Verdade (mz),
editorial
Todas as vezes que
o ministro da Agricultura, José Pacheco, vem a público em nome do Governo de
turno surpreende na demonstração exibicionista e monumental da sua incapacidade
e de todo o Executivo moçambicano de lidar com os assuntos que inquietam o povo.
Nesta terça-feira (27), Pacheco, que é um invejável poeta quando não abre a
boca, disse, à saída de mais uma ronda de negociações com a Renamo, que Afonso
Dhlakama está a ser apenas protegido pelas Forças de Defesa e Segurança e que,
se não fossem estas, o líder da “Perdiz” poderia já estar morto. É, na verdade,
um disparate, de proporções gigantescas, sublinhe-se.
Como sempre,
Pacheco saiu-se mal, mas muito mal. É sempre assim quando está diante de alguns
pés de microfone e gravadores. O seu comentário baratinado, que revela o
pensamento colectivo do Executivo moçambicano, é um exercício vergonhoso de
tentativa de venda duma imagem que não corresponde ao que o Governo tem vindo a
mostrar desde a “eclosão” da tensão político-militar. É, no mínimo, estranho e,
ao mesmo tempo, caricato o conceito de protecção do chefe da delegação do
Governo nas negociações com a Renamo. Sabe-se que, durante alguns meses, tem-se
assistido a acções militares cujo objectivo último é aniquilar o presidente da
Renamo e os seus seguidores.
Assistimos,
impávidos, à invasão a Sathunjira e ao bombardeamento à serra da Gorongosa.
Quase todos os dias, dezenas de militares são enviados para a região centro,
particularmente o distrito de Gorongosa, facto que ilustra as intenções
maléficas do Governo de Guebuza. Terão sido, essas acções, uma forma de
proteger o líder da Renamo? Como é possível garantir a segurança de um
indivíduo lançando obuses contra ele?
O discurso segundo
o qual o Governo deseja que Afonso Dhlakama esteja saudável e não seja
sacrificado pelos seus homens no diálogo político é demagógico. É uma atitude
de indivíduos que estão fora da realidade do país. Pacheco vai ainda mais longe
com o cinismo que caracteriza os membros do Executivo de Guebuza ao afirmar que
o Governo pode suportar todos os custos decorrentes da deslocação do líder da
Renamo à capital do país. O ministro da Agricultura deve ter-se esquecido de
que o povo já não embarca nesse tipo de conversa, pois tem a consciência de que
se trata de mais um teatro mal encenado para os jornalistas, desatentos,
anotarem e divulgarem para o inglês ver e aplaudir.
Portanto, diga-se,
em abono da verdade, que esta é mais uma cena triste e repugnante de um Governo
autoritário a quem falta competência para gerir um país como o nosso.
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