domingo, 18 de maio de 2014

Brasil: SEM SURPRESAS




Alfredo Prado – África 21, opinião

O desempenho de Dilma Rousseff, à frente de um governo burocratizado e quase inoperante desde os protestos populares do ano passado, revela uma fragilidade política insuspeita para uma grande maioria dos brasileiros que há quase quatro anos votaram na sucessora de Lula.

A última novidade do noticiário político brasileiro - se for possível dizer que o é - é a confirmação da tendência de queda da popularidade de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais. A última, acabada de sair das mesas de análise do instituto Datafolha, confirma o que as pesquisas que têm sido divulgadas nas últimas semanas evidenciam, ou seja, que o cidadão comum vê cada vez mais o Palácio do Planalto com olhar crítico, senão mesmo como um alvo do descontentamento social, político e econômico que cresce no país.

O desempenho de Dilma Rousseff, à frente de um governo burocratizado e quase inoperante desde os protestos populares do ano passado, revela uma fragilidade política insuspeita para uma grande maioria dos brasileiros que há quase quatro anos votaram na sucessora de Lula.

O otimismo que prevalecia até recentemente nas hostes petistas – em que o populismo se mescla cada vez mais com teses social-democratas e com o mais descarado pragmatismo oportunista – parece esboroar-se mais e mais à medida que se torna evidente o insucesso de receitas econômicas de ocasião, que não conseguem debelar a persistente inflação, e reformas – política e tributária, entre outras - tantas vezes prometidas e nunca realizadas.

Por este caminhar, a quase certeza que reinava nas altas cúpulas do Planalto de reeleição de  Dilma Rousseff para um segundo mandato logo no primeiro turno, isto é, em outubro, começa a esvair-se. E um segundo turno traz consigo uma dose de incerteza que fragiliza os candidatos petistas e dos partidos aliados ao governo nas eleições legislativas.

Nos últimos dias, no meio do alvoroço interno causado pela corrente defensora de uma candidatura salvadora de Lula – cuja estrela de popularidade ainda brilha -,  o ex-presidente e os dirigentes do PT vieram a público reafirmar que a candidata à corrida presidencial será Dilma Rousseff.  O anúncio foi público. Menos públicas foram as orientações de campanha. Dilma deverá desde já passar a incluir nos seus discursos não só o que afirma serem as realizações do seu governo – poucas, quase nenhumas -, mas também as conquistas do lulismo, algumas delas reais, mesmo que a contragosto da oposição de direita.

Com os adversários à direita e à esquerda a crescerem nas sondagens, a presidente tem boas razões para andar irritada.

Os tais legados prometidos aos brasileiros com a realização da Copa em 12 cidades do Brasil - que se tornou um sorvedouro de dinheiros públicos e que deixou a nu as dificuldades de planejamento do governo federal – já são hoje um aríete dos opositores.  Do anunciado, pouco foi feito e do que foi feito muito está incompleto, inacabado, ou simplesmente adiado para dias melhores.

Tal como em Portugal, também aqui é corrente terceirizar responsabilidades. A culpa é da crise internacional, dizem os governantes. Também o é, também o é... O pior é que quase doze anos depois do dia em que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto, a maioria dos serviços públicos, da saúde à educação, continuam sucateados. E os escândalos políticos repetem-se, um atrás do outro, seja o da Petrobras ou o da Operação Lavajato.

Depois da opção por alianças políticas à direita, com o PC do B a servir de esquerda decorativa na ampla composição, e aproximação a grandes grupos empresariais multinacionais, dificilmente o cenário nacional seria diferente.

Por tudo isto, das 56 obras prometidas para facilitar a locomoção dos cidadãos e que já deveriam estar prontas, o governo federal acabou por desistir de 17 e, destas,  provavelmente só dez  estarão em funcionamento no dia 12 de junho, quando o árbitro der o apito para o pontapé de saída do Brasil-Croácia, no Itaquerão, em São Paulo. Por tudo isto, os protestos voltam às ruas do Brasil. Pacíficos, espero.

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