Martinho Júnior,
Luanda
1 – Fez já um ano
que escrevi um conjunto de artigos sobre a Guiné Bissau, entre eles um
intitulado “Dar a volta à tragédia” que, sublinhando o carácter da ajuda da
Revolução Cubana, fazia implicitamente um apelo para que o povo da Guiné Bissau
não fosse votado ao abandono pelos seus irmãos africanos e pelos outros
componentes do CPLP.
Relembro:
“Os Partidos irmãos
que têm mantido o relacionamento com o PAIGC e têm procurado soluções para a
Guiné Bissau, devem estimular a iniciativa dum amplo Congresso Regenerador no
PAIGC, de forma a que seja lançada a mensagem de necessidade dessa regeneração
a toda a classe política e militar nacional e idêntico processo seja seguido
por outros Partidos e pelas instituições castrenses.
Devem ainda, com os
estados onde se encontram implicados:
- Levar em conta o
exemplo de Cuba no seu relacionamento bilateral com a Guiné Bissau e o esforço
estratégico que é imperativo em termos de educação e saúde, reforçando-o;
- Empenhar-se em
melhorar as condições de sanidade pública e a distribuição de água potável às
comunidades, de forma a melhor se prevenirem as doenças;
- Empenhar-se em
contribuir para criar estruturas sociais (construção de hospitais, postos de
saúde, escolas de vários níveis, etc), de forma a que haja uma dignificação dos
impactos por via das acções prioritárias na saúde e na educação;
- Empenhar-se em
construir infra estruturas como estradas e pontes, começando por interligar os
principais centros urbanos do país e de forma a que se propicie o alargamento
da rede a nível nacional;
- Reforçar a
capacidade nacional de produção de energia eléctrica;
- Criar melhor
inter ligação às regiões insulares dos Bijagós, de forma a diminuir o seu
relativo isolamento;
- Reforçar as
estruturas político-administrativas e militares, construindo edifícios em todas
as principais localidades, que confiram dignidade às acções administrativas do
estado e do seu sistema de instrumentos do poder;
- Garantir acções
de apoio à agricultura, pesca e serviços, de forma a procurar instalar pequenos
aproveitamentos industriais;
- Ajudar a criar um
banco alimentar que possa ser utilizado perante situações de crise;
- Abster-se de
projectos elitistas e megalómanos a reboque de interesses inter ligados à
globalização em curso, de forma a que as elites nacionais sejam conduzidas às
acções dirigidas sobretudo para o homem e de forma a incentivar a ética e a
moral do estado e das instituições;
- Procurar estimular
consensos alargados a todas as comunidades, tornando viável que toda a
sociedade possa corresponder a uma mobilização vocacionada para a luta contra o
subdesenvolvimento, estabelecendo-se um clima cada vez mais favorável ao
estado, assim como às instituições sócio-políticas e militares;
- Estimular a paz,
o diálogo, a cidadania e a participação nas acções da vida pública e do estado,
a nível nacional e local;
- Enveredar
esforços no sentido de se estabelecerem consensos com a CEDEAO e outras
instituições com impacto na Guiné Bissau, de forma a reforçar os estímulos às
políticas dirigidas fundamentalmente para o homem e com sentido de vida;
- Contribuir para a
inter ligação da Guiné Bissau com seus vizinhos próximos (Senegal, Guiné
Conacry e Mali), de forma a se estimularem integrações que estejam sobretudo
vocacionadas num processo de luta contra o subdesenvolvimento”.
2 – Volvido o
primeiro ano após o último golpe de estado na Guiné Bissau todavia a situação
interna tem-se degradado e a nível externo o país tornou-se exemplo, de acordo
com os parâmetros convenientes aos Estados Unidos e à União Europeia, num “estado
falhado”, num “narco estado”, sem perspectiva… como se não houvesse povo, nem
história, nem presente, nem futuro!...
Condenado o golpe,
a ajuda no quadro duma lógica com sentido de vida continuou a limitar-se a
Cuba, como se o povo da Guiné Bissau, também por causa da situação política e
militar, não merecesse uma redobrada atenção em termos de assistência humana.
Os países da CPLP
que deveriam incrementar a ajuda directa ao povo da Guiné Bissau
contrabalançando o esfriamento político, foram incapazes de o fazer, inclusive
aqueles que por razões históricas não podem deixar de equacionar-se em função
do que advém do movimento de libertação em África e da visão dos seus
dirigentes históricos.
O resultado é uma
situação cada vez mais gravosa, pois o país é muito dependente de remessas
financeiras provenientes do exterior e envolvidas na ajuda.
