Jornal de Notícias
A Cáritas
Portuguesa registou no último ano um aumento de 20% nos pedidos de ajuda de
famílias portuguesas afetadas pela crise económica, que atingiu "uma faixa
da classe média que era impensável, que é a faixa da classe média alta".
"Nós sabíamos
que em Portugal qualquer problema deste tipo atingiria sempre a classe média
porque era das mais vulneráveis, mas esta crise até atingiu uma faixa da classe
média que era impensável, que é a faixa da classe média alta", disse o
presidente da Cáritas Portuguesa.
"Há pessoas
que auferiam rendimentos consideráveis porque trabalhavam por conta própria e
que a crise, por força da impossibilidade de fazerem escoar o resultado das
produções que tinham, as afundou. Muitos deles tentaram por tudo salvar esses
empreendimentos que tinham e endividaram-se. Muitas dessas pessoas entraram
numa espiral de endividamento que as atirou para uma situação de pobreza de que
dificilmente se vão libertar nos próximos tempos", acrescentou Eugénio
Fonseca.
Eugénio Fonseca
falava à Lusa no final do Conselho Geral da Cáritas Portuguesa, que se realizou
este fim de semana em Fátima.
Segundo o
responsável, entre outubro de 2012 e outubro de 2013 foi registado um aumento
de 20% do atendimento a famílias nas dioceses.
Afirmando que esses
dados são uma média nacional que não contemplam o atendimento nas paróquias, o
presidente da Cáritas Portuguesa frisou que há dioceses em que "aumento
foi na ordem dos 65%, concretamente em Braga".
Se as paróquias
estivessem incluídas nessas contas, "estaríamos a falar de outros
valores" porque existem no país 4350 paróquias, das quais cerca de 2000
fazem atendimentos regulares.
Também aquilo que
as pessoas pedem mudou com esta crise, enquanto dantes pediam trabalho, hoje
"as necessidades são tantas que o que pedem é alimentação e sobretudo duas
coisas: ajuda para não perder a casa e aquilo que é o conforto para a casa -
eletricidade, água e gás, ajuda para despesas de saúde e, nalguns casos que já
são bastantes, ajuda para que os filhos continuem a estudar, sobretudo aqueles
que estão no ensino universitário", disse.
Para conseguirem
dar resposta a estes novos casos de pobreza, o Conselho Geral da Cáritas
Portuguesa aprovou na reunião deste fim de semana o plano estratégico para os
próximos dois anos, onde a grande preocupação é dotar as paróquias de meios que
respondam às atuais necessidades.
Segundo Eugénio
Fonseca, cada paróquia tem de "dispor de um grupo de ação social
devidamente organizado e formado por pessoas capacitadas para responder aos
desafios que, cada vez mais, são complexos em termos da realidade social e
económica do nosso país".
"Esta crise
trouxe uma mudança do perfil da pobreza em Portugal, portanto é preciso que os
agentes sociais estejam, devidamente preparados para responder a esses novos
desafios. Essa foi a grande linha estratégica", sublinhou.
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