Fernanda Câncio –
Diário de Notícias, opinião
A 26 de abril, a
publicação de uma sondagem no i dava o PP a subir. Na notícia correspondente,
lia-se: "O CDS é o segundo partido da oposição que mais sobe."
Entretanto corrigida, a frase é testemunho da fenomenal operação de acrobacia,
derrisão e vampirismo que Portas e o seu PP têm vindo a desenvolver desde a
formação do Governo.
Sustentar um
Executivo que toma medidas brutais e mesmo assim pretender que se opõe, lágrima
no olho, a cada malfeitoria. Plantar notícias nos jornais sobre supostos
enfrentamentos homéricos em conselhos de ministros e largar venenos sortidos
sobre colegas de Governo para surgir como o parceiro "bom" da
coligação, o que está lá para garantir que as coisas não serão tão más como
poderiam ser, numa espécie de imolação dos seus princípios para nos salvar.
Afetar sentido de Estado, quando é exatamente o papel de vítima que lhe convém,
perante sucessivas humilhações infligidas pelo PM - da certificação, numa
entrevista televisiva pós-episódio da TSU, de que o seu número dois é Gaspar ao
desprezo a que votou o líder parlamentar do CDS no último debate quinzenal, passando
pelo facto de, perante o chumbo de várias medidas pelo Tribunal Constitucional,
ter ido a Belém certificar a viabilidade do Governo acompanhado, não do líder
do outro partido da maioria, mas do ministro das Finanças. Registar no
anedotário nacional da provocação passiva-agressiva os silêncios, ausências,
expressões faciais e pronunciamentos do líder, com o monólogo sobre a TSU no
top. Exigir remodelações e alterações de política a várias vozes do partido -
enquanto no Parlamento não só vota a favor de tudo como se ergue em êxtase ante
o discurso presidencial que diz não haver alternativa.
É isto o PP: o
partido que enche a boca com a família, os reformados e desfavorecidos mas tem
um ministro da Segurança Social que cortou 6% ao subsídio de desemprego e 5% ao
de doença (e veremos hoje às oito da noite o que lhes vai cortar mais), que
esmifrou o complemento solidário dos idosos (a medida que mais contribuía para
a redução da pobreza da terceira idade), que diminuiu o RSI das crianças e que
tirou dinheiro ao subsídio de parentalidade. O partido que manda cartas aos
militantes a jurar que "com ele" não se aumentarão mais impostos e a
seguir vota o maior aumento fiscal da democracia portuguesa.
Se tinha ideário,
deixou de o ter - à exceção do programa de sempre de Portas: sobreviver e
acabar com o PSD para poder ser um dia PM. "Eu é outro", diz, como
Rimbaud, o PP (Paulo e o partido): estou no Governo e fora, faço o mal e a
caramunha, olhem como sou esperto. Estará a resultar? A última sondagem diz que
sim. Mas hoje, ao ouvir Passos, não se esqueça que tudo o que ele anuncia tem a
assinatura de Portas. Além de indecorosamente traiçoeiro (de molde a enojar até
quem execre o PM), o jogo que joga com tão óbvio deleite tem o País - a nós - como
bola de trapos. E se lhe perguntarem se sabe, ele sabe.
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