3 – A deslocação
para Bissau do ex-Presidente de Timor Loro Sae, Ramos Horta, poderia ter
contribuído para que se começassem a corrigir os relacionamentos, todavia Ramos
Horta tem-se feito sentir mais como um homem que pertencendo à ONU é também “um
homem da presente globalização”; será que o mérito de “Prémio Nobel da Paz”
impede-o de se transcender obrigando-se às alternativas eminentemente humanas e
ir mais longe?…
O povo da Guiné
Bissau merece acções concretas em seu socorro e proveito, mas praticamente até
Ramos Horta não passa das palavras, pelo menos desde que chegou a Bissau.
Ramos Horta conhece
os benefícios da cooperação cubana em Timor Loro Sae e passou agora também a
conhecer no caso da Guiné Bissau; se outros se juntassem a Cuba, mesmo com uma
situação económica gravosa como a deste ano o povo da Guiné Bissau estaria sem
margem para dúvidas mais protegido.
Os estados que são
mais chegados a Guiné Bissau enquistaram-se nas suas razões em relação ao golpe
(que é efectivamente condenável outrossim por causa dos resultados palpáveis do
presente), ao mesmo tempo que parecem ter ficado tolhidos pelas iniciativas de
combate ao tráfico de droga integradas nos planos do AFRICOM e da NATO a partir
de bases em Cabo Verde e de outros países vizinhos como o Senegal e a Gâmbia…
4 – Urge a ajuda
directa ao povo da Guiné Bissau em especial nos sectores sociais, a começar os
que dizem respeito à saúde e à educação e independentemente da evolução da
situação interna.
No que toca aos
membros da CPLP, em relação ao que poderiam já ter feito nos sectores da
educação e da saúde, a expectativa aumenta à medida que se aproxima a próxima
cimeira, desta feita em Moçambique.
É evidente que a
promoção de eleições democráticas e respeitadas por todos não basta para quem
opta pela democracia: a democracia há que exercê-la, demonstrá-la e
aprofundá-la!
Angola poderia ter
tomado a iniciativa, contrabalançando o congelamento dos relacionamentos
políticos e militares, mas a sua diplomacia, que incentiva o diálogo e se
prende a um discurso de paz no continente africano, não consegue levar seus
melhores argumentos a uma prática que, se em relação ao estado da Guiné Bissau
se pode aceitar, em relação ao seu povo deveria ser incondicional!
Mapa: (Clique para ampliar) O território da
Guiné Bissau é algo de singular em África: com poucas altitudes, rios
caudalosos, alagadiços e um litoral polvilhado por ilhas que constituem o
arquipélago das Bijagós, é uma simbiose intrincada entre terra e mar.
1 comentário:
Embaixador angolano defende principio da solidariedade na CPLP
Brasília - O Embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme defendeu sexta-feira em Brasília que a Solidariedade e a Coesão devem caracterizar a actuação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP.
O Diplomata Angolano falava na qualidade de anfitrião da reunião Extraordinária do Comité de Embaixadores da CPLP no Brasil, que se reuniu sexta-feira na embaixada de Angola na capital Brasileira, na presença do Secretário Executivo da CPLP, o moçambicano Murade Isaac Murargy, que se encontra em Brasília em visita de trabalho.
Na oportunidade, o Secretário Geral da CPLP, Embaixador Murade Isaac partilhou com os seus confrades a sua visão sobre o papel futuro da CPLP que foi criada em1996 num contexto diferente do actual com o propósito da promoção da Língua Portuguesa e da concertação Político-Diplomática entre os Estados Membros.
“Será que passados todos esses anos os pilares sob os quais se funda a CPLP devem permanecer imutáveis”questionou-se o Secretário Executivo da CPLP, apelando á uma reflexão dos Estados Membros sobre o assunto.
Durante a reunião extraordinária do Comité de Embaixadores da CPLP acreditados no Brasil foi feita uma informação detalhada do desenvolvimento da situação na Guiné Bissau.
Distribui-se um comunicado divulgado quarta-feira em Lisboa, no qual a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ressalta que foi com satisfação que tomou conhecimento da formação e tomada de posse de um Governo inclusivo na Guiné Bissau.
Reafirma o seu compromisso de continuar a apoiar e a trabalhar em prol da convergência dos esforços em curso para a estabilização deste país africano da lusofonia.
Entretanto, no quadro do seu plano de actividades, uma missão do Comité de Embaixadores da CPLP acreditados em Brasília, vai visitar a partir de segunda-feira o Estado da Bahia, onde vai estabelecer contactos com as autoridades e empresários locais e visitará alguns lugares históricos como o Recôncavo Bahiano região que recebeu muitos africanos no quadro do trafico de escravos e a Casa de Angola em Salvador.
http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2013/5/24/Embaixador-angolano-defende-principio-solidariedade-CPLP,2e4f22f6-21b9-4e61-87bf-fd6bd50272af.html
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