terça-feira, 8 de outubro de 2013

Angola: À SUA FRENTE A UNITA SÓ TEM PASSADO

 


PROCESSOS DISCIPLINARES KWACHAS COMPROMETEM A SUA IMAGEM
 
Orlando Castro – Folha 8 – 05 outubro 2013
 
A UNITA de Isaías Sa­makuva re­vela, desta vez de forma explícita, que prefere auto­-destruir-se pelos elogios dos que estão sempre de acordo, renegando todos aqueles que a querem salvar pela crítica. O caso Mfuca Muzemba é a mais inequívoca prova de quem tem imensos telhados de vidro mas que, numa ten­tativa autocrática, ou mesmo ditatorial, atira toneladas de pedras aos telhados dos ou­tros.
 
Assimilando e praticando muitos dos maus princípios que tanto critica no regime, a UNITA é cada vez mais um partido unanimista, que idola­tra o chefe e em que os seus militantes e simpatizantes começam a saber que os bons são os que estão sempre de acordo com o chefe. O direito à diferença, ao contraditório, foi banido e já nem os resquí­cios dos ideais do Muangai sobrevivem.
 
A UNITA ou, melhor, a sua cúpula resolveu vir para a praça pública, ao que parece sedente de protagonismo me­diático, dizer de sua justiça so­bre a suspensão do deputado e Secretário-Geral da JURA por 24 meses.
 
Através do chamado Conse­lho de Jurisdição, órgão que, embora sendo parte de um partido deveria ser apenas e só jurídico, apresentou o que supostamente eram provas de corrupção. O articulado da acusação indicia ter sido elaborado para legitimar o prévio veredicto quando, se­gundo as mais elementares regras de Direito, a sentença é a última peça processual e não, como parece ser o caso, a primeira.
 
Aliás, se a UNITA pretende que Angola seja um Estado de Direito não pode, na sua vida interna, utilizar regras que ultrajam o que diz pre­tender para o país. Não são aceitáveis as metodologias de quem para atingir um de­terminado fim utiliza todos os meios, sejam legais ou não. Corromper, por exemplo, um funcionário de um ban­co para arranjar eventuais provas de corrupção de um cliente não é digno, para além de ser crime, de nenhuma or­ganização séria que, aliás, diz pretender ser governo.
 
E se, de uma forma geral, se critica com veemência o MPLA/Governo por praticar uma filosofia de considerar todos os opositores culpa­dos até prova em contrário, o que se poderá esperar do segundo maior partido que, teoricamente, assume ser um alternativa e que, como se constata, actua da mesma forma, usa a mesma metodo­logia e exige dos outros o que não pratica?
 
Fazendo lembrar tempos, verdadeiros ou não, em que as labaredas queimavam os corpos para libertar e puri­ficar os espíritos, a UNITA consegue, através do Con­selho Nacional de Jurisdição, acender mais um rastilho da sua própria implosão quando, numa afirmação antológica e que certamente ficará para o anedotário da sua tragicomé­dia, diz que “a sanção aplicada a Mfuca Muzemba, foi no es­pírito de fraternidade, por um lado e, por outro lado, para re­forçar a unidade e a disciplina do partido e salvaguardar a pureza da UNITA“.
 
E como um tiro no pé nunca vem só, a própria JURA assu­me as dores do líder do parti­do para – reproduzindo mais um caso de canina fidelidade ao chefe – exigir a cabeça de Mfuca Muzemba. Esta posi­ção da JURA, apenas entendí­vel à luz de velhos fantasmas apocalípticos, mostra que afi­nal à sua frente a UNITA só tem passado.
 
Mas, de facto, não deixa de ser engraçado ver como a UNITA caminha a passados largos para a fogueira da ex­tinção. Caminha o Galo Ne­gro mas não, é claro, os seus principais dirigentes. Esses trocaram a mandioca pela la­gosta e estão a dar-se muito bem. Tão bem que se esque­cem que, por incapacidade dos seus mais altos dirigentes, assinou há muito a sua pró­pria certidão de óbito.
 
