sábado, 15 de junho de 2013

Portugal: TEMPOS DIFICEIS




São dias estranhos os que vivemos. A 10 de junho, Dia de Portugal, num desabafo público, um cidadão dirige-se ao Presidente da República e, sentindo-se "roubado", recomenda a Cavaco Silva que vá trabalhar. Dois agentes paisanos, ao melhor estilo de uma qualquer polícia política, catam o homem em frente da mulher e dos filhos, levam-no à presença de um juiz e, sumariamente, é julgado e condenado ao pagamento de uma multa de 1300 euros. Bem pode vir agora o Ministério Público requerer a anulação do processo, que não muda a perceção que hoje temos do Estado. Fraco com os fortes e forte com os fracos.

É o mesmo Estado que, por exemplo, fica impassível perante os insultos recorrentes de Alberto João Jardim contra todos os órgãos de soberania da República ou que é tolerante com um ex-secretário de Estado que manda "tomar no cu", por inerência, o seu ex-colega de Governo, o ministro das Finanças.

No mesmo dia, Cavaco protagoniza um dos momentos mais lamentáveis da sua presidência. Num exercício que muitos diriam de inspiração estalinista, o Presidente ignora o pior ano das nossas vidas e tenta a reescrita da história do período em que, como primeiro-ministro, aceitou que o desmantelamento da agricultura portuguesa fosse moeda de troca para a adesão à CEE. Não é mito, é apenas facto. Era o tempo em que se pagava aos agricultores para abandonarem a terra e não produzirem. Perante tamanha desfaçatez, até as vacas dos Açores devem ter deixado de sorrir.

Mas este é também o tempo em que, perante a decisão do Tribunal Constitucional, o Governo decide desobedecer e dar ordens para que não se pague em junho, como manda a lei, o subsídio de férias aos funcionários públicos. E não é por falta de dinheiro, garante o primeiro-ministro. É apenas porque sim. Além de retaliação inaceitável, é só mais um exemplo do irregular funcionamento das instituições que deveria merecer a intervenção do Presidente da República. Mas aos costumes, Cavaco nada diz.

Alinha, aliás, com a maioria PSD/CDS, cada vez mais minoritária no País, quando esta defende o direito à greve desde que não chateie ninguém. Mantém-se em silêncio, como, aliás, todas as forças políticas nacionais e internacionais, órgãos de poder da União e governos europeus, perante o ataque à democracia e o precedente gravíssimo que significa o encerramento por decreto do serviço público de rádio e televisão na Grécia. E subscreve, certamente, os argumentos do seu correligionário dr. Catroga, que, ainda esta semana, justificava o mau desempenho do Governo português e os trágicos resultados do programa de ajustamento com o facto de a economia não ser uma "ciência exata", com a agressividade dos sindicatos que fazem greves por tudo e por nada e com a necessidade de todos oferecermos ao País - "é o mínimo que se pode exigir a um cidadão", dizia sem se rir - 40 ou até mesmo 50 horas semanais de trabalho ganhando menos.

A pátria dispensa, seguramente, os "Catrogas" e outros que tais, que sonham transformar Portugal numa espécie de Lancashire Coketown, a horrível e triste cidade do carvão do livro de Dickens, filha da Revolução Industrial, em que os operários, novos e velhos, eram forçados a trabalhar tantas horas quanto o corpo aguentasse.

Essa pobreza e subjugação é o nosso destino, se não deixarmos urgentemente de dar ouvidos às pantominices que nos impingem sobre o imperativo de cortar nas pensões e nos salários, de despedir gente a eito na administração pública engrossando o gigantesco exército de desempregados - quando todas as estatísticas indicam que o Estado, afinal, não é assim tão gordo quando comparado com a média da UE - ou cortar nas despesas com Educação ou Saúde. A alternativa passa por, além de racionar as despesas, gerir melhor, acabar com os tóxicos swaps, pôr fim às pornográficas rendas da energia ou pela renegociação corajosa e patriótica das obscenas PPP. Mas para que isso aconteça, e para que os tempos deixem de ser difíceis, são precisos patriotas.

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