sexta-feira, 21 de março de 2014

Moçambique - Código Penal: Marcha em prol dos direitos das mulheres e das crianças




Mulheres e homens de todas as idades trajaram-se de preto e saíram à rua na manhã de ontem para manifestar sua preocupação em relação a alguns artigos da Revisão do Código Penal que atentam contra os direitos humanos, em particular, os da mulher e criança.

Os manifestantes, na sua maioria, membros de 13 organizações da sociedade civil, dizem que estão preocupados com as “flagrantes e sucessivas” violações contra os direitos das mulheres, crianças e outros grupos, plasmados no Código Penal.

“Alguns artigos do Código Penal humilham-nos como mulheres. Por isso estamos aqui quase em frente à Assembleia da República para manifestar a nossa preocupação”, disse Madalena Domingos, uma das manifestantes.

Na ocasião, Benilde Nhalivilo, em representação da sociedade civil, citou alguns artigos de contestação. Um deles é o artigo 233 (Efeitos do Casamento) que determina que o violador tenha a sua pena suspensa ao casar-se com a vítima, “agravando o seu sofrimento em nome da honra da família. Na verdade, esta formulação não só despenaliza a violação, como protege o violador”, referiu Benilde. Contudo, este artigo, já foi reformulado. 

Segundo a nossa fonte, o artigo 217 (Violação) só considera violação a “cópula ilícita”. Este artigo, entende a sociedade civil, não protege as mulheres casadas violadas pelos maridos. “Também não considera outras formas de violação sexual, como as relações sexuais por via anal, oral ou introdução de objectos na vagina e ânus em indivíduos de ambos os sexos”, fez saber Benilde.

A sociedade civil diz não entender porque é que no artigo 218 o Código aponta violação de menor de 12 anos, tendo em conta que a Lei moçambicana estabelece que uma pessoa até aos 18 anos é considerada criança. “Não se percebe porque é que só os menores de 12 anos são abrangidos por este artigo. Não considera outras formas de violação sexual, como as relações sexuais por via anal, oral ou a introdução de objectos na vagina e ânus em crianças de ambos sexos”, questiona a nossa fonte.

As inquietações da sociedade civil estendem-se para o artigo 24 (encobridores). Considera que esta cláusula abre espaço para que pais, cônjuges, tios, primos e outros alterem ou desfaçam os vestígios do crime com o propósito de impedir ou prejudicar a investigação, ocultem ou inutilizem as provas, os instrumentos ou os objectos do crime com o intuito de concorrer para a impunidade. “Isto é muito grave e pode interferir decisivamente nas investigações policiais, aumentando a impunidade dos criminosos”, acrescentou Teresinha da Silva. 

A inimputabilidade absoluta descrita no artigo 46 é outro motivo de preocupação da sociedade civil pois, entende que com este artigo se pretende que uma criança de 10 anos possa ser criminalmente responsável. “Esta norma viola totalmente os Direitos das crianças e representa um retrocesso, pois actualmente a idade da imputação é de 16 anos”.

Estas e outras preocupações foram levadas ontem, no decorrer da manifestação, à Assembleia da República por uma comissão constituída pelos representantes da sociedade civil. O grupo, segundo Graça Sambo, directora executiva do Fórum Mulher (organização que coordenou a manifestação) foi recebido pela Presidente do Parlamento, Verónica Macamo, e representante da Comissão para Assuntos Constitucionais.

No encontro que tiveram com a presidente da Assembleia da República, Graça Sambo fez saber que Verónica Macamo disse que está comprometida com o respeito dos direitos humanos e que há um trabalho que está sendo feito a nível da comissão dos assuntos constitucionais para salvaguardar os direitos plasmados na Constituição da República.

“Temos abertura para colaborar com a comissão dos assuntos constitucionais. Nós (sociedade civil) temos espaço para participar na discussão da revisão do Código Penal. O que precisamos agora é encontrar especialistas que entendem da matéria para trabalhar lado a lado com a comissão”, informou Sambo a mais de uma centena de pessoas concentrada na Avenida 24 de Julho, a poucos metros da Assembleia da República.

A manifestação, que teve início na Praça da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), acontece numa altura em que o parlamento moçambicano se prepara para discutir o Código Penal na sua especialidade.

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