Filipe
Paiva Cardoso – jornal i
Zeinal
Bava recebia documentos que detalhavam os empréstimos da Portugal Telecom ao
Grupo Espírito Santo. Granadeiro validou 200 dos 897 milhões de euros em causa
O
primeiro relatório da comissão de auditoria interna da Portugal Telecom
confirma que Zeinal Bava recebia informação sobre os investimentos da
operadora, o que inclui os 897 milhões de euros aplicados numa holding da
família Espírito Santo, apesar de tanto o gestor como os accionistas da Oi já
terem assegurado precisamente o contrário. O relatório de auditoria, ontem
divulgado pela edição diária do "Expresso", já foi entregue ao
conselho de administração da PT.
O
relatório de auditoria não deixa evidente apenas o nível de conhecimento de
Zeinal Bava sobre os empréstimos da operadora à Rioforte, do Grupo Espírito
Santo, mas também envolve Henrique Granadeiro, Luís Pacheco de Melo e Amílcar
Morais Pires, à data administrador financeiro do BES. Segundo a notícia do
"Expresso", Zeinal Bava recebia quadros-resumo com as aplicações financeiras
da Portugal Telecom, incluindo os investimentos em papel comercial do Grupo
Espírito Santo, ocultados sob a designação de "depósitos BES". Já
Henrique Granadeiro, o único responsável que até agora se demitiu, não tinha
acesso a estes quadros mas mandou Pacheco de Melo, administrador financeiro,
contratar 200 milhões de papel comercial do GES - no total de 897 milhões de
euros que ficaram por saldar. Quanto a Pacheco de Melo, a auditoria concluiu
que este avançou com as aplicações no GES sem dar conhecimento à comissão
executiva ou à administração - não era obrigado a fazê-lo mas devia tê-lo
feito, segundo refere o "Expresso".
Amílcar
Morais Pires, o ex-sucessor de Salgado, apesar de ser administrador do BES e da
PT, ainda que não executivo nesta última, optou por nunca falar na operadora
sobre os problemas financeiros da família Espírito Santo, que conhecia.
"A
Comissão de Auditoria confirma, pela leitura das actas da Comissão Executiva e
do Conselho de Administração e dos Tableaux de Bord [apresentações com rácios
para controlo financeiro] que as aplicações de tesouraria nunca foram objecto
de discussão e aprovação por aqueles órgãos", refere o relatório da
auditoria, salientando que "nos termos da delegação de competências em
vigor, os poderes dessas operações foram atribuídos ao presidente executivo, ao
administrador com o pelouro financeiro e ao director de finanças corporativas".
Nos
tais tableaux de bord, que eram "submetidos à comissão executiva a
intervalos irregulares", diz a auditoria, estavam referidas "as
aplicações de excedentes de tesouraria em papel comercial", ainda que até
Julho de 2013 estas "nunca foram expressamente referidas e
individualizadas, constando todas as aplicações de tesouraria das rubricas
'Domestic Cash at Bank - BES Group' e 'Cash - Bank Deposits - BES'. A situação
só foi alterada na reunião da Comissão Executiva de 2 de Julho de 2014, em que
os tableaux de bord, aí aprovados, passaram a evidenciar tais aplicações nas
rubricas 'Domestic Cash at Bank - BES Group' e 'Domestic Cash at Bank - Notes (ESI
e Rioforte)'". Neste espaço temporal, entre Julho de 2013 e Julho de 2014,
conclui a auditoria, os "tableaux de bord" apenas eram enviados a
Bava, Granadeiro e Pacheco de Melo.
Além
da auditoria interna, a PT está também a ser investigada pela CMVM.
Foto:
Pedro Azevedo
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