sábado, 15 de junho de 2013

SALVAR A GUINÉ-BISSAU



Martinho Júnior, Luanda

1 – Fez já um ano que escrevi um conjunto de artigos sobre a Guiné Bissau, entre eles um intitulado “Dar a volta à tragédia” que, sublinhando o carácter da ajuda da Revolução Cubana, fazia implicitamente um apelo para que o povo da Guiné Bissau não fosse votado ao abandono pelos seus irmãos africanos e pelos outros componentes do CPLP.

Relembro:

“Os Partidos irmãos que têm mantido o relacionamento com o PAIGC e têm procurado soluções para a Guiné Bissau, devem estimular a iniciativa dum amplo Congresso Regenerador no PAIGC, de forma a que seja lançada a mensagem de necessidade dessa regeneração a toda a classe política e militar nacional e idêntico processo seja seguido por outros Partidos e pelas instituições castrenses.

Devem ainda, com os estados onde se encontram implicados:

- Levar em conta o exemplo de Cuba no seu relacionamento bilateral com a Guiné Bissau e o esforço estratégico que é imperativo em termos de educação e saúde, reforçando-o;

- Empenhar-se em melhorar as condições de sanidade pública e a distribuição de água potável às comunidades, de forma a melhor se prevenirem as doenças;

- Empenhar-se em contribuir para criar estruturas sociais (construção de hospitais, postos de saúde, escolas de vários níveis, etc), de forma a que haja uma dignificação dos impactos por via das acções prioritárias na saúde e na educação;

- Empenhar-se em construir infra estruturas como estradas e pontes, começando por interligar os principais centros urbanos do país e de forma a que se propicie o alargamento da rede a nível nacional;

- Reforçar a capacidade nacional de produção de energia eléctrica;

- Criar melhor inter ligação às regiões insulares dos Bijagós, de forma a diminuir o seu relativo isolamento;

- Reforçar as estruturas político-administrativas e militares, construindo edifícios em todas as principais localidades, que confiram dignidade às acções administrativas do estado e do seu sistema de instrumentos do poder;

- Garantir acções de apoio à agricultura, pesca e serviços, de forma a procurar instalar pequenos aproveitamentos industriais;

- Ajudar a criar um banco alimentar que possa ser utilizado perante situações de crise;

- Abster-se de projectos elitistas e megalómanos a reboque de interesses inter ligados à globalização em curso, de forma a que as elites nacionais sejam conduzidas às acções dirigidas sobretudo para o homem e de forma a incentivar a ética e a moral do estado e das instituições;

- Procurar estimular consensos alargados a todas as comunidades, tornando viável que toda a sociedade possa corresponder a uma mobilização vocacionada para a luta contra o subdesenvolvimento, estabelecendo-se um clima cada vez mais favorável ao estado, assim como às instituições sócio-políticas e militares;

- Estimular a paz, o diálogo, a cidadania e a participação nas acções da vida pública e do estado, a nível nacional e local;

- Enveredar esforços no sentido de se estabelecerem consensos com a CEDEAO e outras instituições com impacto na Guiné Bissau, de forma a reforçar os estímulos às políticas dirigidas fundamentalmente para o homem e com sentido de vida;

- Contribuir para a inter ligação da Guiné Bissau com seus vizinhos próximos (Senegal, Guiné Conacry e Mali), de forma a se estimularem integrações que estejam sobretudo vocacionadas num processo de luta contra o subdesenvolvimento”.

2 – Volvido o primeiro ano após o último golpe de estado na Guiné Bissau todavia a situação interna tem-se degradado e a nível externo o país tornou-se exemplo, de acordo com os parâmetros convenientes aos Estados Unidos e à União Europeia, num “estado falhado”, num “narco estado”, sem perspectiva… como se não houvesse povo, nem história, nem presente, nem futuro!...

Condenado o golpe, a ajuda no quadro duma lógica com sentido de vida continuou a limitar-se a Cuba, como se o povo da Guiné Bissau, também por causa da situação política e militar, não merecesse uma redobrada atenção em termos de assistência humana.

Os países da CPLP que deveriam incrementar a ajuda directa ao povo da Guiné Bissau contrabalançando o esfriamento político, foram incapazes de o fazer, inclusive aqueles que por razões históricas não podem deixar de equacionar-se em função do que advém do movimento de libertação em África e da visão dos seus dirigentes históricos.

O resultado é uma situação cada vez mais gravosa, pois o país é muito dependente de remessas financeiras provenientes do exterior e envolvidas na ajuda.

