O
jornal britânico Financial Times dedica hoje um extenso artigo de análise a
Angola, apresentando o país como um exemplo dos casos em que a abundância de
recursos naturais não chega à grande maioria da população.
O
artigo, assinado pelos jornalistas Andrew England and Javier Blas, começa por
refletir a semelhança da vida noturna em Luanda e no Rio de Janeiro para
explicar que todos esperam que essa semelhança se revele também nas reservas de
petróleo no pré-sal, uma espécie de camada por baixo do fundo do mar.
"Algumas
das maiores companhias mundiais de petróleo estão a apostar milhares de milhões
de dólares que Angola também tenha reservas similares", que no caso do
Brasil estão já comprovadas e quantificadas, lê-se no artigo, que diz que esta
aposta "é crucial para o futuro económico e social de Angola".
O
problema, acrescentam, é que "ainda está por provar que a descoberta de
mais reservas ajude a população de 20 milhões", porque "se a história
recente de Angola serve como guia, as expectativas são, no máximo, duvidosas;
os petrodólares impulsionaram o crescimento económico mas muita da riqueza
continua concentrada num pequeno círculo de plutocratas".
O
artigo cita depois o diretor da ONG Open Society Initiative no país, Elias
Isaac, dizendo que "as pessoas sentem que as coisas estão a acontecer, mas
não estão a acontecer de uma maneira justa, que beneficie realmente toda a
gente".
Ainda
assim, escreve o Financial Times, "Angola enquadra-se na narrativa da
'África em ascensão'", fazendo um trocadilho com o nome da conferência
organizada na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional em Maputo.
"O
país beneficiou de algumas das mais rápidas taxas de crescimento da economia no
mundo na última década, crescendo 10,1% em média, segundo o FMI, mas também é
um exemplo de vítima da maldição dos recursos: em vez de criar prosperidade
económica universal, o petróleo tem ajudado a suportar o segundo Presidente há
mais tempo em exercício em África e espalhou a corrupção, que mina o
desenvolvimento económico", escreve o jornal britânico.
Citando
o filho do Presidente e diretor do Fundo Soberano a defender que Angola é um
país recente, com apenas 12 anos de estabilidade e paz, e que as coisas estão a
melhorar, o FT acrescenta que o desenvolvimento político não acompanhou o
sucesso da economia.
O
artigo refere as "abundantes alegações de que a corrupção enriqueceu os
membros da elite, incluindo membros da família do Presidente, à custa da
população", e termina escrevendo que o Governo, apesar de estar a travar o
poder da Sonangol, como quer o FMI, "ainda continua a usar a empresa
estatal para operar projetos em novas cidades em todo o país, argumentando que
a experiência de décadas da Sonangol na gestão da construção é valiosa".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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