sexta-feira, 21 de março de 2014

UMA ÁFRICA EM PAZ


Jornal de Angola – editorial

Angola elegeu como trave-mestra da sua diplomacia a defesa da paz e a resolução pacífica dos conflitos.

As instituições angolanas não desperdiçam as oportunidades para sublinhar sempre a necessidade de uma cultura de paz como condição indispensável para que os povos possam conseguir, por arrasto, realizar outros sonhos próprios da condição humana.

O sonho de ter casa própria não é seguro se houver guerra. Ela, além de tirar o sossego, pode impedir a sua construção ou provocar a sua destruição.

O desejo, mais do que sonho, de ver o filho a estudar pode não se concretizar se persistir uma situação de conflito armado. E outros sonhos mais a guerra condiciona, pois ela é sempre acompanhada de aflições, de incertezas e de uma capacidade invulgar de plantar a fome e a miséria.

Angola já passou por essa realidade e por isso sabe do valor da solidariedade que deve prestar particularmente aos países africanos em situação de conflito que procuram reencontrar a paz e construir uma vida normal para os seus povos.

O Presidente José Eduardo dos Santos recebeu no princípio do mês a visita da sua homóloga da República Centro Africana, Catherine Samba-Panza, e as conversações realizadas serviram para Angola reforçar o seu apoio a uma rápida conquista da paz naquele país, para que o povo centroafricano possa empenhar-se na via do progresso social e económico de forma inclusiva e construir os alicerces de uma unidade nacional fecunda.

Os filhos de África devem consciencializar-se de que os seus países possuem riqueza e oportunidades únicas que devem ser exploradas em benefício próprio, em prol do bem-estar e da promoção de iniciativas que propiciem o desenvolvimento das ciências e da tecnologia em áreas capazes de potenciar a qualidade de vida.

As instituições angolanas fazem da defesa da paz a sua principal bandeira e a tarefa não é deixada apenas àquelas que têm por vocação exercer a diplomacia no campo político. O presidente da Assembleia Nacional foi a Genebra participar na 130ª Assembleia da União Interparlamentar e, um dos pontos que a delegação angolana levou na bagagem, como sendo de abordagem prioritária, foi defender uma ajuda urgente para a República Centro-Africana, onde a situação no terreno dá indícios de evoluir positivamente.

A Presidente interina, Catherine Samba-Panza, assinou um novo decreto que reduz o recolher obrigatório, o que está a ser visto como sendo resultado do trabalho levado a cabo pela Missão Internacional de Apoio à RCA em conjunto com as tropas francesas, trabalho esse que permitiu a melhoria das condições de segurança no país. O restauro da tranquilidade e segurança públicas é uma aposta que o Governo de Catherine Samba-Panza quer ganhar ainda este ano, de modo a abrir as portas a uma reforma profunda da vida política na RCA, onde a guerra colocou 4,6 milhões de pessoas na situação de indigência, obrigou outros tantos milhares a procurar refúgio em países vizinhos ou a rumarem para destinos mais longínquos, como a Europa.

A defesa da paz em África e a promoção do desenvolvimento económico e social podem travar ou diminuir substancialmente o fluxo de migração de cidadãos em direcção à Europa, que temos assistido nos últimos tempos, com vagas de imigrantes a arriscarem de modo dramático a própria vida e a procurarem entrar de forma ilegal em Espanha e na Itália.

África precisa de mudar muitos dos seus paradigmas actuais e ajustá-los às exigências impostas pelo seu crescimento demográfico, fomentando políticas que assegurem a estabilidade social e ao mesmo tempo promovam o crescimento da economia e a oferta de novos empregos.

Na próxima semana Luanda vai albergar mais uma Cimeira dos Países da Região dos Grandes Lagos, de que Angola assumiu a presidência para um mandato de dois anos. Vai ser mais uma ocasião para, ao nível mais elevado, se avaliar os avanços concretos obtidos e qual a melhor via para aperfeiçoar e consolidar o que foi feito, para que a região desfrute de uma paz duradoura.

A paz não é uma conquista de um dia, uma construção de um ano. É um edifício que exige que todos os dias coloquemos novos contributos nos seus alicerces.

Angola entende que os países africanos devem unir esforços e podem construir um marco importante na vida dos seus povos, pondo as pequenas diferenças de lado e caminhando de mãos dadas para um futuro que pode oferecer dias melhores para todos.

Depois da conquista das independências, das heróicas batalhas contra o jugo colonial, o desafio que se coloca é dar aos africanos uma vida melhor, construir economias sólidas e projectar o continente não apenas como um lugar seguro para investimentos, mas também como um contribuinte de peso para as transformações positivas que o mundo pode conhecer por via de um melhor aproveitamento da capacidade dos seus cérebros.


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