Alfredo
Prado – África 21, opinião
O
desempenho de Dilma Rousseff, à frente de um governo burocratizado e quase
inoperante desde os protestos populares do ano passado, revela uma fragilidade
política insuspeita para uma grande maioria dos brasileiros que há quase quatro
anos votaram na sucessora de Lula.
A
última novidade do noticiário político brasileiro - se for possível dizer que o
é - é a confirmação da tendência de queda da popularidade de Dilma Rousseff nas
pesquisas eleitorais. A última, acabada de sair das mesas de análise do
instituto Datafolha, confirma o que as pesquisas que têm sido divulgadas nas
últimas semanas evidenciam, ou seja, que o cidadão comum vê cada vez mais o
Palácio do Planalto com olhar crítico, senão mesmo como um alvo do
descontentamento social, político e econômico que cresce no país.
O
desempenho de Dilma Rousseff, à frente de um governo burocratizado e quase
inoperante desde os protestos populares do ano passado, revela uma fragilidade
política insuspeita para uma grande maioria dos brasileiros que há quase quatro
anos votaram na sucessora de Lula.
O
otimismo que prevalecia até recentemente nas hostes petistas – em que o
populismo se mescla cada vez mais com teses social-democratas e com o mais
descarado pragmatismo oportunista – parece esboroar-se mais e mais à medida que
se torna evidente o insucesso de receitas econômicas de ocasião, que não
conseguem debelar a persistente inflação, e reformas – política e tributária,
entre outras - tantas vezes prometidas e nunca realizadas.
Por
este caminhar, a quase certeza que reinava nas altas cúpulas do Planalto de
reeleição de Dilma Rousseff para um segundo mandato logo no primeiro
turno, isto é, em outubro, começa a esvair-se. E um segundo turno traz consigo
uma dose de incerteza que fragiliza os candidatos petistas e dos partidos aliados
ao governo nas eleições legislativas.
Nos
últimos dias, no meio do alvoroço interno causado pela corrente defensora de
uma candidatura salvadora de Lula – cuja estrela de popularidade ainda brilha
-, o ex-presidente e os dirigentes do PT vieram a público reafirmar que a
candidata à corrida presidencial será Dilma Rousseff. O anúncio foi
público. Menos públicas foram as orientações de campanha. Dilma deverá desde já
passar a incluir nos seus discursos não só o que afirma serem as realizações do
seu governo – poucas, quase nenhumas -, mas também as conquistas do lulismo,
algumas delas reais, mesmo que a contragosto da oposição de direita.
Com
os adversários à direita e à esquerda a crescerem nas sondagens, a presidente
tem boas razões para andar irritada.
Os
tais legados prometidos aos brasileiros com a realização da Copa em 12 cidades
do Brasil - que se tornou um sorvedouro de dinheiros públicos e que deixou a nu
as dificuldades de planejamento do governo federal – já são hoje um aríete dos
opositores. Do anunciado, pouco foi feito e do que foi feito muito está
incompleto, inacabado, ou simplesmente adiado para dias melhores.
Tal
como em Portugal, também aqui é corrente terceirizar responsabilidades. A culpa
é da crise internacional, dizem os governantes. Também o é, também o é... O
pior é que quase doze anos depois do dia em que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto, a
maioria dos serviços públicos, da saúde à educação, continuam sucateados. E os
escândalos políticos repetem-se, um atrás do outro, seja o da Petrobras ou o da
Operação Lavajato.
Depois
da opção por alianças políticas à direita, com o PC do B a servir de esquerda
decorativa na ampla composição, e aproximação a grandes grupos empresariais
multinacionais, dificilmente o cenário nacional seria diferente.
Por
tudo isto, das 56 obras prometidas para facilitar a locomoção dos cidadãos e
que já deveriam estar prontas, o governo federal acabou por desistir de 17 e,
destas, provavelmente só dez estarão em funcionamento no dia 12 de
junho, quando o árbitro der o apito para o pontapé de saída do Brasil-Croácia,
no Itaquerão, em São
Paulo. Por tudo isto, os protestos voltam às ruas do Brasil.
Pacíficos, espero.
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