Artur Portela – jornal i, opinião
Ensaio de Artur
Portela, o renascimento do espírito da "Funda" - as crónicas que o
autor assinava e que marcaram a vida política com prosas particularmente
incisivas
O PSD foi partido
de combate.
Foi partido de resistência.
Foi partido de rasgo.
Do rasgo de Francisco Sá Carneiro e de muitos outros, alguns dos quais se encontraram, há dias, no Porto.
Uma coisa o PSD nunca foi: um partido estrangeiro.
Pelo contrário.
O PSD sempre foi um partido entranhadamente português.
Ora o PSD corre, neste momento, o risco parecer, e cada vez mais, um partido estrangeiro.
O PAP – Partido Alemão de Portugal.
Contribuindo, de forma cada vez mais clara e mais rápida, para dessocializar e desdemocratizar o PSD.
Para o ano – o ano do centenário do desencadear da Primeira Guerra Mundial, e insistindo a actual direcção do partido neste seu jeito ideológico, e assumindo o PS simultaneamente a herança do sacrifício de Portugal na Flandres e da Revolução de Abril –, este PSD poderá colocar-se numa posição ainda mais auto-contundente, na cerimónia culminante da comemoração.
A imagem do partido do lado de lá de La Lys.
Ficando Portugal do lado de cá.
Portugal e o Soldado Milhões.
Ora isso é insuportável para aqueles que assumem e conhecem o património moral e político da social-democracia portuguesa.
Quem escreve estas linhas, tendo-se cruzado, junto do Lago de Genebra, por acaso, com Francisco Sá Carneiro, que se afastara da cena política portuguesa, acabou por lhe fazer uma entrevista, aquela onde ele anunciou o famoso regresso a Portugal. Foi uma demorada conversa, ao longo da margem do lago, na qual Francisco Sá Carneiro revelou, mais uma vez, a sua coragem, a sua consciência social, o seu patriotismo. Aqueles de onde decorre parte significativa da cultura do PSD.
Nada a ver com este, hoje, Portugal atracado da actual direcção do PSD. Adolescente. Ávido. Humanamente árido. E com um prego keiseriano espetado, na cabeça. De bico para cima.
Ser alemão não será porventura fácil.
Ser português e tentar retroverter, psicológica, cultural, politicamente, os alemães, imitá-los, está entre o ridículo e trágico.
Sobretudo se se tratar, não de germanofilia, mas do uso oportunístico de uma meia-ocupação financeira alemã da Europa.
Para quê?
Para desmantelar, num ápice, a Constituição e o Estado Social portugueses e fazer, de uma vezada, a revolução neo-liberal.
Um paraíso frio.
Sacrificando o PSD.
Desfigurando o PSD.
Crê-se que a Plataforma é isso que não tolera.
Compreende-se a contenção dos plataformistas, a sua preocupação quanto à unidade do PSD e quanto ao calendário eleitoral.
Mas, conhecendo-se os plataformistas e o carácter de Passos Coelho, também se compreende que está para estalar uma batalha.
A Batalha de Massamá.
A Alemanha, que não é tão má como a pintam, percebe este motim de garotos periféricos e não excessivamente competentes que confundem Calvino com o Calvin and Hobbes da banda desenhada. E perceberá, especialmente agora com um governo de Grande Coligação, a vantagem, mesmo para a Alemanha, de que Portugal tenha adultos políticos no governo.
Quando se restabelecer alguma ordem natural das coisas neste País, haverá pelo menos tempo para respirar politicamente.
E os subsecretários de Estado deixarão de ir a Troia.
De cavalos da Troika.
Sem comentários:
Enviar um comentário