Jornal de Angola –
editorial
Angola elegeu como
trave-mestra da sua diplomacia a defesa da paz e a resolução pacífica dos
conflitos.
As instituições
angolanas não desperdiçam as oportunidades para sublinhar sempre a necessidade
de uma cultura de paz como condição indispensável para que os povos possam
conseguir, por arrasto, realizar outros sonhos próprios da condição humana.
O sonho de ter casa própria não é seguro se houver guerra. Ela, além de tirar o
sossego, pode impedir a sua construção ou provocar a sua destruição.
O desejo, mais do que sonho, de ver o filho a estudar pode não se concretizar
se persistir uma situação de conflito armado. E outros sonhos mais a guerra
condiciona, pois ela é sempre acompanhada de aflições, de incertezas e de uma
capacidade invulgar de plantar a fome e a miséria.
Angola já passou por essa realidade e por isso sabe do valor da solidariedade
que deve prestar particularmente aos países africanos em situação de conflito
que procuram reencontrar a paz e construir uma vida normal para os seus povos.
O Presidente José Eduardo dos Santos recebeu no princípio do mês a visita da
sua homóloga da República Centro Africana, Catherine Samba-Panza, e as
conversações realizadas serviram para Angola reforçar o seu apoio a uma rápida
conquista da paz naquele país, para que o povo centroafricano possa empenhar-se
na via do progresso social e económico de forma inclusiva e construir os
alicerces de uma unidade nacional fecunda.
Os filhos de África devem consciencializar-se de que os seus países possuem
riqueza e oportunidades únicas que devem ser exploradas em benefício próprio,
em prol do bem-estar e da promoção de iniciativas que propiciem o
desenvolvimento das ciências e da tecnologia em áreas capazes de potenciar a
qualidade de vida.
As instituições angolanas fazem da defesa da paz a sua principal bandeira e a
tarefa não é deixada apenas àquelas que têm por vocação exercer a diplomacia no
campo político. O presidente da Assembleia Nacional foi a Genebra participar na
130ª Assembleia da União Interparlamentar e, um dos pontos que a delegação
angolana levou na bagagem, como sendo de abordagem prioritária, foi defender
uma ajuda urgente para a República Centro-Africana, onde a situação no terreno
dá indícios de evoluir positivamente.
A Presidente interina, Catherine Samba-Panza, assinou um novo decreto que reduz
o recolher obrigatório, o que está a ser visto como sendo resultado do trabalho
levado a cabo pela Missão Internacional de Apoio à RCA em conjunto com as
tropas francesas, trabalho esse que permitiu a melhoria das condições de
segurança no país. O restauro da tranquilidade e segurança públicas é uma
aposta que o Governo de Catherine Samba-Panza quer ganhar ainda este ano, de
modo a abrir as portas a uma reforma profunda da vida política na RCA, onde a
guerra colocou 4,6 milhões de pessoas na situação de indigência, obrigou outros
tantos milhares a procurar refúgio em países vizinhos ou a rumarem para
destinos mais longínquos, como a Europa.
A defesa da paz em África e a promoção do desenvolvimento económico e social
podem travar ou diminuir substancialmente o fluxo de migração de cidadãos em
direcção à Europa, que temos assistido nos últimos tempos, com vagas de
imigrantes a arriscarem de modo dramático a própria vida e a procurarem entrar
de forma ilegal em Espanha e na Itália.
África precisa de mudar muitos dos seus paradigmas actuais e ajustá-los às exigências
impostas pelo seu crescimento demográfico, fomentando políticas que assegurem a
estabilidade social e ao mesmo tempo promovam o crescimento da economia e a
oferta de novos empregos.
Na próxima semana Luanda vai albergar mais uma Cimeira dos Países da Região dos
Grandes Lagos, de que Angola assumiu a presidência para um mandato de dois
anos. Vai ser mais uma ocasião para, ao nível mais elevado, se avaliar os
avanços concretos obtidos e qual a melhor via para aperfeiçoar e consolidar o
que foi feito, para que a região desfrute de uma paz duradoura.
A paz não é uma conquista de um dia, uma construção de um ano. É um edifício
que exige que todos os dias coloquemos novos contributos nos seus alicerces.
Angola entende que os países africanos devem unir esforços e podem construir um
marco importante na vida dos seus povos, pondo as pequenas diferenças de lado e
caminhando de mãos dadas para um futuro que pode oferecer dias melhores para
todos.
Depois da conquista das independências, das heróicas batalhas contra o jugo
colonial, o desafio que se coloca é dar aos africanos uma vida melhor,
construir economias sólidas e projectar o continente não apenas como um lugar
seguro para investimentos, mas também como um contribuinte de peso para as
transformações positivas que o mundo pode conhecer por via de um melhor
aproveitamento da capacidade dos seus cérebros.
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