3 – A deslocação para Bissau do ex-Presidente de Timor Loro Sae, Ramos Horta, poderia ter contribuído para que se começassem a corrigir os relacionamentos, todavia Ramos Horta tem-se feito sentir mais como um homem que pertencendo à ONU é também “um homem da presente globalização”; será que o mérito de “Prémio Nobel da Paz” impede-o de se transcender obrigando-se às alternativas eminentemente humanas e ir mais longe?…

O povo da Guiné Bissau merece acções concretas em seu socorro e proveito, mas praticamente até Ramos Horta não passa das palavras, pelo menos desde que chegou a Bissau.

Ramos Horta conhece os benefícios da cooperação cubana em Timor Loro Sae e passou agora também a conhecer no caso da Guiné Bissau; se outros se juntassem a Cuba, mesmo com uma situação económica gravosa como a deste ano o povo da Guiné Bissau estaria sem margem para dúvidas mais protegido.

Os estados que são mais chegados a Guiné Bissau enquistaram-se nas suas razões em relação ao golpe (que é efectivamente condenável outrossim por causa dos resultados palpáveis do presente), ao mesmo tempo que parecem ter ficado tolhidos pelas iniciativas de combate ao tráfico de droga integradas nos planos do AFRICOM e da NATO a partir de bases em Cabo Verde e de outros países vizinhos como o Senegal e a Gâmbia…

4 – Urge a ajuda directa ao povo da Guiné Bissau em especial nos sectores sociais, a começar os que dizem respeito à saúde e à educação e independentemente da evolução da situação interna.

No que toca aos membros da CPLP, em relação ao que poderiam já ter feito nos sectores da educação e da saúde, a expectativa aumenta à medida que se aproxima a próxima cimeira, desta feita em Moçambique.

É evidente que a promoção de eleições democráticas e respeitadas por todos não basta para quem opta pela democracia: a democracia há que exercê-la, demonstrá-la e aprofundá-la!

Angola poderia ter tomado a iniciativa, contrabalançando o congelamento dos relacionamentos políticos e militares, mas a sua diplomacia, que incentiva o diálogo e se prende a um discurso de paz no continente africano, não consegue levar seus melhores argumentos a uma prática que, se em relação ao estado da Guiné Bissau se pode aceitar, em relação ao seu povo deveria ser incondicional!

Mapa: (Clique para ampliar) O território da Guiné Bissau é algo de singular em África: com poucas altitudes, rios caudalosos, alagadiços e um litoral polvilhado por ilhas que constituem o arquipélago das Bijagós, é uma simbiose intrincada entre terra e mar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Embaixador angolano defende principio da solidariedade na CPLP


Brasília - O Embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme defendeu sexta-feira em Brasília que a Solidariedade e a Coesão devem caracterizar a actuação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP.


O Diplomata Angolano falava na qualidade de anfitrião da reunião Extraordinária do Comité de Embaixadores da CPLP no Brasil, que se reuniu sexta-feira na embaixada de Angola na capital Brasileira, na presença do Secretário Executivo da CPLP, o moçambicano Murade Isaac Murargy, que se encontra em Brasília em visita de trabalho.


Na oportunidade, o Secretário Geral da CPLP, Embaixador Murade Isaac partilhou com os seus confrades a sua visão sobre o papel futuro da CPLP que foi criada em1996 num contexto diferente do actual com o propósito da promoção da Língua Portuguesa e da concertação Político-Diplomática entre os Estados Membros.


“Será que passados todos esses anos os pilares sob os quais se funda a CPLP devem permanecer imutáveis”questionou-se o Secretário Executivo da CPLP, apelando á uma reflexão dos Estados Membros sobre o assunto.


Durante a reunião extraordinária do Comité de Embaixadores da CPLP acreditados no Brasil foi feita uma informação detalhada do desenvolvimento da situação na Guiné Bissau.

Distribui-se um comunicado divulgado quarta-feira em Lisboa, no qual a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ressalta que foi com satisfação que tomou conhecimento da formação e tomada de posse de um Governo inclusivo na Guiné Bissau.

Reafirma o seu compromisso de continuar a apoiar e a trabalhar em prol da convergência dos esforços em curso para a estabilização deste país africano da lusofonia.


Entretanto, no quadro do seu plano de actividades, uma missão do Comité de Embaixadores da CPLP acreditados em Brasília, vai visitar a partir de segunda-feira o Estado da Bahia, onde vai estabelecer contactos com as autoridades e empresários locais e visitará alguns lugares históricos como o Recôncavo Bahiano região que recebeu muitos africanos no quadro do trafico de escravos e a Casa de Angola em Salvador.



http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2013/5/24/Embaixador-angolano-defende-principio-solidariedade-CPLP,2e4f22f6-21b9-4e61-87bf-fd6bd50272af.html

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