Fugindo à regra autocrática de Isaías Samakuva, Mfuca Muzemba até mostrou uma rara capacidade de liderança quando, acossado por todos os lados, se remeteu ao silên­cio na esperança, obviamente vã, de que o bom senso da UNITA não tivesse também ele desertado.
 
Ledo engano. Estava encon­trado o bode expiatório e, por isso, Samakuva quis mostrar que é forte. Não reparou, con­tudo, que todos viram que ele é especialmente forte com os fracos.
 
E foi assim que, no dia 18 de Setembro, um jurista da UNI­TA resolveu disparar todo o arsenal bélico existente contra Mfuca Muzemba. Pro­vavelmente muitos desses valentes artilheiros de hoje querem, como alguns outros generais do passado, mudar de barricada e começar a dis­parar contra os seus próprios “soldados”.
 
Mas, como tudo, Samakuva mostra ser mesmo fraco, muito fraco, com os fortes. Daí nunca se atrever a ad­moestar alguns altos quadros do partido que, esses sim, a troco de dólares, cargos e tachos não se inibiram de achincalhar quer a UNITA quer o seu presidente funda­dor, Jonas Savimbi.
 
Se calhar, Mfuca Muzemba cometeu o erro de ser hones­to num mundo, o da política, em que esse é o pior defeito. Tivesse ele desbaratado di­nheiro à tripa forra, gerido o património da UNITA, não prestado contas e lambido as botas cardadas dos “ge­nerais” políticos e estaria, certamente, na santa paz da Samakuva.
 
Poderá a UNITA provar que Mfuca Muzemba delapidou as finanças e o património do partido? Não, não pode. E como não pode, isso é uma prova do crime de ser hones­to.
 
O que esconde a UNITA quando, cometendo um crime, viola os direitos de qualquer cidadão, como do próprio Banco BIC, divulga o extracto da conta de Mfuca Muzemba? É que o visado assume, sem rodeios, que na sua conta pessoal, tem “de forma lícita, fruto de activi­dade comercial cadastrada e reconhecida, cerca de USD 400.000,00 e não milhões” como, aliás, fizeram questão de atirar para a ribalta da di­famação alguns membros do Conselho de Jurisdição.
 
“A minha filiação na organi­zação de que sou membro e dirigente, não pressupôs compromissos prévios sobre o dever e obrigação de decla­rar os meus rendimentos, que estariam alvo de espionagem de órgãos suspeitos. Enquan­to membro da Comissão Política e do Comité Perma­nente da UNITA, não tenho que “chafurdar” as fontes de rendimento dos senhores Dr. Gabriel Samy (presidente do Conselho de Jurisdição), do Senhor Liberty Chiaka, De­putado Raul Danda, do Dr. Manuvakola, do Dr. Claúdio Silva ou do Dr. Constantino Zeferino, entre outros”, escla­rece Mfuca Muzemba num, reconheça-se, acto de cora­gem de cujas consequências poderá ser vítima… mortal.
 
Mfuca Muzemba explica, com sobriedade, que “estes meus manos, são cidadãos livres e por essa razão têm a faculdade de ter, nas suas contas bancárias as somas em dinheiro que conseguirem de forma honesta, sem violação da lei e não podem ser calu­niados por mera presunção”.
 
Como bem pergunta Mfu­ca Muzemba, quais foram as provas que o Conselho Jurisdicional da UNITA con­seguiu dos movimentos havi­dos na sua conta, domiciliada no Banco BIC, em USD à data de 1 de Outubro/2012 a 21 de Fevereiro de 2013 ser resulta­do da corrupção e de alicia­mento político do regime de Eduardo dos Santos, entre­gues por Bento Kangamba?
 
Nenhumas.
 
Mas se as tem deve, como mandam as tais regras de um Estado de Direito, desde logo porque a questão ultrapassa a esfera partidária, apresenta­-las às autoridades policiais e judiciais, à Procuradoria-Ge­ral da República. Refiram-se elas à entrega de dinheiro por Bento Kangamba, aos carros luxuosos adquiridos graças à corrupção, à alegada venda de vistos aos estrangeiros etc. etc.
 
Se o não fizer estará, mais uma vez, a dar razão aos que entendem que o fim da UNITA apenas depende da vontade dos que lhe deram lagosta…
 

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