Resultados
não oficiais apontam vitória de Joko "Jokowi" Widodo sobre o rival
Prabowo Subianto. Mas ambos os candidatos à presidência reivindicam vitória.
Poucas horas depois do fechamento das urnas nesta quarta-feira (09/07), o governador de Jacarta, Joko "Jokowi" Widodo, se autoproclamou vencedor das eleições presidenciais na Indonésia. De acordo com apurações não oficiais, o político de 53 anos obteve por volta de 52% dos votos, apenas cerca de cinco pontos percentuais à frente de seu adversário, o ex-general Prabowo Subianto.
A
contagem não oficial, conhecida como "quick counts", é baseada na
amostra de cerca de 1% dos votos depositados em locais de votação selecionados
e, em eleições passadas, mostrou-se capaz de prever resultados corretamente.
Mas Prabowo visto por muitos como um representante da era autocrática na
Indonésia logo apresentou outros números não oficiais, provenientes de sua
equipe de campanha. Tais resultados indicam que Prawobo e seu vice, Hatta
Rajasa, receberam "o apoio e o mandato do povo da Indonésia", segundo
a agência de notícias AFP.
Entretanto,
Prabowo ainda precisa apresentar provas de que venceu as eleições, afirma
Gregory Poling, especialista em Sudeste Asiático do Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) de Washington. As três
maiores agências independentes que divulgaram contagens rápidas indicaram
Yokowi como vencedor, com uma vantagem que varia de 3,5% a pouco mais de 5% ou
seja, fora da margem de erro de mais ou menos 1%.
Efeito
polarizador
Os
resultados oficiais não deverão sair até 22 de julho, devido às complexidades
da contagem eleitoral ao longo do arquipélago composto por mais de 17 mil
ilhas. Mas a reivindicação da vitória pelos candidatos já levou a um impasse
sem precedentes no país, que até agora só testemunhou duas eleições diretas para
a presidência após a queda do autocrata de longa data Hadji Suharto, em 1998.
As duas últimas eleições presidenciais foram vencidas com uma grande margem de votos pelo presidente Susilo Bambang Yudhoyono, que deverá deixar o cargo em outubro deste ano.
Poling
argumenta que "não haveria nada de errado se Prabowo esperar até que
saíssem os resultados oficiais para ceder, mas insistir que ele já ganhou é um
pouco desconcertante." Entretanto, é mais provável que o ex-general entre
com um recurso após os resultados oficiais serem anunciados.
Segundo
Poling, também é possível que Prabowo continue a insistir na vitória e se
oponha ao aparente triunfo de Yokowi. "Isso pode vir a tornar as coisas
desconfortáveis para a sua coalizão e para o eleitorado, já que ele certamente
poderá exercer um efeito polarizador sobre seus apoiadores durante as próximas
semanas." No final, porém, Prabowo sofrerá uma enorme pressão para aceitar
a derrota, não importa o quão doloroso isso venha a ser para ele, acrescenta
Poling.
Frustração
crescente
A
Indonésia não é somente o mais populoso país de maioria muçulmana, mas também a
terceira maior democracia do mundo, com cerca de 190 milhões de eleitores.
Muitos analistas consideram notáveis as conquistas democráticas do país do
Sudeste Asiático após o fim da ditadura de Suharto. Mas, nos últimos anos, a
frustração com a desaceleração da economia vem aumentando, com o crescente
radicalismo islâmico, a pobreza e a corrupção desenfreada.
"A
corrupção tem sido o foco da campanha, com ambos os candidatos prometendo
limpar o sistema. Esta é claramente uma questão motivadora, especialmente para
os jovens indonésios que votaram pela primeira vez e estavam fartos com os
lentos avanços das promessas de administrações passadas com vista ao combate da
corrupção", disse Poling. No entanto, o analista está convencido de que
para a maioria dos eleitores, "questões básicas da economia e o acesso aos
serviços sociais" foram decisivos.
Campanha
de difamação?
Muitos
analistas acreditam que a vitória de Yokowi um ex-vendedor de móveis da ilha de
Java poderia dar início a uma nova era de reformas democráticas e a um estilo
diferente de liderança em termos da abordagem dos problemas econômicos e do
agravamento da situação de direitos humanos.
Mas
Prabowo o ex-general que se tornou empresário e se casou com a filha de Suharto
em 1983 acabou sendo um candidato forte. Apenas há poucas semanas, as pesquisas
de opinião apontavam que Yokowi, o candidato do oposicionista Partido
Democrático da Indonésia para a Luta (PDI-L), era o claro favorito para ganhar
as eleições.
No
entanto, a equipe de Prabowo conseguiu diminuir a vantagem, ganhando apoio de
outros partidos grandes e lançando uma campanha cara e agressiva e sugerindo,
entre outras coisas, que Yokowi era um cristão de origem chinesa, uma alegação
politicamente perigosa no país de maioria muçulmana. Yokowi negou as alegações.
Teste
para a democracia
Independente
de quem vencer as eleições, o próximo presidente da Indonésia terá de enfrentar
grandes desafios, que vão desde o combate à corrupção ao reaquecimento da
economia. "O novo presidente terá de enfrentar imediatamente os problemas
de gerir uma coalizão, que terão início com a nomeação do seu gabinete. Essa
sempre foi uma pedra no sapato de Yudhoyono, que teve de lidar com uma coalizão
incômoda e muitas vezes sabotadora", disse Poling.
Em
termos de economia, ambos os candidatos prometeram políticas favoráveis ao
mercado, para retomar o crescimento econômico na maior economia do Sudeste
Asiático, mas eles também privilegiaram uma agenda focada na proteção das
empresas e recursos locais, o que levou a preocupações entre os investidores
estrangeiros.
Rajiv
Biswas, economista-chefe para a região Ásia-Pacífico na empresa de análises
IHS, disse à DW que o futuro presidente terá que decidir se persegue uma
estratégia de globalização e maior integração internacional ou políticas
protecionistas mais nacionalistas, que poderiam vir a inviabilizar a atual
dinâmica de crescimento econômico da Indonésia.
"As
perspectivas para a Indonésia, em médio prazo, serão moldadas pela agenda
política do próximo presidente. Como tem havido uma virada significativa em
direção a políticas nacionalistas nos dois últimos anos, principalmente no
setor de recursos naturais, uma das principais preocupações de investidores
globais é se essa política também pode vir a ser adotada em outros setores
industriais", considera Biswas.
Os
analistas concordam que o resultado da eleição será fundamental para mostrar se
a democracia realmente se consolidou no país asiático de 240 milhões de
habitantes. Segundo Poling, uma democracia não está realmente consolidada até
que haja uma transferência pacífica de poder de um partido devidamente eleito
para outro.
"O
presidente Yudhoyono foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto. Agora
ele está deixando o cargo tranquilamente, e um novo chefe de Estado de outro
partido assumirá o cargo. Isso é uma grande coisa", diz Poling.
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