam para o sustento
da guerra e relançar a economia local com o regresso de mais de 4 milhões de
deslocados internos às suas origens", enumera Isaac.
…vão para quem?
Na capital
angolana, Luanda, a riqueza do petróleo é visível com a construção de
arranha-céus, guindastes e o incessante barulho de serras cortando metal. A
cidade cresce constantemente – no centro, a cada esquina tem-se a impressão que
um prédio novo vai brotar do chão, ainda mais alto que o já existente.
Com cerca de cinco
milhões de habitantes, Luanda é considerada uma das cidades mais caras do
mundo. O aluguel de um apartamento pode custar cinco mil dólares ou mais. Num
restaurante, uma refeição simples como um prato de sopa pode chegar a dez
dólares.
A sede da
petrolífera estatal Sonangol e do Banco Nacional de Angola ficam na Avenida 4
de Fevereiro, uma avenida marginal na Baía de Luanda. A avenida é
impecavelmente asfaltada. Nas pistas largas, porém, só circulam poucos
automóveis.
Mas, já nas ruas
adjacentes, uma imagem recorrente é a do engarrafamento. Em várias ruas, o
asfalto é esburacado, os carros avançam lentamente. Travam e avançam, parecendo
imitar o funcionamento dos semáforos, que piscam com a luz amarela. Circular
por alguns quilômetros já pode significar meia hora de trajeto.
Publicado em 2012,
o mais recente relatório das Nações Unidas (ONU) sobre os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, conclui que 37% da população angolana vive em
situação de pobreza extrema, com menos de um dólar por dia. A taxa representa
uma queda significativa de um terço em relação a 2000, quando a pobreza extrema
em Angola atingiu 54%.
Segundo
observadores, porém, essa diminuição da pobreza poderia ter sido maior, já que,
segundo o Banco Mundial, o PIB per capita dos angolanos ficou oito vezes maior
entre 2000 e 2011: passou de 660 dólares para 5.150 dólares. A explicação é
simples: enquanto muitos pobres não mudaram de vida, os ricos ficaram muito
mais ricos.
Para combater a
realidade da pobreza, o vice-ministro angolano, Manuel Vicente, anunciou em
novembro de 2012 o novo Plano Nacional de Desenvolvimento para o período entre
2013 e 2017. O objetivo principal do plano é "combater a fome e a
pobreza" e assegurar a qualidade de vida dos angolanos. O Orçamento Geral
de Estado de 2013 também deverá privilegiar os setores da saúde, da educação,
do ensino superior, da habitação e da assistência social – além do setor de
energia e águas, para melhorar o acesso da população a estes direitos básicos.
Sem asfalto, água
ou energia
Muitos habitantes
do bairro de Cazenga, o mais populoso de Luanda, esperam pelo cumprimento
dessas promessas do governo. As estradas são de terra e as chuvas de outubro de
2012 transformaram as vias de transporte da região em verdadeiros buracos de
lama. Mulheres, homens e crianças passam por poças d'água cheias de lixo.
Existe energia – mas ela dura apenas algumas horas por dia.
"Os engenheiros
nos dizem – porque isto aqui está a cargo de uma empresa de luz – que as
barragens estão secas. Eles estão a falar isso porque entendem da matéria,
então temos que escutar só", explica Euricleurival Vasco, de 27 anos, que
trabalha como motorista do governo provincial de Luanda e, como muitos no
Cazenga, apoia o partido governista MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola).
Vários partidos,
uma voz
Em 2012, a economia
angolana cresceu quase 7% - depois de chegar a mais de 20% em anos anteriores.
Esse crescimento econômico vem principalmente do setor petrolífero, diz o
economista Fernando Heitor. E os principais beneficiários, segundo ele, são os
membros da elite política em torno do presidente José Eduardo dos Santos, no
poder há 33 anos (desde 1979).
"Temos hoje
uma economia praticamente oligárquica. A oligarquia capitalista domina quase
tudo. São poucos: meia dúzia de pessoas, um pouco mais, não passa de 20 pessoas
e suas famílias que têm na sua posse 80 a 90% do PIB", afirma Fernando
Heitor. "O MPLA domina do ponto de vista financeiro, económico,
patrimonial e inclusive sociocultural. Todos esses indivíduos, no Parlamento,
no Executivo e nos Tribunais, são escolhidos pelo partido".
As críticas a
Angola não se restringem ao sistema político. Palavras como nepotismo e
corrupção são moeda corrente quando se fala no país. Por exemplo: o que
aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera
estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do Fundo Monetário
Internacional constatou, em finais de 2011, que faltava essa soma nos cofres
públicos angolanos. A Sonangol afirmou ter investido o dinheiro em projetos de
infraestrutura, mas não se sabe quais exatamente.
Promessas quebradas
Também em Viana, a
cerca de 18 quilômetros de Luanda, muitos cidadãos esperam ajuda do governo.
Várias pessoas foram parar no bairro do Zango 1 porque foram desalojadas. Antigamente,
viviam na capital, na chamada Ilha de Luanda, uma língua de terra no litoral
norte da cidade. Aparentemente por causa da construção de uma estrada, os
habitantes da região tiveram suas casas destruídas em 2009. Desde então, vivem
em casas de lata na cidade de Viana.
Basta voltar alguns
quilômetros em direção a Luanda para ver a nova cidade do Kilamba. Milhares de
apartamentos do projeto estão vazios. Só 220 das cerca de 3 mil habitações
disponíveis teriam sido comprados até agora.
A cidade de Kilamba
faz parte de uma promessa eleitoral do presidente angolano, José Eduardo dos
Santos, feita em 2008, de construir um milhão de casas para a população do
país.
No Kilamba, o preço
das casas varia entre 90 mil e 150 mil euros – custos com os quais a maior
parte dos habitantes de Luanda não consegue arcar. Pois a riqueza do petróleo
ainda não chegou à maioria dos angolanos.
Autora: Renate
Krieger - Edição: Johannes Beck
1 comentário:
Heya just wаnted to give you a briеf heads up and let you knοw а few of the piсtures aren't loading properly. I'm
not sure why but I thіnk its a linking issue.
I've tried it in two different web browsers and both show the same results.
Feel free to surf to my weblog ... promoting blogs
Review my blog post ... a marketing business
Enviar um comentário