Edson
Cadette - Afropress
Nova
York/EUA – Um dia depois de pelo menos 50 mil pessoas terem saído às ruas
em várias cidades brasileiras, a população do bairro de Staten Island, em Nova York , liderada pelo
reverendo e ativista Al Sharpton, fez o mesmo no último sábado (23/08) em protesto
pela morte de Eric Garner, um negro vendedor de cigarros, morto pela polícia
novaiorquina em julho passado.
Os
protestos no Brasil e em
Nova York acontecem em meio a Revolta de Ferguson, a pequena
cidade do Estado do Missouri, onde a população tem saído às ruas quase
diariamente para protestar contra a morte do jovem Michael Brown, de 18 anos,
alvejado com seis tiros por um policial branco no dia 09 de agosto passado.
Garner,
pai de seis filhos, suspeito da venda ilegal de cigarros, foi morto por um policial
com um golpe de gravata no dia 17 de julho, depois de já estar dominado. Um
vídeo amador mostra um policial apertando o pescoço de Garner, que desmaiou e
já chegou morto ao hospital. A prática da gravata havia sido abolida pelo
Departamento de Polícia em
Nova York (NYPD) em 1993, depois que um outro cidadão negro
foi morto no bairro do Bronx.
O
correspondente de Afropress, Edson Cadette, esteve na manifestação e
conversou com o presidente do Sindicato dos Porteiros de Nova York, Hector
Figueroa (na foto da capa), um dos organizadores do protesto.
Confira
o relato do nosso correspondente.
Staten
Island, Nova York – “Não estamos aqui para destruir. Estamos aqui para
construir. Não somos contra a Polícia, mas aqueles que são infratores devem
responder criminalmente como qualquer outro cidadão”. Como estas palavras,
o pastor e ativista Al Sharpton, presidente da National Action Network
(Rede de Ação Nacional) liderou, no último sábado, (23/08) cerca de 2.500
pessoas pelas ruas do bairro de Staten Island/NY para protestar contra a morte,
no mês passado, de Eric Garner.
Cartazes
com os dizeres – “Parem de nos Matar”, “Respeitem os direitos humanos”,
“Justiça e Direito Civis para Todos”, “Polícia de Nova York (NYPD)=KKK” foram
carregados pelos manifestantes pelas ruas do bairro. A Polícia acompanhou o
protesto sem intervir.
Entre
os manifestantes estava Saul Nieves, um líder comunitário que há mais de 10
anos trabalha para o Sindicato dos Porteiros de Nova York. Segundo ele, “a
militarização da Polícia no país é um problema sério que deve ser debatido pela
sociedade, assim como todas as formas de racismo”. Michelle Crentsil, outra
líder comunitária participou do protesto e condenou “a brutalidade da
Polícia no trato com cidadãos negros”.
Organizações
Não-Governamentais (ONGs) e representantes políticos, entre entre os quais, o
ex-governador de Nova York, David Patterson, o presidente do Sindicato dos
Professores, Michael Mulgrew e o presidente do Sindicato dos Porteiros de Nova
York, Hector Figueroa, marcaram presença na manifestação. O atual prefeito de
Nova York, Bill de Blasio, cuja presença era esperada, porém, decidiu não
comparecer.
Com
o slogan “Direitos trabalhistas se equivalem aos direitos civis”, o presidente
Hector Figueroa concedeu entrevista ao correspondente de Afropress, Edson
Cadette, enquanto participava do protesto.
Afropress: A
corporação policial mudou muito nestes últimos 30 anos. Há muitas minorias nos
seus quadros, mesmo assim, você acredita que a policia continua visando as
minorias?
Hector
Figueroa: Houve muito progresso, com certeza, porém o assédio policial (racial
profiling), ainda é uma prática disseminada dentro da Polícia, e ela precisa
ser discutida por todos na sociedade. Ela tem de acabar. Devemos ter regras
dentro da Polícia, e quando elas não forem cumpridas deve haver consequências.
Como, porexemplo, a prática da gravata que foi abolida há quase 20 anos e que
resultou na morte de Eric Garner. A Polícia tem que abrir-se mais para a
comunidade.
Afropress: Qual
é a mensagem que o Sindicato dos Porteiros de Nova York envia para o Comissário
de Polícia e também para o prefeito Blasio?
HF: Uma
mensagem de união que nós queremos segurança para toda nossa comunidade, para
todos nossos cidadãos, independentemente de como eles se parecem, sua raça, sua
orientação sexual, ou sua religião. Temos que ver isto como uma luta contínua
para erradicar os preconceitos que, infelizmente, ainda afetam nossa sociedade
e nossas Instituições como o Governo, a Polícia, e nossos sindicatos. Todos
temos que nos esforçar para nos comportarmos de uma maneira que inclua todas
as pessoas. O Departamento de Polícia precisa entender que somos uma
comunidade e com isso proteger a todos.
Afropress: Não
sei se é do seu conhecimento, mas ontem no Brasil houve uma grande manifestação
contra a violência policial que atinge desproporcionalmente os jovens negros.
Você acredita que os países da América Latina devem olhar para o que está
acontecendo aqui em Nova
York e usar esta manifestação como exemplo?
HF: Acredito
que este tema é algo que sempre está acontecendo ao redor do mundo. Nós devemos
observar o que aconteceu com o Eric Garner e nos perguntar: “estamos fazendo o
suficiente para prevenir o que aconteceu?” “Estamos fazendo o suficiente
para que uma pequena infração não resulte na morte de um cidadão pai de 5
filhos que certamente deveria esta aqui?” Temos que ter certeza que isso não
aconteça novamente.
Afropress: Quantos
associados o Sindicato 32BJ tem no momento?
HF: Um
total de 145 mil em 11 estados da Federação.
Afropress: Muito
obrigado.
HF: De
nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário